17 março 2014

História da Alemanha


História da Alemanha


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 

História da Alemanha
Brasão de Armas da Alemanha
Antiguidade
Idade Média
Formando uma nação
Império Alemão
Alemanha moderna
ver  editar


A história da Alemanha inclui os acontecimentos ocorridos nos territórios de língua alemã que correspondem aproximadamente ao Estado formado em 1871 em Versalhes, quando o Império Alemão, dirigido pela Prússia, foi constituído.

O Sacro Império Romano Germânico, que existiu desde o século VIII até 1806, é considerado o primeiro Reich alemão (Reich, Império, em alemão, termo usado para descrever os sucessivos períodos históricos do povo alemão). No momento de maior extensão territorial, o Império incluía o que são hoje a Alemanha, a Áustria, a Eslovênia, a República Checa, o oeste da Polônia, os Países Baixos, o leste da França, a Suíça e partes da Itália central e setentrional. A partir de meados do século XV, passou a ser conhecido como o "Sacro Império Romano da Nação Germânica". O Império Alemão de 1871-1918 é chamado de o Segundo Reich, de modo a indicar a sua descendência do império medieval. Segundo o mesmo raciocínio, Adolf Hitler referia-se à Alemanha Nazista (1933-1945) como o Terceiro Reich.

O termo "germanos" é usado para referir-se ao grupo ou grupos étnicos oriundos da Idade do Bronze Nórdica, que falavam línguas germânicas e ocupavam a chamada Germânia. A partir do período histórico do Sacro Império, pode ser empregado o termo "alemães" para designar os habitantes do Império.

Germanos e romanos


 

Torre de observação do Limes restaurada.

Entre 800 e 70 a.C., as tribos germânicas no norte migraram para território celta, avançando até os rios Oder e Reno e para o que é hoje a Alemanha meridional.

Por volta de 58 a.C., os romanos, por meio de uma sucessão de campanhas militares, tornaram o Reno a fronteira nordeste do Império Romano, o que levou à romanização da margem esquerda do rio e a incorporação das sociedades celtas centro-europeias ao Império. Construíram-se fortes romanos em Colônia, Trier, Coblença, Mogúncia e em outros locais de modo a permitir a defesa da fronteira renana, onde os romanos e os germanos se encontravam frente a frente. Em 9 d.C., um exército romano chefiado por Públio Quintílio Varo foi derrotado pelo chefe germano Armínio, na Batalha da Floresta de Teutoburgo. A Germânia até o Reno e o Danúbio permaneceram fora do Império Romano.

A partir de 90 d.C., os romanos construíram o Limes, uma linha defensiva de 550 quilômetros do Reno até o Danúbio, planejada para conter as incursões germânicas na fronteira, bem como uma série de fortificações (como os de Wiesbaden, Augsburgo, Ratisbona e Passau). O século III assistiu à aparição de grandes tribos germânicas ocidentais - alamanos, francos, catos, saxões, frísios, turíngios. Em cerca de 260, os germanos finalmente romperam o Limes e a fronteira do Danúbio.

No século IV, o avanço dos hunos Europa adentro deu início a um período chamado de Grandes Migrações, que mudou completamente o mapa do continente europeu. Ao unificar os francos e conquistar a Gália, o rei merovíngio Clóvis tornou-se o fundador do Reino Franco. Em 496, os francos derrotaram os alamanos, aceitaram a fé católica e passaram a ser apoiados pela Igreja.

As províncias romanas ao norte dos Alpes já eram cristãs desde o século IV, e centros cristãos, como Augsburgo, foram mantidos mesmo após a queda do Império Romano do Ocidente. Entretanto, a partir de 600 d.C., houve um novo esforço missionário cristão dirigido às tribos bárbaras. Os mosteiros de Würzburg, Ratisbona, Reichenau e outros foram fundados por monges irlandeses. A atividade missionária no Reino Franco continuou pelas mãos do monge anglo-saxão Bonifácio, que estabeleceu o primeiro mosteiro a leste do Reno, em Fritzlar. Dioceses episcopais sob autoridade papal foram criadas para propagar a fé cristã nas terras germânicas.

Sacro Império Romano


 


Em 751, Pepino, o Moço (erroneamente chamado O Breve), Prefeito do Palácio sob o rei merovíngio, assumiu o título de rei dos francos e foi ungido pela Igreja; os reis francos passaram então a atuar como protetores do Papa. Os sucessores de Pepino lançaram uma longa campanha contra os pagãos saxões, os quais terminaram por ser conquistados e convertidos a força, quando suas terras foram anexadas pelo Reino Franco.

Durante a Idade da Pedra os bosques alemães estavam povoados por grupos de caçadores e coletores.Nos séculos II AC e V DC os romanos que tiveram contato com as tribos germânicas e tentaram sem êxito estender seu domínio até o rio Elba.

De 772 a 814, o Rei Carlos Magno estendeu o império carolíngio até a Itália setentrional e os territórios de todos os povos germânicos, inclusive os saxões e os bávaros. Em 800, a sua autoridade na Europa Ocidental foi confirmada com a sua sagração como imperador, em Roma, estabelecendo-se, assim, o que viria a chamar-se Sacro Império Romano-Germânico. O reino franco foi dividido em condados e suas fronteiras eram protegidas por marcas.

Entre 843 e 880, após disputas entre os netos de Carlos Magno, o império carolíngio foi dividido, conforme o Tratado de Verdun (843). O império germânico desenvolveu-se a partir do reino franco do leste, a Frância oriental (Francia Orientalis). A linha carolíngia oriental extinguiu-se com a morte de Luís, o Menino (911), filho de Arnulfo da Caríntia, De 919 a 936, os povos germânicos (francos, saxões, suábios e bávaros) foram unidos pelo Duque Henrique da Saxônia, que assumiu o título de rei. Pela primeira vez, o termo Reino (Império) dos Germanos (Regnum Teutonicorum) foi aplicado ao reino franco.

Em 936, Otão I, o Grande foi coroado em Aachen. Fortaleceu a autoridade real ao nomear bispos e abades como príncipes do Império (Reichsfürsten), estabelecendo uma igreja nacional (Reichskirche). Em 951, casou-se com Adelaide da Borgonha (viúva do rei dos lombardos), recebendo então a coroa lombarda. As principais ameaças externas ao reino foram contidas quando Otão derrotou os húngaros na Batalha de Lechfeld (955) e subjugou os eslavos entre o Elba e o Oder. Em 962, foi coroado imperador, em Roma, a exemplo de Carlos Magno, passando a exercer portanto uma forte influência alemã sobre o Papado.

Em 1033, a Borgonha foi incorporada ao Reino dos Germanos, durante o reinado de Conrado II, primeiro imperador da dinastia sália (ou francônia).

Durante o reinado de seu filho, Henrique III, a Alemanha apoiou a reforma clunicense da Igreja — a "paz de Deus", a proibição da simonia (compra de cargos eclesiásticos) e o celibato dos sacerdotes. A autoridade imperial sobre o Papa atingiu o ápice. O Império continuava a expandir-se para o oriente — uma fortaleza imperial (Pfalz) foi construída em Goslar.

A Questão das Investiduras começou quando Henrique IV e o Papa Gregório VII divergiram a respeito das nomeações para cargos eclesiásticos. O imperador viu-se obrigado a submeter-se ao Papa em Canossa, em 1077, após haver sido excomungado. Em 1122, uma reconciliação temporária foi obtida entre Henrique V e o Papa, mediante a Concordata de Worms. Foram conseqüências da Questão das Investiduras um enfraquecimento da Reichskirche otoniana e o fortalecimento dos príncipes seculares alemães.

O período entre 1096 e 1291 é conhecido como a Época das Cruzadas. Estabeleceram-se ordens religiosas de cavalaria, inclusive os Templários, os Cavaleiros de São João e a Ordem Teutônica.

A partir de 1100, fundaram-se novas vilas em torno de fortalezas imperiais, castelos, palácios episcopais e mosteiros. As vilas começaram a estabelecer direitos e liberdades municipais, enquanto a população rural continuava na servidão. Diversas localidades tornaram-se Cidades Livres Imperiais, que não dependiam de príncipes ou bispos, mas estavam diretamente sujeitas ao Imperador. As cidades eram governadas por patrícios (comerciantes). Os artesãos formaram corporações, regidas por normas estritas, que procuravam obter o controle das cidades. O comércio com o oriente e o norte intensificou-se quando as principais cidades comerciais se uniram na Liga Hanseática, sob a liderança de Lübeck.

A expansão germânica em direção ao oriente fez com que camponeses e citadinos alemães, bem como a Ordem Teutônica, colonizassem territórios habitados pelos eslavos a leste do Oder (Boêmia, Silésia, Pomerânia, Polônia e Livônia), formando vilas e cidades.

Entre 1152 e 1190, durante o reinado de Frederico I (Barbarossa), da dinastia Hohenstaufen, chegou-se a um entendimento com o partido guelfo, por meio da cessão do Ducado da Baviera a Henrique o Leão, Duque da Saxônia. A Áustria tornou-se um ducado separado, devido ao Privilegium Minus de 1156. Barbarossa tentou recuperar o controle da Itália. Em 1177, o Imperador e o Papa finalmente lograram reconciliar-se, em Veneza.

Em 1180, Henrique o Leão foi considerado fora-da-lei e a Baviera foi outorgada a Otão de Wittelsbach (fundador da dinastia que governaria a Baviera até 1918); a Saxônia foi dividida.

O período de 1184 a 1186 assistiu ao zênite do império de Barbarossa. O poder dos senhores feudais foi reduzido através da nomeação de funcionários imperiais. A sofisticação da vida na corte levou ao desenvolvimento da cultura e da literatura alemãs.

Entre 1212 e 1250, Frederico II estabeleceu um Estado moderno e com administração profissional na Sicília. Continuou a conquista da Itália, causando conflitos com o Papa. No Império, concederam-se grandes poderes soberanos a príncipes seculares e eclesiásticos, o que fez surgir Estados territoriais independentes. O conflito com o Papa minou o poder do Império, pois Frederico II foi três vezes excomungado. Após sua morte, a dinastia dos Hohenstaufen caiu, seguindo-se um interregno durante o qual não houve Imperador.

Em 1226, a Ordem Teutônica conquistou e evangelizou partes da Prússia, cuja população foi dizimada por aqueles cavaleiros, que haviam sido convidados a entrar na Polônia por Conrado da Masóvia, um duque polonês. Mas a partir de 1300 o Império começou a perder território em todas as suas fronteiras.

O fracasso das negociações entre o Imperador Luís IV e o Papado fez com que, em 1338, seis dos sete eleitores declarassem em Rhens que doravante a eleição por todos ou pela maioria automaticamente conferiria ao eleito o título real (rei dos romanos) e o governo do Império, dispensada a confirmação papal. Entre 1346 e 1378, o Imperador Carlos IV de Luxemburgo, rei da Boêmia, procurou restaurar a autoridade imperial.


 

Da Dança da Morte, por Hans Holbein, o Jovem (1491).

Em meados do século XIV, a Peste Negra dizimou a Alemanha e a Europa. Os judeus foram perseguidos com pretextos religiosos e econômicos; muitos fugiram para a Polônia.

