História da França
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História da França |
Categoria: História da França
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As culturas mais antigas são as do paleolítico
(50000-8000
a.C.), que deixaram rica herança artística de pinturas rupestres, como as de Lascaux.
Os gregos,
no século VII a.C., estabeleceram uma colônia em Marselha
e negociaram com o interior através do vale do Ródano.
No século V a.C. a cultura de La Tène
se estendeu do leste da Gália
a todo o resto do mundo celta.
As fronteiras da França
moderna são muito semelhantes às fronteiras da antiga Gália, território
habitado pelos gauleses, de origem celta. A Gália foi conquistada pelos romanos no século I a.C.,
e os gauleses acabaram por adoptar a cultura e a língua latinas. Em 121 a.C.,
os romanos ocuparam Marselha, a que chamaram Massilia, e fundaram outros
assentamentos no interior, que constituíram a base territorial da província
romana da Gália Narbonense. Júlio César
conquistou o resto da Gália entre 58 e 51 a.C., consolidando o poder romano.
Território francês de 985 a 1947. Em verde ganhos
de territórios e em vermelho perdas.
Apesar de a monarquia
francesa ser muitas vezes datada do século V,
a existência da França como país costuma ser fixada no século IX
com o Tratado de Verdun, que definiu a partilha do Império Franco
de Carlos Magno
nas porções ocidental, central e oriental (a central foi absorvida pelas outras
duas). A parte oriental pode ser considerada a origem histórica da Alemanha;
já a parte ocidental formou o país que viria a ser conhecido como França.
Pré-História[ | ]
Os primeiros povoadores da França são grupos nômades
que se dedicam à caça e
à colheita:
desenvolvem ferramentas de pedra, inicialmente lascadas e depois polidas;
adotam paulatinamente a vida sedentária no momento da revolução
neolítica, que se caracteriza, entre outras coisas, pela
domesticação dos primeiros animais e pelo surgimento da agricultura; constroem
cabanas e se estabelecem em pequenas aldeias; pintam cenas mágicas nas paredes
das cavernas onde se refugiam frequentemente. Ao pé do monte de Solutré (centro
da França), foram descobertos restos de milhares de cavalos selvagens presos em
currais durante as gigantescas caçadas organizadas por estes caçadores
pré-históricos, que enfrentavam também animais como os mamutes.
Os Celtas e os Lígures
Soldados gauleses.
Vindos do norte, os novos colonizadores celtas trazem
consigo as técnicas da metalurgia, da olaria, da fabricação do vinho e sua
conservação em barris. Os lígures viviam frequentemente em casas construídas sobre
estacas à margem dos lagos. A arte celta reproduz animais de maneira estilizada
em objetos pequenos como jóias e fivelas. Até o século III a.C., a França
abarca uma multidão de povos ou etnias gálicas dirigidas por chefes militares
(os reis) ou religiosos (os druidas).
A Gália Romana
O imperialismo romano encontra rapidamente a
resistência gálica encabeçada por um carismático chefe, Vercingetórix.
Finalmente, este tem que render-se ante Júlio César
depois do sítio de Alésia para evitar que seus homens pereçam de
fome. A Gália
se converte em uma província romana e é então que se desenvolvem as
características de uma civilização refinada que muitas cidades francesas ainda
conservam: banhos públicos, aquedutos, fontes teatros…
As Invasões dos Bárbaros
Entre os anos de 406 e 420 d.C., o Império Romano
cede por todas as partes às pressões dos bárbaros do Norte e do Leste. A França
é invadida pelos burgúndios, vândalos,
visigodos,
ostrogodos
e, finalmente, pelos francos. No entanto, o sistema imperial permanece na
aparência, e os administradores romanos recrutam bárbaros como mercenários.
Estes últimos são os que permitem resistir à expedição dos hunos, encabeçada por Átila,
que conduz suas tropas às portas de Paris.
Os defensores da cidade são animados por Santa Genoveva.
Os hunos foram detidos nos campos catalônicos.
Os Francos
Clóvis, neto de Meroveu, chefe de um novo grupos de francos que utilizam uma
arma particular, a francisca, derrota o último exército romano estabelecido
na Gália;
os germanos
e os burgúndios
são também rechaçados; os visigodos são repelidos até o sul dos Pirenéus
depois da grande batalha de Vouillé em 507. Em 486, Clóvis
recebe o batismo católico. Eleito "rei dos francos" segundo a
tradição germânica (seus guerreiros o carregam e o levam no alto sobre os
escudos), seu poder sobre o conjunto dos habitantes da França é legitimado em
510 quando recebe, de Roma, as insígnias de Cônsul Honorário.
Os Merovíngios
Carlos Martel
venceu os Árabes
em Poitiers.
Com a morte de Clóvis
em 511, a
França é repartida entre seus quatro herdeiros como se fosse uma propriedade
privada. As três províncias que constituem o Império
(Burgúndia,
Nêustria
e Austrásia)
começam a lutar entre si. O período que vai de 561 a 610 é marcado pela
rivalidade entre duas mulheres: Fredegunda,
amante de Childerico, rei de Nêustria, e Brunilda,
esposa de Sigiberto,
rei da Austrásia. Em 613, Dagoberto restabelece a unidade por pouco tempo. Após sua
morte em 639, seus descendentes, os primeiros reis indolentes,
deixam a condução da guerra renascente aos primeiros ministros da época, os ministros de palácio. os últimos reis
merovíngios perderam a Aquitânia e a Armórica.
Os carolíngios
Carlos Magno, protetor do
papado, foi coroado imperador em Roma
por Leão III
(800) e criou um império
que se estendia do Ebro ao
Elba.
Os ministros de palácio são mais poderosos e mais
respeitados que os próprios reis. Em 687, Pepino de Herstal,
ministro do palácio de Austrásia,
põe fim ao reino de Austrásia e unifica os ministérios do palácio dos três reinos. A
partir desse momento, só existirá um rei (o de Nêustria)
e um só ministro de palácio (o de Austrásia), que deterá o poder real. Com a
morte de Pepino de Herstal, seu filho natural, Carlos Martel,
se converte no novo ministro de palácio. Carlos Martel salva a
França da invasão dos árabes, derrotados perto de Poitiers em 732. Seu filho, Pepino o Breve,
destrona o último rei merovíngio, Childerico III,
raspa-lhe a cabeça como a um monge (os guerreiros francos tinham o cabelo
comprido como sinal de valentia) e o tranca numa abadia. É proclamado rei e
coroado em Soissons
por São Bonifácio e, posteriormente, em Reims pelo Papa Estêvão III, dando início à dinastia carolíngia.