A Bula Dourada de 1356 determinava que, no futuro, o Imperador seria escolhido por sete eleitores — os arcebispos de Mogúncia, de Trier e de Colônia, o rei da Boêmia, o conde Palatino do Reno, o duque da Saxônia e o Marquês de Brandemburgo.

Em seguida aos desastres do século XIV, a sociedade europeia moderna veio à luz gradualmente, resultado de mudanças econômicas, religiosas e políticas. Surgiu uma economia monetária, que provocou descontentamento entre cavaleiros e camponeses. Um sistema proto-capitalista evoluiu aos poucos a partir do feudalismo. A família Fugger, por meio de suas atividades comerciais e financeiras, ganhou notoriedade; seus membros tornaram-se homens de finanças junto a governantes eclesiásticos e seculares.

A nobreza viu o seu monopólio das armas e das habilidades militares ser minado com a aparição de exércitos mercenários e de soldados de infantaria. Tornaram-se comuns as atividades de nobres inescrupulosos (os Raubritter, que cobravam impostos ilegais). A partir de 1438, os Habsburgos, que controlavam a maior parte do sudeste do Império (o que corresponde hoje a Áustria e Eslovênia e, depois de 1526, Boêmia e Morávia), lograram assegurar para si a dignidade de Sacro imperador até 1806 (exceto no período 1742-1745). Esta situação, porém, causou crescente desunião entre os governantes territoriais alemães e impediu que, diferentemente do que ocorreu na França ou na Inglaterra, todas as regiões da nação fossem reunidas em um só Estado nacional.

Durante seu reinado (1493-1519), Maximiliano I procurou reformar o Império: criou-se uma Suprema Corte Imperial (Reichskammergericht), cobraram-se impostos imperiais, aumentou-se o poder da Dieta Imperial (Reichstag). As reformas, entretanto, foram frustradas pela contínua fragmentação territorial do Império.

Reforma Religiosa e Guerra dos Trinta Anos


 

Martinho Lutero.

No início do século XVI, era crescente o descontentamento na Alemanha com os abusos na Igreja Católica e havia um desejo de reforma. A Reforma Religiosa (ou Protestante) começou em 1517, quando Martinho Lutero pregou as suas "95 Teses" no portão da igreja do castelo em Wittenberg.

Em 1515, uma rebelião de camponeses da Frísia instaurou-se. Liderados por Pier Gerlofs Donia e Wijerd Jelckama, milhares de frísios lutaram contra a supressão de seus territórios pelo Imperador Carlos V. As hostilidades só tiveram fim em 1523, com a intervenção do exército holandês, quando as forças rebeldes (organizadas no Arumer Zwarte Hoop) perderam seus líderes, capturados e decapitados.

Em 1521, Lutero foi declarado fora-da-lei pela Dieta de Worms. Mas a Reforma propagou-se rapidamente, com o incentivo das guerras do Imperador Carlos V contra a França e os turcos. Escondido no Castelo de Wartburg, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, lançando as bases da moderna língua alemã.

Em 1524, estalou a Guerra dos Camponeses, na Suábia, Francônia e Turíngia, contra os príncipes e senhores governantes, segundo a pregação de certos sacerdotes reformistas. Mas as revoltas, apoiadas por nobres com experiência militar tais como Götz von Berlichingen e Florian Geyer (na Francônia) e pelo teólogo Thomas Münzer (na Turíngia), foram reprimidas pelos príncipes territoriais.

A Contra-Reforma teve início em 1545 na Alemanha. O impulso principal foi dado pelos Jesuítas, ordem fundada pelo espanhol Ignácio de Loyola. O centro e o nordeste da Alemanha tornaram-se protestantes, enquanto que o oeste e o sul permaneceram predominantemente católicos. Na Guerra da Liga de Esmalcalda, em 1546-7, Carlos V derrotou os governantes luteranos.

A Paz de Augsburgo (1555) reconheceu a fé luterana. O tratado também determinava que a religião de um Estado seria a do governante (Cuius regio, eius religio).

Carlos V abdicou em 1556. O Império Habsburgo foi dividido, quando a Espanha foi separada dos territórios germânicos. Em 1608-9, a União Protestante e a Liga Católica foram formadas.

O período de 1618 a 1648 foi marcado na Alemanha pela Guerra dos Trinta Anos. As causas foram os confrontos entre católicos e protestantes, os esforços dos diversos Estados dentro do Império no sentido de concentrar poder e a tentativa, da parte do Imperador, de concretizar uma união política e religiosa. A causa imediata da guerra foi o levante da nobreza protestante da Boêmia contra o Imperador (Defenestração de Praga), mas o conflito ampliou-se, tornando-se uma guerra europeia, com a intervenção do Rei Cristiano IV da Dinamarca (1625-29), do Rei Gustavo II Adolfo da Suécia (1630-48) e da França, sob o Cardeal Richelieu, regente do jovem Luís XIV (1635-48). A Alemanha foi o maior teatro de operações da guerra e o palco da disputa final entre França e os Habsburgos pela supremacia na Europa. Como resultado da guerra, grandes áreas da Alemanha foram destruídas, com a perda de algo como um terço da sua população, e houve um empobrecimento geral.

A guerra terminou em 1648, com a Paz de Vestfália, celebrada em Münster e Osnabrück: a França e a Suécia receberam territórios anteriormente alemães, e os Países Baixos tornaram-se independentes do Sacro Império. O poder dos príncipes territoriais aumentou, em detrimento da autoridade imperial central, que se viu irreparavelmente abalada.

Fim do Sacro Império Romano


A partir de 1640, Brandemburgo-Prússia começara a destacar-se, sob o governo do Grande Eleitor, Frederico Guilherme. A Paz de Vestfália fortaleceu ainda mais a Prússia, por meio da aquisição da Pomerânia Oriental. Um sistema absolutista de governo foi adotado.

Em 1701, o Eleitor Frederico de Brandemburgo foi coroado "rei na Prússia". No período de 1713 a 1740, o Rei Frederico Guilherme I, também conhecido como o "Soldado Rei", estabeleceu um Estado altamente centralizado.

Entrementes, Luís XIV de França conquistara partes da Alsácia e Lorena (1678-1681), e invadira e devastara o Palatinado (1688-1697). Luís XIV aproveitou-se dos problemas do Império com os turcos, que ameaçavam a Áustria, mas terminou por desistir do Palatinado.

Em 1683, os otomanos sofreram uma derrota fora dos muros de Viena, nas mãos de tropas polonesas chefiadas pelo Rei João Sobieski; a cidade era defendida por forças alemãs e austríacas sob comando de Carlos IV, duque de Lorena. A Hungria foi reconquistada e receberia, mais tarde, colonos alemães. A Áustria, governada pelos Habsburgos, tornou-se uma grande potência.


Partições da Polônia.

Durante a Guerra de Sucessão Austríaca (1740-1748), Maria Teresa da Áustria logrou obter o reconhecimento de sua ascensão ao trono, mas teve que ceder a Silésia a Frederico II da Prússia, ao fim das Guerras Silésias e da Guerra dos Sete Anos. A Prússia, por sua vez, tornou-se uma grande potência após a Paz de Hubertsburg, em 1763, celebrada com a Áustria e a Saxônia. Começou então a rivalidade entre Áustria e Prússia pela liderança da Alemanha.

A partir de 1763, tanto a Prússia quanto a Áustria adotaram o "despotismo esclarecido": a economia desenvolveu-se, providenciaram-se reformas legais (inclusive a abolição da tortura e a melhoria do status dos judeus), teve início a emancipação dos servos e promoveu-se a educação.

No período 1772-1795, a Prússia participou da partilha da Polônia, ocupando territórios a oeste da Grande Polônia, o que começou uma resistência polonesa de séculos contra a presença alemã.

A Revolução Francesa provocou uma nova guerra entre a França e vários países a leste, inclusive a Prússia e a Áustria. Em seguida à Paz de Basileia com a Prússia, em 1795, a França recebeu a margem esquerda do Reno.

Napoleão I da França recomeçou a guerra com o Sacro Império. Em 1803, ele aboliu quase todos os territórios eclesiásticos, estados pequenos e cidades livres imperiais. Estabeleceram-se novos estados de tamanho médio no sudoeste da Alemanha. A Prússia ganhou, por sua vez, território no noroeste.

O Sacro Império Romano-Germânico foi dissolvido formalmente em 6 de agosto de 1806, com a renúncia do último Sacro Imperador, Francisco II (a partir de 1804, Francisco I da Áustria). A dinastia de Francisco manteve o título de Imperadores Austríacos até 1918. Em 1806, a Confederação do Reno foi criada, sob a proteção de Napoleão.

A Paz de Tilsit foi assinada em 1807, após a derrota do exército prussiano frente às forças revolucionárias francesas em Jena e Auerstedt: a Prússia cedeu à França todas as suas possessões a oeste do Elba e estabeleceu-se o Reino da Vestfália, governado pelo irmão de Napoleão, Jérome. O Ducado de Varsóvia recuperou alguns dos territórios prussianos conquistados à Polônia.

No período de 1808 a 1812, a Prússia foi reconstruída e uma série de reformas regulou a administração municipal, a liberação dos camponeses e a emancipação dos judeus. A reforma do exército foi empreendida pelos generais prussianos Gerhard von Scharnhorst e August von Gneisenau.

Em 1813, tiveram início as guerras de liberação, em seguida à destruição do exército napoleônico na Rússia (1812). Após a Batalha das Nações em Leipzig, rompeu-se o controle francês sobre a Alemanha. A Confederação do Reno foi dissolvida.

Em 1815, Napoleão foi definitivamente derrotado em Waterloo por forças do Reino Unido, comandadas pelo Duque de Wellington, e da Prússia, sob Gebhard Leberecht von Blücher.

Liga Alemã

Após a queda de Napoleão, os monarcas e estadistas europeus reuniram-se em Viena em 1814, com vistas a reorganizar a Europa, sob a liderança do príncipe austríaco Metternich. Dentre os princípios políticos pactuados no Congresso de Viena, incluem-se a restauração, legitimidade e solidariedade dos governantes em prol da repressão a ideias revolucionárias e nacionalistas.


 

Liga Alemã, 1815-1866.

No território do antigo Sacro Império Romano, formou-se a Liga Alemã (Deutscher Bund), uma união fraca de 39 estados (35 príncipes reinantes e 4 cidades livres), sob a liderança da Áustria, com uma Dieta Federal (Bundestag) sediada em Frankfurt am Main.

Em 1819, o estudante Karl Ludwig Sand assassinou o escritor August von Kotzebue, que havia escarnecido as organizações liberais de estudantes (que promoviam ideais patrióticos de uma Alemanha unida). O Príncipe Metternich usou este caso como pretexto para convocar uma conferência de Prússia, Áustria e outros oito estados em Karlsbad, que promulgaram os "decretos de Karlsbad": adotou-se a censura e as universidades foram postas sob supervisão. Perseguiram-se "demagogos", isto é, indivíduos acusados de divulgar ideias nacionalistas ou revolucionárias.

Em 1834, estabeleceu-se a Zollverein, uma união aduaneira entre a Prússia e a maior parte dos demais estados alemães, com a exclusão da Áustria.

O crescente descontentamento com a ordem política e social imposta pelo Congresso de Viena levou à eclosão, em 1848, da Revolução de Março nos estados alemães. Em maio, foi criada a Assembleia Nacional Alemã (ou Parlamento de Frankfurt), com o objetivo de preparar uma constituição nacional alemã.

Mas a Revolução de 1848 terminou por fracassar: o Rei Frederico Guilherme IV da Prússia recusou a coroa imperial, o Parlamento de Frankfurt foi dissolvido, os príncipes reinantes reprimiram os levantes pela força e a Liga Alemã foi restabelecida em 1850.

Em 1862, o Príncipe Bismarck foi indicado como primeiro-ministro da Prússia — apesar da objeção dos liberais e dos socialistas, que o consideravam um reacionário.

Em 1864, intensificou-se a controvérsia entre a Prússia e a Dinamarca acerca do Schleswig, que — diferentemente do Holstein — não integrava a Liga Alemã e que nacionalistas dinamarqueses desejavam incorporar ao Reino da Dinamarca. A disputa levou à Segunda Guerra do Schleswig, durante a qual os prussianos, com a Áustria, derrotaram os dinamarqueses. A Dinamarca viu-se compelida a ceder os Ducados do Schleswig e do Holstein à Áustria e à Prússia. Mais tarde, a administração de ambos os ducados provocou tensões entre estes dois países que foram a causa imediata da Guerra Austro-Prussiana (1866). Os prussianos venceram-na, com o sucesso decisivo na Batalha de Königgrätz, sob o comando de Helmuth von Moltke.

Confederação da Alemanha do Norte

Em 1867, dissolveu-se a Liga Alemã. Em seu lugar, surgiu a Confederação da Alemanha do Norte (Norddeutscher Bund, em alemão), sob a liderança da Prússia. A Áustria foi excluída, e permaneceria fora dos assuntos alemães ao longo do restante do século XIX e no século XX.

A Confederação existiu até 1871, quando da fundação do Império Alemão. Por meio dela, a Prússia logrou controlar os 22 estados da Alemanha setentrional, mantendo a Alemanha meridional em sua zona de influência por meio da Zollverein.

Império Alemão

Era de Bismarck



 

Império Alemão, 1871-1918.

A controvérsia entre a França e a Prússia acerca da sucessão do trono espanhol por um candidato alemão — a quem se opunha a França — provocou a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Em seguida à declaração de guerra francesa, tropas prussianas e sul-alemãs, sob o comando de Moltke, invadiram a França em 1870. O exército francês terminou por capitular na Batalha de Sedan. O Imperador Napoleão III foi feito prisioneiro e o Segundo Império francês desmoronou. Após a rendição de Paris, foi celebrada a Paz de Frankfurt am Main: a França obrigava-se a ceder à Alemanha a Alsácia e a parte germanófona da Lorena, que eram territórios ricos em Ferro e Carvão, pagar indenizações, e teve seu contingente de soldados limitado a cem mil soldados além de não poder manter QGs em um raio de 100Km com a fronteira Alemã. As concessões territoriais feriram o orgulho nacional francês profundamente e formariam um obstáculo à concórdia franco-alemã. Além disso, o Kaiser Guilherme I da Prússia foi coroado no Palácio de Versalhes, outra humilhação simbólica para a França.

A partir desse dia, em 1870, o francês olhava para o relógio contando os segundos para a revanche. Vale lembrar que esse fato, além de criar a maior rivalidade da história da Europa Contemporânea com base no nacionalismo agressivo e no revanchismo francês, mostrou que a Alemanha já nasceu uma potência, pois uma coisa é derrotar a França, e outra é derrotar uma França Napoleônica.

As políticas domésticas de Bismarck, na qualidade de Chanceler da Alemanha, caracterizaram-se por sua luta contra os supostos inimigos do estado protestante da Prússia. Na chamada Kulturkampf ("luta cultural", 1872-1878), buscou ele limitar a influência da Igreja Católica e de seu braço político, o Partido do Centro Católico, por meio de diversas medidas — como a instituição do casamento civil —, mas sem grande sucesso. Os grupos não-alemães da população do Império Alemão, tais como as minorias polonesas, dinamarquesas e francesas, sofriam discriminação e foram objeto de uma política de germanização.

A outra suposta ameaça era a ascensão do Partido dos Trabalhadores Socialistas (mais tarde, Partido Social-Democrata da Alemanha), cujo propósito declarado era estabelecer uma nova ordem socialista através da transformação das estruturas políticas e sociais existentes. A partir de 1878, Bismarck procurou reprimir o movimento social democrata, proibindo sua organização, assembleias e a maioria de seus periódicos. Por outro lado, ao instituir um sistema de previdência social, esperava ele ganhar o apoio das classes trabalhadoras do Império.

A prioridade de Bismarck era proteger o poder alemão em expansão, por meio de um sistema de alianças e ao procurar conter crises até que a Alemanha estivesse preparada para provocá-las. Nesse sentido, era de particular importância conter e isolar a França, pois Bismarck temia que esta formasse uma aliança com a Rússia e se vingasse de sua perda da Alsácia e da Lorena.


 

Bismarck em 1879.

Em 1879, Bismarck concluiu a Dúplice Aliança da Alemanha com a Áustria-Hungria, cujo objetivo era fornecer assistência militar mútua em caso de um ataque russo. A formação da Dúplice Aliança levou a Rússia a adotar uma posição mais conciliatória e a celebrar, em 1887, com a Alemanha, o Tratado de Resseguro ou Tratado de Segurança Mútua (do alemão Rückversicherungsvertrag): as duas potências concordaram em fornecer apoio militar mútuo em caso de ataque francês contra a Alemanha ou de ataque austríaco contra a Rússia. Em 1882, a Itália aderiu à Dúplice Aliança, formando-se então a Tríplice Aliança. Os italianos procuravam defender seus interesses na África do Norte contra a política colonial francesa. Em troca do apoio alemão e austríaco, a Itália comprometeu-se a socorrer a Alemanha em caso de uma agressão militar francesa.

Birmarck custou a acatar as aspirações do Imperador Guilherme I no sentido de tornar a Alemanha uma potência mundial através da aquisição de colônias alemãs ("um lugar ao sol"). Birmarck desejava de todas as maneiras evitar tensões com as potências europeias que ameaçassem a segurança da Alemanha. Mas quando, entre 1880 e 1885, o quadro internacional se mostrou auspicioso, Birmarck acedeu, estabelecendo-se então algumas colônias ultramarinas alemãs: na África (Togo, Camarões, Sudoeste Africano Alemão e África Oriental Alemã) e na Oceania (Nova Guiné Alemã, o Arquipélago de Bismarck e as Ilhas Marshall).

O Kaiser Guilherme I morreu em 1888, sucedendo-o seu filho, Frederico III, o qual reinou por apenas 99 dias, até a sua morte. Subiu ao trono, então, o jovem e ambicioso Guilherme II, filho de Frederico. Bismarck renunciou em 1890, devido a divergências políticas e pessoais com o novo Kaiser, que desejava ser o "seu próprio chanceler".

Era Guilhermina


Apesar das declarações de Guilherme II em contrário, logo após a renúncia de Bismarck a política externa alemã sofreu uma inflexão, mudando de rumo com o objetivo de aumentar a influência da Alemanha no mundo (Weltpolitik). O Tratado de Segurança Mútua (Resseguro) com a Rússia não foi renovado. Com isto, Rússia e França formaram uma aliança de oposição à Tríplice Aliança, a qual estava enfraquecida devido a divergências entre a Áustria e a Itália.

A partir de 1898, a expansão colonial alemã no Sudeste da Ásia (Baía de Kiauchau, as Marianas, as Carolinas, Samoa) começou a causar problemas com o Reino Unido, a Rússia, o Japão e os Estados Unidos. A construção da Ferrovia de Bagdá, financiada por bancos e pela indústria pesada alemã, cujo propósito era ligar o Mar do Norte com o Golfo Pérsico através do Bósforo, também colidiu com interesses geopolíticos e econômicos britânicos e russos.

De modo a proteger o comércio e as colônias de ultramar alemães, o Almirante von Tirpitz deu início a um programa de construção de belonaves em 1898, o que ameaçava diretamente a hegemonia britânica nos mares e causou, conseqüentemente, o colapso das negociações com vistas à formação de uma aliança entre Reino Unido e Alemanha. Esta última via-se cada vez mais isolada.

A política de poder imperialista e a defesa determinada dos interesses nacionais terminaram por levar à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, tendo como causa imediata o assassinato do herdeiro do trono austríaco, Francisco Fernando, e sua mulher, em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, nas mãos de um nacionalista sérvio. Outras causas para a guerra, indicadas por historiadores, são as políticas opostas levadas a cabo pelas potências europeias, a corrida armamentista, a rivalidade germano-britânica, as dificuldades do Estado multinacional austro-húngaro, a política russa para os Bálcãs e as apressadas mobilizações e ultimatos (na premissa de que o conflito seria de curta duração). A Alemanha lutou ao lado da Áustria-Hungria e do Império Otomano contra Rússia, França, Reino Unido, Itália e vários outros Estados menores. Houve combates também no Oriente Próximo e nas colônias alemãs.

No ocidente, a Alemanha lutou uma guerra de posições com batalhas sangrentas. Após uma rápida marcha através da Bélgica, as tropas alemãs foram detidas no Marne, ao norte de Paris. Desde então, o fronte na França mudou muito pouco até o final do conflito. No oriente, não houve vitórias decisivas contra as forças russas. O bloqueio naval britânico no Mar do Norte trouxe sérias conseqüências para o suprimento alemão de matérias-primas e alimentos. A entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917, em seguida à declaração alemã de conduzir uma guerra submarina irrestrita, constituiu-se no ponto de inflexão em desfavor da Alemanha.

No final de outubro de 1918, unidades da marinha alemã em Kiel recusaram-se a lançar-se ao mar para uma última grande operação numa guerra que davam como perdida. Em 3 de novembro, a revolta espalhou-se para outras cidades. Estabeleceram-se os chamados conselhos de trabalhadores e os de soldados.

O Kaiser Guilherme II e todos os príncipes reinantes alemães abdicaram. Em 9 de novembro, o social-democrata Philipp Scheidemann proclamou a República. Em 11 de novembro, assinou-se o armistício em Compiègne.

República de Weimar

Nos termos do Tratado de Versalhes, assinado em 28 de junho de 1919, a Alemanha deveria ceder a Alsácia-Lorena, Eupen-Malmédy, o Schleswig Setentrional e a área de Memel. A Polônia foi restaurada e, após plebiscitos e levantes independentistas, foram-lhe entregues Posen, a Prússia Ocidental e a Alta Silésia. Todas as colônias seriam entregues aos Aliados. As margens direita e esquerda do Reno seriam permanentemente desmilitarizadas. O Sarre, centro industrial importante, seria governado pela Liga das Nações por 15 anos, seus campos de carvão administrados pela França. Para assegurar o cumprimento do tratado, tropas aliadas ocupariam a margem esquerda (alemã) do Reno por um período entre 5 e 15 anos. O exército alemão ficaria limitado a 100 mil oficiais e soldados; o estado-maior seria dissolvido; grandes quantidades de material bélico seriam entregues e a fabricação de munições, rigidamente controlada. A marinha sofreria redução semelhante; ficava proibida a utilização de aeronaves militares. A Alemanha e seus aliados deveriam aceitar a exclusiva responsabilidade pela guerra e pagar compensações financeiras pelas perdas e danos sofridas pelos Aliados.