Carlos Magno
Depois da morte de seu pai, Pepino o Breve,
em 758 e de seu irmão, Carlomano, em 771, Carlos Magno
converter-se-ia no rei de todos os territórios francos, desde os Pirenéus
até à Boêmia.
Os primeiros anos do seu reinado são marcados por uma série de brilhantes
campanhas militares, com as quais consegue a ampliação das fronteiras. Carlos
Magno reconstitui de fato a unidade política romana, pelo menos em sua extensão
ocidental. Árbitro da Europa,
Carlos Magno administra seus territórios através de enviados especiais, os missi dominici,
inspetores encarregados de receber os impostos e de aplicar as decisões de arbitragem.
Em 800 é coroado
Imperador do Ocidente em Roma
pelo Papa Leão III. Estimulou uma renovação cultural e artística.
O Renascimento Carolíngio
O período que vai do ano 790 a 930 se caracteriza pelo
ressurgimento da civilização antiga. O apogeu cultural abarca numerosas áreas:
a literatura,
a filosofia,
as ciências,
as artes,
a arquitetura
e a indústria têxtil. Este apogeu cultural se faz
acompanhar de um apogeu econômico baseado em uma administração centralizada:
ordens escritas, inventários e uma contabilidade que substitui os relatórios
orais. Os administradores são formados nos mosteiros
ou nas escolas de palácio, cujo
modelo se estende ao povoado. Em nível político, o feudalismo
começa a substituir a vassalagem, simples justaposição de relações de "homem a
homem". A partir desse momento, os laços de dependência se materializam
mediante a atribuição ao vassalo de um pedaço de terra chamada feudo, tomando das
propriedades do senhor feudal, a quem está ligado.
Os Últimos carolíngios e os Normandos
Carlos Magno morre em 814, e seu filho Luís o Piedoso
(Ludovico Pio)
empreende novas partilhas que provocam disputas confusas até a aliança, em 842, entre Carlos o Calvo,
e Luís o Germânico. A versão dos juramentos de Estrasburgo, pronunciados
nesse pelos soldados de Carlos, representa o primeiro texto conhecido
escrito em francês.
Em 843, o Tratado de Verdun
divide de novo o Império em três províncias. A Lotaríngia
é rapidamente desmembrada; a região que rodeia Paris se constitui num
ducado da França. A disputa anárquica pela herança permite, então, as incursões
de marinheiros
escandinavos em todo o norte da França (911, principalmente),
enquanto nascia o regime feudal. Ameaçam, inclusive, Paris e constituem, perto
da desembocadura do Sena,
um verdadeiro Estado:
o ducado da Normandia.
Hugo Capeto
Hugo Capeto, duque da França, aparece
como o salvador do reino quando rechaça o imperador alemão Oto II,
que acabava de derrotar o rei carolíngio Lotário e havia tomado Montmartre.
Em 985 morre Lotário
e, em 987, Luís V,
último carolíngio. Hugo Capeto é eleito rei pelos nobres reunidos em Senlis. Senhor unicamente de um pequeno
território próximo de Paris,
Hugo Capeto tem que lutar contra vassalos muito mais poderosos que ele. Por
isso a pergunta do conde Adalberto: "quem
te fez rei?".
Hugo Capeto sagrou seu filho rei ainda em vida para
garantir o princípio dinástico. Apesar de todos seus esforços, depois do
divórcio de Luís VII e Leonor da Aquitânia, cuja enorme herança
meridional recai sobre a dinastia anglo-angevina, o reino capeto é novamente reduzido a um domínio
medíocre, rodeado por toda parte de principados mais vastos e mais sólidos.
Hugo e seus três sucessores (Roberto II, Henrique I e Filipe I), portanto, só dominaram uma pequena
área em torno de Paris. No entanto, os capetos contam com o apoio da Igreja, dos burgueses
e com sua própria energia. No século XII,
Luís VI, o Gordo e Luís VII, o Jovem expandiram esse domínio e
fortaleceram seu poder diante dos senhores feudais. Um forte despertar
religioso, econômico e urbano, a constituição da burguesia,
o desenvolvimento cultural e artístico (passagem da arte românica
para a arte gótica) marcaram esses reinados, apesar da ameaça dos
reis da Inglaterra (Plantagenetas).
Filipe Augusto
Filipe II da França (Filipe Augusto)
utiliza todos os recursos possíveis para alcançar seus objetivos: uniões
matrimoniais, negociações e guerras. Consegue desmantelar, para seu proveito,
os reinos de Flandres
e de Champagne e dirigir brilhantemente a guerra
contra os ingleses, que pretendiam claramente apossar-se do reino francês a
partir de suas sólidas bases meridionais. Felipe aproveita a captura de Ricardo I,
em regresso de uma cruzada, para fazer com que o irmão do rei inglês, o
príncipe João Sem Terra, impaciente por reinar, cedesse algumas
terras na Normandia
e em Touraine.
Com a volta de Ricardo em 1194,
os dois soberanos se enfrentam em violentas batalhas que terminam na morte
súbita de Ricardo. A tarefa será mais fácil com João Sem Terra, de caráter
instável. Este se recusa a comparecer ante a Corte da França para responder por
um precipitado casamento com Isabel de Angoulême, prometida a Hugo X de Lusignan: a administração de todas as
terras do vassalo traidor é outorgada a Felipe, seu senhor feudal. Este último
retira de João o domínio sobre a Normandia, Touraine, Maine e Anjou, deixando à dinastia
inglesa, em território francês, apenas a Guyenne
(a região de Bordéus).
Finalmente, Felipe Augusto é o primeiro rei que consegue colocar-se acima da
pirâmide feudal. Em 1202, o
Papa Inocêncio II proclama que o rei da França
não reconhece nenhum superior no mundo secular (isto se refere especialmente às
presunções dos imperadores alemães) e é "imperador em seu reino".
Filipe Augusto conferiu à monarquia um caráter nacional, enfrentando a coalizão
formada pela Inglaterra, Flandres e o Sacro Império
(vitória de Bouvines, 1214)
Joana d'Arc
liderando o Exército da França.
O rei inglês Eduardo III, em 1337, reivindicou a
condição de herdeiro do trono francês, por ser neto de Filipe IV, e os dois
reinos entraram em conflito, iniciando-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Nos séculos XIV e XV, a dinastia capetiana, representada desde Filipe VI (1328) pelos Valois, foi contida
em seus progressos pela Guerra dos Cem Anos, para decidir a quem pertencia as
terras francesas que foram herdadas pelos reis ingleses.
A guerra foi assinalada pelas derrotas de Crécy (1346), Poitiers (1356) e de Azincourt (1415). Os esforços de Carlos V (1364-1380), prudente
administrador, ajudado por Du Guesclin, não conseguiram expulsar completamente
os ingleses da França.