Os humilhantes termos da paz provocaram indignação entre os alemães e enfraqueceram drasticamente o novo regime democrático. Em 11 de agosto de 1919, entrou em vigor a constituição de Weimar, sendo Friedrich Ebert o primeiro Presidente da República.

Os dois maiores inimigos do novo regime eram o Partido Comunista Alemão (KPD) e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), que abusariam das liberdades democráticas para lutar contra a República de Weimar. Já nos primeiros meses de 1920, fracassou uma tentativa de golpe de Estado feita pelo extrema-direita Wolfgang Kapp em Berlim; greves e rebeliões em outras cidades foram violentamente reprimidas.

Em 1922, a Alemanha foi o primeiro Estado a estabelecer relações diplomáticas com a União Soviética, por meio do Tratado de Rapallo.

Quando a Alemanha deixou de pagar a indenização de guerra, tropas francesas e belgas ocuparam o distrito do Ruhr, altamente industrializado (janeiro de 1923). A resistência passiva subseqüente foi bem-sucedida mas levou à hiperinflação — os que perderam as suas fortunas tornar-se-iam inimigos da República de Weimar e eleitores da direita antidemocrática.

Em setembro de 1923, com a deterioração da economia, o Chanceler Gustav Stresemann pediu o fim da resistência passiva no Ruhr. Em novembro, seu governo lançou uma nova moeda, o Rentenmark (posteriormente, Reichsmark), e tomou outras medidas para controlar a hiperinflação. Nos seis anos seguintes, a situação econômica melhorou. Em 1928, a produção industrial alemã voltou aos níveis de 1913.

Na noite de 8 de novembro de 1923, seiscentos integrantes armados das SA cercaram uma cervejaria em Munique, onde os dirigentes do estado da Baviera e os comandantes locais do exército alemão se encontravam para uma reunião pública. As tropas de assalto eram chefiadas por Adolf Hitler. Nascido em 1889, na Áustria, ex-voluntário no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, na época membro do NSDAP, Hitler era até então desconhecido. Procurou forçar os presentes a se juntarem a ele numa marcha contra Berlim para tomar o poder (o chamado Putsch da Cervejaria). Foi posteriormente preso e condenado a cinco anos de detenção, mas terminou por ser solto com apenas um ano de prisão, no fim de 1924.

As eleições nacionais de 1924 foram ganhas pela direita (na chamada Ruck nach Rechts). O Marechal-de-Campo Hindenburg, monarquista, foi eleito Presidente.

Em outubro de 1925, Alemanha, França, Bélgica, Reino Unido e Itália celebraram o Tratado de Locarno, que reconhecia as fronteiras franco e belgo-germânicas. Ademais, o Reino Unido, a Itália e a Bélgica comprometeram-se a ajudar a França caso a tropas alemãs reocupassem a Renânia desmilitarizada. O tratado preparou a entrada da Alemanha na Liga das Nações, em 1926.

O crash de Wall Street em 1929 e a conseqüente Grande Depressão foram sentidos na Alemanha, cuja economia foi abalada. No início de 1932, o desemprego no país já atingia mais de seis milhões de pessoas. Ocorreu também uma crise política, devido à incapacidade de os partidos políticos representados no Reichstag constituírem uma maioria para indicar o governo. Em março de 1930, o Presidente Hindenburg nomeou Heinrich Brüning para o cargo de chanceler. De maneira a fazer aprovar seu pacote de medidas de austeridade contra uma maioria de parlamentares sociais-democratas, comunistas e do NSDAP, Brüning lançou mão de decretos de emergência e chegou mesmo a dissolver o Parlamento.

O NSDAP saiu vitorioso nas eleições de julho de 1932, com 38% dos votos (e o apoio da pequena burguesia, da juventude, dos desempregados e da população rural), o que lhe deu a maior bancada no Reichstag. O KPD comunista, por sua vez, passou a ser o terceiro maior partido no Parlamento, com 15%. Juntos, portanto, os partidos antidemocráticos de esquerda e direita detinham agora a maioria no legislativo alemão. Em 30 de janeiro de 1933, pressionado pelo ex-Chanceler Franz von Papen e outros conservadores, o Presidente Hindenburg nomeou Hitler para o cargo de chanceler.

Terceiro Reich

Ascensão dos nazistas


O Chanceler Adolf Hitler acusou os comunistas pelo incêndio criminoso do prédio do Reichstag, ocorrido na noite de 27 de fevereiro de 1933, e logrou convencer o Presidente Hindenburg a assinar o "decreto do incêndio do Reichstag", que suspendia importantes direitos políticos e humanos e permaneceu em vigor até 1945. Foram detidos e enviados para campos de concentração 11 mil comunistas e socialistas, que ficaram à disposição da nova polícia secreta, a Gestapo.

Apesar do terror e do uso sem precedentes da propaganda política, as últimas eleições livres, de 5 de março, não permitiram ao NSDAP constituir a maioria parlamentar que Hitler esperava. Entretanto, o chanceler logrou convencer os necessários 2/3 do Parlamento (com o auxílio dos Partidos Popular Nacional Alemão e do Centro Católico, e com a ausência de parlamentares mortos ou detidos, considerada voluntária para os fins da votação) a aprovar a chamada "lei dos plenos poderes" (23 de março de 1933), que conferia a seu governo plenos poderes legislativos. Apenas os sociais-democratas se opuseram à lei, que foi a base da ditadura nazista, da dissolução dos Laender, dos sindicatos e dos partidos políticos (exceto o nazista). Estabeleceu-se um Estado centralizado e totalitário, que substituiu a constituição liberal de Weimar. A Alemanha deixou a Liga das Nações. A Reichskonkordat (uma concordata entre a Santa Sé e a Alemanha nazista), negociada com o anticomunista Papa Pio XI, concedeu ao regime de Hitler o reconhecimento internacional, no momento em que as potências viam os desdobramentos políticos na Alemanha com desconfiança.1

Entrementes, muitos dirigentes das SA nazistas estavam decepcionados. O chefe do Estado-Maior das SA, Ernst Röhm, pressionava a favor da incorporação daquele contingente à Wehrmacht (exército alemão), sob seu comando. Hitler, sentindo-se ameaçado, ordenou em 30 de junho de 1934 que as SS capturassem Röhm e seus tenentes e os executassem sem julgamento.

As SS tornaram-se uma organização independente sob o comando do Reichsführer SS Heinrich Himmler. Este também viria a ser o supervisor da Gestapo e dos campos de concentração e, mais tarde, da polícia comum.

O regime demonstrou especial hostilidade contra os judeus. Em setembro de 1935, o Reichstag aprovou as chamadas leis raciais de Nuremberga, contra os cidadãos judeus: estes perderam a nacionalidade alemã e foram proibidos de casar-se com alemães.

Hitler restabeleceu a força aérea alemã e o serviço militar obrigatório. O rearmamento era uma violação ostensiva do Tratado de Versalhes, mas nem o Reino Unido, nem a França ou a Itália fizeram mais do que passar notas de protesto.

Em 1936, a Renânia desmilitarizada foi reocupada por tropas alemãs. O Tratado de Locarno obrigava o Reino Unido a intervir em favor da França, mas, apesar dos protestos franceses, o governo britânico decidiu nada fazer. O caso fortaleceu a posição de Hitler na Alemanha. Sua reputação aumentaria ainda mais com os Jogos Olímpicos, que se realizaram naquele ano em Berlim e em Garmisch-Partenkirchen e mostraram-se um grande sucesso de propaganda para o regime.

Expansão e derrota


Após estabelecer o "Eixo Roma-Berlim" com Mussolini e assinar o Pacto Anti-Comintern com o Japão, ao qual a Itália aderiria no ano seguinte, em 1937, Hitler sentiu-se capaz de partir para a ofensiva em política externa. Em 12 de março de 1938, tropas alemãs entraram na Áustria, onde uma tentativa de golpe nazista havia fracassado em 1934. Quando Hitler chegou a Viena, foi recebido com vivos aplausos. Quatro semanas depois, 99% dos austríacos votaram em favor da anexação (Anschluss) de seu país à Alemanha. Com isso, Hitler concretizou a antiga ideia de um império alemão com a inclusão da Áustria — a solução "grande-alemã" que Bismarck havia rejeitado quando, em 1871, uniu as terras germânicas, sob a liderança da Prússia. Embora a anexação violasse o Tratado de Saint-Germain-en-Laye, que proibia expressamente a unificação da Áustria com a Alemanha, as potências ocidentais, mais uma vez, limitaram-se a protestar.

Em seguida à Áustria, Hitler voltou-se para a Tchecoslováquia, onde uma minoria étnica alemã de 3,5 milhões de habitantes nos Sudetos estavam a exigir direitos iguais e auto-governo. Na Conferência de Munique, de setembro de 1938, Hitler, Mussolini, o Primeiro-Ministro britânico Neville Chamberlain e o Primeiro-Ministro francês Édouard Daladier convieram em que os tchecoslovacos deveriam ceder os Sudetos à Alemanha. Hitler declarou então que todas as reivindicações territoriais alemãs haviam sido atendidas. Mas apenas seis meses após Munique, em março de 1939, o dirigente alemão usou os desentendimentos entre eslovacos e tchecos como pretexto para invadir o restante da Tchecoslováquia, transformando-a no Protetorado da Boêmia e Morávia. Neville Chamberlain viu-se compelido a reconhecer que sua política de apaziguamento para com Hitler havia fracassado.

Em seis anos, o regime nazista preparou o país para a Segunda Guerra Mundial. A liderança nazista buscou eliminar ou subjugar a população judaica na Alemanha e posteriormente nos países ocupados, por meio de deportações forçadas e genocídio, hoje conhecido como o Holocausto. Política semelhante foi adotada para outros grupos étnicos e nacionais vistos pelos nazistas como "sub-humanos", tais como os Roma, os poloneses e os russos, considerados uma ameaça à "pureza da raça ariana" alemã, bem como para com deficientes físicos e mentais.


 

Infantaria alemã na Polônia.

Após a anexação dos sudetos e do resto da Tchecoslováquia, a Alemanha, juntamente com a União Soviética, invadiu a Polônia, em setembro de 1939, fato considerado como o início da Segunda Guerra.

O ano de 1945 viu a Alemanha e seus parceiros do Eixo (Itália e Japão) derrotados pelas forças combinadas dos Estados Unidos, do Reino Unido, da União Soviética e outros. A maior parte da Europa estava em ruínas, dezenas de milhões de pessoas haviam sido mortas (em grande parte, civis), dentre as quais seis milhões de judeus e muitas outras pessoas dos territórios ocupados. A Segunda Guerra resultou na destruição da infra-estrutura política e econômica alemã, causou a sua divisão e considerável perda de território na Europa Oriental e deixou um legado de humilhação.

Alemanha desde 1945


Konrad Adenauer, Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental e Reunificação da Alemanha



 

Divisão alemã em 1946.

Os alemães referem-se com freqüência a 1945 como a Stunde Null (a hora zero), para descrever o quase-total colapso do país. Na Conferência de Potsdam, a Alemanha foi dividida pelos Aliados em quatro zonas de ocupação militar; as três zonas a oeste viriam a formar a República Federal da Alemanha (conhecida como Alemanha Ocidental), enquanto que a área ocupada pela União Soviética se tornaria a República Democrática da Alemanha (conhecida como Alemanha Oriental), ambas fundadas em 1949. A Alemanha Ocidental estabeleceu-se como uma democracia capitalista e a sua contraparte oriental, como um Estado comunista sob influência da URSS. Em Potsdam, os Aliados decidiram que as províncias a leste dos rios Oder e Neisse (a "linha Oder-Neisse") seriam transferidas para a Polônia e a Rússia (Kaliningrado). O acordo também determinou a abolição da Prússia e a repatriação dos alemães que residiam naqueles territórios, formalizando o êxodo alemão da Europa Oriental.

As relações entre os dois Estados alemães do pós-guerra mantiveram-se frias, até a política de aproximação com os países comunistas da Europa Oriental promovida pelo Chanceler ocidental Willy Brandt (Ostpolitik), nos anos 1970, cujo conceito principal era "Dois Estados alemães dentro de uma nação alemã". O relacionamento entre os dois países melhorou e, em setembro de 1973, as duas Alemanhas tornaram-se membros da Organização das Nações Unidas.

Durante o verão de 1989, mudanças políticas ocorridas na Alemanha Oriental e na União Soviética permitiram a reunificação alemã. Alemães orientais começaram a emigrar em grande número para o lado ocidental, via Hungria, quando o governo húngaro decidiu abrir as fronteiras com a Europa Ocidental. Milhares de alemães orientais ocuparam missões diplomáticas da Alemanha Ocidental em capitais do leste europeu. A emigração e manifestações em massa em diversas cidades pressionaram o governo da Alemanha Oriental por mudança, o que levou Erich Honecker a renunciar em outubro; em 9 de novembro de 1989, as autoridades alemãs orientais surpreenderam o mundo ao permitir que seus cidadãos cruzassem o Muro de Berlim e outros pontos da fronteira comum e entrassem em Berlim Ocidental e na Alemanha Ocidental - centenas de milhares aproveitaram a oportunidade. O processo de reformas na Alemanha Oriental culminou com a reunificação da Alemanha, em 3 de outubro de 1990.

Juntamente com a França e outros países europeus, a nova Alemanha tem exercido um papel de liderança na União Europeia. É um dos principais defensores da união monetária, de uma maior unificação nas áreas de política, defesa e segurança europeias. O governo alemão expressou interesse em assumir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Imigração alemã no Brasil


AlemanhaTeuto-brasileiros Brasil
Vera FischerErnesto GeiselGisele Bündchen
Arthur FriedenreichLya LuftDunga
Ana HickmannOscar NiemeyerEike BatistaGustavo KuertenLetícia BirkheuerRodrigo Hilbert
População total
6% da população do Brasil7
Regiões com população significativa
Maioria na Região Sul do Brasil. Grupo relevante também em São Paulo, interior do Espírito Santo e Rio de Janeiro, além de algumas partes da Região Centro-Oeste
 
 

Línguas
Religiões
Grupos étnicos relacionados

A imigração alemã no Brasil foi o movimento migratório ocorrido nos séculos XIX e XX de alemães para várias regiões do Brasil. As causas deste processo podem ser encontradas nos freqüentes problemas sociais que ocorriam na Europa e a fartura de terras no Brasil. Atualmente, estima-se que 5 milhões de brasileiros têm ao menos um antepassado alemão.8

Um teuto-brasileiro ou germano-brasileiro (em alemão: Deutschbrasilianer) é um brasileiro que tem pelo menos um ascendente etnicamente alemão, podendo ou não ter uma forte afinidade cultural com povos tradicionalmente considerados germânicos, ou seja, alemães, austríacos, suíços (dos cantões germânicos), ou originários das partes germânicas tanto da República Checa como da Rússia9 (veja o artigo "Alemães do Volga"), Alto Adige/Südtirol (Italia), Alsácia-Lorena (França), etc. sendo que classificar qualquer pessoa como germano-brasileira permaneceu sempre uma questão de parâmetros flexiveis. Também são consideradas teuto-brasileiras as pessoas nascidas nos países germânicos mas redicadas permanente- ou temporariamente no Brasil, especialmente pessoas que gozaram ou que ainda hoje usufruem certa notoriedade.

Presença antes da grande imigração


Não imigrantes, mas que estiveram no Brasil e que não podem deixar de ser citados, como originários da região onde hoje se situa a Alemanha:

  • O primeiro "alemão" a chegar no Brasil: o astrônomo e cosmógrafo Meister Johann, exercendo a função de náutico de Pedro Álvares Cabral. Natural de Emmerich, atual Alemanha, por ocasião da descoberta, emitiu o "certificado de nascimento do Brasil". Consta que também o cozinheiro de Pedro Álvares Cabral seria originário da região onde hoje se localiza a Alemanha.

 

  • O início da imigração


 

Pintura retratando a chegada dos primeiros imigrantes alemães do Rio Grande do Sul, em 1824.

Os primeiros imigrantes não portugueses foram os suíços, trazidos ao Brasil a mando do Rei Dom João VI. Em 1818, o governo assenta famílias suíças nas serras fluminenses. Estas fundam o município de Nova Friburgo. No mesmo ano, colonos alemães são mandados para a Bahia.

Em 1820, chegam os primeiros suíços a Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro. Dom João VI tentava atrair mais imigrantes. Em 1823, após a independência, foram criados os batalhões de estrangeiros, para garantir a soberania nacional. Então, a busca oficial por colonos (nesta fase, alemães) passou a ser uma política imperial.10

Em maio de 1824, Nova Friburgo recebe a primeira leva de imigrantes alemães, trazidos ao Brasil pelo Imperador Dom. Pedro I, devido ao grande número de suíços que haviam abandonado as terras friburguenses.

Em julho de 1824, os primeiros alemães chegam ao Sul do Brasil, sendo assentados à margem sul do Rio dos Sinos, onde a antiga Real Feitoria do Linho Cânhamo fora adaptada para servir como sede temporária dos recém-chegados, na atual cidade de São Leopoldo.11

Em 1828, colonos alemães se instalaram nas adjacências da cidade de São Paulo (Santo Amaro).

Prejudicação da imigração


A Imigração, no início do século XIX, passava por novos desenvolvimentos econômicos: a industrialização teve um grande impulso, necessitando de mão-de-obra especializada, o que causou a ruína de muitos artesãos e trabalhadores da indústria doméstica. Sem poderem desenvolver suas atividades artesanais, esses trabalhadores livres começaram a formar um exército de mão-de-obra (barata) assalariada para a indústria que estava nascendo.

Com os novos maquinários, também houve o aumento de produtividade no campo junto à diminuição de mão-de-obra, causando o desemprego de camponeses. Como a Alemanha passava por uma desintegração de sua estrutura feudal, muitos camponeses que eram apenas servos ficaram sem o trabalho e sem o direito de morar nas terras, ao mesmo tempo em que a população aumentava. Sem a terra para viver, migravam para as cidades e somavam ao número de proletariados.

Parece-me que os nossos bons compatriotas nesta natureza sul-americana livre, onde estão expostos a lutas peculiares contra obstáculos naturais, desenvolvem, ainda mais determinação em resolver e agir…Por entre dificuldades começaram eles, mas conquistaram o solo e os que na Alemanha eram criados tornaram-se senhores pelo direito do trabalho
— Robert Avé-Lallemant - Viagem pela Província do Rio Grande do Sul, 1858.12

A imigração também não acontecia somente por insatisfação social com as novas perspectivas do século XIX. Nessas mudanças econômicas que agitavam o continente europeu, a indústria desenvolveu as cidades e causou o despovoamento dos campos. À medida que a riqueza aumentava, a saúde e o acesso a novos gêneros alimentícios melhoravam, e a população aumentava. Então a princípio, os governos europeus incentivavam e encorajavam a emigração, como válvula de controle do aumento da população. Com a introdução da máquina a vapor e inovações como o transatlântico com propulsão a hélice, milhões de pessoas se movimentavam entre os continentes, em uma emigração que não obedecia a nenhum planejamento, dependendo somente de decisões pessoais, entre elas a insatisfação, o medo, ou o desejo de uma vida melhor.

O governo alemão também encorajava grupos de empreendedores a conhecer novas terras para conseguir mercado para os produtos alemães. Para algumas colônias, chegou-se a fazer o planejamento, e a contratação de administradores e profissionais liberais para a formação das colônias, que vinham para o Brasil e formavam sua vida aqui. Embora desejadas, as relações comerciais entre as colônias alemãs e sua terra de origem foram modestas, muitas vezes restando somente aos colonos a identificação cultural com a terra de origem, pois não mais tinham contato com ela.

Os alemães que imigraram para o Brasil eram normalmente camponeses insatisfeitos com a perda de suas terras, ex-artesãos, trabalhadores livres e empreendedores desejando exercer livremente suas atividades, perseguidos políticos, pessoas que perderam tudo e estavam em dificuldades, pessoas que eram "contratadas" através de incentivos para administrarem as colônias ou pessoas que eram contratadas pelo governo brasileiro para trabalhos de níveis intelectuais ou participações em combates.

Imigração voltada para a colonização


A imigração alemã no Brasil foi, inicialmente, uma iniciativa de colonização e povoamento. Este projeto foi arquitetado pelo Rei D. João VI e, posteriormente, pelo imperador D. Pedro I. A colonização continuou a ser efetuada pelo imperador D. Pedro II, durante o Segundo Reinado.

A concentração da colonização alemã no Sul do Brasil possui uma explicação: grande parte da região estava despovoada e as fronteiras com as ex-colônias espanholas ainda não estavam bem-definidas. Em conseqüência, a falta de povoadores na região poderia culminar numa fácil invasão estrangeira. Com a Independência do Brasil, a imigração portuguesa declinou por um certo tempo. O governo brasileiro se viu obrigado a procurar novas fontes de imigrantes: vieram alguns suíços, porém foram os alemães aqueles que ficaram incubidos de colonizar o Sul do País.

A imigração durante o século XIX


Rio Grande do Sul


Em 1824 chegam os primeiros colonos alemães ao Rio Grande do Sul, sendo assentados na atual cidade de São Leopoldo. Os alemães chegavam em pequeno número todos os anos, porém eram em número suficiente para se organizar e expandir pela região.