A segunda metade do século XIV foi um período marcado por
várias manifestações de mal-estar social. Com uma economia deprimida, os custos
da guerra continuaram a se avolumar. Durante este período os Estados Gerais,
convocados pela primeira vez por Filipe V, conseguiram grande poder.
Durante o reinado de Carlos VI (1380-1422), o rei inglês Henrique V invadiu a França, derrotou o
exército francês na batalha de Azincourt e tomou o controle da maior parte da
França ao norte do Loire.
Após o reinado de Carlos VI e das discórdias sangrentas dos Armagnacs
e Bourguignons,
Joana d'Arc
salvou a França, que o rei Carlos VII (1422-1461) restaurou e dotou de
um exército permanente. A Inglaterra perdeu as suas possessões francesas, exceto
a cidade portuária de Calais,
no Nordeste
da França.
A vitória francesa assinalou o rei como a mais poderosa força política na
França. No fim do século XV, com a conquista da Bretanha
e da Borgonha,
o território francês aproximou-se da atual configuração.
Os Valois e os Bourbons
Após Carlos VII, Luís XI (1461-1483), inimigo implacável
dos grandes vassalos,
consolidou a autoridade real, pôs fim ao poderio do ducado da Borgonha
(Carlos, o Temerário) e utilizou as receitas
reais para proteger, facilitar e estimular o desenvolvimento econômico. Seu
sucessor, Carlos VIII, rei de 1483 a 1498, casou-se com Ana, duquesa da Bretanha. Graças a esse casamento,
o último principado feudal independente se incorporou à Coroa francesa. Carlos
VIII, entretanto, comprometeu a França com as guerras da Itália,
que prosseguiram sob Luís XII (1498-1515) e sob Francisco I (1515-1547).
No final do século XV,
a França havia superado as divisões territoriais de seu passado feudal e virou
uma monarquia nacional que incorporava a maioria dos territórios compreendidos
entre os Pirenéus
e o canal da Mancha. Na metade do século seguinte,
a paz interna e o crescimento da economia elevaram a posição social dos grandes
comerciantes, dos banqueiros e dos cobradores de impostos, enquanto a nobreza,
dependente de receitas fixas e com as dívidas em aumento, viu como a inflação
ameaçava seu poder econômico e social.
Os três primeiros monarcas do período — Carlos VIII, Luís
XII e Francisco I — aproveitaram o forte crescimento da nação e a estabilidade
interna para reclamar pelas armas o reino de Nápoles
e o ducado de Milão.
Na década de 1520, as guerras italianas se
transformaram em ampla disputa entre a França e a dinastia dos Habsburgo,
reinante na Espanha
e na Áustria,
um confronto que continuou de forma intermitente durante um século
e meio. As guerras italianas terminaram com a Paz de Cateau-Cambrésis (1559), negociada pelo
filho de Francisco I, Henrique II.
O aumento da população, sem o correspondente aumento da
produção, e a inflação monetária, levaram a maioria do povo à pobreza. A Reforma protestante, que se propagou a partir
da Alemanha
durante o reinado de Francisco I, havia atraído muitos seguidores; mas nas
décadas de 1540 e 1550,
os postulados e doutrinas de João Calvino
conseguiram o apoio de muitos partidários entre a nobreza e o povo simples.
Henrique II considerou o calvinismo uma ameaça à autoridade real e tentou acabar com
ele. Sob o reinado dos três filhos que lhe sucederam, as guerras de religião (onde se misturaram
conflitos religiosos, políticos e dinásticos) dilaceraram o país.
Sob as dinastias Valois e Bourbon,
a França levantou-se para contestar a hegemonia europeia nos séculos XVI a XVIII,
principalmente nas guerras de Luís XIV.
Os últimos Valois, Francisco II (1559-1560), Carlos IX (1560-1574) e Henrique III (1574-1589), governaram sem
autoridade um reino assolado por discórdias civis. O século XVI foi marcado por
inúmeras guerras civis de cariz religioso, provocadas pela expansão do protestantismo.
Em 1584,
Henrique de Navarra,
descendente de Luís IX e chefe dos huguenotes
(nome que receberam os protestantes franceses) passou a ser o herdeiro do trono, ao
qual ascendeu com o nome de Henrique IV (1589-1610), estabelecendo a
dinastia dos Bourbon no trono francês. Só com Henrique IV, que acabaria por se
converter ao catolicismo em 1593,
foi possível pôr um fim ao conflito religioso. Pelo Édito de Nantes
(1589), que garantia a liberdade de consciência, restabeleceu a paz religiosa
na França e, ajudado por Sully,
desenvolveu a prosperidade material e restaurou a autoridade real.
Sanada a instabilidade interna, a França rapidamente se
tornou uma forte potência europeia e ultramarina durante o século XVII,
graças a conselheiros reais como os cardeais Richelieu
e Mazarino.
Após o sucesso da política de Mazarino na guerra dos Trinta Anos (Tratado de Vestefália) e a despeito das
perturbações da Fronda
(1648-1653), Luís XIV (1643-1715), autodenominado
Rei-Sol, já era, na sua coroação, o senhor absoluto da França e o soberano mais
poderoso da Europa.
Seu reinado foi uma época de glória militar,
literária
e artística;
mas, malgrado a sábia administração de Colbert
e as hábeis reformas militares de Louvois, a situação da França e da realeza
viu-se comprometida por guerras muito frequentes, a última das quais terminou
com o Tratado de Utrecht (1713).
Entretanto, graças a Luís XIV, a França foi acrescida do Franco Condado
e de uma parte das Flandres. Ao mesmo tempo, as instituições tradicionais
fortaleceram-se no sentido de maior centralização. No século XVIII, os defeitos
pessoais de Luís XV (1715-1774) e os reveses de sua
política exterior (guerra dos Sete Anos, perda da Índia e
do Canadá)
fizeram sentir a necessidade de reformas. O movimento
filosófico contribuiu largamente para solapar as ideias de
autoridade e de dogmatismo; por outro lado, a expansão econômica geral dava à burguesia
a consciência de estar afastada da direção do país pelas classes privilegiadas.
A Queda da Bastilha,
símbolo mais radical e abrangente das revoluções burguesas.
Governo franco, guerras dispendiosas,
a rivalidade colonial com a Inglaterra e os excessivos privilégios do clero e da nobreza
quebraram as finanças da monarquia e uma crescente insatisfação popular culminou na Revolução Francesa (1789). Em 1789, os
representantes do povo nas Cortes
convocadas por Luís XVI proclamaram a constituição da
Assembleia Nacional, o primeiro passo na direção da monarquia constitucional. Contudo, Luís XVI não
se mostrou disposto a colaborar com esta reforma política, provocando uma
reação violenta por parte da população, cujo clímax se registou com a tomada da
Bastilha
em 14 de Julho
de 1789. A
igualdade civil foi estabelecida na noite de 4 de Agosto
de 1789, e o regime feudal abolido; foram proclamados os direitos do homem.