Nos primeiros cinquenta anos de imigração, foram introduzidos entre 20 e 28 mil alemães ao Rio Grande do Sul, a quase totalidade deles destinados à colonização agrícola. Os primeiros colonos vieram de Holstein, Hamburgo, Mecklemburgo e Hanôver. Depois, passaram a predominar os oriundos de Hunsrück e do Palatinado. Além desses, vieram da Pomerânia, Vestfália e de Württemberg.14



 

Mapa mostrando a dispersão das colônias alemãs no Sul do Brasil em 1905.

Em algumas décadas, a região do Vale do Rio dos Sinos estava quase que completamente ocupada por imigrantes alemães. A colonização transbordou da região, se expandindo por outras áreas do Rio Grande do Sul. É notável que a colonização alemã foi efetuada em terras baixas, seguindo o caminho dos rios. Na década de 1870, praticamente todas as terras baixas do interior do Rio Grande do Sul estavam sendo ocupadas pelos alemães, porém, as terras altas não atraíam os colonos, permanecendo desocupadas até a chegada dos italianos, em 1875.


 

Mapa mostrando a dispersão das colônias alemãs no Sul do Brasil em 1911.

Santa Catarina


Ao contrário do que sucedeu no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina a colonização alemã não foi promovida através do governo, mas por iniciativas privadas. A Primeira Colônia alemã no Estado foi São Pedro de Alcântara, fundada em 1º de março de 1829. As colônias alemãs mais importantes foram criadas a partir de grupos como Hermann Blumenau e Ferdinand Hackradt (em 1850 a Colônia Blumenau) e pela Sociedade Hamburguesa (em 1851, a Colônia Dona Francisca, atual Joinville), ao norte do litoral do estado. A partir do início do século XX, imigrantes alemães foram trazidos do Rio Grande do Sul para ocupar novas colônias no oeste do estado. Essas colônias já não eram exclusivamente alemãs, pois também continham outros grupos de imigrantes, principalmente italianos.

Paraná


No Paraná os alemães também marcaram forte presença em todas as regiões do estado. A primeira colônia foi fundada em 1829 em Rio Negro. Em 1855 alemães originários da Prússia fundam as Colônias de Terra Nova e Santa Leopoldina em Castro. Entre 1877 e 1879, chegou número apreciável de alemães vindos da Rússia (os alemães do rio Volga, ver artigo: Alemães-Bessarábios).


 

Arquitetura Típica - Colônia Jordãozinho - Entre Rios - Guarapuava - PR.

A maior parte dos imigrantes chegou no início do século XX, vindos diretamente da Alemanha, e se estabeleceram sobretudo nas regiões leste e sul (em cidades como Curitiba, Ponta Grossa, Palmeira, Rio Negro, Ivaí, Irati, Cruz Machado, entre outras). Em meados dos anos 1950, pessoas oriundas de colônias alemãs em Santa Catarina e Rio Grande do Sul também migraram para a Região Oeste e Sudoeste do estado. Nesta mesma época Suábios da região do Rio Danúbio criaram Entre Rios, em Guarapuava, e imigrantes oriundos de Danzig ocuparam a região de Cambé e Rolândia, no Norte do estado. A cidade de Rolândia, muito perto de Londrina é sede de um consulado alemão, que atende as regiões Oeste e Norte do estado. A cidade também realiza anualmente a Oktoberfest de Rolândia, grande evento que recebe mais de 60.000 pessoas, sendo vista por muitos como a segunda cidade mais alemã do Paraná, atrás apenas de Marechal Cândido Rondon.

Em Curitiba, os imigrantes alemães começaram a chegar, em maior número, a partir de 1833, e influenciaram fortemente a cultura e a economia local. Muitos casarões existentes nos bairros Fanny, Hauer, Juvevê, Lamenha Pequena, Pilarzinho, São Francisco, Vista Alegre e Xaxim, ainda mantém a arquitetura alemã. Para preservar a cultura germânica, os imigrantes organizaram-se em sociedades teuto-brasileiras, como o Clube Concórdia, Clube Rio Branco, Duque de Caxias, Clube Thalia, Graciosa Country Club e a Sociedade Morgenau.

Hoje, a maior colônia de alemães Paranaenses está no município de Marechal Cândido Rondon, que guarda na fachada das casas, na culinária e no rosto de seus habitantes a marca da colonização. Outras cidades do oeste paranaense, como Cascavel, Missal e Quatro Pontes apresentam forte imigração alemã. Na região Centro-Oeste do estado, mais precisamente no município de Campo Mourão é realizada pela comunidade alemã a tradicional festa da Costelinha, onde o município conta com igrejas luteranas e dois colégios alemães.

Rio de Janeiro


O Rio de Janeiro foi o primeiro dentre todos os estados brasileiros a receber imigrantes alemães, tendo estes imigrantes chegado em 3 e 4 de maio de 1823, quando rumaram para a colônia suíça de Nova Friburgo. Já em Petrópolis, a imigração alemã foi concebida pelo alemão (posteriormente naturalizado brasileiro) Júlio Frederico Koeler (ou Julius Friedrich Koeler), major do Império Brasileiro. O pitoresco do projeto de Koeler foi o fato de batizar os quarteirões com nomes de cidades e acidentes geográficos das regiões (Rheinland e Hessen) de onde vinham os colonos alemães: Kastellaun (Castelânea), Mosel (Mosela), Bingen, Nassau, Ingelheim, Woerrstadt, Darmstadt e Rheinland (Renânia). As terras foram arrendadas para Koeler e, através dele, aos imigrantes, resultando em um sistema de foro e laudêmio (enfiteuse) pago aos herdeiros de Dom Pedro II até hoje. Estes imigrantes chegaram em Petrópolis no ano de 1837.

Espírito Santo


No Espírito Santo, os principais imigrantes de origem germânica foram os pomeranos (provenientes de uma área entre a Alemanha e a Polônia). A imigração alemã se deu entre 1846 e 1879, se estabeleceram principalmente no Centro-Sul do Estado, a primeira colônia fundada foi a de Santa Isabel , cuja sede, denominada pelos primeiros alemães de Campinho, foi construída a primeira igreja luterana da América do Sul.

No século XIX, entraram no Espírito Santo 3.933 alemães e foi computada a entrada de 79 alemães a partir do ano de 1900, totalizando a entrada de 4.012 indivíduos. Embora contados como "alemães", a maioria desses indivíduos eram provenientes da então província da Pomerânia, principalmente da parte oriental daquela província, das cidades de Belgard, Greifenberg, Kolberg (Kołobrzeg), Kowak, Labes (Łobez), Regenwald e arredores. Essa região, desde a II Guerra Mundial, passou a fazer parte da Polônia.17

Regiões de origem dos alemães entrados no Espírito Santo (1812-1900)17
Região
Número de imigrantes
Pomerânia
2.224
Renânia
247
Hesse
240
Prússia
226
Saxônia
194
Outras regiões
351
Total
3.933
Não consta
451

Os pomeranos, originários de uma região entre a Alemanha e a Polônia, começaram a chegar ao estado no ano de 1859, se dirigiram um pouco mais ao norte que os alemães, se estabelecendo principalmente em Santa Maria de Jetibá e Domingos Martins, Os pomeranos estabeleceram suas colônias em total isolamento do resto do Estado, preservando muito de sua cultura e hábitos, como por exemplo o idioma, sendo a cidade de Santa Maria de Jetibá uma cidade bilíngue.

Um número considerável de imigrantes também eram originários da região da Renânia, sobretudo das montanhas do Hunsrück, no vale do rio Reno. Dos alemães que foram para o Espírito Santo, 63% eram oriundos da Pomerânia, 7% da Renânia e 7% de Hesse, 6% da Prússia e 6% da Saxônia, 3% de Westphalia, 2% de Baden e 2% de Brandenburg, 1% da Baviera e outro porcento de outras regiões.17

Esse número reduzido de alemães que imigrou para o Espírito Santo a partir do ano de 1847 se multiplicou e deu origem a uma quantidade considerável de descendentes. Segundo estimativas do historiador Jean Roche, no ano de 1930 havia 30 mil descendentes de alemães no estado (cerca de 4% da população total), número que saltou para 70 mil indivíduos em 1961 (aproximadamente 5% da população capixaba).

São Paulo


A colonização alemã no São Paulo aconteceu principalmente durante o século XIX, quando chegaram os primeiros colonos vindos da Alemanha.

Em 1827, desembarcavam os primeiros alemães no porto de Santos, levados a Santo Amaro. Os grupos seguintes fixaram-se em Itapecerica da Serra, São Roque e Embu, ou foram levados para Rio Claro e as plantações de café no interior de São Paulo.

Restante do Brasil


O Sul do Brasil recebeu a esmagadora maioria dos imigrantes alemães, porém, a presença germânica no Sudeste do Brasil é notável. Em Minas Gerais, a maior colônia alemã estabeleceu-se em Juiz de Fora, onde em 1858 chegaram aproximadamente 1.200 colonos, o que representava cerca de 20% da população da cidade na época.

Mais recentemente, a partir da década de 1970, sulistas descendentes de alemães têm migrado para a Região Centro-Oeste do Brasil em busca de melhores condições de vida no campo.

A imigração em números


Imigração alemã no Brasil por décadas de 1824 a 1969
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
 
Imigração Alemã
Décadas
1824-1847
1848-1872
1872-1879
1880-1889
1890-1899
1900-1909
1910-1919
1920-1929
1930-1939
1940-1949
1950-1959
1960-1969
Imigrantes
8.176
19.523
14.325
18.901
17.084
13.848
25.902
75.801
27.497
6.807
16.643
5.659

Os alemães não chegaram ao Brasil em grandes contingentes, como ocorreu com os portugueses e italianos. Porém, a imigração ocorreu durante longo tempo, desde 1824, com a chegada dos primeiros colonos, até aproximadamente a década de 1960, quando chegaram as últimas levas significativas. Alcançou seu número máximo na década de 1920, após a I Guerra Mundial. Houve, de certa forma, dois ciclos de imigração alemã no Brasil: o primeiro decorrente da política de colonização, sobretudo nos estados do sul do Brasil, incentivado pelo governo brasileiro, e um outro ciclo posterior, sem incentivo oficial do governo brasileiro.

Durante muitas décadas, os alemães chegaram a ser o maior grupo de imigrante a entrar no Brasil, superando inclusive os portugueses. Esse período aconteceu em grande parte do século XIX.

 

População de origem alemã por estados
Estado
1872[3]
1890[4]
1920[5]
1940 [6]
1950[7]
7%
 
20,5%
22,34%
 
 
13,3%
 
19,3%
21,6%
 
 
 
6,9%
 
 
 
 
2,5%
 

A política imigratória


A princípio, o governo brasileiro sempre reconheceu, desde a independência, que a imigração estrangeira seria indispensável para o crescimento do país.


 

Casa enxaimel na cidade catarinense de Joinville.

Por iniciativa de Dom Pedro I, foram criadas colônias alemãs de norte a sul do Brasil, porém com enfoque nos estados do Sul (1824). Os imigrantes alemães se reuniam em grupos e formavam as colônias, onde podiam exercer suas profissões, e não tinham restrições em relação ao idioma, religião ou tradição. Por muito tempo diversas colônias ficaram isoladas, algumas até esquecidas e desprovidas de ajuda, gerando grandes lutas de sobrevivência dos colonos alemães nas novas e isoladas terras, com clima diferente e em muitos casos, ataques ou hostilidade por parte de brasileiros (índios ou não). As vias de acesso que foram prometidas não foram cumpridas, e, se chegaram, foram décadas mais tarde. A construção de uma infra-estrutura básica também falhara, com o governo descumprindo suas promessas iniciais.

Algumas colônias sobreviveram, mesmo que de forma precária, voltando a um estilo precário de vida, havia muito tempo já extinto na Alemanha. Outras colônias conseguiram se desenvolver e se expandir demograficamente, desenvolvendo sua economia e novos trabalhos, alguns desconhecidos dos brasileiros, pois tinham técnicas diferentes, ganhando mercado de trabalho nacional e também internacional, através da venda de produtos coloniais e matérias-primas, e a importação de manufaturados e equipamentos que não eram produzidos no Brasil.

Devido às falhas na política de imigração, o governo brasileiro resolveu mudar as regras, pretendendo assim atrair somente colonos com condições econômicas de se estabelecerem no país e se desenvolverem. Os colonos passariam a arcar com os custos da viagem e também a pagar pelas terras.

Assim sendo, a imigração que inicialmente tinha uma política de povoamento, de ocupações de espaços vazios e demográficos, agora tratava de garantir que os imigrantes se tornassem mão-de-obra para as lavouras de café.

Com a expansão da lavoura cafeeira (1840) e com a proibição do tráfico de escravos (1850), o governo brasileiro sentiu a necessidade de aumentar a quantidade de trabalhadores livres, o que se intensifica com a chegada das leis que pré-anunciavam a abolição por completo da escravidão. Para suprir a falta de mão-de-obra, medidas foram tomadas para atrair mão-de-obra européia, e o direito de trazer imigrantes, antes sob o controle do governo imperial, foi aumentado, assim cada província poderia ter sua própria política de imigração e promover como quisesse maneiras de realizá-la.

Surgiram as companhias de colonização, criadas para promover a colonização no Brasil, que compravam terras baratas e as revendiam caras aos colonos. Os proprietários das companhias de colonização enriqueceram rapidamente, enquanto muitos colonos se endividaram e voltaram à Alemanha.

Surgiram também jornais alemães especializados e destinado aos emigrantes, como o Allgemeine Auswanderungs-Zeitung (1847-1871), de Rudolstadt, e o Deutsche Auswanderer-Zeitung (1852-1875), de Bremen. Estes jornais publicavam informações sobre imigrações, como informações sobre os países que recebiam imigrantes, reportagens sobre as colônias, listas dos navios e datas de partidas, preços de passagens, anúncios, etc…


 

Blumenau, cidade fortemente marcada pelos alemães.

Investiu-se em propagandas para atrair os imigrantes para o Brasil, onde tratavam o Brasil como sendo o paraíso. Cartazes, jornais, folhetos, livros e fotografias eram distribuídos na Europa, através de agências contratadas e com ajuda das companhias de colonização, para estimular a vinda dos imigrantes.

Os problemas na imigração


O governo alemão proibiu em 1859 a emigração para o Brasil devido a um forte movimento que surgiu na Alemanha contra esta emigração, devido a diversos problemas.

Os problemas começavam já na vinda para o Brasil, nos navios, em viagens que poderiam durar cerca de 3 a 4 meses pelo Oceano Atlântico. Em algumas situações, imigrantes esperavam o navio por cerca de dois meses no porto de Hamburgo, em condições precárias, onde inclusive ocorriam óbitos. Muitas viagens foram feitas em navios com excesso de passageiros, onde as pessoas viajavam espremidas, com alimentação deficiente e má higiene, quando não aconteciam inúmeros óbitos por causa de epidemias. Também muitos imigrantes morriam ao chegar ao Brasil, por causa de doenças tropicais.

Ao chegar ao Brasil, os imigrantes alemães sofreram para se adaptar ao clima brasileiro, ao idioma e às novas condições de vida, normalmente primitivas, que já não tinham em seu país de origem.

Em alguns casos, chegavam ao Brasil e por não estarem suas terras demarcadas, ficavam alojados em prédios ocupados antes por escravos, aguardando durante meses o assentamento em seus lotes. Também por problemas na demarcação de terras, muitas brigas surgiam.

O isolamento das colônias também dificultava a adaptação ao novo ambiente, na medida em que faltava acesso a tratamento médico para doenças ou partos, (quando a colônia não tinha seu próprio médico) e muitos morriam por não chegarem a tempo na cidade mais próxima, pois dependiam de transporte por tração, o que era lento e poderia levar horas ou dias. A distância, mas também a falta de dinheiro, dificultavam o acesso a tratamentos.

A situação precária para sobrevivência causava muita decepção e desgosto, pois não eram as perspectivas que tinham quando decidiram emigrar. As promessas de que iriam para o "paraíso" aumentavam o sofrimento, quando estavam frente a frente a matas fechadas para derrubarem a machado, onde inclusive as mulheres ajudavam.

A espera pelo cumprimento de promessas como o desenvolvimento da região com a construção de vias de acesso e a promessa de subsídio com dinheiro ou instrumentos de trabalho (ferramentas, sementes, gado, material de construção) não foram cumpridas na maior parte das colônias alemãs. A liberdade de culto de religião, apesar de declarada, era somente tolerada, pois ia contra a constituição brasileira. Para tanto, os imigrantes protestantes não poderiam construir prédios que tivessem a aparência de igreja, como usando sinos e cruzes.

Muitas terras recebidas pelos imigrantes eram simplesmente "ingratas": secas e ácidas, sem capacidade de boa produção de alimentos para a própria subsistência. Até descobrirem quão inférteis eram aquelas terras, já haviam investido trabalho, sementes e tempo ao tentar cultivá-las, e entre a espera da colheita e a frustração de não conseguir colher nada, passavam fome.

Quando os imigrantes eram empregados em alguma fazenda, muitos se viram na condição de "semi-escravos", quando trabalhavam por horas a fio, e não recebiam tudo o que fora prometido pelo trabalho, isso quando não eram maltratados pelos donos das fazendas.

A imigração durante o século XX


Foi no século XX que chegou a maior parte dos imigrantes alemães ao Brasil. Só na década de 1920 desembarcaram 70 mil alemães no país. A maior parte desses imigrantes não mais iam para as colônias rurais, pois rumavam para os centros urbanos: eram operários, artífices e outros trabalhadores urbanos, professores, refugiados políticos. A cidade de São Paulo recebeu a maior parte dessa nova onda de emigração alemã: em 1918 viviam na cidade cerca de 20 mil alemães. Outros rumaram para Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

Também houve grupos de alemães na década de 1940 que emigraram para o Brasil por conta da Segunda Guerra Mundial.

Nacionalização e assimilação            


O brasileiro comum em geral manteve uma postura entre a desconfiança e a hostilidade ao imigrante alemão. A opinião geral ficou mais contundente após a Unificação da Alemanha, com a percepção que as relações entre as colônias do sul do Brasil e a Alemanha pudessem desencadear um movimento ameaçador à integridade do Brasil. Ideia essa que se estendeu com intensidade variável por quase quarenta anos, até a Primeira Guerra Mundial24 sendo propalada por diversos intelectuais, com grande destaque para as obras de Sílvio Romero, paladino do “perigo alemão”.

Esse temor, por outro lado era infundado, já que grande parte dos imigrantes haviam emigrado antes da reunificação e o carinho e o sentimento de reciprocidade em relação à terra natal era dedicado à aldeia ou à família, e não à nação. Estes imigrantes pioneiros e os Brummer chegados em 1851, ao receberem os novos grupos, pós-reunificação ( os Reichsdeutsche ou alemães do Império), não se harmonizaram bem, considerando-os eruditos demais, excessivamente apegados à região de origem e defensores de um país que não dizia respeito à sua história.

A suspeita de antibrasilidade ganhou reforço pela questão religiosa, com a presença de imigrantes luteranos; pelo relativo isolamento dos colonos em locais de difícil acesso; pela falta de escolas oficiais e portanto pela ausências de educação para os filhos de imigrantes de forma a que aprendessem o idioma português; pelo sucesso empresarial de alguns imigrantes, que passaram a dominar alguns mercados locais. Isto levava a casos em que políticos locais, como João José Pereira Parobé declarassem que preferiam o atraso econômico do estado a ver a prosperidade depender dos povos de origem germânica.

A antipatia em relação a Alemanha também se baseou em alguns episódios diplomáticos, entre eles:

1.    o desejo manifesto do governo alemão de adquirir uma colônia na América;

2.    o desembarque de marinheiros alemães da canhoeira Panther, em Santa Catarina, em 1905, sem autorização do governo brasileiro, para buscar e prender um marinheiro acusado de deserção;

3.    a manobra feita para aumentar os preços do café iniciada em 1906 liderada pelo alemão Hermann Sielcken. A manobra deu resultados, porém o consórcio se desfez em 1913, e alguns de seus fundos foram confiscados pelo governo alemão no início da Primeira Guerra Mundial

Na década de 1940, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra à Alemanha e proíbiu o uso da língua alemã no Brasil, além de confiscar bens de imigrantes alemães. Isso afetou imediatamente as colônias alemãs do País. Foi a partir desse momento que as colônias que ainda se mantinham isoladas no campo passaram a se abrir para a cultura brasileira e à miscigenação com outras etnias.

Nas colônias mistas do Sul do Brasil, o casamento entre alemães e italianos tornou-se um fenômeno comum. Mesmo nas colônias etnicamente alemãs, torna-se cada vez mais raro ver-se pessoas com ascendência puramente alemã: o casamento entre descendentes de alemães com pessoas de outras etnias tornou-se algo comum.

O projeto de nacionalização dos estrangeiros arquitetado por Vargas surtiu grande efeito. Os alemães no Brasil, de fato, viviam em um mundo à parte da realidade brasileira: confinados em colônias etnicamente alemãs, os imigrantes estudavam em escolas para alemães e tinham na sua cultura herança total germânica. Entre os descendentes, havia o sentimento de Deutschtum: mesmo nascidos no Brasil e, portanto, tendo como nacionalidade a brasileira, os teuto-brasileiros ainda viviam totalmente ligados à Alemanha.

Depoimento importante é da escritora gaúcha Lya Luft, nascida na colônia de Santa Cruz do Sul:

Na minha família se falava "nós, os alemães, e eles, os brasileiros". Isso era uma loucura, porque nós estávamos há gerações no Brasil. E como eu era uma menininha muito contestadora, um dia, com 7 ou 8 anos, numa Semana da Pátria, me dei conta: "Por que falam 'die Brasilianer und wir'?". Eu quero ser brasileira (…) Eu nasci em 1938 e logo em seguida começou a guerra. Em casa falávamos alemão, mas em seguida tive que falar português porque o alemão foi proibido. Minhas avós falavam alemão. Nenhuma conheceu a Alemanha. Eu me lembro delas sempre lendo. Isso é uma coisa legal que eu tenho delas – todo um imaginário dos contos de fadas33 .
 