Fez-se então, com a Assembleia Legislativa (1791-1792), uma tentativa de
monarquia constitucional, que fracassou, ocasionando a queda da realeza (10 de Agosto
de 1792). Em seguida, através das crises e violências do Terror, a Convenção
(1792-1795)
salvou a França da invasão estrangeira. Contudo, a fraqueza dos sucessivos
governos abriu caminho para o governo de Napoleão Bonaparte.
Napoleão Bonaparte
O imperador Napoleão Bonaparte.
Bonaparte organizou uma administração
centralizada e sancionou no Código Civil (1804) as reformas sociais
de 1789. A
Primeira República
(1792-1804), criada
após a queda da monarquia Bourbon, durou até o Primeiro Império (1804-1814), sob o domínio de
Napoleão I, quando a França tornou-se a potência política dominante na Europa.
Napoleão teve de travar contra a Inglaterra e outros países da Europa uma luta
ininterrupta, mas o bloqueio continental, o recrutamento e os impostos
tornaram-no impopular. Em 1814, sob os golpes dos Aliados, o Império francês
desmoronou, e a França reencontrou suas fronteiras de 1792. Depois da queda de
Bonaparte, os Bourbons reinstalaram-se no trono - Luís XVIII (1814-1824), Carlos X (1824-1830) - apesar de uma
breve tentativa de restabelecimento do Império (os Cem Dias, 1815).
As Revoluções de 1830 e 1848
O predomínio na sociedade francesa da aristocracia
fundiária, fiel às ideias do Antigo Regime, entretanto, provocou a queda de Carlos
X (1830) e o advento de uma realeza burguesa. O reinado de Luís Filipe
(1830-1848) foi marcado pela supremacia política e econômica da burguesia. A
monarquia durou até a abdicação de Luís Filipe (1848). Durante este período,
tendo perdido influência na Índia e no Canadá, a França começou a criar um
império ultramarino no norte da África.
A Segunda República e o Segundo Império
As jornadas de fevereiro de 1848, que criaram a
Segunda República, estabeleceram o sufrágio universal, mas as jornadas de junho
de 1848, marcadas pela revolta operária, lançaram novamente a República
no conservadorismo. A Segunda República durou até 1852, quando Luís Napoleão
Bonaparte, sob o título de Napoleão III,
proclamou o Segundo Império (1852-1870).
Deu-se então a expansão do império francês, particularmente no sudeste asiático e no Pacífico.
Do Segundo Império resta a lembrança de uma prosperidade material, de um
desenvolvimento da indústria e do comércio,
mas também de uma política exterior ao mesmo tempo idealista e eficiente, que
terminou com a desastrosa guerra franco-prussiana de 1870-1871.
A Terceira República (1870-1940) foi criada após a
captura e exílio de Napoleão III e a derrota francesa na Guerra
franco-prussiana. Após o fracasso da Comuna de Paris
(1871), a Terceira
República mostrou-se inicialmente conservadora, com Thiers e Mac-Mahon.
O fracasso da Restauração monarquista obrigou a Assembleia Nacional a dotar a
França de leis constitucionais (1875), cuja aplicação
favoreceu os republicanos. Estes tornaram-se senhores do país quando, em 1879, Jules Grévy
foi eleito presidente da República.
Apesar das perturbações provocadas pelo boulangismo (1885-1889), pelo escândalo do Panamá (1888-1893) e pelo Caso Dreyfus
(1894-1899), a República
manteve-se, e seus dirigentes concluíram um programa de reformas democráticas.
No exterior, a política caracterizou-se pela conclusão de uma aliança com a Rússia
(1894), de uma entente cordiale com a Inglaterra
(1904) e pelo
empreendimento da expansão colonial. A França participou da Conferência de Berlim (1884) sobre a África
e em 1914
dominava o Marrocos,
Tunísia,
Madagáscar
e grandes áreas da África Ocidental Francesa e da África Equatorial Francesa. O país
participou do progresso da economia industrial e das técnicas.
Carga de tropas francesas armadas com
baionetas, na Primeira Guerra Mundial.
Após o fortalecimento da Terceira República através das
eleições de 1879, a
França só encontrou a estabilidade em 1899, com a subida ao
poder de uma coligação entre o Partido Radical e o Partido Moderado, permitindo
um período de desenvolvimento econômico e social que seria interrompido em 1914 com uma guerra
provocada pela Alemanha
(a Primeira Guerra Mundial), da qual saiu
vitoriosa, mas esgotada (1918).
Uma vez assinado, o Tratado de Versalhes (1919) não foi respeitado;
os alemães recusaram-se a pagar as indemnizações, e Poincaré ordenou a ocupação do Ruhr (1923). Enquanto a política
exterior francesa, sob a influência de Briand, se
caracterizava por sua ligação com a Sociedade das Nações e por seu desejo de reconciliação
com a Alemanha, a política interior era abalada por lutas partidárias e pela
instabilidade ministerial. A situação financeira, estabilizada em 1928, tornou-se
angustiante em 1932,
quando a França foi afetada pela crise econômica mundial. Em 1938, a Alemanha anexou a Áustria,
depois a região dos Sudetos e a Tchecoslováquia
(1939). A França
reagiu de comum acordo com a Inglaterra, quando os exércitos alemães penetraram
na Polônia,
e declarou guerra ao Reich (3 de Setembro de 1939).
A França de Vichy e a França Livre
Líderes da Força da França Livre:
General Charles de Gaulle cumprimenta o General Henri Giraud à frente de
Franklin Roosevelt e Winston Churchill (Conferência de Casablanca em 14 de
Janeiro de 1943).
Em 1939
começou a Segunda Guerra Mundial. A Terceira República
caiu em maio de 1940,
após a derrota para a Alemanha nazista e a destituição do presidente Albert Lebrun.
O norte
da França foi ocupado pelos alemães; a França não-ocupada estava sob o governo
colaboracionista de Vichy, sob a liderança do marechal Philippe Pétain,
e o governo da França Livre foi proclamado em Londres.
Na zona livre, em Vichy, a maioria da Assembleia Nacional concedeu plenos
poderes ao marechal Pétain para elaborar uma nova Constituição
do "Estado francês". O governo de Vichy adotou uma política de
colaboração com os vencedores, que aumentaram sua influência sobre o país.
A França foi libertada pela acção dos Aliados e da Resistência Francesa (organizada em Londres
pelo general Charles de Gaulle). Quando os Aliados
desembarcaram no norte de África em novembro de 1942, ocuparam a zona
livre metropolitana (o que acarretou o afundamento da frota francesa em Toulon). A
Resistência, não obstante, desenvolveu-se e organizou-se. Em maio de 1943, o general De Gaulle
chegou a Argel:
um Comitê francês de libertação nacional foi criado em 3 de Junho
de 1944 e
transformado em governo provisório da República Francesa. Em 6 de Junho
de 1944, os Aliados desembarcaram na Normandia
e avançaram em direção a Paris,
que foi libertada em 25 de Agosto. O governo provisório, presidido por De Gaulle,
lá se instalou imediatamente.
Até 1947,
a França foi governada por um Governo Provisório. Em desacordo com a maioria da
primeira Assembleia Constituinte, o general de Gaulle pediu demissão em janeiro
de 1946.
Segue-se o estabelecimento da Quarta República com Vincent Auriol
como presidente. A Constituição de 1946, adotada por referendo,
entrou em vigor em janeiro de 1947. No interior, a Quarta República estava à
mercê da instabilidade ministerial. Em 1953, a eleição do segundo
presidente da República, René Coty, somente foi obtida no décimo terceiro escrutínio.
Na década de 1950
destacam-se dois quadros: o rápido desenvolvimento econômico do país, cuja taxa
de crescimento simultaneamente igualava a registada pela Alemanha
e ultrapassava a média europeia; e a proliferação dos movimentos
independentistas nas diferentes colônias francesas, muitos dos quais conduzindo
a situações de guerra aberta entre a França e aqueles movimentos. Seria esta
última conjuntura a estar na base da instabilidade política interna verificada
no fim da década de 1950, por ação, nomeadamente, dos grupos extremistas argelinos.
O conflito indochinês (1946-1954), a agitação na Tunísia
(1952) e no Marrocos
(1953-1956),
o desenvolvimento, a partir de 1954, da rebelião argelina, deterioram progressivamente
a autoridade da Quarta República, que sofria ainda a carga de uma rápida inflação.
Em maio de 1958,
manifestou-se uma crise governamental particularmente grave, enquanto em Argel se criava um
"Comitê de Salvação Pública".
Esta instabilidade permitiu o reaparecimento político de
Charles de Gaulle que, sob a sua auréola de grande herói da Segunda Guerra
Mundial, se assumia perante os franceses como o único capaz de pôr fim à
situação vigente, o que favoreceu a aceitação dos seus conceitos sobre o
funcionamento executivo do país, ou seja, o estabelecimento do regime
semi-presidencial que concedia ao presidente amplos poderes executivos.
Em 1 de Junho,
o general De Gaulle foi chamado à presidência do Conselho. A carismática
liderança de Charles de Gaulle (1959-1969) instaura a Quinta
República (1958-hoje)
em substituição à Quarta República (1946-1958).
Em 28 de setembro
foi promulgada a Constituição da Quinta República, que fortaleceu a autoridade
do chefe de Estado. Em 21 de dezembro
de 1958, o general de Gaulle foi eleito presidente da República. Guerras
demoradas e caras levaram à descolonização da Indochina
(1954) e da Argélia
(1962), enquanto a
partir de 1956 o
resto do império africano ganhou independência crescente.
Quando em 1962, após o fim das guerras coloniais, os
líderes partidários começaram a planear a restituição à Assembleia Nacional dos
poderes cedidos em 1959, Charles de Gaulle decidiu fazer a sua própria revisão
constitucional, da qual constava a eleição por sufrágio universal do presidente da República,
o que foi aprovado em referendo realizado a 28 de Novembro
de 1962, a
que se seguiu a reeleição de Charles de Gaulle, após uma segunda votação de
desempate, em 19 de Dezembro de 1965, em que tinha como
opositor François Mitterrand.
De Gaulle criou uma força atômica francesa e adotou uma
política externa independente. Como potência nuclear, recusou-se a assinar o
tratado de banimento de testes nucleares (1963) e retirou-se
formalmente da OTAN em
1966. Apesar da
consolidação político-financeira, quer ao nível interno, quer ao nível externo,
Charles De Gaulle viu-se confrontado, em maio e junho de 1968, com graves crises
sociais, numa primeira fase, de origem universitária, desenvolvendo-se para
movimentos sindicalistas,
que perturbaram toda a França e, finalmente, levaram à dissolução da Assembleia
Nacional por decisão de Gaulle. As consequentes eleições antecipadas deram uma
larga vitória aos gaulistas. Contudo, De Gaulle decidiu colocar em referendo
uma série de emendas constitucionais. Após o referendo
que rejeitou o projeto de regionalização e uma reforma do Senado, o general De
Gaulle renunciou em 28 de Abril de 1969. Apesar de tudo, o sistema
presidencialista imposto por Charles de Gaulle manteve-se desde então.
Os gaulistas mantiveram-se no Poder com a eleição de Georges Pompidou,
que apoiou a extensão da Comunidade Europeia. Com sua morte em 1974, sucedeu-lhe Valéry Giscard d'Estaing (candidato
conservador), que enfrentou os problemas de inflação
e recessão. Em 1981
foi eleito presidente o líder partidário socialista François Mitterrand, graças às reformas
propostas ao eleitorado: a nacionalização de um largo setor da economia
(incluindo bancos
privados e as grandes indústrias), a descentralização administrativa em favor
dos executivos locais e regionais e o aumento dos benefícios sociais (pensões,
reformas, etc.), entre outras. Estas reformas foram postas em prática após a
vitória socialista para a Assembleia Nacional (que tinha sido dissolvida por
Mitterrand). Embora nos primeiros anos estas medidas tenham sido benéficas, a
crise internacional impediu o completo sucesso deste programa de reformas,
minando a popularidade dos socialistas, o que levaria à vitória de Jacques Chirac
nas eleições legislativas de 1986.
A França enfrentava, então, a possibilidade de uma crise política derivada da
coabitação entre um presidente socialista e um primeiro-ministro de direita,
mas tal não aconteceu graças à liberdade executiva que Mitterrand concedeu a
Chirac, optando este pelo respeito absoluto do papel constitucional concedido
ao presidente. Esta estratégia daria a Miterrand a vitória nas eleições de 1988, em que derrotou
Jacques Chirac, cuja popularidade tinha decrescido nos dois anos precedentes
por causa da sua política de inverter as reformas socialistas do início da década.
No conflito do Golfo Pérsico, a França enviou
soldados e participou ativamente da aliança multinacional encabeçada pelos Estados Unidos.
Em 1991, Edith Cresson,
nomeada por Mitterrand, tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro
da França; foi substituída em 1992
por Pierre Bérégovoy, que por sua vez foi
substituído em 1993
por Edouard Balladur, este sucedido em 1995 por Alain Juppé.
Em 1994,
foi inaugurado o túnel sob o canal da Mancha,
ligando a França à Grã-Bretanha (Eurotúnel).
O segundo mandato de Mitterrand teve como maior
preocupação o papel político e econômico da França no seio da Comunidade
Europeia, sobretudo tendo em conta o fortalecimento da CE previsto para 1992.
Deste modo se explica a política de aproximação levada a cabo pela França à Alemanha,
no que ficou conhecido por "Eixo Paris-Bona". O plebiscito
realizado pelo presidente Mitterrand em 1992 endossou por estreita maioria o Tratado de Maastricht. O decorrer deste mandato
revelou-se penoso para o presidente francês, não só pelas dúvidas levantadas em
relação à possível colaboração deste com o Governo de Vichy (1940-1944), mas também por
causa da sua prolongada doença, que o levaria à morte no início de 1996.
Uma série de escândalos de corrupção envolvendo membros do Governo
socialista estiveram na base da viragem política registada em França,
culminando com a eleição de Jacques Chirac para presidente da República nas eleições
presidenciais de 1995. O Partido Socialista venceu as eleições parlamentares de
1997, e Lionel Jospin
tornou-se primeiro-ministro.
O presidente francês Nicolas Sarkozy.
Nas eleições presidenciais de junho de 2002, Chirac foi eleito
com mais de 80% de votos, embora Jean-Marie Le Pen,
candidato da extrema-direita, tivesse chegado à segunda volta. Nas eleições
regionais francesas de 2004, a
esquerda
derrotou o centro-direita de Jacques Chirac, embora estas eleições não
afetassem a composição do Parlamento francês eleito em 2002. As eleições de 2007 têm lugar
em 22 de Abril,
sendo os principais candidatos Nicolas Sarkozy,
Ségolène Royal, François Bayrou
e Jean-Marie Le Pen. No segundo turno, em que concorreram Ségolène Royal e
Nicolas Sarkozy, venceu este último, numa vitória anunciada no dia 6 de 2007
Invasões francesas do Brasil
As invasões
francesas ao Brasil registram-se desde os primeiros tempos da
colonização portuguesa,
chegando até ao ocaso do século XIX.
Inicialmente dentro da contestação de Francisco I de França ao Tratado de Tordesilhas, ao arguir o paradeiro
do testamento de Adão e incentivar a prática do corso para o escambo
do pau-brasil (Cæsalpinia echinata), ainda no século XVI
evoluiu para o apoio às tentativas de colonização no litoral do Rio de Janeiro
(1555) e na costa do Maranhão
(1594).
Em 1555,
uma expedição com cerca de cem homens, distribuídos em dois navios, comandada
por Nicolas Durand de Villegagnon, dirigiu-se
à baía de Guanabara, visando a estabelecer um
núcleo de colonização. Inicialmente, aportaram à Isle Rattier
(atual Forte Tamandaré da Laje), tentando erguer uma
bateria defensiva, sendo expulsos pela alta da maré.
Dirigiram-se, em seguida, à ilha de Serigipe (atual ilha de Villegagnon), onde se estabeleceram
definitivamente, erguendo o Forte Coligny.
A denominada França Antártica abrigava colonos protestantes
calvinistas
e elementos católicos que procuravam evitar as guerras religiosas que
então dividiam a Europa.
Em 1558
Villegagon retornou à França, após incidentes causados pela indisciplina de
alguns colonos que procuravam as indígenas locais e pelas rixas entre católicos
e protestantes. Condenou à morte e executou vários colonos, expulsando os
calvinistas para as margens da baía.
A campanha portuguesa
de 1560
Esquema do ataque de Mem de Sá aos
franceses na baía de Guanabara, em 1560. Autoria desconhecida, 1567
Esta tentativa de colonização foi erradicada militarmente
pelo terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá
(1560), que, com
informações sobre o forte fornecidas pelos dissidentes franceses Jean de Cointa e Jacques Le Balleur, e reforços vindos da Capitania de São Vicente, a 15 de Março
abriu fogo das naus contra as defesas da ilha. Em seguida, através de um
estratagema, logrou o desembarque de homens e artilharia na ilha, conquistada
no dia seguinte, sendo o forte arrasado. No dia 17 foi celebrada missa solene
em ação de graças pela vitória.
A campanha de
1565-1567
Partida de Estácio de Sá, quadro de Benedito Calixto
(1853-1927) mostrando o padre Manuel da Nóbrega benzendo a esquadra
que vai combater os franceses.
Os remanescentes franceses que se refugiaram junto às
tribos indígenas na região foram posteriormente liquidados por seu sobrinho, Estácio de Sá numa campanha que se estendeu de 1565 a 1567, quando foi fundada a
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (1 de Março
de 1565), no sopé do morro Cara de Cão.
Após a derrota dos franceses e seus aliados indígenas,
nas batalhas da praia da Glória (hoje desaparecida) e da atual Ilha do Governador (1567), a cidade foi
transferida para o alto do morro do Descanso, posteriormente denominado como Alto
da Sé, Alto de São Sebastião, morro de São Januário e,
finalmente, Morro do Castelo, desmontado em 1922.
Os franceses no Cabo Frio
Mesmo diante do fracasso da tentativa de estabelecimento
na baía de Guanabara, a presença francesa continuou expressiva em outros
trechos do litoral, onde mantiveram feitorias
como por exemplo a Maison de Pierre no litoral de Cabo Frio
e outras.
Da Paraíba ao Ceará
Corte de pau-brasil (André Thevet,
1575).
De acordo com as informações no mapa de Jacques de Vau de Claye ("Le Brésil",
1579), a França acalentou
um projeto para a conquista do litoral da região Nordeste do Brasil entre a foz do
rio São Domingos (atual rio Paraíba) e o rio Acaraú
(atual estado do Ceará). O mapa, onde figuram as armas de Filippo Strozzi,
apresenta diversas informações estratégicas, como a do auxílio de cerca de dez
mil indígenas, inclusive Tapuias habitantes das ribeiras interioranas do Ceará e Rio
Grande.
Com relação ao atual território da Paraíba,
indica-se a baía de São Domingos, de onde partia o caminho "por onde os
selvagens vão adquirir o pau-do-brasil e há quarenta léguas de caminho depois
de São Domingos até a floresta" e a chamada "floresta onde se
pega o brasil", correspondente à primitiva formação vegetal que
vicejava na bacia hidrográfica do rio Paraíba.
Esse projeto foi abortado com o desastre militar francês
na Batalha Naval de Vila Franca em que
Strozzi pereceu, ao largo dos Açores,
no contexto da crise de sucessão de 1580 em Portugal.
De qualquer modo, a presença gaulesa prosseguiu
eventualmente na região, de tal forma que Gabriel Soares de Sousa ("Tratado Descritivo do Brasil", 1587), relaciona os locais
do litoral do Rio Grande do Norte à época frequentados pelos
franceses:
- a enseada de
Itapitanga (Pitininga);
- o rio Pequeno, ou
Baquipé, depois denominado Ceará-mirim, onde penetravam as chalupas
francesas, que ali iam resgatar o pau-brasil aos indígenas, "as
quais são das naus
que se recolhem na enseada de Itapitanga";
- o Rio Grande, ou
Potengi, onde os franceses iam carregar muitas vezes;
- o porto dos Búzios,
na foz do rio Pirangi, onde "entram caravelões da costa em um
riacho, que neste lugar se vem meter no mar'";
- a enseada de
Tabatinga, entre o porto dos Búzios e Itacoatiara (ponta da Pipa), "onde
também há surgidouro e abrigada para navios em que detrás da ponta
costumavam ancorar naus francesas e fazer sua carga de pau-brasil";
e
- a enseada de
Aratipicaba (baía Formosa), "onde dos arrecifes para dentro entram
naus francesas e fazem sua carga".
Com relação ao litoral da atual Paraíba,
o cronista refere a baía da Traição ("Nesta baía fazem cada
ano os franceses muito pau de tinta e carregam dele muitas naus"), o
rio São Domingos (atual rio Paraíba), onde entravam anualmente "a
carregar o pau de tinta com que abatia o que ia para o Reino das mais
capitanias por conta dos portugueses" e a região entre os rios Ararama
(atual rio Gramame)
e Abionaviajá (atual rio Abiaí), onde "ancoravam nos tempos passados naus
francesas, e daqui entravam para dentro".
Outros relatos coevos confirmam que o principal porto
frequentado pelos franceses na Capitania do Rio Grande era o rio Potengi, onde
também se detinham navios ingleses. Naquele ancoradouro se procediam aos
reparos necessários nas embarcações e obtinham-se provisões frescas
("refrescos"). De acordo com Frei Vicente do Salvador, no Rio Grande os
"franceses iam comerciar com os potiguares, e dali saíam também a
roubar os navios que iam e vinham de Portugal, tomando-lhes não só as fazendas
mas as pessoas, e vendendo-as aos gentios para que as comessem".
O topônimo "Refoles" (outrora "nau de
Refoles"), coincidente com o trecho do Potengi onde atualmente se ergue a Base Naval de Natal, recorda a presença na
região, do francês Jacques Riffault. No porto
dos Búzios existia uma grande concentração de franceses, diversos deles unidos
a mulheres Potiguares.
No rio Potengi, a cerca de três quilômetros acima da sua barra, ainda existem
ruínas de uma antiga edificação de pedra que possívelmente teriam se
constituído numa feitoria ou casa-forte francesa.
A presença francesa na região cessou com a presença de
tropas sob o comando do capitão-mor da capitania de Pernambuco, Manuel Mascarenhas
Homem, que alcançaram a barra do Potengi em 25 de dezembro
de 1597,
iniciando a construção da Fortaleza dos Reis Magos (Janeiro de 1598), reforçadas pelas do
capitão-mor da capitania da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho a partir de
Abril de 1598.
Enquanto isso, uma segunda tentativa organizada de
colonização francesa registrava-se na ilha de São Luís, no Maranhão,
a partir de 1594,
tendo perdurado até à sua erradicação por tropas portuguesas e indígenas em 1615.
Os corsários
Até ao século XVIII,
era comum piratas
e corsários
de diversas nacionalidades pilharem povoados e engenhos no litoral brasileiro.
A descoberta de ouro no
sertão das Minas Gerais reacendeu a cobiça desses elementos, atraindo-os
para o litoral da região Sudeste. Entre os assaltos mais famosos, se registram,
em agosto de 1710, o
do corsário Jean-François Duclerc (1671-1711), e, em
setembro de 1711, o
de René Duguay-Trouin, ambos à cidade do Rio de Janeiro.
A invasão de Duclerc
(1710)
No contexto de hostilidades entre a França
e a Inglaterra,
o rei Luís XIV de França autorizou o corso aos
domínios ultramarinos de Portugal, tradicional aliado dos britânicos. Por essa razão,
em meados de Agosto de 1710,
Jean-François Duclerc, no comando de seis navios e cerca de 1 200 homens,
surgiu na barra da baía de Guanabara hasteando pavilhões ingleses
como disfarce. As autoridades no Rio de Janeiro, alertadas pela Metrópole, já
aguardavam a vinda do corsário francês, razão pela qual o fogo combinado da Fortaleza de Santa Cruz da Barra e da Fortaleza de São João repeliu a frota que
tentava forçar a barra (16 de agosto).
Os franceses navegaram pelo litoral para Sudoeste, rumo à
baía da Ilha Grande, saqueando fazendas e
engenhos. Lá, aportaram à barra de Guaratiba,
onde desembarcaram, marchando por terra para a cidade do Rio de Janeiro. No percurso passaram pelo Camorim,
por Jacarepaguá,
pelo Engenho Novo
e pelo Engenho Velho dos Padres da Companhia de Jesus, descansando neste último.
No dia seguinte prosseguiram pela região do Mangue, alcançando a falda do morro de Santa Teresa
(depois rua de Mata-Cavalos, atual rua do Riachuelo), até ao morro de Santo
Antônio, que contornaram até à Lagoa do Boqueirão. Pela rua da Ajuda (atual
Melvin Jones) e de São José, alcançaram o Largo do Carmo (atual Praça XV de
Novembro), onde encontraram a resistência dos habitantes em armas, tendo se
destacado a ação dos estudantes do Colégio dos Jesuítas, liderados por Bento do Amaral da Silva, que desceram o morro
do Castelo. Nesta escaramuça, afirma-se que os franceses perderam 400 homens. Duclerc,
que os comandava, foi detido em prisão domiciliar à atual rua da Quitanda,
vindo a ser assassinado em condições misteriosas por um grupo de encapuzados,
alguns meses mais tarde, a 18 de março
de 1711,
alguns autores supondo que por questões passionais.
A população da cidade festejou entusiasticamente a
vitória durante vários dias. Infelizmente, as autoridades coloniais
superestimaram a capacidade do sistema defensivo da barra, difundindo-se a
crença generalizada de que, após tamanha derrota, corsário
algum voltaria tentar forçá-la, o que se mostrou dramaticamente incorreto.
A invasão de Duguay-Trouin (1711)
Esquadra de Duguay-Trouin.
À iniciativa de Duclerc, seguiu-se outra, maior e mais
bem equipada, no ano seguinte.
Em 12 de setembro de 1711, a coberto pela bruma
da manhã, aproveitando um vento favorável, uma esquadra de 17 ou 18 navios,
artilhada com 740 peças e 10 morteiros, com um efetivo de 5 764 homens, sob o comando
do corsário francês René Duguay-Trouin ousadamente entrou em linha
pela barra da baía de Guanabara, furtando-se ao fogo das fortalezas,
desguarnecidas três dias antes, graças a uma notícia recebida pelo então
Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Francisco de Castro Morais (1699-1702),
que dava como falsa a notícia da chegada desta esquadra francesa.
Duguay-Trouin enfrentou apenas a resistência de três
habitantes inconformados com as decisões do governador Francisco de Castro
Morais, apelidado de "o Vaca": o normando
naturalizado português, Gil du Bocage, Bento do Amaral Coutinho, que lutara contra os
paulistas na guerra dos Emboabas, e seu companheiro frei Francisco de Menezes, ao
lado dos alunos dos frades beneditinos, filhos de Domingos Leitão, de Rodrigo de Freitas, de Gurgel do Amaral, Teles de
Menezes, Martim Clemente e Aires Maldonado.
O sucesso do corsário custou caro à cidade, que
necessitou pagar valioso resgate pela liberdade (novembro de 1711): 610.000 cruzados em moeda, 100 caixas de açúcar
e 200 cabeças de gado bovino.
A invasão de Fernando de Noronha
A invasão francesa
de Fernando de Noronha
A Questão do Amapá
Posteriormente, outros conflitos teriam lugar, tais como a chamada Questão
do Amapá, no final do século XIX, que envolveu uma disputa
acerca dos limites entre a Guiana
Francesa e o Amapá.
Franco-brasileiro
Notáveis Franco-brasileiros:
Dom Pedro Luís de Orléans e Bragança · Santos Dumont · Nelson Piquet Paulo Ribenboim · Ricardo Noblat Roberto Burle Marx · Nelsinho Piquet · Carlos Burle |
População
total
|
Regiões com
população significativa
|
|
Línguas
|
Religiões
|
Cristianismo,
a maioria sendo fiel da Igreja Católica Apostólica Romana
|
Grupos étnicos
relacionados
|
Outros franceses,
franco-americano, franco-canadense
|
Um franco-brasileiro
é um cidadão brasileiro
que tenha ascendentes franceses.
Também são consideradas franco-brasileiras pessoas nascidas na França radicadas
no Brasil.
A imigração
Afora a invasão francesas ao Rio de Janeiro
e ao Maranhão
ainda durante o século
XVI, a
1ª grande leva de franceses ao país aconteceu com a transferência da família real e
da corte portuguesa para o Brasil, em 1808.
D. João VI patrocinou a vinda da Missão Artística que trouxe ao Brasil,
em 1816,
franceses como o pintor Joachim Lebreton
com o seu secretário Pierre Dillon, o pintor histórico Jean Baptiste Debret, o pintor de paisagens e
cenas históricas Nicolas-Antoine Taunay com o seu filho Félix Émile Taunay – ainda apenas um jovem
aprendiz, o arquiteto
Auguste Henri Victor Grandjean de
Montigny junto com seus discípulos Charles de Lavasseur e Louis Ueier, o escultor
Auguste Marie Taunay, o gravador Charles-Simon Pradier, o mecânico François Ovide, o ferreiro
Jean Baptiste Leve, o
serralheiro Nicolas Magliori Enout, os
peleteiros Pelite e Fabre, os carpinteiros Louis Jean Roy com o seu filho Hypolite e
o auxiliar de escultor François Bonrepos. Muitos
deles trouxeram suas famílias, criados e outros auxiliares. Pinassi acrescenta
ainda o músico Sigismund Neukomm. 6 meses mais tarde,
uniram-se ao grupo o escultor Marc Ferrez (tio do fotógrafo Marc Ferrez) e o gravador de medalhas
Zéphyrin Ferrez.
Entre 1819
a 1940, franceses
imigraram para o Brasil. Muitos destes chegaram por volta de 1884 a 1925, mais de 25.000
imigrantes franceses neste período. Fontes apontam que imigraram para o Brasil
por volta de 100.000 franceses entre 1850
e 1965. A
comunidade francesa no Brasil alega que 592 imigrantes chegaram em 1888, e 5.000 imigrantes
em 1915.
Foi estimado que 14.000 franceses viviam no Brasil em 1912, o que resulta em 9%
do total de franceses que vivia na América Latina.
Segundo o Censo Republicano de 1920, 11.984 franceses
moravam no Brasil.1
São Paulo
contava com a maior parte desses imigrantes, contabilizando 3.576 estrangeiros
de tal nacionalidade.2
Em seguida, vinham o Distrito Federal (que na época era a cidade do Rio de Janeiro) com 3.538 franceses e o Rio Grande do Sul
com 1.216.3
No estado de São Paulo, as cidades com os maiores números eram a capital (1.859), Santos (381), Campinas
(89), Tremembé
(71) e Ribeirão Preto (61).4
No Rio Grande do Sul, Porto Alegre tinha 356 franceses, seguido de Pelotas
(175) e Rio Grande
(130).5
A comunidade francesa no Brasil é a maior comunidade
francesa da América Latina, em 2° lugar está a da Argentina.
Atualmente, a população de franco-brasileiros está estimada em 500.000 a 1 milhão de
pessoas.
Franco-brasileiros notáveis
- Alberto Santos-Dumont
- Paulo
Ribenboim
- S. A. Sisson
- Alfredo d'Escragnolle Taunay
- André Villon
- Gastão de Orléans, Conde d'Eu
- Giselle
Cossard
- Henriette Morineau
- Hércules Florence
- Ivo Pitanguy
- Roberto Burle Marx
- Jacqueline Laurence
- Lúcio Costa
- Carlos Burle
- Michel
Laurence
- Monique
Lafond
- Nelsinho
Piquet
- Nelson Piquet
- Bruno Dubeux
- Paola Maria
de Sapieha-Rozanski e Bourbon-Orléans-Bragança
- Paulo de Frontin
- Paul Villon
- José Carlos Burle
- Pedro Carlos de Orléans e
Bragança
- Pierre Verger
- Camilo Maria Ferreira Armond
- Ricardo
Noblat
- Vítor Belfort
- Yves
Passarell
- Caroline Bittencourt
- Olivier
Anquier
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