Em visitas às colônias alemãs do Sul, membros do governo brasileiro se horrorizavam ao ver brasileiros com nomes alemães e que mal conseguiam falar o português. Embora fosse um elemento importante para a diversidade étnico-cultural do Brasil, as colônias alemãs eram um meio fácil da propagação nazista. A nacionalização do governo Vargas foi um grande divisor de águas: de uma geração para outra, os descendentes de alemães perderam praticamente toda a sua identidade e se tornaram essencialmente brasileiros.

A influência alemã no Brasil



 

Comemoração da oktoberfest na cidade gaúcha de Igrejinha.

A mistura de imigrantes de diversas partes da Alemanha não criou conflitos e nem divergências no Brasil: com o passar do tempo, criou-se uma identidade teuto-brasileira compartilhada por todos. Um exemplo claro são os pomeranos. Esse povo foi, durante séculos, marginalizado pelos alemães, o que levou milhares deles a emigrar. Apesar de não se considerarem alemães, no Brasil os pomeranos acabaram sendo agrupados entre os alemães. A cidade de Pomerode, colonizada por pomeranos, é conhecida por ser a cidade mais alemã do Brasil, mesmo que os antepassados da população da cidade nem ao menos se consideravam como sendo alemães.

Em diversas localidades do Brasil, mas em especial na Região Sul, são evidentes as marcas dos imigrantes alemães. O estado de Santa Catarina é considerado o mais alemão do Brasil. Aproximadamente 20% da sua população é de ascendência alemã, a maior porcentagem dentre os estados brasileiros. As cidades do interior do estado ainda preservam a arquitetura germânica das casas, bem como a língua alemã e festas populares, como a Oktoberfest, são marcas fortes da imigração alemã no Sul do Brasil.

Os descendentes de imigrantes alemães que se fixaram nas colônias rurais do Brasil durante o século XIX acabaram por criar uma identidade teuto-brasileira. Embora nascidos no Brasil, esses colonos mantinham laços culturais estreiros com a Alemanha natal: a língua alemã era falada pela maioria e os hábitos continuavam os mesmos, inclusive houve vários jornais de língua alemã nas colônias.

O ano de 2013 é o ano da Alemanha no Brasil.

A língua alemã do Sul do Brasil


No ano 2009, a imigração alemã ao Brasil meridional completou 185 anos. Apesar de seu abandono e da falta de reconhecimento pelas autoridades como capital cultural intangível e mesmo, periodicamente, vítima de políticas exterminatórias agressivas, o idioma alemão perdura como um falar regional brasileiro.


 

Parque homenageando a arquitetura dos imigrantes, em Nova Petrópolis.


 

A beleza das cidades germânicas do Brasil, como Gramado, atrai milhares de turistas.

O alemão e seus diversos dialetos eram a língua principal entre os milhares de alemães e seus descendentes no Brasil. Todavia, com a campanha de nacionalização de Vargas, iniciada na década de 1930, o alemão foi sendo substituído pelo português. Os fatores para a língua alemã ter sobrevivido no Brasil por diversas gerações são que, em muitos casos, professores eram trazidos da Alemanha para educar os filhos dos colonos. O meio rural também facilitou, haja vista que em muitas colônias alemãs o contato com a língua portuguesa era mínimo.

Os falantes de alemão no Brasil se dividem em dois grupos: nas regiões mais humildes e rurais, onde a presença dos professores alemães foi mínima, falam-se dialetos, dependendo de que região da Alemanha vieram os povoadores. O dialeto mais difundido é o Riograndenser Hunsrückisch (que poderia ser traduzido como hunsriqueano rio-grandense). Outros muitos falam outros dialetos minoritários também distintos. Aqueles que frequentavam escolas e vivem em áreas mais urbanizadas, falam o alemão padrão culto hochdeutsch, como por exemplo a internacionalmente renomada autora rio-grandense do sul Lya Luft. O ex-presidente Ernesto Geisel também pode ser citado, sendo que lia Goethe em seu texto original.

Estima-se que haja um milhão de falantes de alemão no Brasil, a grande maioria bilíngues com o português.

A etnia teuto-brasileira


A imigração alemã no Sul do Brasil deixou marcas profundas na etnia da população. Nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, parte significativa da população tem origens alemãs. Números menores se encontram em todo o Sudeste e Centro-Oeste do país.

Conceito sociológico


Além de ser um termo de designação étnica, o conceito de "teuto-brasileiro" também se tornou um conceito sociológico, alvo de uma série de discussões acadêmicas, relacionadas ao papel do imigrante e descendente de alemães no Brasil a partir da década de 1930. Emílio Willems, Artur Hehl Neiva, Carlos Henrique Oberacker Junior, Egon Schaden, entre outros, foram pesquisadores acadêmicos que retomaram a noção de "teuto-brasileiro", inserindo-a em um contexto mais brando que os debates acerca do "perigo alemão" no Brasil, comum desde o início do século XX, sobretudo no sul do Brasil.

Miscigenação


Antes de falar do processo de miscigenação do imigrante alemão no Brasil, é necessário fazer uma distinção entre dois grupos: os alemães católicos e os luteranos. Para os primeiros, sem dúvida, a aproximação com os brasileiros se mostrava inevitável, principalmente enquanto não havia igreja na colônia, o que forçava os colonos a ter uma maior convivência com o elemento brasileiro a fim de praticar a sua religiosidade. Isso, somado à interação por fatores econômicos e pessoais, aumentavam as chances de casamentos mistos. Para os luteranos, por outro lado, o contato com os brasileiros se limitava à esfera econômica, uma vez que tendiam a se isolar devido ao caráter germanizante da sua religião, favorecendo a prática de endogamia. Dados estatísticos de duas comunidades alemãs, uma localizada em Curitiba (Paraná) e outra em São Lourenço (Rio Grande do Sul) confirmam isso.

Nos registros de matrimônios de uma paróquia de Curitiba, dos alemães católicos que se casaram entre 1850 e 1919, 42,88% o fizeram com pessoa de origem alemã, enquanto que a maioria (57,12%) contraiu matrimônio com pessoa de outra etnia. Situação bastante antagônica se dava entre os evangélicos: 93% dos alemães luteranos casaram com pessoa de etnia alemã e apenas 6,9% com pessoa de outra origem. Situação semelhante foi verificada entre os alemães de São Lourenço, embora nesta localidade os casamentos intra-étnicos predominaram tanto entre católicos como entre protestantes. Entre 1861 e 1930, dos católicos alemães de São Lourenço, 73,9% contraíram matrimônio com pessoa de etnia alemã e 26,1% com de outra origem. Já entre os luteranos, apesar de haver dados escassos, para o período entre 1903 e 1930, verificou-se que 96,9% deles casaram com alemães e apenas 3,1% com não alemães.

Verifica-se, portanto, que a religião era um elemento que tinha notável influência nos padrões matrimoniais dos alemães no Brasil. O luteranismo não encontrava adeptos entre os brasileiros e seus cultos, em alemão, desencorajavam a participação de elementos de fora da comunidade. A própria religião luterana configurava um elemento germanizante e, tendo em vista a tradição católica que predominava no Brasil, fazia com que seus seguidores se unissem e impedissem a infiltração do elemento brasileiro. Já os alemães de fé católica tinham maior afinidade com os brasileiros e com eles conviviam mais, aumentando as chances de contraírem matrimônios mistos.

Outros fatores também influenciaram os padrões nupciais dos alemães no Brasil. A própria forma como as colônias agrícolas se organizavam, formando "ilhas" perdidas do restante da população brasileira, muitas vezes separadas por florestas, favorecia o isolamento. Os imigrantes muitas vezes chegavam e se reuniam em pequenos grupos e se sentiam deslocados numa terra estranha, onde não encontravam com quem se identificar até que um novo grupo alemão chegasse. Portanto, principalmente para os primeiros imigrantes, era praticamente inconcebível procurar um cônjuge fora do grupo alemão, pois a sua comunidade representava a continuidade do que ficara para trás.

Mais tarde, surgiram preconceitos de parte a parte e representações sociais ligadas ao preconceito de raça. De um lado, os alemães olhavam a mulher brasileira como uma má dona-de-casa e o homem brasileiro como pouco trabalhador. Os brasileiros também olhavam com estranheza os alemães devido aos seus costumes e características raciais tão diferentes das suas.

Assim, essas condições psicológicas, naturais e religiosas exerceram influência nas características matrimoniais que tiveram os alemães no Brasil.

Reavivando a cultura Teuto-brasileira



 

A oktoberfest é uma das tentativas de resgatar as tradições alemães no Brasil.

Nas últimas décadas, vê-se uma tentativa de reavivar a cultura germânica nas áreas de colonização alemã.41 Exemplos são festas populares, como a Oktoberfest. Todavia, tais manifestações são mais turísticas que representações de cultura étnica. A Oktoberfest, por exemplo, só se popularizou na região na década de 1980: não foi trazida pelos imigrantes, mas importada como forma de alavancar a economia regional. Cidades de colonização alemã começaram a ressuscitar a arquitetura enxaimel, trazida pelos imigrantes, embora o estilo arquitetônico esteja extinto na Alemanha desde o século XVIII.

Os descendentes de alemães estão completamente integrados à sociedade brasileira há mais de três gerações. O que se assiste nas antigas colônias alemãs é uma tentativa de alavancar o turismo local, usando do que restou de uma cultura teuto-brasileira extinta desde a década de 1940 para promover festas ditas "alemãs". A cidade de Pomerode, por exemplo, tem como slogan "a cidade mais alemã do Brasil". De fato, o município foi povoado por pomeranos, povo mais relacionado aos eslavos do que aos germânicos. Durante séculos, os pomeranos foram explorados pelos alemães e sua cultura é bastante diferente da cultura alemã. Ignorando os fatos históricos, Pomerode se orgulha em se dizer a "mais alemã do Brasil".

Alemão como língua oficial


Em um processo de revitalização, e através de um forte apelo de brasileiros germanófonos para a adoção da língua alemã como vernáculo oficial das cidades colonizadas por alemães, o município de Pomerode foi o primeiro a adotar a língua alemã como co-oficial no município. O processo de vernaculação oficial do alemão deve se repetir nos próximos anos em todo município em que a maioria da população seja descendente de imigrantes alemães, de forma que escolas públicas ensinem obrigatoriamente a língua alemã, e serviços públicos também sejam prestados em alemão.

Também foi aprovada em agosto de 2011 a PEC 11/2009, emenda constitucional que inclui no artigo 182 da Constituição Estadual a língua pomerana, junto com a língua alemã, como patrimônios culturais do Espírito Santo.

Municípios brasileiros que possuem língua co-oficial pomerana (ou Pommersch)



 

Municípios em que a língua pomerana é co-oficial no Espírito Santo.

Espírito Santo


Minas Gerais[]


Santa Catarina


Rio Grande do Sul[


Rondônia


Municípios brasileiros que possuem língua co-oficial hunsriqueana (ou Hunsrückish


Rio Grande do Sul

Santa Maria do Herval

Santa Catarina[


Municípios brasileiros que oficializaram o ensino da língua alemã


Rio Grande do Sul[


Santa Catarina]

Nenhum comentário: