01 setembro 2014

História de Portugal

História de Portugal
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A história de Portugal como nação europeia remonta à Baixa Idade Média, quando o condado Portucalense se tornou autónomo do reino de Leão. Contudo a história da presença humana no território correspondente a Portugalcomeçou muito antes. A pré-história regista os primeiros hominídeos há cerca de 500 mil anos. O território foi visitado por diversos povos: fenícios que fundaram feitorias, mais tarde substituídos por cartagineses. Povos celtasestabeleceram-se e misturaram-se com os nativos. No século III a.C. era habitado por vários povos, quando se deu ainvasão romana da península Ibérica. A romanização deixou marcas duradouras na língua, na lei e na religião. Com odeclínio do Império Romano, foi ocupado por povos germânicos e depois por muçulmanos (mouros e alguns árabes), enquanto que os cristãos se recolhiam a norte, nas Astúrias.
Em 1139, durante a reconquista cristã, foi fundado o Reino de Portugal a partir do condado Portucalense, nascido entre os rios Minho e Douro. A estabilização das suas fronteiras em 1297 tornou Portugal o país europeu com as fronteiras mais antigas. Como pioneiro da exploração marítima na Era dos Descobrimentos, o reino de Portugal expandiu os seus territórios entre os séculos XV e XVI, estabelecendo o primeiro império global da história, com possessões em África, na América do Sul, na Ásia e na Oceania. Em 1580 uma crise de sucessão resultou na União Ibérica com Espanha. Sem autonomia para defender as suas posses ultramarinas face à ofensiva holandesa, o reino perdeu muita da sua riqueza e status. Em 1640 foi restaurada a independência sob a nova dinastia de Bragança. Oterramoto de 1755 em Lisboa, as invasões espanhola e francesas, resultaram na instabilidade política e económica. Em 1820 uma revolta fez aprovar a primeira constituição portuguesa, iniciando a monarquia constitucional que enfrentou a perda da maior colónia, o Brasil. No fim do século, a perda de estatuto de Portugal na chamada partilha de África.
Uma revolução em 1910 depôs a monarquia, mas a primeira república portuguesa não conseguiu liquidar os problemas de um país imerso em conflito social, corrupção e confrontos com a Igreja. Um golpe de estado em 1926deu lugar a uma ditadura. A partir de 1961 esta travou uma guerra colonial que se prolongou até 1974, quando umarevolta militar derrubou o governo. No ano seguinte, Portugal declarou a independência de todas as suas posses em África. Após um conturbado período revolucionário, entrou no caminho da democracia pluralista. A constituição de 1976 define Portugal como uma república semipresidencialista. A partir de 1986 reforçou a modernização e a inserção no espaço europeu com a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE).
Historiografia
Os primeiros registos históricos no território correspondente a Portugal são anteriores à nacionalidade, como os de Paulo Orósio e Idácio de Chaves, que escreveram sobre os últimos anos do domínio romano e chegada das tribos germânicas. Na primeira metade do século X, no Al-AndalusMuhammad Al-Raziredigiu a primeira história geral da Península Ibérica, divulgada nos reinos cristãos com o nome de Crónica do Mouro Rasis. Os testemunhos prosseguem na idade média com Pedro Afonso, conde de Barcelos e os cronistas Fernão LopesGomes Eanes de Zurara e Rui de Pina entre outros, e multiplicam-se durante a expansão portuguesa através de autores como João de BarrosFernão Lopes de CastanhedaGaspar Correia e Damião de Góis.
A compreensão de Portugal e da sua história é uma constante da historiografia portuguesa: as condições que tornaram possível a autonomização de Portugal e, depois, lhe permitiram construir e manter uma identidade na Península e no mundo são o cerne da análise, acentuada a partir do século XIX, de historiadores e pensadores como Alexandre HerculanoOliveira MartinsAntero de QuentalSampaio BrunoJaime CortesãoAntónio Sérgio e Joel Serrão, entre outros.
A leitura da história de Portugal em termos de um ciclo de apogeu e queda, de potência mundial à irrelevância geopolítica, é uma leitura marcadamenteoitocentista. Portugal tem, pela sua posição geográfica e características geomorfológicas, uma posição excêntrica relativamente à Europa. A posição atlântica, prolongada desde o século XV pelos dois arquipélagos dos Açores e o da Madeira, foi a chave da sua história e da sua identidade nacional: encravado entre um poderoso vizinho e o mar, os Portugueses souberam tirar partido da sua situação estratégica, quer construindo no mar um poderio militar, quer aliando-se à potência naval dominante (aliança inglesa), assegurando a sobrevivência face às pretensões hegemónicas das potências europeias. Escreve Veríssimo Serrão(História de Portugal, vol. 1): «em face de uma Espanha superior em dimensão cinco vezes, não houve milagre no caso português, mas somente a adequada integração dos seus naturais num quadro político que lhe assegurou a existência autónoma que qualquer periferia marítima amplamente favorece.»






Pré-história
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Mapa Étnico-Linguístico da Península Ibérica cerca de 200 AC.
Os mais antigos fósseis conhecidos de hominídeos na Europa, datados de 1,1 a 1,2 milhões de anos a.C., foram encontrados no norte da península ibérica, na serra de Atapuerca. Em Portugal, os vestígios humanos mais antigos datam de há cerca de 500-300 mil anos, quando a região era habitada por neandertais. Os vestígios mais antigos conhecidos de Homo sapiens são de homens de Cro-Magnon com "traços" de neandertal, com 24.500 anos. O fóssil de uma criançaencontrado no Vale do Lapedo é interpretado como indicador de populações híbridas resultantes do cruzamento das duasespécies. São também os vestígios de seres com características neandertais mais recentes que se conhecem, possivelmente os últimos da sua espécie. Estas eram sociedades paleolíticas de subsistência, de caçadores-coletores que deixaram vestígios como a arte rupestre do Vale do Coa a norte 8 e a gruta do Escoural, a sul.
Após o fim da última idade do gelo, há cerca de 12 a 11 mil anos, as alterações climáticas permitiram iniciar a domesticação de animais de pastoreio, algumas culturas de cereais e a pesca. O neolítico é testemunhado no sul de Portugal por utensílios de pedra e pela cultura megalítica, com dólmens como a anta Grande do Zambujeiro, menires como nocromeleque dos Almendres, bem como arte esquemática como na anta pintada de Antelas e em ídolos-placa.
idade do bronze da península, com o desenvolvimento da olaria e outros metais como ouro e prata, iniciou-se cerca de 4000 a.C a sul, em locais como El Argar, de onde se espalhou.10 No terceiro milénio aC, várias ondas de povos indo-europeus celtas vindos da Europa Central invadiram o território. Misturando-se com as populações locais, formaram diferentes grupos étnicos, com numerosas tribos. As principais dessas tribos foram os galaicos, que estabeleceram a cultura castreja a norte, os lusitanos no centro, os célticos no Alentejo, e os cinetes ou cónios no extremo sul de Portugal (regiões do Algarve e Alentejo). Aí se desenvolveu a escrita do sudoeste, uma das escritas paleo-hispânicas. A sul, na mesma altura, estabeleceram-se também alguns postos comerciais costeiros semi-permanentes de fenícios e, mais tarde, de cartagineses.
Proto-história (século III a.C.–1147)
Romanização
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As províncias romanas Lusitânia eGalécia, reorganização da Hispânia deDiocleciano298 d.C..
Os Romanos iniciaram a invasão da Península Ibérica (a que chamavan "Hispânia") em 218 a.C, durante a Segunda Guerra Púnica contra Cartago. Aí anexaram inicialmente duas regiões como províncias, a Hispânia Citerior (nordeste) e a Hispânia Ulterior (sudoeste) A mineração foi o primeiro factor de interesse na região: um dos objectivos estratégicos de Roma era cortar a ligação de Cartago com as minas hispânicas de cobre, estanho, ouro e prata.
No fim do século I a.C. foi criada a província da Lusitânia, que correspondia a grande parte do actual Portugal a sul do rio Douro e à estremadura espanhola, com capital em Emerita Augusta (Mérida). Os romanos exploraram com intensidade minas como Aljustrel (Vipasca) e São Domingos, na Faixa Piritosa Ibérica que se estende até Sevilha.  Enquanto o sul foi ocupado com relativa facilidade, a anexação do norte só se deu muito depois, em parte devido à resistência dos povos nativos. Povos célticos, como os lusitanos liderados por Viriato nos Montes Hermínios (Serra da Estrela), conseguiram conter a expansão romana durante anos.  Perito em tácticas de guerrilha, Viriato travou uma guerra incansável contra os invasores, derrotando sucessivamente vários generais romanos, até ser morto à traição em140 a.C.. A conquista total da península ibérica ocorreu dois séculos após a chegada, quando os romanos venceram asguerras cantábricas, no tempo do imperador Augusto (19 a.C.). Em 74 D.C. Vespasiano concedeu o "direito latino" (equiparação aos municípios da Itália) a grande parte dos municípios da Lusitânia. Em 212 d.C. a Constituição Antonina atribuiu a cidadania romana a todos os súbditos (livres) do império e, no fim do século, o imperador Diocleciano fundou a Galécia, que integrava o norte do actual Portugal, a Galiza e as Astúrias, últimos territórios conquistados.
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Ponte de Trajano sobre o rio Tâmega, Chaves (Portugal).
economia da Hispânia teve uma enorme expansão. Além da mineração, os romanos desenvolveram a agricultura naquelas que eram algumas das melhores terras agrícolas do império. No actual Alentejo cultivaram vinha e cereais, e no litoral desenvolveram a indústria pesqueira para fabricação de garum- no litoral algarvio, em Lisboa, na Póvoa de Varzim, em Matosinhos e em Tróia - que exportavam pelas rotas comerciais romanas para todo o império. As transações comerciais eram facilitadas pela cunhagem de moeda e pela construção de uma extensa rede viáriaaquedutos e pontes, como a de Trajano em Aquae Flaviae (actual Chaves). Os romanos fundaram numerosas cidades- como Olisipo (Lisboa),Bracara Augusta (Braga), Aeminium (Coimbra), Pax Julia (Beja) - e deixaram um importante legado cultural naquilo que é hoje Portugal: o latim Vulgar tornou-se o idioma dominante da região, base da língua portuguesa, e a partir do século III o cristianismo difundiu-se em toda a Hispânia.
Invasões bárbaras
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Península Ibérica c.560 d.C.: Território suevo com capital em Braga(azul); território visigodo com capital em Toledo (ocre)
Em 409, com o declínio do Império Romano, a península Ibérica foi ocupada por povos de origem germânica, a que os romanos chamavam bárbaros. Em 411, num contrato de federação com o imperador Honório, vários destes povos instalaram-se na Hispâniasuevos e vândalos asdingos na Galéciaalanos, de origem persa, na Lusitânia e Cartaginense. Destes povos, suevos e visigodos foram os que tiveram uma presença mais duradoura no território correspondente a Portugal. Como em toda a Europa ocidental as cidades sofreram uma acentuada decadência, e tanto na vida urbana como na economia verificou-se uma ruralização.
Os suevos fundaram o reino suevo com capital em Braga, chegando a dominar até Aeminium (Coimbra). Com as invasões desapareceram as instituições romanas, mas manteve-se de pé a organização eclesiástica, que os suevos adoptaram ainda no século V, seguidos pelos visigodos, e que foi um importante instrumento de estabilidade. Apesar de inicialmente adeptos do arianismo e do priscilianismo, adoptaram o catolicismo das populações locais hispano-romanas no ano 449, evangelizados por influência de S. Martinho de Braga. A governação sueva baseou-se nas paróquias, descritas no Parochiale suevorum de c.569.  e o reino suevo tornou-se o primeiro reino cristão da Europa, sendo também o primeiro a cunhar moeda própria.
Em 415 os visigodos, inicialmente instalados na Gália, avançaram para sul como aliados do Império Romano para expulsar alanos e vândalos, e fundaram umreino com capital em Toledo. A partir de 470 cresceram os conflitos entre o reino suevo e o vizinho reino visigodo. Em 585 o rei visigodo Leovigildo conquistou Braga e anexou a Galécia. A partir daqui toda a Península Ibérica ficou unificada sob o reino visigodo (excepto algumas zonas do litoral sul e levantino, controladas pelo Império Bizantino e a norte pelos vascões). A estabilidade interna do reino foi sempre difícil, pois os visigodos eram uma minoria e professavam o arianismo, enquanto a população local era católica. A sua estratégia inicial foi manter-se como minoria dirigente estritamente separada da maioria autóctone. No entanto a consolidação dos seus reinos deu-se precisamente devido à integração com a população local, adoptando a língua latinaadaptando a lei romana e convertendo-se com Recaredo I ao catolicismo Mas em 710 uma crise dinástica entre partidários dos reis Rodrigo e Ágila II levou à invasão muçulmana que resultou no colapso do reino.
Ocupação árabe
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Antiga mesquita de Mértola, no sul de Portugal, hoje Igreja de Santa Maria da Assunção.
Em 711, um exército omíada de berberes e árabes recém convertidos ao islão liderados por Tariq ibn Ziyad (aportuguesado para Tárique), desembarcou em Gibraltar após conquistar o norte de África. Aproveitando-se das lutas internas que dividiam os visigodos ou chamados como aliados da facção de Ágila II, venceram a batalha de Guadaletecontra as forças do rei visigodo Rodrigo. Rapidamente avançaram até Saragoça, beneficiando do povoamento disperso para conquistar quase toda a península. Ao território ocupado como província do Califado Omíada chamavam Al Andaluz. Ao oeste da península, correspondente a Portugal, chamavam o Gharb al-Andalus ou simplesmente Al-Garb (o ocidente).
As populações locais puderam permanecer nas suas terras mediante pagamento. Os seus hábitos, cristãos e judeus foram tolerados. . Apesar de arabizados, os moçárabes mantiveram um contínuo de dialetos românicos -a língua moçárabe- erituais cristãos. Os novos ocupantes desenvolveram a agricultura, melhorando os sistemas de rega romanos, introduzindo a cultura de arroz e de citrinosalperces e pêssegos. .
Em 756 Abderramão I, resistindo ao domínio abássida, fundou no al-Andaluz um emirado independente que se tornou o florescente califado de Córdova. A sua economia assentava no comércio, na agricultura e na indústria artesanal muito desenvolvidos. A cunhagem de moeda foi fundamental e uma das mais importantes à época. A capital, Córdova, foi durante o século X uma das maiores cidades do mundo e um centro financeiro, cultural, artístico e comercial com bibliotecas, universidade, uma escola de medicina e de tradutores de grego e hebraico para o árabe.
Em 1009 um golpe de estado iniciou um período de guerra civil no Al-Andalus, a fitna, que conduziu à fragmentação do califado em reinos rivais, as taifas. . O território a sul do Douro foi dividido entre as taifas de Badajozde Sevilha e de Silves. Livres de um poder central, cidades como Alcácer do sal e Lisboa e Silvesdesenvolveram-se com base no comércio. A partir de 1090 os almorávidas, que predicavam o cumprimento ortodoxo do Islão, foram chamados por Al-Mu'tamid, o rei poeta da taifa de Sevilha, para auxiliar na defesa face ao avanço de Afonso VI de Leão e Castela e reunificaram o al Andaluz por algum tempo até que este se desintegrou de novo, originando novas taifas. Entre 1144-1151 existiram três taifas no que é hoje Portugal: a Taifa de Mértola, a Taifa de Silves e a Taifa de Tavira, depois integradas no Califado Almóada vindos de Marrocos, descontentes com o insucesso em revigorar os estados muçulmanos e suster a reconquista cristã. A ocupação árabe da península durou mais de cinco séculos durante os quais, partindo das Astúrias, a única região que resistiu à invasão árabe, se desenvolveu um movimento de reconquista da Península.
Formação do Reino de Portugal
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Evolução das fronteiras dos territórios na Península Ibérica entre 790 e 1300.
Desde 718, refugiando-se da súbita invasão muçulmana da Península Ibérica, um grupo de cristãos visigodos resistiu acantonado a norte, na região montanhosa das Astúrias. Aí, liderados por Pelágio, fundaram o Reino das Astúrias e iniciaram a reconquista de territórios.  Este processo gradual originou o nascimento de pequenos reinos, que iam sendo alargados à medida que as conquistas eram bem sucedidas. Assim nasceram o Reino de Leão, de Navarra, de Aragão, deCastela e da Galiza.
Em 1096 o rei Afonso VI de Leão e Castela entregou o governo do Condado Portucalense, formado em 868 entre os riosMinho e Douro,39 a Henrique de Borgonha pelo casamento com a sua filha Teresa de Leão. Depois da morte de D.Henrique, D.Teresa tentou alargar os seus domínios e obter a autonomia aliada à alta nobreza galega contra a sua meia-irmã Urraca de Leão e Castela. Mas em 1121 teve de recuar e negociar um tratado, mantendo-se o condado um vassalo do reino de Leão.
Teresa exercera a regência durante a menoridade do seu filho, Afonso Henriques. Mas em 1122 os interesses de ambos chocaram, quando este se opôs a uma união galego-portuguesa. A posição de favoritismo de D.Teresa em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses originou a revolta que este liderou. D. Afonso Henriques armou-se cavaleiro e passou a viver em Coimbra. Em 1128 venceu a batalha de São Mamede contra as forças de sua mãe e Fernão Peres de Trava. Assumiu então o governo do condado e concentrou esforços em negociações junto da Santa Sé para alcançar a autonomia. Simultaneamente procurou alargar os seus domínios, conquistando território aos muçulmanos, enquanto lutava contra as forças de seu primo Afonso VII de Leão e Castela.
Em 1139, depois de uma importante vitória contra um contingente mouro na batalha de Ourique, D. Afonso Henriques foi aclamado rei de Portugal, com o apoio das suas tropas.  Nascia assim o Reino de Portugal, com capital em Coimbra e iniciava-se a primeira dinastia. A independência portuguesa foi reconhecida por Leão e Castela em 1143 pelo tratado de Zamora. Em 1147, com o apoio de cruzados norte europeus, Afonso I de Portugal conquistou Lisboa. Com a pacificação interna, prosseguiu as conquistas aos mouros, empurrando as fronteiras para sul, desde Leiria ao Alentejo.
Considera-se que foi em 1211, reinado de D. Afonso II, a primeira vez que foram reunidas cortes em Coimbra com representantes do clero e nobreza. Foram publicadas importantes leis para proteger os bens da Coroa, garantir as liberdades e proibir os abusos dos funcionários régios.
Em 1249 o Al-Gharb (Algarve) mourisco foi incluído no reino cristão de Portugal, concluindo a reconquista portuguesa. Isso aconteceu no reinado de D. Afonso III, que acrescentou à sua intitulação "Rei de Portugal e do Algarve". Em 1254 foram realizadas cortes em Leiria, onde estavam pela primeira vez representantes das vilas e cidades. Em 1297 D. Dinis selou a paz com os reinos de Leão e de Castela e fixou os limites fronteiriços pelo Tratado de Alcanizes. Anos antes, em 1290, adoptara como língua oficial do reino de Portugal, em vez do latim, a "língua vulgar" (galego-português), a que chamou língua portuguesa.
Consolidação e expansão (1385–1580
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Batalha de Aljubarrota que assegurou a independência face aCastela, a nova dinastia de Avis e aaliança luso-britânica. Pintura do século XV de Jean d'Wavrin,British Library
Desde 1369, no início do seu reinado, D. Fernando I travou as guerras fernandinas contra forças castelhanas, ao reclamar-se herdeiro do trono de Castela. Mais tarde, no contexto da guerra dos cem anos que dividia a Europa, apoiou a pretensão de João de Gantduque de Lancaster, ao mesmo trono.  Contudo pouco antes de morrer viu a sua impopular mulherLeonor Teles de Menezes negociar o casamento da filha Beatriz de Portugal com Juan I de Castela, planeando entregar-lhe o trono de Portugal.
Desde as guerras fernandinas a nobreza portuguesa dividira-se em duas facções, pro-castelhanas e pro-inglesas. Após a morte de D. Fernando I sem herdeiros masculinos, a regência de Leonor Teles lançou o reino num período de guerra civil eanarquia, com uma parte significativa da população revoltada face à possibilidade da perda de independência.  Durante acrise de 1383-1385, a rainha partilhava o governo com o nobre galego João Fernandes Andeiro. A facção pela independência que se lhe opunha era liderada pelo meio-irmão de D. Fernando, D. JoãoMestre de Avis. Em Dezembro de 1383 D. João liderou uma revolta contra a rainha que matou o Andeiro. Após a morte do conde, o povo de Lisboa aclamou-o Regedor e Defensor do Reino. De imediato as forças de Juan I de Castela entraram em Portugal e cercaram Lisboa. Em Abril de 1384 Nuno Álvares Pereira, nomeado fronteiro do Alentejo, vence uma força castelhana em número superior à sua na batalha dos Atoleiros.
Em 1385 os castelhanos avançaram para tomar o trono de Portugal. Convocaram-se então as cortes de Coimbra de 1385. Aí, um grupo de nobres e mercadores que incluía Nuno Álvares, opôs-se ao Partido Legitimista leal a D. Leonor. Procurando garantir a independência do reino, nomearam então como rei de Portugal D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de Pedro I. Assim terminava a dinastia de Borgonha e iniciava-se uma segunda dinastia portuguesa, a dinastia de Avis.
Com aliados ingleses, D. João I liderou uma vitória determinante na batalha de Aljubarrota, que aniquilou definitivamente o exército castelhano e assegurou a independência do reino. Os exércitos portugueses foram comandados por Nuno Álvares Pereira, nomeado Condestável do Reino. Meses depois, o condestável invadiu Castela e infligiu nova derrota na batalha de Valverde. O casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, princesa inglesa filha de João de Gant, e a assinatura do Tratado de Windsor (1386) selaram a aliança luso-britânica.
Descobrimentos e formação do império português
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Descobrimentos portugueses de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios portugueses no reinado de D. João III (verde).
Em 1415 forças de D. João I conquistaram a cidade de Ceuta, no norte de África, movidas pelo espírito de continuação dareconquista e pelo interesse comercial. Foi o início do expansionismo português.
À medida que os muçulmanos retaliavam e desviavam as rotas comerciais, decidiu-se investir na exploração por mar ao longo da costa africana. Para dirigir a exploração foi nomeado o Infante D. Henrique. A partir de 1419, com o incentivo do infante, navegadores experientes e os mais avançados desenvolvimentos náuticos e cartográficos da época, exploraram a costa ocidental de África sistematicamente, cada vez mais para sul. Em 1418/19 chegaram ao arquipélago da Madeira e em 1427 aos Açores onde estabeleceram capitanias que prosperaram da agricultura e de uma florescente indústria deaçúcar.
Gil Eanes transpôs o difícil Cabo Bojador em 1434. Após aperfeiçoar a caravela em meados do século, em 1479 passaram o Equador. Em 1471 no Golfo da Guiné foi estabelecida a feitoria de São Jorge da Mina para apoiar um florescente comércio de ouro de aluvião. Partindo da Mina Diogo Cão fez o primeiro contacto com o Reino do Congo. Intensificam então a busca de um caminho marítimo para as "Índias", alternativo aoMediterrâneo - dominado pelas repúblicas marítimas italianas, pelos otomanos, pelos mouros e por piratas- no lucrativo comércio de especiarias. Após sucessivas viagens exploratórias, em 1488 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, entrando pela primeira vez no Oceano Índico a partir do Atlântico.
A chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492 precipitou uma negociação entre D. João II e os Reis Católicos de Castela e Aragão. Como resultado foi assinado em 1494 o Tratado de Tordesilhas, dividindo o mundo em duas áreas de exploração demarcadas por um meridiano situado entre as ilhas de Cabo Verde(a 370 léguas a oeste deste arquipélago) e as recém descobertas Caraíbas: cabiam a Portugal as terras "descobertas e por descobrir" situadas a leste deste meridiano, e à Espanha as terras a oeste dessa linha. Em 1498Vasco da Gama chegou à Índia, estabelecendo o primeiro contacto direto da Europa com a Ásia e inaugurando a importante rota do cabo. Em 1500, na segunda viagem para a Índia, Pedro Álvares Cabral desviou-se da costa Africana e aportou no Brasil. Em Lisboa foi então estabelecida a Casa da Índia para administrar todos os aspetos do comércio e da navegação além-mar e foi nomeado o primeiro vice-rei da Índia sediado em Cochim.
A vitória na Batalha de Diu afastou mamelucos e árabes, facilitando o domínio português do Índico. Em 1510 sob o governo de Afonso de Albuquerque foi constituído o Estado Português da Índia com capital em Goa, primeira conquista territorial. Albuquerque conquistou Malaca em 1511, alcançando as ambicionadas "ilhas das especiarias" (ilhas Molucas) em 1512, e aportando na China um ano depois. Enquanto isso outros navegadores exploravam o Oceano Pacífico ao serviço do Império Espanhol, como Fernão de Magalhães. Na sequência da sua viagem de circum-navegação, quando as explorações portuguesas e espanholas convergem nas ilhas Molucas foi firmado em 1529 o Tratado de Saragoça que demarcou as explorações no oriente: as Molucas foram atribuídas a Portugal e asFilipinas a Espanha.
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Rotas comerciais portuguesas deLisboa a Nagasaki entre 1580-1640 (azul); rotas rivais espanholas (branco) com o chamado galeão de Manilaestabelecido em 1565
De 1415 até 1534, quando se iniciou colonização do interior nas capitanias do Brasil por D. João III, o império português foi uma talassocracia, abrangendo os oceanos Atlântico e Índico. Uma cadeia de fortificações costeiras protegia uma rede de feitorias, com o comércio reforçado por licenças de navegação, os cartazes, com o apoio de numerosas relações alianças diplomáticas com o Reino do SiãoSafávidas da PérsiaReino de BisnagaEtiópia, entre outras. Era completado pela acção de missionários ao abrigo do Padroado português, um acordo da coroa portuguesa com a Santa Sé.
Em 1542 ou 43 comerciantes portugueses aportam no Japão, onde mais tarde ajudam a fundar Nagasaki. Em 1557 as autoridades chinesas autorizaram os portugueses a estabelecerem-se em Macau, que se tornou a base de um prósperocomércio triangular entre a China, o Japão e a Europa, via Malaca e Goa. Em 1571 uma cadeia de entrepostos ligavaLisboa a Nagasaki: nascera o primeiro império global da história, trazendo enormes riquezas para Portugal. Em 1572 Luís Vaz de Camões publicou "Os Lusíadas", três anos após regressar do Oriente, cuja acção central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.
União Ibérica
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Império português (verde) com as zonas disputadas entre 1588-1654 pelos holandeses das companhias da República das Sete Províncias Unidas (laranja)
Em 1580, após a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir sem descendentes, Portugal enfrentou uma grave crise dinástica. . Três netos de D. Manuel I de Portugal reclamavam o trono: Catarina, duquesa de BragançaAntónio, Prior do Crato e Filipe II de Espanha. . Em Julho D. António foi aclamado rei pelo povo de Santarém, mas um mês depois Filipe II, apoiado pelo Conselho de Governadores e parte da aristocracia portuguesa, entrou no país e derrotou-o na batalha de Alcântara
Em 1581, Filipe II convocou as Cortes de Tomar. Aí, após se comprometer a manter a língua, leis e cargos na mão de portugueses foi coroado rei de Portugal sob a forma de monarquia dual - dois reinos, um rei - iniciando a união ibérica sob a a dinastia Filipina, apesar da oposição dos partidários de D. António nos Açores. AGuerra da Sucessão Portuguesa prolongou-se por dois anos até ao Desembarque da Baía das Mós. A governação ibérica - dos dois reinos e seus imensos impérios - era assegurada por Conselhos (Consejos) com sede em Madrid. Em Lisboa, um vice-rei nomeado pelo rei chefiava o governo.
Durante a união o império português sofreu grandes reveses, ao ser envolvido nos conflitos dos Habsburgos com a Inglaterra, a França e a Holanda. Entre 1595 e 1663 foi travada a Guerra Luso-Holandesa com as Companhias Holandesas das Índias Ocidentais e Ocidentais, que tentavam tomar as redes de comércio portuguesas de especiarias asiáticas, escravos da África ocidental e açúcar do Brasil.68 . Os holandeses apoderaram-se sucessivamente de Ternate e Amboina na Indonésia, da Capitania de Pernambuco no Brasil, de São Jorge da MinaArguimAxim, tomando o lugar dos portugueses no Japão em 1639 e cercando Macau. Ao passo que os ingleses tomaram Ormuz em 1622.




Restauração e invasões
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Aclamação de D. João IV como rei de Portugal, pintado por Veloso Salgado, Museu Militar de Lisboa
No reinado de Filipe III (IV de Espanha) (1621-1640) vários problemas minaram o apoio português à união: o aumento de impostos sobre comerciantes portugueses, a perda de importância da nobreza nas cortes espanholas, os cargos de governação ocupados pelos espanhóis e a pressão para partilhar o fardo financeiro e militar das guerras de Espanha. Os portugueses estavam pouco inclinados a ajudar, uma vez que a Espanha não conseguira evitar a ocupação holandesa das suas possessões coloniais. Isto apesar do facto de tanto portugueses como holandeses estarem nominalmente sob a sua coroa.
A situação culminou numa revolução feita pela nobreza e alta burguesia em 1 de dezembro de 1640. A revolução, embora previsível, foi despoletada quando o João, 8.º duque de Bragança foi convocado para organizar tropas e lutar contra revoltosos na Catalunha. A trama foi planeada pelos chamados "Quarenta Conjurados, que aproveitaram o fato de as tropas castelhanas estarem ocupadas no outro lado da península. O apoio do povo foi imediato, e logo o duque de Bragança foi aclamado rei de Portugal em todo o país iniciando a dinastia de Bragança como João IV de Portugal.
Na subsequente Guerra da Restauração contra Filipe IV da Espanha os portugueses venceram várias batalhas. Em 1641, para proteger os territórios ultramarinos, foi celebrada uma trégua com os holandeses. Sem efeito, pois estes ocuparam São ToméLuandaCeilão e Malaca. Entre 1645 e 1654, recifenses comandados por Salvador Correia de Sá recuperaram o Recife e conseguiram reconquistar Angola e São Tomé. Em 1661 foi selada a segunda Paz de Haia. Portugal aceitou as perdas na Ásia e os holandeses a soberania portuguesa do Nordeste brasileiro, mediante o pagamento equivalente a 63 toneladas de ouro.70 Nesse ano, para obter uma aliança com os ingleses, D.João IV negociou o casamento da sua filha Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, cedendo como dote Tânger e Bombaim.
A paz definitiva com os holandeses foi conseguida após estes tomarem Cochim e a costa de Malabar. A paz com Espanha foi conseguida finalmente em 1668, após a vitória portuguesa na Batalha de Montes Claros, e uma vez falecido o renitente Filipe IV da Espanha. Foi selada pelo Tratado de Lisboa (1668) entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, pondo fim a quase 30 anos de guerra. Espanha reconheceu a independência de Portugal e devolvem-se prisioneiros e conquistas, excepto a cidade de Ceuta, que ficou na posse de Espanha.
Era pombalina e absolutismo
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Marquês de Pombal e a reconstrução de Lisboa após oTerramoto de 1755.

A primeira metade do século XVIII foi marcada pelo florescimento da mineração no Brasil, após serem aí descobertos ouro e pedras preciosas. O rei D. João V tornou-se então um dos mais ricos monarcas da Europa. A 1 de novembro de 1755, no reinado do seu sucessor D. José I, ocorreu o grande terramoto de Lisboa que destruiu quase toda a cidade e que foi um golpe no coração do império. O primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e MeloMarquês de Pombal, dirigiu uma rápida reconstrução. Na baixa de Lisboa aplicou os conceitos urbanos e estéticos do Iluminismo e iniciou um período de modernização e europeização, com reformas profundas na administração, economia e educação, rumo a uma monarquia absoluta impondo o despotismo esclarecido à nobreza.
As Cortes nunca reuniram. Em 1757 os jesuítas, defensores do pacto de sujeição do rei à República , que viriam a ser expulso do paço e, depois, expulsos de Portugal com a aquiescência do Vaticano, com impacto em toda a Europa. . Um ano depois, a tentativa de assassinato do rei foi aproveitada pelo Marquês de Pombal para iniciar uma campanha de punição das famílias reticentes no processo dos Távora. Relativamente ao Brasil, o Marquês considerava-o uma colónia estritamente dependente de Lisboa e ao serviço do enriquecimento do Reino de Portugal; o povo brasileiro sentiu-se desprezado, o que gerou a instabilidade local suficiente para que a colónia se revoltasse. 
O rei morreu em 1779, ascendendo ao trono D. Maria I de Portugal e seu marido D.Pedro III, que derrubaram o Marquês de Pombal e o forçaram a refugiar-se fora da capital. O império decaiu e o declínio acentuou-se com as guerras napoleónicas.
Invasões francesas

Embarque para o Brasil deD. João VI e de toda a família real, em Belém, em 27 de novembro de 1807.Gravura de Francisco Bartolozzi
Em 1807 Portugal recusou participar no Bloqueio Continental decretado por Napoleão Bonaparte, respeitando a tradicionalaliança Luso-Britânica. A França Imperial exigia que todos os estados europeus aderissem, como parte da estratégia para eliminar a Grã-Bretanha como principal potência da época e garantir a hegemonia na Europa. Aqueles que se recusassem seriam invadidos.
Em 1801, Napoleão assinara um tratado com Espanha, pelo qual esta declararia guerra a Portugal caso o reino mantivesse o apoio aos britânicos, o que desencadeou a Guerra das Laranjas, uma campanha de dezoito dias em que o exército espanhol tomou uma dúzia de populações fronteiriças no alto Alentejo. A resistência foi mínima e a paz foi assinada pouco depois, devolvendo as conquistas, excepto Olivença e Vilareal, antigas disputas fronteiriças. Em Outubro de 1807 Napoleão selou o Tratado de Fontainebleau com a Espanha, prevendo a conquista e partilha de Portugal. Ao mesmo tempo planeava apoderar-se do Brasil e das colónias espanholas.
invasão de Portugal foi iniciada ainda nesse ano, pelas tropas do general Junot, reforçadas por três corpos do exército espanhol. Atravessando a Beira Baixa, tomaram Lisboa a 1 de dezembro de 1807. Porém, os planos de Napoleão fracassaram: antes da chegada a Lisboa, toda acorte portuguesa partira para o Brasil, num total de cerca de 15 mil pessoas, ao abrigo de uma convenção secreta com a Inglaterra. Deixaram o território europeu de Portugal nas mãos de uma regência, com instruções para não "resistir" aos invasores. Ficava vazio de conteúdo o decreto de Napoleão banindo aCasa de Bragança do trono de Portugal. A partir do Rio de Janeiro a corte prosseguiu a política internacional portuguesa e D. João VI de Portugal mandou invadir a Guiana Francesa e a Cisplatina (Uruguai), como retaliação.
Com a rebelião popular espanhola, as tropas espanholas abandonam Portugal, deixando margem para uma revolta no Porto a 7 de Junho de 1808 e para a constituição da Junta Provisional. Ao mesmo tempo em todo o território alastra um movimento de resistência popular que nem a feroz repressão das forças francesas, em que se destacou o general Loison (o famigerado «maneta»), conseguiu debelar. O desembarque de uma força britânica comandada por Arthur Wellesley, Duque de Wellington perto da Figueira da Foz a 1 de Agosto deitou por terra os planos de ocupação de Portugal. Derrotado em Roliça e no Vimeiro, Junot assina um armistício, a Convenção de Sintra, que em Agosto de 1808 lhe permite abandonar Portugal em navios britânicos, com as tropas e o saque.77 A guerra alastrava a toda a Península, acabando por comprometer a política imperial da França.
A ajuda britânica foi crucial para expulsar os invasores. Em duas invasões subsequentes, a de Soult (1809) e a de Massena (1810), a resistência luso-britânica, que culminou nas batalha do Buçaco em 1810 e das Linhas de Torres Vedras,81 quebrou as asas à política imperial sobre a Península Ibérica.









Monarquia constitucional (1820–1910)
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No início do século XIX Portugal vivia uma crise motivada pelas consequências destrutivas das invasões napoleónicas, pela ausência da família real no Brasil, pelo fim do pacto colonial e abertura do Brasil ao comércio mundial, que tinha provocado uma quebra de 75% do comércio externo e a ruína de muitos comerciantes. A condição sui generis de serem governados pela regência militar britânica de Beresford, enquanto D. João VI reinava desde 1816 como rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves no Rio de Janeiro, que se tornara a capital do reino desde 1808, desconcertava ainda mais os portugueses.
Ao mesmo tempo, a ideologia liberal implantava-se em pequenos grupos da burguesia. No dia 24 de Agosto de 1820 eclodiu no Porto uma revolução cujo objectivo imediato era convocar cortes que dotassem Portugal de uma constituição. Esta revolução não encontrou oposição. Tendo a cidade de Lisboa aderido ao movimento, formou-se uma Junta Provisória cujo objectivo era organizar as eleições para eleger as cortes. Os deputados eleitos, oriundos de todo o território controlado por Portugal (BrasilMadeira,Açoresdependências da África e Ásia) formaram as Cortes Constituintes.
D. João VI foi intimado pelas cortes constituintes a regressar a Portugal. Antes de voltar nomeou o seu filho D. Pedro como regente do reino do Brasil, o que desagradou às Cortes que entendiam que a soberania só poderia residir em Portugal continental. Após o retorno do rei, em 26 de abril de 1821, Lisboa recuperou o seu estatuto de capital e iniciou-se uma intensa movimentação política no sentido de restringir os privilégios do Brasil. As cortes ordenaram então que D. Pedro deixasse o Brasil para se educar na Europa. Esta atitude gerou o descontentamento dos 65 deputados brasileiros presentes, que retornaram ao Brasil.85 No dia 7 de Setembro de 1822 o príncipe D. Pedro recebe nova mensagem de Lisboa, que rasga diante dos companheiros, exclamando: "Independência ou morte!". Este acto, conhecido como o grito de Ipiranga, inicia a independência do Brasil
Nesse ano as Cortes aprovaram a Constituição portuguesa de 1822, que o rei aceitou, iniciando a monarquia constitucional. Inspirada na Constituição francesa de 1791 e na Constituição Espanhola de 1812, consagrava a divisão tripartida dos poderes (legislativoexecutivo e judicial), limitava o papel do rei a uma mera função simbólica, colocando o poder no governo e num parlamento unicameral eleito por sufrágio directo. Isso mostrava a forte influência iluminista.
Guerra civil portuguesa (1828–1834)
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Caricatura representandoD. Pedro IV e D. Miguel Idisputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier1833.
A morte do rei D. João VI de Portugal em 1826 desencadeou uma disputa sobre a sucessão real entre constitucionalistas eabsolutistas.
O herdeiro imediato era D. Pedro, então Imperador do Brasil e constitucionalista convicto. Seguia-se D. Miguel, um tradicionalista que fora expulso do reino após tentar dois golpes absolutistas - a Vilafrancada e a Abrilada. Chamado pela regência, D. Pedro foi por três meses rei de Portugal como Pedro IV. Mas, pressionado pela recusa dos brasileiros à união dos dois reinos e pelosMiguelistas, abdicou pouco depois para a sua filha Maria da Glória então com sete anos.
Como parte do acordo de sucessão, em abril de 1826 D. Pedro criou uma Carta constitucional que revia a Constituição de 1822para conciliar absolutistas e liberais, permitindo que ambas as facções obtivessem postos no governo. Retornou ao Brasil, deixando o trono a D. Maria e a regência a seu irmão D. Miguel até que esta atingisse a idade necessária para se casarem.
D.Miguel regressou a Portugal para jurar a Carta Constitucional portuguesa de 1826 e exercer a regência. Mas um mês depois convocou cortes tradicionais, com nobreza, clero e homens livres. Aí foi coroado como Miguel I de Portugal, anulando a Constituição e depondo a monarquia constitucional de D. Maria. Seguiram-se seis anos guerra civil com intervenções militares estrangeiras. Tomando o partido dos liberais, D. Pedro IV abdicou do trono brasileiro para o seu filho Pedro II do Brasil e selou uma aliança internacional para derrotar seu irmão em Portugal. As derrotas sucessivas de D. Miguel forçaram-no a desistir da luta na Convenção de Évora-Monte, e permitir a restauração da monarquia constitucional e do trono deD. Maria II.



Liberalismo
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Após a derrota dos absolutistas, a política portuguesa do século XIX foi marcada por ideias liberais. Entre 1834 e 1836 vigorou o chamado devorismo, de influência maçónica. Sob a Carta Constitucional portuguesa de 1826 eram vendidos em hasta pública os bens nacionais, facilitando o acesso aos chefes liberais.
Mas não alcançou a paz desejada. Os liberais eram um grupo heterogéneo que se juntara para lutar contra os absolutistas, mas tinham muitas discrepâncias entre si. Por esta razão, dividiram-se desde o início em moderados e progressistas. O primeiro ponto de discórdia foi a Constituição. Enquanto os moderados, chamados cartistas, queriam impor a Carta Constitucional, os progressistas, denominados setembristas, defendiam a soberania popular, lutando activamente por uma constituição aprovada por um congresso democraticamente eleito pelo povo.
Revolução de Setembro de 1836 levou à promulgação da Constituição Portuguesa de 1838. Contudo, foi efémera a sua vigência. A rainha D. Maria II, que era favorável aos cartistas, entregou o poder a António da Costa Cabral, Marquês de Tomar, nomeando-o ministro da justiça. Costa Cabral procede a um golpe de Estado e restaura a Carta Constitucional. De 1842 a 1846, governou o país como um ditador, causando descontentamento entre a população. O cabralismo terminou com a Revolução da Maria da Fonteseguindo-se novo período de guerra civil. A Guerra da Patuleia entre Cartistas e Setembristas terminou com uma clara vitória cartista mas a rainha teve que retirar Costa Cabral do governo e chamar o governo do Partido Progressista.
Iniciou-se então uma fase de estabilidade, a Regeneração, inicialmente presidido pelo marechal Saldanha, em que se destacouFontes Pereira de Melo. Com a morte de D. Maria II em 1853 passou a reinar em Portugal a Casa de Saxe-Coburgo-Gotha. O sucessor foi o seu filho D. Pedro V, cujo reinado iniciou um longo período em que Portugal foi um modelo de monarquia constitucional, em que os direitos individuais eram respeitados e havia uma ampla liberdade de imprensa.
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Inauguração, a 28 de Outubro de 1856, da primeira linha de caminho-de-ferro em Portugal, aguarela deAlfredo Roque Gameiro
Os partidos liberais haviam chegado a um consenso sobre as vantagens da promoção do desenvolvimento material, incluindo das ferrovias, do comércio e da indústria, deixando de lado as divergências constitucionais de 1830 e 1840. No entanto, apesar da paz social, a industrialização e modernização da agricultura e da literacia da população, foram mais lentos em Portugal do que em qualquer outro país na Europa Ocidental.
Passou a vigorar o rotativismo, em que os dois principais partidos políticos, o Partido Regenerador (conservador) e Partido Histórico (progressista) alternavam no poder. Na década de 1880 houve uma extensão do direito de voto a todos os cabeças de família, aproximando-se muito do o sufrágio universal. No entanto, a maioria da população, rural e analfabeta, vivia fora da política permitindo aos chefes políticos controlar o sistema político.
Durante a chamada "partilha de África", Portugal entrou em colisão com as principais potências europeias ao reclamar vastas áreas com base no "direito histórico". Na sequência da Conferência de Berlim, em 1890 houve uma crise colonial na África, seguida por uma série de campanhas militares para a ocupação efectiva do território que Portugal reclamava como colónias. Estas campanhas criaram um corpo de oficiais africanistas e anti-liberais que viriam a ser muito importantes na história portuguesa. Enquanto isso, os movimentos republicanos iam ganhando adeptos.
República (1910–1926)
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Ilustração alusiva àProclamação da República Portuguesa a 5 de outubro de 1910.
A subjugação do país após o ultimato britânico e a severa crise financeira ocorrida entre 1890-1891, os gastos da família real , o poder da igreja, a instabilidade política e social, o rotativismo de dois partidos no poder (progressistas e regeneradores), a ditadura de João Franco , a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos — tudo contribuiu para a erosão damonarquia portuguesa.
Os defensores da república, particularmente o Partido Republicano Português, souberam tirar o melhor proveito , apoiados indirecta e directamente em organizações secretas como a maçonaria e a carbonária. O republicanismo acentuou-se de tal forma que em 1908 o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram mortos a tiro na Praça do Comércio em Lisboa por membros da carbonária. Manuel II culpou do regicídio o primeiro-ministro de seu pai, João Franco que governara como um ditador nos últimos anos. João Franco foi demitido, mas o novo rei não conseguiu melhorar a imagem da monarquia nem deter a pressão do movimento republicano.
Em Outubro de 1910 estalava uma revolta. A relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos provocaria a deposição de D. Manuel II e a proclamação da República Portuguesa, partindo o rei para o exílio na Grã-Bretanha. A República foi proclamada no dia 5 de outubro de 1910, da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa . Um governo provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início à Primeira República. Entre outras mudanças, com a implantação da república, foram substituídos os símbolos nacionais: o hino nacional e a bandeira bem como a moeda, com o escudo a substituir o real.
I República
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Embarque de tropas para Angola durante a Primeira Guerra Mundial.
Depois da revolução em Lisboa, a monarquia foi sucedida por uma república parlamentarista, que durou de 1910 a 1926. Os republicanos eram uma minoria urbana num país rural, e o direito de voto foi restrito aos homens alfabetizados. Foi um período de grande instabilidade política: nos dezasseis anos de duração teve nove presidentes e 45 governos.
O parlamento era o centro do sistema político e elegia o presidente da república, que tinha pouco poder de arbitrar entre as diferentes facções. O sistema partidário estava fragmentado e sucediam-se governos sem maioria parlamentar suficiente. Uma facção do Partido Republicano Português, os "democratas" de Afonso Costa, tornou-se o centro do sistema político e controlava a administração e, por meio de caciquismo, as eleições. O resto das facções republicanas e monárquicas recorreu à insurreição para tomar o poder. Houve numerosas conspirações e golpes de estado. O regime era fraco e as políticas secularistas e de controle da Igreja Católica enfrentaram esta e a população rural.
Portugal participou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a mobilização militar e o colapso do comércio marítimo causaram muitos problemas sociais, tais comoinflação e escassez. O movimento operário, em que primava a organização dos anarco-sindicalistas, também não se sentia representado pela República e foi muito combativo, com muitas greves contra a carestia em que usava a violência política. O golpe de estado em 1917 de Sidónio Pais tentou criar uma república presidencialista e integrar no regime monárquicos e católicos, mas após o seu assassinato um ano depois e uma pequena guerra civil entre janeiro-fevereiro de 1919 entre Monarquia e República, restaurou-se a Constituição de 1911. O sistema sobreviveu ainda oito anos , mas enfrentou inúmeros problemas sociais, golpes e insurreições, até que o golpe militar de 1926 impôs uma ditadura.
Ditadura (1926–1974)
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António de Oliveira Salazar(terceiro a partir da esquerda), fundador do Estado Novo visita obras da Ponte de Santa Clara em Coimbra.
golpe militar de 1926 pôs fim à Primeira República, iniciando uma ditadura militar encabeçada pelo general Carmona. Em 1928 a situação financeira do país tornou-se a principal preocupação do governo e Carmona nomeou ministro das Finanças António de Oliveira Salazar, um prestigiado professor de finanças da Universidade de Coimbra. O regime, progressivamente mais autoritário, promulgou em 1930 um Acto Colonial centralizador, que restringiu a autonomia financeira e administrativa das colónias no que chamou Império Colonial Português.
Salazar foi ganhando peso no governo e em 1932 tornou-se presidente do Conselho de Ministros com poderes ditatoriais. Profundamente conservador e nacionalista, rejeitava o comunismo e o liberalismo: o seu modelo era o meio rural, que considerava ideal. Em 1933 promulgou uma nova constituição inspirada no corporativismo, na doutrina social da Igreja e no nacionalismo. Estava lançada a base do novo regime político, o Estado Novo. De cariz presidencialista e anti-parlamentarista, na prática o presidente da República era uma figura apagada e o poder concentrou-se em Salazar. Um partido único (União Nacional), apoiante do regime, dominava a Assembleia Nacional e a economia era regulada por uma Câmara Corporativa composta por elementos ligados às profissões
Os antigos partidos políticos portugueses desaparecem, excepto o Partido Comunista Português, cujos dirigentes foram duramente perseguidos pela polícia política (PVDE e depois, PIDE). A censura, restabelecida em 1926, foi consolidada e as greves proibidas. Em 1936 o regime criou a Mocidade Portuguesa, para doutrinar a juventude. A qualificação do regime de Salazar como fascista não é unânime na historiografia, utilizando-se frequentemente o termo regime autoritárioou fascismo clerical, mas é clara a semelhança com a Itália de Mussolini e a ditadura espanhola de Primo de Rivera e Franco, que apoiou na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
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Agricultores beirões (c.1950).
Em 1939 Portugal declarou oficialmente a neutralidade na Segunda Guerra Mundial. Nesse ano assinou um pacto de não agressão com Espanha mas recusou aderir ao Pacto Anti-Komintern. Simultaneamente, acordou a cooperação com a Grã-Bretanha e em 1943 chegou a concedeu-lhe a Base Aérea das Lajes nos Açores. Salazar entendia ter Portugal pouco a ver com a política europeia, sendo a sua vocação ultramarina, procurando afastar-se do conflito. Portugal exportava produtos para os países em conflito, como açúcar, tabaco e volfrâmio, usado em material bélico. No fim da guerra, o governo decretou luto oficial de três dias pela morte de Hitler. Em 1949 Portugal ingressa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO) e em 1955 na Organização das Nações Unidas.
De 1949 a 1958 opositores à ditadura como Norton de Matos e Humberto Delgado defenderam a democratização. Humberto Delgado liderou a principal tentativa de derrube da ditadura por eleições, ao reunir toda a oposição democrática e grande apoio popular. Apesar de ter perdido as eleições de 1958 num processo eleitoral fraudulento, abalou o poder do Estado Novo e deu esperança à oposição.
Guerra do ultramar
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Soldados portugueses nas matas do Rio Onzo em Angola.
descolonização maciça europeia do pós-II guerra mundial fez crescer a condenação ao colonialismo e a resistência à dominação portuguesa. Após a proclamação da Independência da Índia face aos britânicos em 1947, Portugal recusou o pedido da Índia para rescindir da posse do Estado Português da Índia. Esta atitude foi condenada pelo Tribunal Internacional e pela Assembleia das Nações Unidas.
Para deter as pressões políticas internacionais, na esperança de preservar um Portugal intercontinental, o Estado Novo formulou uma nova política Ultramarina em 1951: revogou o Acto Colonial de 1930 e criou a chamada "solução Portuguesa", que passou a designar as colónias por províncias ultramarinas, considerando que estas eram parte integrante e inseparável de Portugal, como "Nação Multirracial e Pluricontinental". Em 1954, após protestos pacíficos e a recusa do governo português em negociar, a União Indiana anexou Dadrá e Nagar Haveli.
No início da década de 1960, nas colónias portuguesas africanas vários grupos formaram partidos de luta pela autodeterminação. Em Angola surgem o MPLA e aUPA, na Guiné o PAIGC e em Moçambique a FRELIMO, inspirados em líderes como Agostinho NetoEduardo Mondlane e Amílcar Cabral. A guerra fria entre osEstados Unidos e a União Soviética alimentava, ideológica e materialmente estes partidos. A 15 de Março de 1961, a UPA atacou fazendas no norte de Angola iniciando uma série de confrontos. Em 19 de Dezembro desse ano, uma força de 40 000 soldados indianos ocupou Goa, integrando o Estado Português da Índiano seu território, após 451 anos de ocupação portuguesa. A maioria das nações reconheceu a acção da Índia, no entanto, Salazar recusou-se a reconhecer a soberania indiana, mantendo estes territórios representados na Assembleia Nacional.
Primeiro em Angola, depois na Guiné Portuguesa e Cabo Verde, e em 1964 em Moçambique, surgem operações de guerrilha em três frentes, iniciando a chamadaGuerra do Ultramar. Apesar do grande número de tropas portuguesas, que chegou a atingir 200 mil homens , em parte recrutados nas colónias, a guerrilha não foi contida. A guerra prolongou-se causando cerca de 63 mil mortos. Os custos com a defesa aumentaram, chegando a 46% do total da despesa pública portuguesa em 1969, contribuindo para o empobrecimento da economia. Procurando fugir à pobreza e ao serviço militar, quase 10% da população portuguesaemigrou durante a década de 60, tendo como destinos principais a França e a Alemanha Ocidental, mas também os Estados Unidos, a Venezuela e a África do sul.
Em 1968, Salazar foi afastado do poder por doença, sucedendo-lhe Marcelo Caetano. Entre 1968 e 1970 o novo governo fez uma modernização económica e liberalização política moderadas, a chamada Primavera Marcelista,  que criou a expectativa de uma verdadeira reforma do regime, o que não chegou a acontecer. O contexto internacional era cada vez mais desfavorável ao regime, mas a intransigência do governo e de muitos colonos bloqueava a descolonização: no início da década de setenta mantinha-se vivo o ideário salazarista de travar a guerra «orgulhosamente sós» . A insustentabilidade de uma guerra de três frentes, (excepto Timor Português, cuja distância tornou inviável a intervenção), a forte pressão internacional, sobretudo da ONU e dos E.U.A. contra colonialismo, causaram o alargamento da oposição ao Estado Novo.
Democracia (1974–presente)
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Manifestação do 25 de Abril de 1983 na cidade do Porto.
Na década de 70 o descontentamento da sociedade portuguesa face ao regime cresceu, impulsionado pelas dificuldades económicas resultantes de 13 anos de guerra do ultramar e pela crise do petróleo de 1973. A recusa de Marcelo Caetanoem aceitar uma solução política para a guerra revoltou as forças armadas, que concluíram que o fim do conflito passava pelo derrube da ditadura. Oficiais intermédios do exército, principalmente capitães com o apoio dos seus superiores, organizaram-se em agosto de 1973 em Bissau num movimento clandestino. Nasceu o Movimento das Forças Armadas (MFA) com o lema "Democratizar, Descolonizar e Desenvolver".
Em Fevereiro de 1974 o general António de Spínola, ex-governador da Guiné-Bissau, publicou o livro Portugal e o Futuro. Pela primeira vez uma alta patente militar advogava publicamente a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias. No dia 14 de março os generais Spínola e Costa Gomes foram demitidos dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas.
No dia 25 de Abril de 1974 em Lisboa o MFA conseguiu um bem sucedido golpe de estado que, por não ser violento, se designou historiograficamente Revolução dos Cravos. A população aderiu e o poder foi inicialmente assumido por uma Junta de Salvação Nacional de militares, mais tarde substituída pelo Conselho da Revolução (1975-1982). António de Spínola foi designado Presidente da República, tendo entrado em funcionamento o primeiro de uma série de governos provisórios. A censura acabou, os prisioneiros políticos foram libertados e as maiores instituições do Estado Novo foram extintas. Foi iniciado o processo para conceder a independência colónias ultramarinas.
Inicialmente deu-se uma divisão entre militares conservadores em torno de Spínola, e de inclinação socialista, incluindo destacados membros do MFA em torno do primeiro-ministro Vasco Gonçalves. No dia 11 de Março de 1975 o país viveu a ameaça de um golpe de estado encabeçado por Spínola. O golpe falhou e Spínola foi forçado ao exílio no Brasil. No mesmo dia o II Governo Provisório tomou medidas socialistas na economia, decretando a nacionalização da banca e dos seguros. Seguiram-se as principais indústrias os meios de comunicação, e a reforma agrária, com a expropriação e ocupação de terras, em especial no Alentejo. Cerca de 900.000 hectares de terras agrícolas foram ocupadas entre Abril 1974 e Dezembro de 1975.
Os primeiros dois anos pós-Revolução foram de instabilidade e possibilidade de guerra civil. O período desde a revolução até à promulgação de uma nova constituição, que ficou conhecido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), foi caracterizado por disputas entre forças de esquerda e de direita, particularmente durante o chamado verão quente.
III República

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População portuguesa entre 1961-2003, em milhares, (2005 Dados daFAO) com a emigração seguida dosretornados, entre 500,000 a 1 milhão após a revolução dos cravos.
Passado um ano sobre a revolução, no dia 25 de Abril de 1975, realizaram-se as primeiras eleições livres com sufrágio universal em Portugal, com uma afluência histórica de 91% dos cidadãos recenseados, para formar uma Assembleia Constituinte que elaborasse uma nova constituição
Ainda em 1975 foi concedida a todas as colónias ultramarinas a independência. A retirada foi incondicional e imediata, tornando estados independentes todos os territórios portugueses africanos. Este processo provocou um êxodo em massa para Portugal, principalmente de Angola e de Moçambique. Mais de um milhão de refugiados sem meios fugiram das antigas colónias portuguesas, os "retornados".
Em Abril de 1976 foi promulgada a nova constituição. Nela se determinava a transição para o socialismo como destino do estado português. Dias depois, nas eleições legislativas vence o Partido Socialista Português (PS) e Mário Soares, seu líder, tornou-se primeiro-ministro do I Governo Constitucional de Portugal. Nas primeiras eleições democráticas para apresidência da República venceu Ramalho Eanes, que se impôs claramente à frente de Otelo, candidato da esquerda mais radical. Em Novembro do mesmo ano realizaram-se as primeiras eleições autárquicas. Passam a funcionar as instituições democráticas base para criar um modelo de estado democrático Parlamentarista ao estilo da Europa Ocidental. Eanes e Mário Soares aproximaram o país da Comunidade Europeia. Portugal entra para oConselho da Europa, iniciando o processo de abertura do país que levou à adesão à CEE.
Em 1979, pela primeira vez após a revolução, ganhou as eleições parlamentares um grupo político do centro-direita, o governo de Francisco Sá Carneiro eFrancisco Pinto Balsemão). Este governo chegou a um acordo com a oposição socialista para realizar uma revisão constitucional. A Constituição que entrou em vigor em 1982 eliminou algumas instituições que emergiram após a revolução, incluindo o Conselho da Revolução, e criou um Tribunal Constitucional ao estilo dos países democráticos.
Integração na União Europeia[editar | editar código-fonte]
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Vista do Parque das Nações, criado para receber a EXPO'98 em Lisboa, vendo-se o pavilhão Atlântico, a torre e a Ponte Vasco da Gama
Em 1985 Aníbal Cavaco Silva tornou-se primeiro-ministro pelo Partido Social-Democrata, de cariz conservador. Dois anos depois conquistou a maioria absoluta. Permaneceu no poder até 1995, promovendo uma política económica neoliberal e privatizando as empresas que haviam sido nacionalizadas depois da revolução. Em 1986, Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE). Nos anos seguintes, a economia portuguesa progrediu como resultado fundos estruturais e de coesão da CEE/UE e do acesso mais fácil das empresas portuguesas aos mercados estrangeiros. Em 1991 foi concluída aautoestrada Lisboa-Porto, a primeira de 48 autoestradas entre numerosas obras públicas realizadas nos anos seguintes. Em Março de 1995 Portugal começou a aplicar as regras do espaço Schengen, abrindo as fronteiras a outros membros.
De 1995 a 2001, o governo foi liderado pelo socialista António Guterres. Para celebrar 500 anos dos descobrimentos, Portugal organizou a Exposição Mundial de 1998 em Lisboa. No ano seguinte aderiu à Zona Euro,131 adotando como moeda o euro. Nesse ano Portugal foi escolhido para organizar o Campeonato Europeu de Futebol de 2004, para o que iniciou a construção de 10 estádios de futebol.132 Em 20 de Dezembro de 1999 a soberania de Macau passou para aRepública Popular da China que como último território ultramarino administrado de facto por Portugal, marcou o fim do império português.
Em dezembro de 2001 António Guterres abandonou o governo afirmando não ter condições para prosseguir. Nas eleições antecipadas, a direita voltou a obter a maioria, com o PSD liderado por José Manuel Durão Barroso coligado com o Partido Popular. Num breve período destacou-se pela política de contenção dadespesa pública e pelo apoio à guerra do Iraque, quando em 2003 Barroso foi anfitrião da Cimeira das Lajes, que culminou 4 dias depois com o seu início. Em 2004 Barroso abandonou o cargo ao ser nomeado presidente da Comissão Europeia e foi substituído por Pedro Santana Lopes. Em novembro a Assembleia da República foi dissolvida para eleger novo governo. O Partido Socialista conseguiu então pela primeira vez uma maioria absoluta e José Sócrates tornou-se primeiro-ministro. Inicia então a modernização da administração pública introduzindo o Cartão de cidadão e um "plano tecnológico", com o objectivo estimular o fraco desempenho da economia portuguesa, que registava o menor PIB per capita da Europa Ocidental. Contudo, o plano teve pouco efeito. Em 2007 Portugal presidiu à assinatura do Tratado de Lisboa. que reformou o funcionamento na UE após a tentativa falhada de aprovar uma Constituição Europeia.
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Em 2009-10 a dívida pública portuguesa ultrapassou 100% do PIB. Em 2013 atingiu 130% do PIB.
Desde 1974 Portugal acumulou crédito de risco, criação de dívida pública, má gestão dos Fundos Estruturais e Fundos de Coesão europeus e políticas contínuas de recrutamento de funcionários públicos.  Apesar disso destacou-se pela ineficiência de serviços públicos, com a segunda justiça mais lenta da Europa Ocidental. Quando a crise financeira internacional se sentiu, foi uma das primeiras economias a sucumbir.
A partir de 2008 é qualificado, junto com a Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, pejorativamente como um dosPIIGS, economias vulneráveis devido ao crescente endividamento e alto défice público em relação aoPIB. A Standard & Poor's baixou a avaliação de crédito de Portugal para "negativa", seguindo-se aMoody's. Em 2011, no início da crise da dívida pública da Zona Euro, Portugal estava à beira da falência.
Em Abril, José Sócrates anunciou que pedira ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aoFundo Europeu de Estabilidade Financeira. Em 16 de Maio de 2011, os líderes da zona do euro aprovaram um empréstimo de 78.000 milhões de euros a Portugal Como parte do acordo, o país concordou em reduzir o défice público de 9,8 por cento do PIB em 2010 até 3 por cento em 2013. 
Após as eleições o novo governo liderado por Pedro Passos Coelho inicia uma política de austeridade tutelado por uma "troika" constituída por responsáveis daComissão EuropeiaBanco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.
Portugal Luso-brasileiros Brasil
Pedro I do BrasilHonório Hermeto Carneiro LeãoBartolomeu de Gusmão
José Bonifácio de AndradaTomé de SousaCarmen Miranda
Fernando Henrique CardosoAntônio Carlos MagalhãesAdélia Pedrosa
Gugu LiberatoRoberto LealFernanda Abreu
Thiago LacerdaDaniela MercuryMaitê Proença
População total
5 milhões de descendentes diretos, podendo assim adquirir nacionalidade portuguesa 1
Regiões com população significativa
Em 1929, mais de 90% dos imigrantes portugueses estavam concentrados nos estados do Rio de Janeiro (303.865 imigrantes) e de São Paulo (281.418), embora também houvesse uma expressiva comunidade portuguesa em Minas Gerais (20.050) e no Pará (15.631). No resto do Brasil a presença portuguesa era bem mais reduzida.2
Imigração portuguesa no Brasil, ou emigração portuguesa para o Brasil, é o movimento populacionalde portugueses para o Brasil. Os portugueses constituíram o segundo grupo que mais povoou o Brasil, atrás apenas dos negros africanos. Durante mais de três séculos de colonização, somada à imigração pós-independência, os portugueses deixaram profundas heranças para a cultura do Brasil e também para a etnicidade do povo brasileiro. Hoje, a maioria dos brasileiros têm alguma ancestralidade portuguesa.
Um luso-brasileiro é aquele que é brasileiro e possui ascendência portuguesa ou aquele que é português e possui ascendência brasileira. São também chamados de luso-brasileiros as pessoas que têm dupla cidadania, portuguesa e brasileira. Moram no Brasil aproximadamente 700 mil5 pessoas apenas comnacionalidade portuguesa visto que a dupla nacionalidade não é contabilizada. Esta população imigrou para o Brasil, na sua maioria, entre 1930 e 1960. Hoje em dia, e cada vez mais, se nota um aumento significativo de portugueses que compram propriedades no Brasil, sobretudo no Nordeste brasileiro. Estes portugueses dedicam-se sobretudo ao turismo. Este é um fenômeno extremamente recente. A ligação dos imigrantes portugueses e descendentes com Portugal é mantida através das inúmeras "associações portuguesas no Brasil", ou outras instituições como os "gabinetes portugueses de leitura" (o carioca, o soteropolitano e o recifense) e o Liceu LiterárioOrganizações como a Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, a Associação Atlética Portuguesa mantiveram a comunidade portuguesa unida e contribuíram para asociedade brasileira.
Portais de notícias online como o "Mundo Lusíada" mantêm a comunidade portuguesa numa constante ligação com Portugal. São também eleitos os portugueses representantes do Brasil no Conselho das Comunidades Portuguesas.6 Segundo o jornal, Folha de São Paulo, a comunidade imigrante portuguesa é a maior do Brasil atualmente. Dos aproximadamente 1,5 milhão de estrangeiros residentes no Brasil, 596 mil são portugueses. 
Histórico
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A primeira missa realizada no Brasil
Portugal não tem outra região mais fértil, mais próxima, nem mais frequentada, bem como não encontram seus vassalos melhor e mais seguro refúgio do que no Brasil. O português atingido por qualquer infortúnio para lá emigra
— Gaspar Dias. Séc. XVIII
Seguido ao descobrimento do Brasil, em 1500, começaram a aportar na região os primeiros colonos portugueses. Porém, foi só no século XVII que a emigração para o Brasil se tornou significativa. Acompanhando a decadência do comércio na Ásia, as atenções da Coroa Portuguesa se voltaram para o Brasil. No século XVIII, com o desenvolvimento da mineração na economia colonial, chegaram à colônia centenas de milhares de colonos. Após a independência, na primeira metade do século XIX, a emigração portuguesa ficou estagnada. Cresceu na segunda metade do século, alcançando seu ápice na primeira metade do século XX, quando chegavam ao Brasil, anualmente, 25 mil portugueses.
Imigração restrita (1500-1700)[editar | editar código-fonte]
Antecedentes
A emigração portuguesa foi um fenômeno que se intensificou com a expansão ultramarina que Portugal iniciou ainda no século XV. O processo migratório se alargou com a tomada de Ceuta, em 1415. Com a apropriação de novos territórios por parte do governo português, os lusitanos rumaram para a África e para aÁsia, depois para as Américas e para Castela (Espanha). No primeiro quartel do século XVI, a corrente migratória lusa dirigia-se para as ilhas atlânticas e praças do Norte da África, entre os séculos XV e XVI se expande para praças e fortalezas da costa ocidental africana e chega ao Índico. Depois do primeiro quartel do século XVI dirigiu-se cada vez mais para o Brasil e às costas atlânticas.
O fluxo migratório português assumiu diversas facetas: simples ocupações militares, povoamento de ilhas desertas, passando por diferentes tipos de colonização e pelo surgimento de núcleos populacionais portugueses em regiões já habitadas.
A descoberta do arquipélago da Madeira, na primeira metade do século XV, aumentou o fluxo migratório. A isso foi seguida a ocupação do arquipélago dos Açores, de Cabo Verde e de São Tomé, bem como a estratégia defensiva das praças, fortalezas e entrepostos comerciais na costa africana. Porém, a saída de pessoas do Reino só se avolumou após a viagem de Vasco da Gama e a descoberta do Brasil. Antes disso, estima-se que saíam de Portugal para outras partes 500 pessoas anualmente, número bastante reduzido, que não afetava o crescimento populacional português. Portanto, para o século XV, não mais que 50 mil portugueses saíram do país, sendo que Portugal tinha uma população de cerca de 1,2 milhão de pessoas.
No século XVI, o fenômeno migratório se tornou mais relevante. Entre o ano de 1500 e a União Ibérica, a média anual de saídas cresceu para 3.500 indivíduos, um total de 280 mil partidas, subindo para 5.500 saídas anuais no período filipino, entre 300 e 360 mil emigrados.
No Norte da África, até 1470, a população portuguesa não passava de algumas centenas de indivíduos. Por outro lado, em 1540 já havia na região 5 mil soldados e 25 mil residentes civis portugueses. Depois, o número foi decrescendo. Com a descoberta das ilhas atlânticas, cada vez mais lusos para elas se deslocaram. A colonização da Madeira, iniciada por volta de 1425, atraiu colonos: trinta anos após o inicio, havia 3 mil pessoas no arquipélago. Em 1550, a população da Madeira já rondava a casa de 200 mil pessoas, dos quais 3 mil eram escravos. Nas décadas de 60 e 70 do século XV Portugal viu-se obrigado a incentivar a ida de colonos para os Açores, que apresentava dificuldades de ocupação. Embora os primeiros colonos fossem em grande medida flamengos e bretões, as ilhas registraram um crescimento populacional geral no século XVI com a chegada de colonos portugueses. Por outro lado, as ilhas de Cabo Verde e São Tomé, apesar de serem destinos de portugueses, contavam com maioria da população composta por negros escravos.
No Oriente, os riscos da viagem e as dificuldades de estadia coibiam a imigração. De qualquer maneira, em 1513, Afonso de Albuquerque estimou em 2.500 o número de portugueses na Ásia, 4 mil três anos depois, atingindo 6 ou 7 mil em 1540. Na década de 1570 já seriam 16 mil. Goa constitui o maior povoado português, com 5 mil indivíduos.
A partir do século XVI, com a descoberta do Brasil, o fluxo migratório português cada vez mais se voltou para a colônia sul-americana. A emigração, porém, não atingiu valores alarmantes até a segunda metade do século XVII, quando cresceu ao ponto de forçar o governo português a tomar medidas que visavam restringir as saídas de pessoas de Portugal.
Durante a expansão ultramarina, os portugueses desenvolveram dois modelos distintos de colonização: um baseado no povoamento e outro no estabelecimento de feitorias. O primeiro foi usado nas ilhas atlânticas que, despovoadas, foram consideradas juridicamente extensão do reino continental, sendo colonizadas por imigrantes portugueses que nelas se estabeleceram e desenvolveram produções econômicas. O segundo modelo de colonização, por outro lado, foi usado nas costas da Ásia e da África. Ali, os portugueses encontraram um ambiente ecológico pouco atrativo e populações nativas demasiadamente densas para serem submetidas com facilidade. Portanto, se limitaram a estabelecer feitorias ou postos comerciais fortificados no litoral, que serviam como base para a troca comercial com os nativos.
O Brasil tinha uma imagem mais ambígua, uma vez que, do ponto de vista geográfico, se assemelhava às ilhas atlânticas, porém, assim como a África e a Ásia, possuía uma população nativa. Dessa forma, nos primeiros trinta anos de colonização, os portugueses desenvolveram no Brasil o "sistema africano", com o estabelecimento de feitorias no litoral para a retirada do pau-brasil. Todavia, com o estabelecimento das capitanias hereditárias, o sistema usado nas ilhas do Atlântico passou a ser adotado no Brasil, por meio da ocupação de fato do território.
No Brasil
O Brasil foi descoberto pelos portugueses em 22 de abril de 1500. Logo após o fato, os colonos passaram a se estabelecer na colônia, porém, de forma pouco significativa. De início, aqui foram deixados degredados (pessoas tidas como indesejáveis em Portugal, que tinham como pena o degredo no Brasil). Esses primeiros colonos foram abandonados à própria sorte e acabaram sendo acolhidos pelos grupos indígenas que viviam no litoral. Os degredados chegaram a compor de 10 a 20% da população da Bahia e Pernambuco (áreas mais ricas). Em contrapartida, nas regiões periféricas, como o Maranhão, os degredados eram entre 80 e 90% da população portuguesa.
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Típico engenho de cana-de-açúcar.
Durante os séculos XVI e XVII, a imigração de portugueses para o Brasil foi pouco significativa. A Coroa Portuguesa preferia investir na sua expansão comercial no continente asiático e pouco valorizava as suas possessões nas Américas. Porém, durante o século XVI, piratas franceses e de outras nacionalidades começaram a rondar o território brasileiro e a fazer tráfico de pau-brasil dentro das terras lusitanas. Essa situação obrigou a Coroa Portuguesa a começar efetivamente a colonização do Brasil. Os primeiros colonos portugueses começaram a chegar ao Brasil em maior número após 1530. A colônia foi dividida em capitanias hereditárias e as terras foram divididas entre nobres lusitanos. Para promover a colonização desses grandes lotes de terra, a Coroa Portuguesa passou a incentivar a ida de colonos para o Brasil, que recebiam sesmariase tinham um prazo de tempo para desenvolver a produção.
A fixação de portugueses no Brasil só se tornou significativa na segunda metade do século XVI. Em meados deste século, a colônia contaria com uns 2 mil brancos e 4 mil escravos. Por volta de 1583-1584, a população portuguesa na colônia crescera para 20 mil, em 1600 para 32 mil e em 1612 para 50 mil. O povoamento português no Brasil se limitava quase que exclusivamente à faixa litorânea e permaneceu escasso nos séculos XVI e XVII. Porém, levando em conta que Portugal tinha uma população bastante pequena (um milhão e meio de habitantes) e que o país também estava empenhado em povoar as ilhas atlânticas e em se expandir da África à Ásia, não representava pouco o número de portugueses já estabelecidos no Brasil naquela altura.
Embora a colônia tenha sido dividida inicialmente em quatorze capitanias, a maioria não se desenvolveu e a população se concentrava em apenas três (Bahia, Pernambuco e São Vicente (hoje São Paulo). O sucesso da lavoura canavieira impulsionou a fixação de colonos portugueses. No século XVII, a colonização se expandiu com algum esforço organizado para colonizar o norte (Maranhão e Pará), em resposta a incursões estrangeiras. Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco (1624-1654) a emigração foi retomada. Na década de 1680, partiriam de Portugal anualmente uns 2 mil emigrantes com destino a Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. No final do século XVII, a população branca portuguesa já se aproximava de 100 mil indivíduos. O Brasil já era, de longe, a maior colônia portuguesa no mundo.
Capitania (vilas principais)10
População branca (1570)
População branca (c.1585)
Itamaracá
600
300
Pernambuco
6.000
12.000
Bahia
6.600
12.000
Ilhéus
1.200
900
Porto Seguro
1.320
600
Espírito Santo
1.200
900
Rio de Janeiro
840
900
São Vicente
3.000
1.800
Totais
20.760
29.400
Nesse período, vieram para o Brasil portugueses de todos os tipos: ricos fazendeiros, aventureiros, mulheres órfãs, degredados, empresários falidos e membros doclero. O foco da imigração foi a Região Nordeste do Brasil, já que as plantações de cana-de-açúcar estavam em pleno desenvolvimento. Essa imigração colonizadora ficou marcada pela masculinidade da população: as mulheres portuguesas raramente imigravam, pois na Europa o Brasil possuía a imagem de uma terra selvagem e perigosa, onde apenas os homens poderiam sobreviver. No Nordeste brasileiro nasceu uma sociedade açucareira rígida, formada pelo colono português e seus escravos africanos. Para suprir a falta de mulheres portuguesas, a Coroa Portuguesa passou a enviar para o Brasil mulheres órfãs que, ao invés de seguirem o caminho religioso, iam se casar no Brasil. Todavia, os esforços não foram suficientes e a miscigenação ocorreu em larga escala: as mulheresindígenas e africanas acabaram por substituir a falta das mulheres portuguesas.
Surge, então, o "branco da terra": filho do colono português com as índias locais. Mais tarde, surge a figura do mulato: filho do europeu com as africanas.13Desembarcaram também na colônia judeus, muitos cristãos-novos e ciganos. Sob o domínio holandês centenas de judeus de Portugal e Espanha se instalaram, sobretudo, em Pernambuco, acrescentando à diversidade étnica do Brasil colonial.
Os degredados
Em Portugal, a pena do degredo era utilizada desde a Idade Média. Os condenados por algum crime podiam ser mandados para lugares mal povoados e zonas fronteiriças do País. Um destino muito visado era o Algarve. Porém, com as descobertas portuguesas a partir do século XV, muitos condenados passaram a ser mandados para a África, a Índia e para o Brasil. Os degredados eram "desajustados sociais", indesejáveis em Portugal, que eram banidos para possessões ultramarinas por um tempo determinado ou, em muitos casos, indefinidamente. A pena de degredo para o Brasil era considerada a pior penalidade que havia, apenas superada pela pena de morte. No imaginário português, havia uma dicotomia entre ora considerar o Brasil uma espécie de paraíso terrestre e ora considerá-lo o inferno na Terra. A natureza virgem da colônia contribuía para criar a imagem do paraíso terrestre, principalmente entre o clero, que chegou a ver a descoberta do Brasil como uma manifestação de Deus.
Porém, os relatos sobre a colônia também já assumiam uma perspectiva negativa, alguns com descrições reais, outros fantasiosos, a medida que se propagava que o Brasil era habitado por animais selvagens, mas também por seres como monstros e dragões. Além da fauna e da flora exóticas e perigosas, a imagem dosíndios também era tingida de elementos preconceituosos, uma vez que sob os olhos dos europeus eles eram "selvagens" e a prática da antropofagia entre os índios foi usada pelos europeus para denigri-los. Ademais, o degredo para o Brasil significava, além de partir para uma terra desconhecida e tida como perigosa, ter que enfrentar uma viagem oceânica torturante e a separação da família.
Com toda essa visão negativa que recaía sobre o Brasil, era natural que muitos portugueses temessem se transferir para a colônia. Povoar o Brasil e, consequentemente, estabelecer o controle português na região, foi uma tarefa muito difícil para a Coroa Portuguesa. Além do fato de que Portugal tinha uma população muito pequena, eram poucos aqueles que se atreviam a se aventurar numa terra vista como perigosa. Em virtude disso, o degredo foi usado por Portugal como uma forma de povoar a colônia. Na carta de Pero Vaz de Caminha já havia o relato de degredados que no Brasil ficaram logo após o descobrimento. Era conveniente para muitos degredados ficar no Brasil, pois penetravam a colônia e se mantinham longe da rígida justiça portuguesa. Na colônia se integravam, normalmente eram acolhidos pelos índios e se uniam a mulheres indígenas. Nas décadas seguintes, Portugal continuou mandando degredados para a colônia.
Parte da historiografia brasileira e também o senso comum costumam afirmar que Portugal mandou para o Brasil a "escória" da sociedade portuguesa: prostitutas, assassinos, ladrões. É corriqueiro afirmar que grande parte das mazelas da sociedade brasileira são fruto desse tipo de povoamento que juntou portugueses "degenerados", índios "lascivos" e africanos "libidinosos", dando origem a uma sociedade problemática. Além de ser uma afirmação falsa, essa tese está tingida de preconceitos e de uma baixa estima dos próprios brasileiros em relação aos seus antepassados.
Na realidade, os degregados eram pessoas que haviam sido condenadas pelos mais diversos crimes. Na sociedade portuguesa da Era Moderna, marcada pela religiosidade católica e por um Estado absolutista, uma enormidade de condutas eram tipificadas como crime. Porém, para os padrões atuais, essas condutas não mais tipificariam um crime. É salientável que o conceito de crime varia com o decorrer do tempo e com o contexto em que se encontra determinada sociedade. Portanto, o que poderia ser considerado um crime gravíssimo em uma sociedade pode ser uma conduta irrelevante para outra. Assim, poderiam ser condenadas ao degredo pessoas setenciadas por homicídioroubo e fraude. Mas também poderiam receber a mesma pena mulheres que fossem pegas fazendo fofoca. A maioria dos condenados receberam a pena de degredo por terem condutas que, atualmente, seriam consideradas crimes leves ou nem ao menos seriam crime, como por pequenos furtos, promessas de casamento não cumpridas, vício em jogo, lesa-majestade, seduções, adultérios, sodomia, misticismo, judaísmo e blasfêmias, entre outros do gênero. Portanto, a maioria dos degredados não fazia parte da tal "escória" portuguesa, que muitos ainda acreditam que povoou o Brasil.
Tanto a Igreja como a Coroa Portuguesa acreditavam que, com o degredo, o condenado iria purgar sua alma por meio do trabalho. Além de ser uma forma de eliminar esses elementos indesejáveis da sociedade portuguesa e de fazê-los purgar a alma, o degredo também foi usado como um estratagema da Coroa Portuguesa de povoar o Brasil e condutas, que hoje poderiam ser tidas como irrelevantes, eram penalizadas com o exílio. Um caso ilustrativo aconteceu com um aspirante a padre de nome André Vicente que, em 1632, foi condenado a três anos de degredo no Brasil por limpar o nariz utilizando os panos do altar da igreja. Com o objetivo de povoar a colônia, sempre que um navio deixava Portugal rumo ao Brasil, havia ali uma quota de degredados.
Minorias étnicas
O Portugal quinhentista não configurava uma sociedade homogênea. Ao lado da maioria cristã, havia importantes minorias muçulmanas, judaicas e ciganas. Após a Reconquista Cristã, os mouros de Portugal já se encontravam avançadamente aculturados e a sua assimilação dentro da sociedade portuguesa aconteceu sem maiores problemas. Por outro lado, os judeus (e cristão-novos) e os ciganos eram etnias que frequentemente foram hostilizadas e mesmo perseguidas em Portugal. Essas duas etnias foram marginalizadas da sociedade portuguesa e muitos deles foram para o Brasil, seja de forma forçada (pelo degredo) ou voluntariamente.
Os judeus foram frequentemente hostilizados, proibidos de seguir sua religião e costumes e forçados a se converter ao cristianismo. Muitos deles eram acusados, por desafetos, de práticas judaizantes, ofensas à Igreja Católica e de fazer pactos demoníacos. Não era apenas a religiosidade mística, etnocêntrica e preconceituosa que levava a essa situação. Interesses econômicos também, uma vez que os judeus exerciam forte influência no comércio da Bahia e de Pernambuco. Foi apenas em 1773, por decisão do Marquês de Pombal, que se proibiu a distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos e no ano seguinte foi permitido o acesso de judeus e descendentes a cargos públicos e honrarias.
Quanto aos ciganos, o governo português apresentava uma dualidade: ora os forçava a ir para o Brasil, ora restringia a sua entrada na colônia, mas sempre mantendo uma atitude hostil. Também foi pela ação do Marquês de Pombal que foram proibidas as restrições contra essa etnia. De qualquer maneira, durante todo o período colonial imperaram as restrições aos judeus e ciganos, seja de caráter social ou oficial. Ambos eram vistos como diferentes e ameaçadores, numa sociedade extremamente etnocêntrica e intolerante à convivência com valores e verdades heterogêneos.
Os convertidos ou cristãos-novos
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Pessoa sendo queimada viva na fogueira. Os horrores da Inquisição compeliram muitos portugueses a migrarem para o Brasil.
Uma população numerosa de portugueses descendentes de judeus se estabeleceu no Brasil colonial. Durante vários séculos, judeuscristãos e muçulmanos conviveram de forma pacífica na Península Ibérica. A Ibéria era um lugar único na Europa onde o hibridismo criou uma sociedade culturalmente rica. Os judeus chegaram à Península Ibérica antes do nascimento de Jesus Cristo e os islâmicos a invadiram no ano de 711, deflagrando uma maciça imigração proveniente do Norte da África, de mouros. Mesmo após os avanços da Reconquista Cristã no século XIII, a Espanhaainda tinha mais afinidade com a sociedade muçulmana do que com o resto da Europa.16 Mesmo os cristãos-velhos(ibéricos sem ascendência judaica ou muçulmana) pareciam "exóticos" aos olhos dos europeus do Norte, pois absorveram diversos aspectos tanto da cultura judaica quanto da islâmica. Os séculos de convivência entre esses povos foram quebrados no século XV e no século XVI, quando a Inquisição foi estabelecida na Espanha (1478) e em Portugal (1536). Os Reis Católicos (Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão) tiveram um reinado conturbado. A Reconquista criou uma natureza militarizada da sociedade espanhola e a violência na Espanha foi exarcebada com a vitória das classes guerreiras durante esse período. Depois que os cristãos conquistaram os territórios dos mouros, várias guerras civis eclodiram na região da Espanha, ameaçando a estabilidade da monarquia. Era necessário desviar toda essa agressividade a um inimigo externo, criando um bode expiatório. Dessa forma, toda a Espanha seria unida para combater um "inimigo" único, criando uma unidade nacional tão desejada pelos Reis Católicos. Em momentos conturbados, as sociedades humanas costumam se voltar contra grupos ambíguos, tendo-os como perigosos e fazendo deles alvos de ataques. No caso espanhol, o grupo escolhido para ser atacado foi o dos judeus.
Os convertidos ou cristãos-novos eram descendentes de judeus que haviam se estabelecido na Península Ibérica há vários séculos. Muitos deles eram descendentes de judeus que haviam se convertido ao catolicismo por livre e espontânea vontade. Muitos eram cristãos devotos e irrepreensíveis. Alguns deles, porém, apesar de serem cristãos, mantinham alguns aspectos culturais judaicos no seu dia-a-dia. Formavam, portanto, um grupo ambíguo que não era visto peloscristãos-velhos como iguais a eles, tampouco eram aceitos pelos judeus. Portanto, não foi difícil desmoralizá-los e transformá-los em alvo de agressividade. Os cristãos-novos foram os primeiros a ser perseguidos pela Inquisição. Depois de terem sido proibidos de assumir certos cargos, muitos foram julgados pela Inquisição, foram presos, torturados, tiveram seus bens confiscados e foram queimados vivos. Finalmente, em 1492, os judeus foram expulsos da Espanha e a violência da Inquisição se voltou contra os mouros, mais tarde contra os protestantesfranco-maçonsbruxasiluministasjansenistashomossexuaisbígamos e qualquer grupo que desviasse dos padrões impostos pela Igreja. Os próprios católicos passaram a ser vítimas da Inquisição, pois criou-se na Península Ibérica uma sociedade "paranoica e neurótica", onde as pessoas eram vigiadas por seus vizinhos e qualquer comportamento suspeito já ensejava uma denúncia. A Inquisição foi mais uma entidade política do que religiosa, e era frequentemente usada pelas pessoas para se conseguir poder e eliminar inimigos indesejáveis.
Nesse ambiente perigoso, judeus e convertidos migraram em massa da Espanha para Portugal entre 1480 e 1496. Porém, o rei Manuel I de Portugal pretendia se casar com a filha dos Reis Católicos e, como condição para aceitar o matrimônio, o monarca espanhol pediu ao português que também expulsasse os judeus. Portanto, em 5 de dezembro de 1496, Portugal também decretou a expulsão dos judeus, dando-lhes até outubro do ano seguinte como prazo para sair. Todavia, estima-se que 10% da população portuguesa fosse judia naquela altura, e o rei não podia se dar ao luxo de perder toda aquela população e os benefícios econômicos que ela dava a Portugal. Assim, o rei impediu a saída dos judeus de Portugal e decidiu que eles deveriam ser convertidos à força ao cristianismo. Portugal, ao contrário da Espanha, nunca teve o "problema mouro" para resolver. Após a Reconquista, os islâmicos de Portugal já estavam bastante "iberizados" e foram facilmente assimilados dentro da sociedade portuguesa. Na Espanha, por sua vez, ainda havia uma grande população muçulmana não assimilada, e ela foi a próxima vítima da Inquisição espanhola. Portanto, a fúria da Inquisição portuguesa se voltou exclusivamente contra os judeus e os convertidos. Durante os séculos seguintes, muitas pessoas foram acusadas de cometer criptojudaísmo, ou seja, de praticar o judaísmo em segredo. De fato, muitos cristãos-novos, ao serem perseguidos como "judeus", apesar de muitos não praticarem mais o judaísmo e de serem católicos devotos, acabaram reacendendo o sentimento de ser judeu, dividindo membros da mesma família. Assim, houve casos de irmãos cristãos que denunciavam irmãos judeus para a Inquisição, e até mesmo de um filho cristão que denunciou a mãe judia. Os inquisidores se debruçavam sobre a árvore genealógica das pessoas para averiguar se certo indivíduo tinha algum antepassado judeu. Surgiu aí o conceito de "limpeza de sangue" que atormentou a sociedade ibérica. Muitos historiadores afirmam que o racismo moderno nasceu na Península Ibérica a partir de então, com conceitos de "sangue puro" e "sangue impuro". Houve casos de pessoas que foram queimadas por possuírem um trisavô judeu, apesar de desconhecerem tal origem. Isso deixou a sociedade em estado de paranoia, pois muitas pessoas passaram a temer que houvesse algum judeu em sua árvore genealógica.
América Latina se tornou um destino visado por esses judeus e cristãos-novos perseguidos. Se na Península Ibérica eles foram transformados em "bodes expiatórios", no Novo Mundo havia outras vítimas a ser perseguidas: os índios e os negros. Portanto, no Continente Americano, onde a perseguição já começava a assumir um viéis racial, esses judeus e convertidos, incluídos na categoria de "brancos", encontraram um ambiente onde eles eram menos notados e onde a agressividade estava se voltando contra outras vítimas. Assim, no México, em 1550, em torno de 20% da população europeia era formada por convertidos. NoPeru, a proporção era de dois convertidos para um cristão-velho. Em Porto Rico, havia reclamações de que comerciantes judeus estavam "ocupando a ilha". EmCuba, oficiais reclamavam que costumes judaicos estavam sendo ensinados aos índios. No Brasil, o número de cristãos-novos era tão grande que, devido à ausência de outros portugueses alfabetizados, muitos deles ocupavam cargos oficiais, apesar de haver uma proibição real. Para o século XVI, estima-se que cristãos-novos compunham 14% da população "branca" em Pernambuco. Entre 1579 e 1620, 32% dos donos de engenhos de cana-de-açúcar em Pernambuco eram de origem judaica.
Pesquisadores encontraram certas peculiaridades da cultura judaica ainda sendo praticadas na Espanha, em Portugal e no Brasil em momentos recentes. São aspectos culturais praticados por pessoas que se dizem cristãs e que desconhecem qualquer vínculo com o judaísmo, o que mostra como foi grande a influência judaica, mesmo após séculos de expulsões e conversões forçadas.
Os ciganos
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O quadro de DebretInterior de casa cigana (c. 1820). A obra retrata a relação entre ciganos e escravos no Brasil colonial.
Outra etnia minoritária de Portugal que se fez presente no Brasil colonial foram os ciganos. Desde o século XVI muitos ciganos foram degredados para o Brasil. Inicialmente, pessoas de etnia cigana foram degredadas ao Brasil por crimes que cometiam em Portugal, sobretudo furto. Mais tarde, eles passaram a ser mandados para o Brasil pelo simples fato de serem dessa etnia. Os ciganos eram indesejáveis em Portugal, e a Coroa os degredava para a colônia para diminuir sua presença indesejável na Metrópole e transferir seu problema de integração para lá. Em 1755, o grande número de ciganos em Salvador já preocupava e causava incômodo nos oficiais da Câmara. Embora muitos defendessem a expulsão dessas pessoas da região, a decisão tomada foi de “separar de tal forma as famílias de ciganos, que não pudessem mais produzir uma geração inútil, mal educada e perniciosíssima”, nas palavras do procurador da Fazenda de Salvador à época. A intenção era de separar os jovens dos adultos e mandar os de pouca idade para regiões afastadas, onde pudessem contrair matrimônios mistos. Os ciganos já casados deveriam ser mandados para Angola.
Os ciganos costumavam se concentrar em “ranchos”, e a política da época consistia em tentar dispersá-los. No século XVIII, havia ciganos espalhados por todo o Brasil. Em todos os lugares eram frequentemente acusados dos mesmos crimes: roubo de cavalos e de escravos. Quanto às mulheres, surgem na documentação da Inquisição sobretudo como adivinhadoras. Tendiam a contrair matrimônio somente com outros ciganos e com parentes colaterais, raramente tendo filhos ilegítimos, naturais ou adulterinos. Muitos ciganos trabalhavam como vendedores, outros eram senhores de escravos ou se ocupavam no tráfico de escravos.
Relação com os índios
Durante o período das feitorias (1502-1534) a relação entre portugueses e índios foi, de forma geral, amistosa. Por meio do escambo, os portugueses ofereciam aos nativos artefatos tecnológicos que aumentaram enormemente a produção da economia tradicional indígena e, em contrapartida, os índios se predispunham a trabalhar na derrubada e transporte do pau-brasil para carregar os navios portugueses. Essa parceria começou a se deteriorar com o estabelecimento das capitanias hereditárias, vez que a intenção da maioria dos donatários era de estabelecer plantações de cana-de-açúcar fato que, inevitavelmente, colocou em xeque o direito dos índios à terra.
Com o estabelecimento dos engenhos de cana, o senso de territorialidade dos indígenas foi violado. Ademais, o plantio da cana exigia uma grande força de trabalho, maior do que os colonos tinham condição de suprir. A única alternativa, portanto, foi recorrer ao trabalho indígena. Porém, como o tipo de trabalho para manter uma plantação de cana era desconhecido dos índios e os horários rígidos eram totalmente opostos à sua índole, as duas culturas entraram em conflito.
Os homens tupis estavam habituados a derrubar árvores, o que facilitou sua adaptação no período das feitorias. Porém, a agricultura era exclusiva das mulheres índias, e os homens se negavam a trabalhar na terra. Na cultura indígena era ausente a ambição pelo bem material e os colonos tinham pouco a oferecer em troca de seu trabalho. Em face a essa recusa, os portugueses passaram a escravizar os índios para trabalharem nas crescentes plantações e engenhos.
Os índios se tornaram o "grande obstáculo" à expansão portuguesa na colônia. A resistência nativa foi violenta e revelou-se avassaladora na metade da década de 1540. Os índios varreram a costa e destruíram as colônias da Bahia e de São Tomé e devastaram severamente as do Espírito Santo e de Pernambuco. Porém, os indígenas estavam em desvantagem em relação aos portugueses, que dominavam tecnologias bélicas mais avançadas. Enfim, as epidemias, a escravatura e a ação religiosa jesuítica arruinaram a cultura das sociedades indígenas dominadas e os sobreviventes tiveram que se reintegrar numa sociedade colonial estruturada sob os moldes portugueses. Tal fato, porém, resultou numa crescente população mestiça de pais portugueses e mães indígenas, sobretudo nas regiões mais isoladas da colônia, onde a população europeia feminina era muito pequena.
A "pacificação" dos índios somente ocorreu no século XX com o marechal Cândido Mariano Rondon. . Na Capitania de Minas Gerais somente foi possível iniciar uma colonização mais intensiva depois da Guerra aos Botucudos ordenada por D. João VI, que dizimou estes povos indígenas. Os jesuítas, sob o pretexto de "civilizar povos bárbaros", cristianizou muitos índios fazendo-os deixarem seus costumes (aculturação).
Imigração de transição (1700-1850)
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Ouro Preto, principal destino do fluxo de imigração durante esse período.
No final do século XVII, a imigração portuguesa no Brasil alcança cifras jamais vistas até então. Os fatores para esse crescimento imigratório foram a descoberta de ouro nas Minas Gerais, o aprimoramento dos meios de transporte aquáticos e o fluxo de colonos açorianos para o Sul. No início do século XVIII, a exploração das minas de ouro tornou-se a principal economia da colônia. O desenvolvimento e riqueza trazidos pelo ouro atraíram para o Brasil um grande contingente de colonos portugueses em busca de riqueza. Nessa época, surge o mineiro, que era o colono português que enriqueceu no Brasil graças ao ouro e as pedras preciosas.
A partir do final do século XVII, o tráfego de portugueses para o Brasil pode ser mais coerentemente descrito como "emigração" do que como "colonização". De fato, na história da emigração portuguesa, é muito difícil distinguir quem poderia ser inscrito na categoria de "colonizadores" daqueles cuja categoria de "emigrantes" seria mais apropriada. De um ponto de vista lógico, emigrante é gênero e colonizador é espécie. Mais profundamente, colonizador é o indivíduo que abandona sua pátria natal com destino a uma colônia, em decorrência de uma iniciativa estatal ou integrado em empresa de âmbito nacional por ela promovida. Emigrante, por outro lado, é aquele que optou por abandonar seu país por motivos pessoais, independentemente de solicitações oficiais e, até mesmo, em oposição a estas (como foi no caso da corrida do ouro) .
Seguindo essa linha de raciocínio, até o final do século XVII, predominou no Brasil uma emigração colonizadora. A partir de então, com o rush produzido pela descoberta das minas de ouro, tomou um caráter de emigração stricto sensu. Porém, não houve a eliminação da emigração de caráter colonizador, uma vez que colonizadores e simples emigrantes sempre coexistiram.
A corrida do ouro
O surto urbano que se deu na colônia graças à mineração fez crescer as ofertas de emprego para os portugueses. Antes, os colonos eram quase que exclusivamente rurais, dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, mas agora surgiriam profissões como de pequenos comerciantes.
A maior parte da imigração foi de pessoas originárias do Minho. De início, a Coroa Portuguesa incentivou a ida de minhotos pobres para o Brasil, onde se fixaram principalmente na região de Minas Gerais e na Região Centro-Oeste do Brasil, onde foram encontradas minas de ouro. Porém, a imigração tomou proporções altíssimas, e a Coroa passou a controlar a ida de portugueses para o Brasil. "Viu-se em breve tempo transplantado meio Portugal a este empório", nas palavras de Simão Ferreira Machado em Triunfo Eucarístico, livro publicado em Lisboa em 1734.
Pela vinda em larga escala de colonos, a língua portuguesa tornou-se dominante no Brasil em meados do século XVIII, em substituição ao tupi-guarani, ou língua geral.
A notícia de que ouro havia sido achado correu a colônia. Em pouco tempo, legiões de pessoas de diferentes partes da colônia abandonaram suas terras e partiram para a região mineradora. A notícia também atravessou o Atlântico e chegou a Portugal. Em pouco tempo, milhares de portugueses atravessaram o oceano em busca de fortuna no Brasil. O surto migratório que se deu de portugueses do Minho em direção às áreas mineradoras da colônia foi tão intenso que Portugal teve que baixar três leis proibindo a migração de pessoas do Noroeste português para o Brasil, nos anos de 1709, 1711 e 1720. Em relação à lei editada em 1720, autoridades portugueses afirmaram: "Tendo sido o mais povoado, o Minho hoje é um estado no qual não há pessoas suficientes para cultivar a terra ou prover para os habitantes".
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A cidade histórica mineira deMariana.
A corrida do ouro praticamente despovoou vilas inteiras da região do Douro e de Trás-os-Montes. Em 1703, o embaixador francês em Lisboa informava ao Rei Luís XIV que "O grande número de pessoas que vai à procura do ouro faz com que reste menos (pessoas) para trabalhar no cultivo da terra". Milhares de portugueses venderam tudo o que tinham para conseguir comprar uma vaga em algum navio que partia para o Brasil. Funcionários da Coroa e comerciantes radicados naÁfrica e na Ásia abandonaram seus empregos e rumaram para o Brasil. Nesse período vieram pessoas de todos os estratos sociais para o Brasil. Portugueses miseráveis que viram essa como sendo a oportunidade de mudar de vida, pessoas perseguidas pela justiça e pela Inquisição, assim como fidalgos a procura de fortuna e aventura. A maioria deles não tinha parentes ou amigos na colônia, tampouco recurso financeiro. Até 1693, Minas Gerais tinha uma população não indígena quase inexistente. Dezesseis anos depois, a população de brancos, mestiços e negros envolvidos na mineração já chegava a 30 mil pessoas. Só de Portugal, nesse período, saía uma média de oito a dez mil pessoas por ano em direção ao Brasil, totalizando aproximadamente 600 mil pessoas no decorrer de sessenta anos. Nunca antes na História da colônia houve uma migração tão maciça.
Os colonos enfrentavam uma média de oitenta a noventa dias de viagem pelo oceano, até chegar a Salvador ou a outra cidade costeira. De lá, tinham que penetrar o interior do Brasil até conseguir chegar à região mineradora. O caminho até as minas era dificílimo de ser transposto. Muitos morriam pelo caminho, de fome, de doença, devorados por alguma fera ou envenenados por animais peçonhentos. Aqueles que conseguiram chegar até as minas só se preocupavam em extrair o ouro e fazer fortuna o mais rápido possível.26 Em decorrência, no período de 1697-1698 e 1700-1701 não havia disponibilidade de comida na região. Os mantimentos que vinham de outras regiões da colônia não eram suficientes para abastecer aquela crescente população. Assim, um boi que valia 10 gramas de ouro na Bahia passou a valer 359 gramas na região mineradora. Um alqueire de milho (equivalente a 36 litros) que em São Paulo custava 1,5 grama de ouro, nas minas custava 143 gramas. Um pedaço de queijo ou uma galinha tinham preço equivalente a 25 dias de trabalho. Desta forma, muitas pessoas se viam cercadas de ouro, mas simplesmente não tinham o que comer e acabavam morrendo de fome. O caos foi instalado e pessoas se matavam umas às outras por um pedaço de comida. Com o passar dos anos, o cultivo de alimentos foi estabelecido e a onda de fome foi superada. Mas além da fome, os aventureiros tiveram que enfrentar epidemias de varíola e ataques de bandidos. Mais tarde, cresceu a animosidade entre os paulistas (descobridores das minas) e os forasteiros, a maioria deles portugueses, que brigavam pelo controle das lavras. Muitos conflitos daí se originaram mas, por fim, os forasteiros acabaram vitoriosos e muitos paulistas foram expulsos da região mineradora.
Durante esse período, cerca de mil toneladas de ouro foram retiradas da região mineradora, sendo que do total, 800 toneladas foram encaminhadas para a Europa. A exploração de pedras preciosas na colônia sustentou Portugal por um longo período. A Coroa portuguesa gastou grande parte do ouro brasileiro para viabilizar seu modo de vida luxuoso e pomposo. O ouro brasileiro também serviu para reconstruir Lisboa após o sismo de 1755. Mas pouco dele ficou em Portugal. A maior parte teve como destino final a Inglaterra, pois Portugal dependia financeiramente dos ingleses. O ouro brasileiro ajudou o nascente capitalismo europeu, pulverizando-se por toda a Europa: só a França utilizou, no século XVIII, 86 toneladas do ouro brasileiro para cunhar moedas.
A corrida do ouro também teve efeitos decisivos para o Brasil. De apenas 300 mil habitantes, a colônia saltou para uma população de 3,6 milhões de pessoas em apenas cem anos, graças ao afluxo de colonos portugueses e escravos africanos. O interior do Brasil foi povoado graças a esse fenômeno.
A imigração de portugueses do Norte para Minas Gerais influenciou profundamente as características sociais daquela capitania, como escreveu o historiadorKenneth Maxwell: "entre a minoria branca de Minas Gerais predominavam os valores e costumes das províncias do norte português, especialmente do Minho, Trás-os-Montes, Porto, Douro e as Beiras (...)."27 Os colonos transplantaram para a região mineradora "um conjunto particular de valores sociais e culturais que, no ambiente social e cultural mineiro, apesar das diferenças superficiais, era muito semelhante ao que haviam deixado para trás". O Norte de Portugal era uma região com características sócio-econômicas que o distanciavam das outras regiões portuguesas. No Norte de Portugal havia a predominância de mulheres entre a população e uma grande porcentagem de casas chefiadas por mulheres, o mesmo acontecia em Minas Gerais. No caso português, as mulheres predominavam pois muitos homens emigravam para outras regiões do reino ou para as colônias, sobretudo para o Brasil, deixando as mulheres para trás, que ficavam incubidas muitas vezes de gerir o lar. Em Minas Gerais, embora nas primeiras décadas de exploração mineradora houve uma verdadeira escassez de mulheres, no final do século XVIII elas já compunham a maioria da população livre mineira, a maioria delas ex-escravas, de acordo com Donald Ramos (com base em alguns testamentos por ele examinados), sendo em número bastante superior às portuguesas entre a população livre mineira, pois estas raramente emigravam. Curiosamente, as poucas portuguesas cujos matrimônios foram registrados na Paróquia de Antonio Dias, em Minas, eram sobretudo açorianas, e não nortenhas como a maioria dos homens. Em 1807, o escritor Ramalho Ortigão registrou que "Os Açores são a parte do país que exporta maior número de mulheres".
Também cristãos novos estiveram presentes na corrida do ouro.


Naturalidade dos testadores na Comarca do Rio das Velhas, Minas Gerais (século XVIII)31
Ilhas
Outros Reinos
Alentejo
Minho
Estremadura
Algarve
Trás-os-Montes
Beiras
Não identificado
10,39%
0,47%
0,47%
66,93%
5,98%
0,15%
5,59%
5,82%
4,17%

Tanto o Norte português quanto Minas Gerais apresentavam "predominância demográfica de mulheres livres, uma grande proporção de famílias chefiadas por mulheres, baixas taxas de casamento, idade de se casar mais tardia que o esperado, uma tendência entre as mulheres solteiras de estabelecerem em domicílios independentes, altas taxas de ilegitimidade e abandono infantil e baixas proporções de famílias nucleares sacramentadas pelo matrimônio". Essas características aproximavam a capitania de Minas Gerais do Norte de Portugal que, por sua vez, se distanciava do resto do país.28 Como observou o historiador Antônio Augusto de Lima Júnior, "ao contrário do que se verificou em outras partes do Brasil, nas Minas Gerais se constatou o fenômeno de uma integral transplantação do espírito e da civilização portuguesa” pois, apesar da miscigenação generalizada entre homens portugueses e mulheres africanas que se deu na capitania mineira, os mestiços acabavam adotando a língua, os costumes, a religião e a mentalidade do pai português.
Em Minas Gerais, no início de sua construção, a carestia de vida era enorme. Antonil em "Cultura do Brasil por suas drogas e minas" conta que especialmente difícil para os portugueses de Minas Gerais era o preço elevado dos negros usados na mineração do ouro. Antonil registrou em Minas Gerais preços de escravos de mesma idade e qualidade como sendo o dobro dos preços praticados em na Capitania de São Vicente e na Capitania de Itanhaém (Taubaté).
Colonização açoriana e madeirense
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A localização das Ilhas dos Açores.
Outro fator importante na imigração portuguesa durante o século XVII e o século XVIII foi a imigração açoriana emadeirense para a Região Norte, a Região Nordeste e a Região Sul do Brasil.
Imigração para o Maranhão, o Pará e o Amapá
Havia preocupação em garantir o controle do território, daí a política em promover a colonização, com casais, nas regiões de fronteira. A ocupação do território era vista como fundamental. Em 1619, cerca de 300 casais chegaram ao Maranhão, sendo que o número total de pessoas girava em torno de mil pessoas, número significativo para a época. Famílias açorianas também foram assentadas no Pará, sendo exemplo disso as 50 famílias (por volta de 219 pessoas) que embarcaram no dia 29 de março de 1677, no barco "Jesus, Maria e José", em Horta, Ilha do Faial. A região do Maranhão é considerada a primeira a receber colonos ilhéus de forma organizada. Além dos casais iniciais, vindos com Estácio da Silveira em 1619, outros se seguiram: em 1621 chegaram 40 casais com Antonio Ferreira de Bettencourt e Jorge de Lemos Bettencourt; em 1625 chegaram outros casais com Francisco Coelho de Carvalho; nos navios N. S. da Palma e São Rafael, tendo como capitão Manoel do Vale, chegaram 50 casais em 1676; e nos navios N. S. da Penha de França e São Francisco Xavier vieram mais colonos. Em 1620, Manoel Correa de Melo introduziu 200 casais no Pará. Em 1676, 50 açorianos com 234 pessoas de ambos os sexos desembarcaram emBelém, provenientes de Feiteira, na ilha do Faial. Em 1751 a povoação de Macapá recebia ilhéus e recomendava-se ao capitão do navio um trato especial com os povoadores, "a maior parte são mulheres, crianças e velhos".
Imigração para o sul
Essa imigração de portugueses das ilhas para o litoral sulista foi bem menos significativa numericamente do que a migração de minhotos e outros portugueses do Norte para a região mineradora. Todavia, o impacto demográfico que esses colonos das ilhas tiveram no litoral do Sul do Brasil foi enorme. Entre 1748 e 1756, cerca de 6 mil ilhéus chegaram ao litoral de Santa Catarina, sendo que a população local era de apenas 5 mil pessoas. Santa Catarina recebeu 4.612 pessoas em 1748, 1.666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753. Outros tantos rumaram para o Rio Grande do Sul. Esses colonos portugueses se fixaram ao longo do litoral, onde fundaram pequenas vilas e lugarejos, vivendo da produção de trigo e da pesca.
Essa imigração promovida pela Coroa foi uma estratégia de ocupação do Sul da colônia, visando expandir o território para além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Mas, ao contrário do esperado, esses colonos não penetratam o interior, e acabaram por se fixar ao longo do litoral. Diferente dos outros portugueses no resto da colônia, que estavam engajados na produção voltada para o comércio exterior, os ilhéus desenvolveram uma produção agrícola em regime de pequenas propriedades, com o uso de mão-de-obra familiar.
Para convencer esses ilhéus a imigrarem para o Brasil, o governo português ofereceu, principalmente para casais açorianos e para um número menor de madeirenses, diversas regalias: glebas de terras demarcadas como propriedade para cada casal e, quando chegassem às terras, receberiam mantimentos, espingarda e munição, instrumentos de trabalho, sementes para cultivo, duas vacas e uma égua e sustento alimentar para o primeiro ano. Tanto os Açores como a Madeira eram regiões paupérrimas de Portugal, onde a população vivia afundada na miséria.37 Em 1751, o governador Manuel Saldanha da Gama escreve: "Nalguns portos da Ilha, o povo só se alimentava de raízes, flor de giesta e frutos". Portanto, a transferência para o Brasil com tantas regalias pareceu uma oportunidade tentadora e irrecusável. Porém, do ponto de vista econômico, a colonização açoriana foi um fracasso. Isolados em pequenos nichos populacionais ao longo do litoral, completamente despreparados para desenvolver o trabalho agrícola em terra desconhecida e sem mercado consumidor para seus produtos, só restou aos ilhéus desenvolver uma lavoura de subsistência. Aprenderam os usos da terra com as populações que já viviam na região antes de sua chegada, ajustando-se a um modo de vida mais indígena que açoriano, substituindo sua alimentação original por alimentos nativos, como a mandioca. Atualmente, é difícil distinguir peculiaridades dos Açores nessas regiões de colonização açoriana. Seu modo de vida é essencialmente o mesmo das populações caipiras encontradas em outras regiões do Brasil. Mesmo o artesanato da região é essencialmente o mesmo do encontrado em outras partes do País.
Os descendentes desses açorianos e madeirenses radicados na Ilha de Santa Catarina permaneceram por quase dois séculos de certa forma isolados do que acontecia no resto do Brasil, vivendo basicamente da agricultura de subsistência. Só a partir da década de 1970 que estradas foram abertas e asfaltadas, interligando essas vilas, que atualmente é uma região turística.
Ainda hoje, devido à influência açoriana, o jeito de falar das pessoas da região de Florianópolis é bastante peculiar quando comparado aos outros brasileiros.
O impacto da imigração açoriana para o Sul do Brasil foi tão forte que em 1780 os açorianos respondiam por 55% de toda a população da capitania do Rio Grande do Sul.40 A fecundidade dos casais açorianos era enorme. Raro era o casal que não contava mais de seis filhos. Alguns, como a de um Lopes, atingiram a fabulosa cifra de vinte e um filhos; o de um Manuel Jacintho, a de trinta filhos, sendo quinze de cada uma das mulheres com quem foi casado.
Transferência da corte portuguesa para o Brasil
No início do século XIX, em decorrência da invasão das tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte, transferiram-se para o Estado do Brasil, umacolônia do Império Português, a família real e a maioria da nobreza portuguesa. A maioria dos nobres e demais servos (aproximadamente 15 mil pessoas) fixaram-se na cidade do Rio de Janeiro, entre 1808 e 1822.
Os portugueses na sociedade colonial
O colono português reproduziu no Brasil a sociedade estamental da qual provinha, mas adaptando-se às novas condições. Para a colônia trouxe seus valores, sua organização jurídica hierarquizada, suas regras familiares, patrimoniais e obrigacionais. No Brasil havia a sensação da liberdade oferecida pelo Novo Mundo, onde as estratificações sociais seriam mais frouxas, a mobilidade mais fácil e a presença do Estado mais tênue. Ao mesmo tempo, havia a moralidade repressora do catolicismo ibérico.17 Para Gilberto Freyre, o português se adaptou facilmente aos trópicos devido à dualidade de ser Portugal um país "bicontinental" entre a Europa e a África, somada à influência muçulmana, que o teria tornado mais propenso à miscigenação. Essa explicação estava moldada de subjetivismo, pois o fenômeno da miscigenação nas colônias não era algo exclusivo dos portugueses, mas de todos os colonizadores europeus de modo geral ao se defrontarem com a escassez de mulheres brancas. Na África do Sul os colonos ingleses também geraram uma ampla população mestiça (coloured), uma vez inicialmente escassa a presença de mulheres europeias, mesmo ausentes qualquer influência muçulmana na sua cultura ou uma suposta "bipolaridade" continental inglesa. A adaptação do português na colônia e seu processo de miscigenação se deve ao caráter aventureiro de uma migração a um lugar remoto e desconhecido (o que desestimulava a migração familiar), a ambição do enriquecimento rápido e o consequente retorno a Portugal e, como consequência, a escassez de mulheres portuguesas na colônia.
Os portugueses ocupavam o topo da pirâmide social no período colonial. Ser nascido em Portugal era a norma no século XVI e XVII da elite, mas não algo obrigatório. Mais do que ser português nato, era necessário comprovar a "pureza de sangue" (ausência de antepassados judeus, mouros, índios e negros), até certo número de gerações, além de estudos em Portugal, geralmente na Universidade de Coimbra. A "nobreza" colonial era composta pelos senhores de engenho e pelos "homens bons" das câmaras municipais. No segmento superior da sociedade figuravam os proprietários rurais, os grandes comerciantes do litoral, os mineradores enriquecidos e a alta burocracia. Os proprietários rurais eram os senhores de engenho, proprietários de fazendas canavieiras, pecuaristas nordestinos e gaúchos, latifundiários que se autoproclamavam a "nobreza da terra", sobretudo os primeiros. Os grandes comerciantes do litoral, discriminados pela aristocracia da terra, eram quase sempre impedidos de exercer cargos públicos, só adquirindo um status elevado após o período pombalino em Portugal. No século XVIII surgiu o novo grupo social, composto pelos mineradores de ouro e diamantes, responsáveis pela edificação das cidades barrocas de Minas Gerais. Por fim, a alta burocracia colonial, composta de administradores (governadores, secretários, juízes, ouvidores, desembargadores, militares graduados, técnicos fazendários e autoridades eclesiáticas, como bispos e arcebispos).
Também havia portugueses no setor intermediário da sociedade colonial. Esse setor não chegava a compor uma classe média, como nos países de economia industrial, mas uma classe heterogênea que conseguia escapar da dicotomia "senhor-escravo". Na região açucareira, era composta pelos lavradores de cana menos abastados e os assalariados do engenho. Nas regiões pecuaristas, os vaqueiros que conseguiam criar gado suficiente para estabelecer a sua própria criação. Em São Vicente (São Paulo), o pequeno proprietário que, no contexto da pobreza daquela região, possuía alguns recursos e se infiltrava até mesmo dentro da aristocracia local. Sem dúvida foi a região mineradora a que mais propiciou o crescimento desse setor intermediário, uma vez que o caráter urbano daquela sociedade aumentava as oportunidades, como para comerciantes e tropeiros.
Na base da pirâmide social estavam os homens livres pobres (brancos, mamelucos, mulatos, libertos), os indígenas e os escravos (negros e índios). Dentro desse grupo estavam os vaqueiros das áreas pecuaristas (ao longo do rio São Francisco, partes do Nordeste e do Sul), que exerciam sobretudo a lavoura de subsistência. Também poderiam estar numa área de semimarginalidade: prostitutas, vadios, capangas e marginais propriamente ditos. O grupo mais numeroso era dos escravos, tanto africanos como indígenas, dos quais a sociedade era extremamente dependente. O jesuíta André João Antonil escreveu que os escravos eram "os pés e mãos dos senhores de engenho", frase esta que poderia ser estendida aos outros setores da economia. Havia um grande desprestígio pelo trabalho manual e uma generalizada visão do escravo como um objeto, fazendo com que as pessoas, assim que conseguissem juntar algum dinheiro, adquirissem um escravo. O prestígio social era medido pelo número de escravos que determinada pessoa tinha.
Após a independência, paulatinamente foi crescendo a migração de portugueses pobres para o Brasil, passando a dominar a fonte de saídas a partir do final do século XIX e no século XX. Esses imigrantes portugueses vinham para substituir os ex-escravos nos seus antigos ofícios, sobretudo após 1850, quando o tráfico de escravos foi abolido no Brasil.
Imigração após a Independência
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Imigrantes portugueses à espera do navio para oBrasilséculo XX.
A imigração portuguesa para o Brasil, depois da independência, é frequentemente ignorada pela historiografia. Até 1992, não havia sido publicado nenhum trabalho sobre a imigração lusa ocorrida entre 1822 e meados do século XIX. Porém, os portugueses continuaram a ir para o Brasil por um longo tempo após a independência. Vários estudos são publicados sobre os imigrantes italianos, alemães ou japoneses, mas os portugueses são um grupo mais ignorado.
Após a independência do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1822, e a consequente proclamação do Império do Brasil, os portugueses residentes no novo país foram considerados brasileiros originários, ou seja, não teriam que se naturalizar, já que nunca haviam sido estrangeiros no Brasil. Esse dispositivo constou da constituição do Império do Brasil de 1824, mas havia sido proposto e aceito pela Assembleia Constituinte de 1823, antes de sua dissolução pelo imperador Dom Pedro I.
Mesmo durante as crises de antilusitanismo que ocorreram em diversos momentos e regiões do país após a Independência, os portugueses nunca deixaram de aportar no Brasil como imigrantes. Com o fim do tráfico de escravos em 1850, acentuou-se a carência de mão-de-obra, principalmente na região centro-sul (províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), onde se verificava a expansão das plantações de café. O governo brasileiro começou um processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado deimigrantes europeus.
Primeira metade do século XIX[editar | editar código-fonte]
Há poucos documentos referentes à imigração portuguesa para o Brasil entre 1822 e 1850, o que levou muitos historiadores a ignorar esse período menos documentado, o que não quer dizer que não houve um substancial deslocamento de lusos no período posterior à independência. Apesar da inconsistência dos dados, uma vez que, nessa época, muitos imigrantes chegavam e não eram registrados, pode ser calculado que 26.785 portugueses entraram no Rio de Janeiro entre 1826 e 1850. O representante do governo português no Rio, Idelfonso Leopoldo Bayard, afirmou que a demanda por trabalhadores portugueses era tão grande que qualquer imigrante encontrava emprego em menos de oito dias após a chegada. Muitos dos que chegavam não portavam passaporte, normalmente pessoas sem recurso que viajavam com algum tipo de subsídio de capitães de navio, que lucravam com o transporte de imigrantes. Estes eram aliciados como trabalhadores endividados, uma vez que qualquer um que pudesse pagar o valor da passagem adquiria esse trabalhador, que lhe ficava devendo até que conseguisse saldar a dívida. O representante da Legação Portuguesa no Rio de Janeiro anotou que "em todos os navios provenientes do Porto e dos Açores se exportam para aqui duzentas e mais pessoas tanto dum como d'outro sexo com as quais se trafica a sua chegada como se fossem africanos". Era a denominada "escravidão branca", denunciada na época devido às condições péssimas a que eram submetidos esses imigrantes.
Aliciados principalmente nas Ilhas dos Açores, esses trabalhadores agrícolas eram mandados para fazendas de café para trabalhar sob o sistema de parceria. Esse sistema foi usado no interior da província de São Paulo, onde colonos suíços e alemães já estavam engajados como trabalhadores. Porém, em 1857, uma rebelião contra a exploração nas fazendas, ocorrida em Ibicaba, liderada pelo imigrante suíço-alemão Thomas Davatz, repercutiu na Europa Central, o que estimulou a adoção de medidas restritivas dos Estados Alemães e da França contra a vinda de mais imigrantes para o Brasil. O governo português, porém, era frequentemente acusado de tratar com "indiferença" as notícias e reclamações de exploração de cidadãos portugueses em fazendas de café. Os açorianos não foram escravizados no Brasil, mas o convívio de assalariados com escravos tornou inevitável a associação entre escravidão e as precárias condições a que eram submetidos esses imigrantes.
A imigração portuguesa para o Brasil, na primeira metade do século XIX, foi bastante reduzida, quando comparada àquela ocorrida no século anterior, devido à expansão da economia mineradora, e à imigração em massa que aconteceria após 1850. Porém, foi notável a presença de jovens caixeiros, filhos segundos ou terceiros de lavradores mais abastados do Minho, que eram mandados para a Bahia ou para o Rio de Janeiro, empregando-se em casas comerciais de compatriotas, que controlavam o comércio brasileiro. Esses caixeiros portugueses, que dificilmente se assemelhavam ao elemento colonizador de outrora, acabaram sofrendo com o discurso antilusitano que viria a crescer após a independência.
Segunda metade do século XIX
Em meados do século XIX, houve um crescimento demográfico em Portugal e um número cada vez maior de camponeses não encontrava trabalho. Ao mesmo tempo, os mitos de fortuna fácil no Brasil, resquícios do período colonial, ainda persistiam nas regiões agrárias de Portugal, fatores que estimularam uma crescente imigração. Nas décadas de 1830 e 1840, a classe política em ascensão, composta por proprietários de fazendas de café, não estimularam a imigração. Pelo contrário, o Império brasileiro ainda apostou no trabalho escravo nas décadas seguintes. Em consequência, a entrada de escravos africanos no Brasil atingiu seu ápice, com médias anuais entre 40 e 50 mil indivíduos. Até o começo da década de 1840, a vinda de imigrantes para o Brasil se limitou a iniciativas pontuais de introdução de colonos nas províncias do Sul, onde os portugueses foram excluídos; ao desembarque de agricultores contratados para trabalharem nas fazendas de café em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e à imigração espontânea de estrangeiros para cidades portuários, onde os portugueses formavam o grupo estrangeiro mais numeroso.
Lei de Terras, de 1850, teve grande influência nas características que iria assumir a imigração portuguesa no Brasil. Essa lei determinou que a única forma de acesso à terra seria por meio da compra e não da simples posse, como ocorria desde os tempos coloniais. A consequência imediata foi que os imigrantes recém-chegados passaram a ter grande dificuldade quanto ao acesso à propriedade rural. A Lei de Terras constituiu um grande obstáculo ao desenvolvimento da pequena propriedade agrícola no Brasil do século XIX, impedindo a democratização do solo. A lei, portanto, favoreceu a persistência do sistema do latifúndio, ao invés da pequena propriedade. Em 1850, o tráfico de escravos também foi abolido no Brasil, o que diminuiu drasticamente as ofertas de mão de obra nas lavouras de café. Ao mesmo tempo, a imigração europeia estava estagnada, pois o Brasil tinha dificuldades em atrair imigrantes, uma vez que as péssimas condições que encontravam os estrangeiros no país repercutiam nos portos de origem, desestimulando novas migrações. Em 1855, numa sessão de abertura do Parlamento do Império, o imperador D. Pedro II chegou a dizer que o futuro do Brasil dependia "essencialmente da colonização estrangeira". Porém, três anos depois, o imperador admitia que "a colonização tem sofrido tropeços". Nos portos da Europa assistia-se à partida em massa de europeus para os Estados Unidos, país que facilitava o acesso à terra por parte dos estrangeiros, enquanto a imigração para o Brasil minguava, sendo que os portugueses eram os únicos imigrantes que chegavam em quantidades apreciáveis.
A Lei de Terras foi um marco, uma vez que empurrou o fluxo migratório português em direção às cidades brasileiras. Mesmo aqueles camponeses que chegavam com o intuito de se tornarem agricultores, logo após o desembarque desistiam e partiam para as vilas e centros urbanos. Apesar disso, o engajamento de açorianos e portugueses do continente para trabalharem nas plantações de café continuou. O sistema de parceria se arruinou, sobretudo após a rebelião dos colonos suíços e alemães na década de 1850. Ele foi substituído pelo enganchamento, no qual o imigrante se comprometia a trabalhar para o fazendeiro por um período de tempo, em média de um a dois anos, em troca do valor da passagem de navio paga por ele. Depois, estava livre para trabalhar no que quisesse. Esse sistema, embora mais vantajoso que a parceria, também recebia reclamações de equiparação ao elemento servil.
O enganchamento, originalmente usado na lavoura cafeeira, foi exportado para as ocupações citadinas e se expandiu na fase de declínio da escravatura. Assim, os portugueses passaram a exercer serviços subalternos ou domésticos, antes exercidos pelos escravos de ganho, embora também houvesse portugueses em posições de destaque e prestígio, sendo muito diversas suas áreas de atuação. A partir da década de 1870, se verifica uma crescente presença portuguesa além da histórica imigração para o Rio de Janeiro. Núcleos portugueses passaram a se formar em pequenas localidades no Oeste de São Paulo e no Sul de Minas Gerais, em cidades e vilarejos que cresciam com a expansão da economia do café, assim como nos centros urbanos no Norte, onde havia uma importante comunidade de comerciantes lusos. No Sul do Brasil, que assistia à expansão de colônias agrícolas a partir dos anos 1870, os portugueses não se fizeram presentes, pois os núcleos coloniais quase sempre eram destinados a alemães, italianos e a outros europeus.
A imigração portuguesa para o Brasil cresceu no fim do Império e ganhou fôlego com a Abolição da Escravatura (1888). Neste ano entraram no Brasil 132 mil estrangeiros, na maioria italianos, e foi o marco inicial do período que grandes levas de imigrantes desembarcaram nos portos brasileiros. A média anual de entradas de portugueses ficou em 20 mil indivíduos até 1898. O crescente fluxo migratório português foi um reflexo da instabilidade política e econômica em Portugal. O destino principal continuou a ser o Rio de Janeiro, seguido por São Paulo, que enriquecia devido à produção cafeeira. Minas Gerais, que também enriquecia com o café e Pará e Amazonas, que estavam no auge da exploração da borracha, apareciam como destinos secundários, mas importantes.
Entre 1888 e 1898 entraram no Brasil quase 1,4 milhão de imigrantes, sendo os italianos os mais numerosos, com quase 800 mil indivíduos, ou 59,6% do total. Em seguida, apareciam os portugueses, com quase 242 mil indivíduos, ou 18%. Com a entrada do século XX, os portugueses passaram os italianos e se tornaram, novamente, o grupo imigrante que mais desembarcou no Brasil.
Primeira metade do século XX
No começo do século XX, o Brasil continuou a receber grandes levas de imigrantes, com destaque para três grupos: portugueses, italianos e espanhóis. A imigração italiana, porém, sofreu uma grande queda, o que abriu espaço para os portugueses. De fato, do início do século até a eclosão da I Guerra Mundial, a imigração portuguesa no Brasil alcançou seu ápice histórico. Nunca antes em quatrocentos anos de História chegaram tantos portugueses ao Brasil. Entre 1904 e 1915 entraram no Brasil 427.725 imigrantes portugueses, sendo que 200 mil entraram somente nos três anos antecedentes ao início da guerra. A superprodução do café em 1906 forçou o governo brasileiro a comprar as safras excedentes e a queimá-las, o que provocou a queda no valor do produto e a uma crise. Isso empurrou de novo a imigração portuguesa para os centros urbanos, reforçando a sua presença citadina.
Após a I Guerra Mundial, iniciou-se um novo período de forte atração imigratória, com picos entre 1926 e 1929, quando foram registradas entradas médias anuais de 38 mil portugueses no Brasil. Entre 1919 e 1930 entraram no Brasil 337.723 portugueses, 35,7% dos imigrantes, bem a frente do segundo lugar, os italianos, com 116.211 imigrantes, ou 12,3%. A partir de 1930, o governo brasileiro passou a dar preferência ao trabalhador nacional e iniciou diversas medidas para diminuir o fluxo migratório. O governo de Getúlio Vargas era marcadamente nacionalista. Em 12 de dezembro de 1930, um mês após assumir o governo, Vargas suspendeu por um ano a concessão de vistos para passageiros de terceira classe no Brasil, sendo que quase todos os imigrantes eram passageiros dessa classe. A posterior lei de cotas foi a medida mais dura para o controle de imigrantes.
Características
A partir da metade do século XIX, a imigração portuguesa no Brasil tomou caráter quase que exclusivamente urbano. O perfil do imigrante português também se alterou: antes, a maioria era composta por homens solteiros. A partir do final do século XIX, as mulheres portuguesas também chegaram ao Brasil em número expressivo. As crianças menores de 14 anos eram 20% dos imigrantes. A situação econômica também se alterou. Na época colonial, alguns portugueses ricos e até nobres migraram ao Brasil (embora a maioria fosse de camponeses desprovidos de recursos). No final do século XIX, os que chegaram eram extremamente pobres e sem escolaridade, vindos de aldeias do interior de Portugal.
Após a independência, os estados do Rio de Janeiro (sobretudo a capital) e de São Paulo (sobretudo o interior, mas também a capital) receberam a maioria dos imigrantes portugueses que foram para o Brasil. Isto porque eram as regiões de economia mais dinâmica do País, concentrando as ofertas de trabalho. Mas a imigração para esses dois estados teve características particulares. Para o Rio, foi direcionada uma imigração portuguesa espontânea, predominantemente masculina, concentrada na capital do estado. Ali, os portugueses disputavam as vagas de trabalho lado a lado com negros e pardos, ou seja, se inseriam no mercado de trabalho de forma similar aos brasileiros, recebendo salários aviltados e se submetendo a longas jornadas de trabalho. Para o estado de São Paulo, por outro lado, foi direcionada uma imigração portuguesa parcialmente subsidiada pelo governo e mais familiar (com expressiva participação feminina).
Uma expressiva parcela dessa população era oriunda de regiões interioranas do norte de Portugal, notadamente entre Beira Alta e Alto Trás-os-Montes e eram, em sua maioria, extremamente pobres, majoritariamente homens sozinhos, embora grupos familiares com grande número de mulheres e crianças não fossem raros. Ao chegarem ao Brasil, procuravam parentes ou se instalavam em pequenos cortiços. A maior parte desses imigrantes se dedicou ao comércio: pequenas vendas e padarias, chegando ao ponto de dominarem essas duas atividades em várias regiões do Brasil. Outros, tornaram-se operários nas nascentes indústrias brasileiras.
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Passaporte de um imigrante português de 1927
No Rio de Janeiro
A imigração portuguesa após a independência teve como destino especial a cidade do Rio de Janeiro. O censo brasileiro de 1920 mostrou que, dos 433.577 portugueses residentes no Brasil, 172.338 residiam nessa cidade, 39,74% do total. Incluindo todo o estado do Rio de Janeiro, essa taxa subia para 46,3% dos lusitanos que viviam no Brasil. A presença numérica portuguesa era altíssima, uma vez que constituíam 72% de todos os estrangeiros residentes na capital. As pesquisas censitárias mais antigas também já atestavam a forte presença portuguesa na região. No ano de 1890, imigrantes portugueses compunham 20,36% da população da cidade do Rio de Janeiro (106.461 pessoas). Brasileiros filhos de pai ou mãe portugueses compunham 30,84% da população carioca (161.203 pessoas). Ou seja, portugueses natos ou seus filhos perfaziam, naquele ano, 51,2% dos habitantes do Rio, um total de 267 664 pessoas.
Os imigrantes portugueses figuravam no estrato mais baixo da sociedade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, ao lado de negros e mulatos. Os portugueses e os negros habitavam o mesmo espaço geográfico, frequentemente dividindo o mesmo cortiço e compartilhavam da vivência na cidade. Havia uma proximidade social, econômica e até cultural entre os dois grupos. O processo de abolição da escravatura no Brasil e a consequente falta de mão-de-obra compeliu o governo da época a estimular a vinda de imigrantes europeus, que frequentemente enfrentavam, no Brasil, situação semelhante de degradação social como aquela enfrentada pelos escravos. No caso da imigração portuguesa para o Rio de Janeiro, ela se intensificou quando o tráfico negreiro ainda estava em pleno funcionamento. Tratava-se, sobretudo, de uma imigração de jovens açorianos com idade entre 13 e 17 anos (a mesma média de idade dos escravos trazidos da África). Na época, havia denúncias de que os navios negreiros também eram usados para trazer esses jovens portugueses para o Brasil, que eram chamados de engajados. Os jovens assinavam um contrato com o capitão do navio no qual, em troca da passagem de navio, se comprometiam a trabalhar para algum senhor no Brasil. O capitão do navio vendia o passe desses portugueses para o senhor, no valor da passagem e, ao pagar, o último adquiria esse trabalhador. Os engajados tinham que pagar a soma do valor da passagem através de trabalho gratuito, cujo tempo era estipulado pelo próprio senhor, muitas vezes chegando a três ou cinco anos. Os imigrantes que se evadissem das terras antes do término do contrato eram tidos como "fugidos". Todas essas características aproximavam os imigrantes portugueses da condição social dos escravos no Brasil.
As péssimas condições a que eram submetidos esses imigrantes portugueses no Brasil se refletiam nas estatísticas. Entre 1850 e 1872, a maioria dos adolescentes portugueses que desembarcavam no Rio de Janeiro morriam três anos após a chegada ao Brasil, vítimas de febre amarela, das más condições de moradia e das jornadas exaustivas de trabalho. Era a denominada "escravidão branca", denunciada pela imprensa da época.43 A maioria dos imigrantes portugueses na cidade eram adolescentes e jovens do sexo masculino, analfabetos, oriundos de zonas rurais de Portugal, completamente despreparados para enfrentar a vida numa metrópole do porte do Rio de Janeiro. Os portugueses habitavam as zonas mais precárias da cidade, tanto que no censo realizado em 1856, 51,9% dos moradores de cortiços da Corte eram de nacionalidade portuguesa. Os portugueses competiam com a população negra pelo mercado de trabalho. De fato, estavam inseridos num processo de substituição da mão-de-obra escrava, em um momento em que ela se tornava cada vez mais escassa e cara. Quintandeiro, condutor de bonde, carregador, vendedor de doces, ocupações estas antes associadas ao trabalho escravo, passaram a ser exercidas pelos portugueses na virada do século XIX. Em um ambiente de pobreza e despreparo, os portugueses despontavam como a nacionalidade que mais praticava crimes na cidade do Rio de Janeiro, superando inclusive os próprios brasileiros no período de 1859 a 1864, com destaque para os roubosassaltos, arrombamentos etc.43Já entre 1915 e 1918, 32% dos homens condenados por crimes na cidade eram portugueses, número alto, haja vista que somente 15% da população do Rio era portuguesa. Todavia, a inserção de imigrantes europeus no mundo do crime no Brasil não era fato exclusivo dos portugueses. Em São Paulo, no mesmo período, os italianos eram a nacionalidade que mais praticava crimes.
No Rio de Janeiro, o imigrante português não distoava do resto da população, do ponto de vista educacional, social ou econômico. Em 1906, 48% dos habitantes do Rio eram analfabetos, e 44,3% dos imigrantes portugueses também o eram. Deu-se, portanto, rapidamente a assimilação do elemento luso no Rio de Janeiro, sobretudo dentro das camadas mais humildes da sociedade. Embora mantivessem sentimento de solidariedade, por meio da criação de associações portuguesas, isso nunca obstou o processo de assimilação dos portugueses no ambiente social brasileiro. Tampouco os sentimentos de antilusitanismo e xenofobia que às vezes emergiam contra os portugueses no Brasil, por meio de estereótipos negativos que lhes eram imputados.
Porém, não era só na pobreza que viviam os imigrantes portugueses no Brasil. Havia uma antiga e bem-sucedida comunidade de trabalhadores especializados oriundos de Portugal, que se dedicavam especialmente ao comércio. Estes imigrantes passaram a dominar o comércio retalhista de todas as grandes cidades brasileiras. Assim, uma pesquisa sobre estabelecimentos comerciais no Brasil em 1856-1857 mostrou que os brasileiros eram proprietários de apenas 44% dos estabelecimentos, e os portugueses de 35%.
Apesar de todos os problemas sócio-econômicos enfrentados pelos imigrantes, o Brasil continuava a ser a terra de destino preferencial dos portugueses mesmo após a independência. Embora existissem destinos imigratórios mais tentadores, como os Estados Unidos e a Argentina, que ofereciam melhores salários e melhores condições de trabalho do que o Brasil, foi para este último que o fluxo migratório lusitano se concentrou. Por falarem a mesma língua, pelos laços históricos e por oferecer salários mais elevados e melhores perspectivas econômicas do que Portugal, além de já haver uma comunidade comercial lusa bem estabelecida. Assim, dos 1.306.501 portugueses que emigraram entre 1855 e 1914, 78% eram originários do continente. Deste total, 82% foram para o Brasil, 2% para a Argentina e 15% para os Estados Unidos. O ápice se deu entre 1891 e 1911, quando o Brasil atraiu 93% dos portugueses que emigraram. Para concorrer com a Argentina e os Estados Unidos, o Brasil inovava ao oferecer o pagamento da passagem de navio dos europeus. Embora os portugueses também se beneficiassem dessa imigração subsidiada pelo governo brasileiro, a maioria dos portugueses imigravam para o Brasil por conta própria, sem esse auxílio governamental, ao contrário dos italianos, por exemplo. O Brasil foi o principal destino da emigração portuguesa até a década de 1960, quando outros países europeus, em especial a França, passaram a ser destinos preferenciais.
O português pobre, ao desembarcar nos portos brasileiros, veste polaina de saragoça, (…) e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia (…) geralmente desembarca dos navios com um pau às costas, duas réstias de cebolas, e outras tantas de alhos… e … uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade. ”
— Raimundo da Cunha Mattos, escritor.1820
Em São Paulo
Até as últimas décadas do século XIX, a maioria dos imigrantes que se dirigiam para a província de São Paulo eram portugueses. Com a lei Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico negreiro para o Brasil, os fazendeiros passam a procurar uma alternativa ao trabalho escravo, mesmo que ainda de modo tímido. Em 1855, segundo José Joaquim Machado de Oliveira, encarregado de obter as estatísticas da província na época, havia pelo menos 625 colonos portugueses espalhados por 15 das 31 colônias de estrangeiros existentes nas fazendas paulistas do período. Nestas colônias de parceria, a maioria vivia ao lado de outros colonos (alemãessuíços etc.), porém havia algumas exclusivamente compostas por portugueses: Em Campinas, a Colônia dos Dores, com 37, e a da fazenda de Antonio Rodrigues Barboza, com 22; Em Taubaté, as colônias Independência e Paraizo, contando juntas 204 colonos; EmAraraquara, a colônia de Pouso Alegre do José, com 44 pessoas; e, por fim, em Rio Claro, a colônia da fazenda de Domingos José da Costa Alves, com 54.
No Censo de 1872, foram contados 6.399 portugueses na província de São Paulo, 21,6% do total (incluindo africanos livres e escravos). Contabilizando apenas os imigrantes que vieram ao país por livre vontade, este número subia para 44,6% do total. Os municípios com maior quantidade de portugueses eram São Paulo (999), Campinas (770), Bananal (683), Mogi Mirim (340), Limeira (323),Rio Claro (256), Guaratinguetá (186), Itapetininga (182), Sorocaba (170) e Amparo (163). Outros municípios com mais de uma centena de portugueses incluemParaibunaJundiaíCruzeiroQueluzSão Roque e Taubaté.
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Prédio da Casa de Portugal, associação de imigrantes portugueses da cidade de São Paulo.
Em 1886, a Comissão Central de Estatística recenseou a população da província. Entretanto, a parte do censo contendo o número de imigrantes se acha parcial, pois vários municípios importantes, como CampinasSorocaba e Itu, não preencheram as fichas sobre este tema ou o fizeram de modo insatisfatório. Mesmo assim, percebe-se, pelos municípios que entregaram seus dados, que a imigração portuguesa vinha aumentando, ao se comparar com o censo de 1872: o número destes imigrantes havia aumentado para pelo menos 10.046 indivíduos. Dos municípios que preencheram as fichas sobre a imigração, as maiores concentrações de portugueses estavam em São Paulo (3.502), Espírito Santo do Pinhal (475), São Carlos (464), Piracicaba (364), Guaratinguetá (331), Limeira (330) e Amparo (300). Municípios acima de 200 portugueses incluíam AreiasArarasDescalvadoBotucatu e São Simão. Com pelo menos uma centena deles, ainda havia PirassunungaRibeirão PretoPindamonhangabaSantana de ParnaíbaItatibaCacondeBatatais e Taubaté.
Das últimas décadas do século XIX até 1900, os portugueses representaram somente 10% das entradas de imigrantes no estado de São Paulo. Após o Decreto Prinetti de 1902, a imigração italiana caiu drasticamente, enquanto que a portuguesa cresceu enormemente, sobretudo entre 1910 e 1914. Ao contrário do Rio de Janeiro, para onde se dirigiu uma imigração maciçamente masculina, em São Paulo havia grande número de mulheres portuguesas, chegando as mulheres lusas a compor 40% da imigração total na segunda década do século XX. Os portugueses preferiam se dirigir para os centros urbanos, com destaque para as cidades de São Paulo e de Santos. Ali, exerciam atividades comerciais e artesanais, além de trabalhos assalariados na indústria e em obras públicas. Em 1920, havia, de acordo com o censo realizado no mesmo ano, 167.198 portugueses no estado de São Paulo, não contando os naturalizados brasileiros. Os municípios com as maiores quantidades destes imigrantes eram a Capital (64.687), Santos (21.040), Campinas (4.267), São José do Rio Preto (3.507), Araraquara (2.915), Ribeirão Preto (2.706), Barretos(2.091) e Jaboticabal (2.020).
No Norte do Brasil
Os estados do Norte do Brasil, como o Amazonas e, sobretudo, o Pará, também foram destinos visados pelos imigrantes portugueses a partir da segunda metade do século XIX. Em 1920, viviam nesses dois estados quase 22 mil portugueses. Nesse ano, residiam no Pará 14.211 lusos, colocando esse estado atrás somente do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais em número de habitantes portugueses. Os portugueses que moravam na região amazônica se concentravam nos centros urbanos, sobretudo em Belém, onde a comunidade portuguesa já era antiga. No censo de 1872, os estrangeiros representavam 12% da população de Belém, sendo 80% deles portugueses. No recenseamento de 1920, os imigrantes compunham 7,5% da população da capital paraense, sendo que 68% eram de Portugal. Entre 1908 e 1920, dos casamentos registrados nas paróquias de Belém, em quase 20% deles pelo menos um dos cônjuges era português, o que mostra como era significativa a presença lusitana naquele momento. Como a imigração portuguesa era predominantemente masculina, havendo pouca presença feminina, o processo de miscigenação aconteceu muito rápido, embora houvesse maior exogamia entre os homens e endogamia entre as mulheres. Assim, mais da metade dos homens lusos se casaram com mulheres paraenses, enquanto que 80% das lusas se casaram com conterrâneos. Porém, não se pode concluir que, caso houvesse maior número de mulheres portuguesas, os casamentos mononacionais iriam predominar, pois contrair casamento com as mulheres locais poderia ser vantajoso, principalmente para os imigrantes recém-chegados, sobretudo comerciantes.
Os portugueses em Belém se dedicavam sobretudo às atividades comerciais (68%), embora se tratasse de uma categoria muito genérica, que podia incluir comerciantes, empregados e auxiliares no comércio, negociantes, ambulantes, caixeiros etc.
O mineiro e o brasileiro
Nos séculos XVIII e XIX, o Brasil exerceu verdadeiro fascínio sobre os portugueses. O Brasil tinha a imagem de ser o "eldorado", a terra onde era fácil uma pessoa enriquecer. Grande parte dessa ideia se deve à ação dos mineiros e dos brasileiros em Portugal. O mineiro, no século XVIII, era o português que emigrava para as regiões mineradores de Minas Gerais, fazia fortuna e depois voltava rico para Portugal. O brasileiro de torna-viagem ou, simplesmente, brasileiro, por sua vez, era o português que emigrava para o Brasil no século XIX e voltava enriquecido. As figuras do mineiro e depois do brasileiro faziam parte do imaginário português e foram amplamente retratados na literatura do País. A emigração em massa de portugueses que se deu, no século XVIII, para as regiões mineradoras da colônia e, mais tarde, na virada do século XIX para o XX, em direção ao Rio de Janeiro e a São Paulo se deve, em larga escala, a esse fascínio que os ex-emigrantes criavam na população.
A maioria dos brasileiros não eram pobres antes de emigrar para o Brasil. Os portugueses que emigraram para o Brasil até as últimas décadas do século XIX não estavam entre os indivíduos das camadas mais pobres da população portuguesa. Emigrar para o Brasil exigia despender uma grande quantia de dinheiro, compassaporte, passagem de navio e fiança militar. Portanto, tratava-se de uma migração mais "seletiva", de indivíduos provenientes de famílias que tinham recursos para financiar uma viagem daquele porte. Esses imigrantes mais privilegiados é que tinham melhores condições de fazer fortuna no Brasil e eram sobretudo estes que regressavam ricos para Portugal, aguçando o imaginário popular. Muitas vezes gostavam de mostrar sua riqueza, exibindo sua opulência pelas ruas das cidades. Construíam grandes casas, algumas ainda podem ser vistas atualmente no Norte de Portugal, muitas vezes com tom de verde e amarelo, as cores do Brasil. Porém, a partir das últimas décadas do século XIX e no início do século XX, o perfil do imigrante português mudou completamente. Os pobres passaram a emigrar em massa para o Brasil, sem preparo e instrução, muitas vezes beneficiados por uma imigração subsidiada pelo governo brasileiro. Estes imigrantes chegavam pobres e, quase sempre, permaneciam pobres, engrossando a população de miseráveis no Brasil e procurando ajuda de instituições de caridade para sobreviver.
Não é exagero dizer que grande parte das transformações econômicas que teve Portugal no final do século XIX e início do século XX se devem graças à contribuição econômica desses "novos ricos" retornados do Brasil. Além de admiração, os brasileiros também causavam sentimentos de repulsa, pois alguns o acusavam de voltarem ricos, mas de continuarem ignorantes.
A imagem que os brasileiros causavam na população portuguesa servia para mascarar a realidade que a maioria dos imigrantes portugueses enfrentavam no Brasil. Desde o século XVIII, era comum que os pais portugueses enviassem algum de seus filhos para o Brasil com o objetivo de fazer fortuna e voltar para Portugal, estimulados pela presença dos ex-emigrantes que voltavam ricos. Porém, apenas aqueles imigrantes que haviam conseguido se enriquecer faziam questão de destacar a sua vitória e esbanjar a sua opulência. Os imigrantes que haviam fracassado, por sua vez, tratavam de esconder o seu insucesso. Envergonhados de retornarem pobres, deixavam-se ficar no Brasil e muitas vezes nunca mais voltavam para Portugal. Portanto, no imaginário coletivo português, permaneceu apenas a imagem do imigrante vitorioso, enquanto que o imigrante "perdedor" era ignorado. Isso explica o fato de que, embora muitos imigrantes portugueses no Brasil vivessem na pobreza, a imagem de que o Brasil era o eldorado ainda vigorou por muito tempo no imaginário dos portugueses por meio da ação dos brasileiros de torna-viagem.









Privilégios, lusofobia e estereótipos
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Imigrante português no Rio de Janeiro.
A imigração portuguesa para o Brasil após a independência apresentou uma dualidade. Ao mesmo tempo que a lei brasileira concedia privilégios jurídicos e políticos aos portugueses, eles também enfrentaram violentas perseguições e agressividade por parte dos brasileiros. Na Assembleia Constituinte de 1823, os portugueses residentes no Brasil não foram considerados estrangeiros, desde que concordassem com a independência. Na Era Vargas, o privilégio concedido aos portugueses se evidenciou. A Constituição de 1934 limitou a entrada de estrangeiros de todas as nacionalidades no Brasil, mas em 1938 essa lei foi suspensa apenas para os portugueses. Durante a II Guerra Mundial, o então presidenteGetúlio Vargas ordenou que as embaixadas brasileiras na Europa não concedem visto para os judeus, ao mesmo tempo que ele incentivava a entrada livre de portugueses no Brasil, para "garantir o fortalecimento étnico da nação".68 Após a Guerra, o antropólogo Gilberto Freyre e um grupo de deputados defenderam que os portugueses não deveriam ser considerados estrangeiros no Brasil. Ainda hoje, os portugueses têm tratamento especial dado pela legislação brasileira. A (atual) Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 12, parágrafo 1º, reza que "Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição"69 . Este dispositivo que dá privilégios a uma nacionalidade estrangeira é fato raro no mundo. Por exemplo, na legislação da Argentina não existe nenhum dispositivo que dê tratamento diferenciado aosespanhóis, tampouco a lei dos Estados Unidos beneficia os ingleses. Na América do Sul, apenas na Venezuela há algo semelhante.
Todavia, o tratamento privilegiado que a legislação brasileira deu e ainda dá aos portugueses não necessariamente se refletia no tratamento que os imigrantes receberam do povo brasileiro. A lusofobia e o antilusitanismo estiveram presentes no Brasil, mesmo após a independência. Em alguns momentos esses sentimentos explodiram e desencadearam em verdadeira violência. Após a independência, os imigrantes portugueses passaram a ser vistos como representantes da dominação colonial. "Os portugueses eram identificados como colonizadores, exploradores, que abusavam dos preços e estavam ligados ao ódio racial".
Em 1819, às vésperas da independência, havia poucos portugueses no Brasil. Os nascidos em Portugal perfaziam, no máximo, 40 mil pessoas, menos de 1% da população do Brasil, concentrados no Rio de Janeiro e noutras cidades portuárias. Apesar da sua pequena presença, os portugueses figuravam em posições importantes e tinham preponderância no grande comércio e nos setores administrativos do Estado. Com o processo de independência, o antilusitanismo foi crescendo em várias partes do Brasil e as agressões a portugueses começaram a se alastrar. Em carta de 1822, endereçada a José Bonifácio, Felisberto Gomes Caldeira relatava "o estado de confusão em que se achavam algumas províncias do Norte, onde crescera o ódio contra os portugueses, sendo raro o dia em que algum não era assasinado ou roubado, e não escapando mesmo os brasileiros simpáticos a Portugal". No período que se seguiu à independência, vários conflitos envolvendo brasileiros em oposição a portugueses foram registrados. Os comerciantes portugueses configuraram o alvo preferido dessas agressões. Estes eram frequentemente acusados de serem responsáveis pelas faltas de gêneros, pelas subidas dos preços, além de serem hostilizados por só contratarem caixeiros vindos diretamente de Portugal, supostamente tirando o emprego dos brasileiros. No Maranhão, a Balaiada (1838-39) foi uma revolta dirigida sobretudo contra os comerciantes e proprietários portugueses. Em Pernambuco, os lusos foram transformados em bode-expiatório pela elite local, numa tentativa de canalizar contra os portugueses a forte hostilidade popular que, caso contrário, poderia ser dirigida contra a elite branca local, comprometendo a ordem social.
Porém, foi na província do Mato Grosso que ocorreu o mais violento ataque generalizado contra portugueses no Brasil. Em 30 de maio de 1834, em um episódio conhecido como "A Rusga" ou como "A Noite do Mata Bicudo", devido ao chapéu de abas pontiagudas que alguns lusos utilizavam, dezenas de portugueses foram assassinados em diversas cidades da província. A motivação do massacre foram rumores de que Portugal estava preparando ataques navais ao Brasil e que contaria com a ajuda dos portugueses que viviam na região. Embora fantasiosos, esses rumores desencadearam uma onda de chacinas, com requintes de crueldade, por parte de patriotas exaltados da região, que fizeram uma "verdadeira caçada" aos portugueses, nas palavras do historiador Arthur César Ferreira Reis. Não se sabe quantos portugueses foram massacrados nesse episódio, mas estima-se em algumas dezenas. O discurso lusófobo esteve presente nos diversos movimentos ocorridos após a independência, como na Cabanagem (1835-1837), na Sabinada (1837-1838) e na Revolução Praieira (1848). No Rio de Janeiro, ataques a portugueses aconteciam com certa frequência no início do século XX. Ataques contra portugueses continuaram a ser registrados no Brasil até o fim da década de 1920.
No período colonial, houve conflitos em que os interesses de "reinós" e "filhos da terra" emergiram. Esses numerosos atritos, que opuseram os habitantes do Brasil à coroa portuguesa ou aos seus representantes não deram origem a qualquer sentimento nacional ou à percepção de antagonismos que opusessem portugueses a brasileiros. Não existia uma efetiva consciência nacional, limitando-se a uma crítica social, como fizera Gregório de Matos. Com a independência, todavia, em nome de uma afirmação da nacionalidade brasileira, a figura do português assume outras características. A imagem estereotipada do imigrante português no Brasil, a partir do século XIX, apresentou duas variáveis: a primeira, do imigrante rico, sobretudo comerciante, que abusava dos preços e explorava os brasileiros economicamente. A segunda era a figura do imigrante pobre, que exercia ofícios urbanos antes destinados aos escravos, os quais o brasileiro, "esperto" e "malandro", recusaria, o que era visto como uma concorrência desleal no mercado de trabalho.
Com a ruptura política com Portugal, foi necessário buscar antagonismos e oposições, remarcando a brasilidade, abrindo espaço para, por exemplo, tentativas nativistas de assumir uma identidade indígena. Foi assim que alguns brasileiros adotaram nomes indígenas ou deram a seus filhos nomes não portugueses. Mais tarde, o indigenismo romântico marcaria essa tentativa artificial de mudança. O português passou a ser, em consequência, aquele contra quem se afirmou a identidade do novo país. Primeiramente, os alvos foram os portugueses ricos, comerciantes e banqueiros e os caixeiros que estes empregavam. A partir do final do século XIX, com a imigração em massa de portugueses pobres, analfabetos e desqualificados para os centros urbanos do Brasil, estes passaram a ser mais visados e estereotipados.
Se para a legislação brasileira os portugueses eram considerados praticamente como sendo "brasileiros", eles eram vistos como "estrangeiros" pelo povo brasileiro. Por muito tempo, os portugueses foram os únicos imigrantes a chegar em número significativo ao Brasil, e ser estrangeiro era quase que sinônimo de ser português. A lusofobia era fomentada, em grande parte, pela posição de destaque que os lusitanos continuaram a ocupar no Brasil, mesmo após a independência. Os portugueses concentravam-se nas cidades e grandes centros urbanos, ao contrário de outros imigrantes que tendiam a ficar no campo. Muitos portugueses eram proprietários de imóveis e pensões e dominavam o comércio varejista no Brasil. Em consequência, tinham contato direto com o público e eram vistos com desconfiança pela população. Eram acusados de abusar dos preços, de cobrar aluguéis a preços exorbitantes, de vender seus produtos a preço acima do valor de mercado, sempre suspeitos de estarem pondo água no leite, areia no pão e práticas menos honestas. A lusofobia no Brasil era um reflexo dessa suposta "exploração econômica" que os imigrantes portugueses exerciam sobre os brasileiros. Para muitos brasileiros, era inaceitável que os antigos colonizadores do Brasil continuassem a dominar diversos setores da economia brasileira.
Ademais, muitos portugueses tinham participação no movimento operário e no anarquismo sindical, contribuindo para aumentar a intolerância. No final do século XIX, o movimento republicano dos jacobinos ganhou força no Brasil e era fortemente marcado pelo antilusitanismo, apontando a colonização portuguesa e a comunidade portuguesa como sendo culpadas pelo atraso do Brasil. A imprensa brasileira, principalmente do Rio de Janeiro, contribuía para difundir estereótipos negativos sobre a comunidade portuguesa. O jornal O Jacobino, que circulou no Rio no início do século XX, era abertamente lusófobo. Os portugueses eram acusados de serem culpados por todas as mazelas do Brasil e eram associados ao atraso da sociedade. O jornal instigava a agressão e a expulsão dos portugueses do território brasileiro. As piadas sobre portugueses e a fama de serem "ignorantes" cresceram durante a República Velha, mas é provável que já existissem antes disso.68 A imprensa brasileira do início do século XX contribuiu para criar diversos estereótipos negativos sobre os portugueses, sendo que algumas dessas imagens permanecem no imaginário brasileiro até hoje.70
Imigração de declínio (1960-2000)
A partir década de 1930, não apenas a imigração portuguesa no Brasil, mas todas de uma maneira geral caíram, e isso se deve ao Brasil já não mais precisar de imigrantes para abraçarem a agricultura e as fábricas, pois os nacionais já supriam a demanda. Nesta década, o presidente brasileiro Getúlio Vargas criou uma lei que controlava a entrada de imigrantes no Brasil ("Lei de Cotas de Imigração"), à qual apenas os portugueses não estavam sujeitos.71 As várias décadas que durou o salazarismo contribuíram para uma grande vinda de portugueses para o Brasil. Essa imigração durou até meados da década de 1960.
Após a II Guerra Mundial, os portugueses foram os únicos que continuaram a chegar em grande número ao Brasil. Entre 1945 e 1959 ainda chegaram ao Brasil, cerca de 250 mil portugueses.






A imigração portuguesa em números
Imigração portuguesa para o Brasil (1500-1991)
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Décadas
Número de imigrantes
1500-1700
100.000
1701-1760
600.000
1808-1817
24.000
1827-1829
2.004
1837-1841
629
1856-1857
16.108
1881-1900
316.204
1901-1930
754.147
1931-1950
148.699
1951-1960
235.635
1961-1967
54.767
1981-1991
4.605
TOTAL
2.256.798
A imigração portuguesa para o Brasil começou a se tornar mais constante a partir da década de 1870. De 1872 até o final do século XIX, entraram no Brasil quase 380 mil portugueses. A imigração, todavia, alcançou seu auge entre 1910 e 1914, mas a I Guerra Mundial fez o número de entradas cair, voltando a crescer a partir de 1920. Entre 1900 e 1939, entraram no Brasil quase 920 mil portugueses. O período mais importante foi entre 1910 e 1919, quando, em apenas nove anos, desembarcaram nos portos brasileiros 318.481 portugueses.
O censo de 1920 contabilizou a presença de 433.577 portugueses no Brasil, sendo que 291.198 eram homens (67%) e 142.379 eram mulheres (33%). Essa população ainda incorporou mais 318.481 portugueses que entraram na década de 1920. Assim, a população portuguesa no Brasil alcançou seu auge em 1929. Segundo a historiadora Maria Silvia Bassanezi, nesse ano viviam no Brasil 646.282 portugueses, concentrados nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas com presença importante também em Minas Gerais e no Pará.
População portuguesa no Brasil em 1929
Estado
População portuguesa
281 418
20 050
303 861
3 679
1 998
5 289
325
15 631
587
556
334
144
1 900
8 376
89
260
72
1 572
137
Total
646 282
O censo de 1940 mostrou que a comunidade portuguesa no Brasil era composta por 358.174 indivíduos. Em 1970, a comunidade cresceu novamente e tinha 437.983 pessoas. A partir de então, foi declinando progressivamente, baixando para 263.610 pessoas em 1991.
Novo fluxo
Com o quadro crônico em Portugal decorrente das crises econômica de 2008 e da dívida pública da Zona do Euro, o Brasil tornou-se novamente atrativo para portugueses desempregados. Em 2010, o número oficial de portugueses no Brasil somou a 30 mil, mas estima-se que até 70 mil podem ter emigrado. No primeiro semestre de 2011, 50 mil iniciaram trâmites para adquirir um visto de residência no Brasil.
Regiões de origem dos imigrantes
Historicamente, os portugueses que partiam para o Brasil eram majoritariamente oriundos da região norte de Portugal. No século XVI, quase metade dos portugueses processados pela Inquisição em Pernambuco e na Bahia eram originários do Minho e 15% de Lisboa. Em 1801, em São Paulo, 45% dos homens portugueses provinham do Minho, 20% dos Açores e 16% de Lisboa. Analisando a origem dos comerciantes portugueses radicados em Minas Gerais no século XVIII, a historiadora Júnia Furtado constatou que 74,4% eram oriundos do Norte português. Iraci del Nero, ao levantar dados sobre a população portuguesa radicada em Vila Rica (atual Ouro Preto), constatou que 68,1% provinha do Norte de Portugal. Analisando a população inventariada em Minas entre 1750 e 1779, Carla Almeida descobriu que 89% dos homens portugueses eram naturais das províncias do norte e 11% provenientes da região central do país e nenhum do sul. Além dos nortenhos, um fluxo notável de colonos provinham das ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores.
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A Região Norte de Portugal, de onde veio a maioria dos colonos e imigrantes portugueses para o Brasil.
Mais de um século e meio depois, no início do século XX, a imigração portuguesa para o Brasil continuava predominantemente oriunda doNorte português e adjacências, nomeadamente Trás-os-MontesMinhoDouro LitoralBeira AltaBeira Litoral e Estremadura, com oscilações de predominância entre estas regiões ao longo do tempo. 
O Noroeste português foi o que mais forneceu imigrantes para o Brasil, em especial o Minho (que corresponde aos actuais distritos de Braga eViana do Castelo). O Sul de Portugal era dominado por latifúndios e grandes propriedades rurais. No Norte, por sua vez, predominavam pequenas propriedades agrícolas. Portanto, quem não adquiria um pedaço de terra estava fadado à pobreza. Sendo a região do Minho a mais densamente povoada de Portugal66 , formou com o Brasil Colônia - e sucessivamente com o Brasil Imperial e com a República - uma ampla rede de migrações. Sucessivas gerações de portugueses nascidos no Minho emigraram para o Brasil. Isso servia para se ter um equilíbrio entre a escassez de recursos, o crescimento constante da população e a falta de terras. Assim, famílias minhotas incentivavam a emigração períodica de seus filhos para o Brasil como forma de não sobrecarregar a economia baseada na pequena propriedade rural. Esses portugueses encaminhados para o Brasil tinham um perfil típico: do sexo masculino, bastante jovens, muitos deles quase crianças, enviados para o Brasil pelas mãos de algum parente ou padrinho. Além de ajudar a economia local, a emigração desses jovens para o Brasil também lhes era benéfica para os fazer escapar de "uma existência limitada por padrões de vida numa sociedade empobrecida, mesquinha e conservadora", nas palavras da historiadora Ana Silvia Scott.
Os dados sobre os imigrantes mostram que os trabalhadores agrícolas sem terra formavam o grupo mais numeroso de imigrantes que partiam para o Brasil, correspondendo a 50,3% e a 33,6% dos que chegaram nos anos de 1906 e 1913, respectivamente. Também foi significativa a emigração de proprietários rurais (10,6% em 1906), chegando a 31,7% em 1913. Também foi expressiva a migração de artesões portugueses, correspondendo a 15,8% em 1906 e a 13,8% em 1913. Curioso é que foram poucos os imigrantes que eram comerciantes antes de emigrar, somando apenas 1,7% em 1906 e 1,6% em 1913, embora depois que chegaram ao Brasil, muitos dos portugueses se tornaram comerciantes.
Sexualidade e padrões de miscigenação
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Moça mulatafotografada por Alberto Henschel. A miscigenação entre portugueses e africanas foi frequente desde o início da escravidão.
A imigração portuguesa para o Brasil é historicamente um fenômeno eminentemente masculino. Desde o início da colonização, são pouquíssimas as portuguesas que desembarcavam no Brasil. Em Portugal não havia escolas para meninas, apenas recolhimentos que visavam o ensino de afazeres domésticos. Na mentalidade portuguesa da Idade Moderna, a instrução feminina era considerada algo supérfluo e mesmo perigoso. Para eles, as mulheres só serviam como reprodutoras, como objeto de posse e de poder. Ao chegarem ao Brasil, os colonos portugueses se depararam com uma população indígena livre dos conceitos impostos pela Igreja Católica. Para as mulheres indígenas, o sexo era algo natural, longe de possuir a conotação de sujeira e pecado que existia na mentalidade europeia. Na descrição do jesuíta José de Anchieta, as indígenas "não se negavam a ninguém". Em um ambiente onde a Igreja ainda não tinha força, os colonos portugueses passaram a exercer uma "sexualidade desenfreada", unindo-se a várias mulheres indígenas ao mesmo tempo e gerando filhos mestiços. A situação fora dos padrões europeus horrorizava os jesuítas. Em carta ao rei de Portugal, Manuel da Nóbrega pedia ao monarca português que enviasse ao Brasil mulheres portuguesas, “muitas e quaisquer delas” e acrescentava: "Vossa Alteza mande muitas órfãs e se não houver muitas venham de mistura delas e quaisquer, porque são tão desejadas as mulheres brancas cá, que quaisquer farão cá muito bem a terra".
Para o jesuíta Manuel da Nóbrega, até as prostitutas portuguesas eram bem-vindas no Brasil: "Se El-Rei determina povoar mais esta terra, é necessário que venham muitas mulheres órfãs e de toda qualidade até meretrizes, porque há aqui várias qualidades de homens; e os bons e os ricos casarão com as órfãs; e deste modo se evitarão pecados e aumentará a população no serviço de Deus" escreveu o religioso para o rei de Portugal. Aliás, a transferência de prostitutas portuguesas para o Brasil é historicamente documentada. Noséculo XVIII, em São Paulo, "contanto que não sejam velhas e doentes e incapazes de poder se casar" se falava em atrair meretrizes do Reino para a região. Já no século XIX, autoridades lusas denunciavam o fluxo de mulheres portuguesas no Brasil, que muitas vezes vinham enganadas com promessa de trabalho e acabavam na prostituição.
Para Nóbrega, a falta de mulheres brancas na colônia é que acarretava no comportamento sexual desregrado dos colonos. A Igreja tentava "moralizar" os costumes dos colonos e o rei pretendia aumentar a população "branca dominante". Além de enviar degredados à colônia para explorarem produtos que poderiam dar lucro para Portugal, o rei também enviou as tais mulheres portuguesas, que eram órfãs, ladras, prostitutas, assassinas, alcoólatras, entre outras. As que não fariam falta em Portugal. Neste contexto, pouco importava a procedência da mulher portuguesa. Não importava a condição social, moral ou econômica dela, pois bastava que fosse "branca" e produzisse filhos "portugueses" na colônia para ser considerada "superior" às mulheres índias e negras, no imaginário colonial.
concubinato vai ser a regra durante todo o período colonial, e o matrimônio a exceção. A historiadora Júnia Furtado diz que os casamentos em igrejas só vão predominar no Brasil a partir do século XIX. Antes disso, as uniões consensuais eram a forma mais praticada de uniões de casais. Fato notável da sexualidade dos homens portugueses no Brasil colonial é que estes davam preferência em se casar com mulheres portuguesas. Como estas eram poucas, partiam para brasileiras de ascendência portuguesa. Isto não quer dizer que os portugueses não se casavam com mulheres pardas ou negras. Há vários registros de colonos portugueses que oficializavam suas uniões com mulheres de origem africana, enfrentando o preconceito da sociedade para assumir essa relação. Mas por razões culturais, demográficas e econômicas, as uniões interétnicas eram majoritariamente apenas consensuais, quando não eram apenas relações sexuais passageiras. A própria escravidão colocava a mulher escrava de origem africana numa condição de submissão em relação ao senhor, que muitas vezes a usava como objeto sexual.
Os dados sobre casamentos e uniões consensuais no Brasil colonial mostram que os homens brancos tendiam a casar com mulheres de ascendência portuguesa, enquanto que aqueles que apenas se uniam consensualmente (a maioria dos casos) tendiam a fazê-lo com mulheres de ascendência africana. Em um levantamento das uniões consensuais havidas na Comarca do Rio das Velhas, em Minas Gerais, entre 1727 e 1756, os números mostram que entre os concubinos, 92% eram homens brancos. Porém, das concubinas, 52,1% eram africanas, 35,1% crioulas (negras brasileiras) ou mestiças, e apenas 11,8% eram brancas. Havia, portanto, um nítido predomínio de concubinato envolvendo um homem branco (92%) e uma mulher negra ou mulata (87,2%). Todavia, os dados sobre casamentos mostram um outro quadro. Analisando os matrimônios envolvendo homens portugueses em Borda do Campo (Minas Gerais) entre 1750 e 1760, encontrou-se que apenas 13,4% das cônjuges eram portuguesas. Todavia, as cônjuges brasileiras de sabida ascendência portuguesa somavam 40% das noivas, dando um total de 50,3% as noivas de origem portuguesa declarada. Estes dados mostram a tendência do colono português de se unir consensualmente a uma mulher de origem africana, e a se casar com mulher de origem portuguesa.76 Apesar da preferência em contrair matrimônio com mulheres portuguesas, a exiguidade de compatriotas compeliam os portugueses a se casarem com mulheres brasileiras, livres e brancas, ou com pardas e negras alforriadas, tanto que no início do século XIX, em São Paulo, 97% dos homens portugueses estavam casados com mulheres brasileiras. Defrontados com a escassez de mulheres portuguesas na colônia, é presumível que muitos portugueses optassem pelo celibato, pois em São Paulo, no mesmo período, 30% dos portugueses se encontravam nessa situação.
No Brasil colonial, os casamentos constituídos eram exclusivos de uma minoria. Nestes casos, havia a figura da sinhá (esposa legítima) que era frequentemente obrigada a conviver com os filhos ilegítimos do seu marido tidos com escravas. Para a maioria da população, a sociedade brasileira era predominantementematriarcal, especialmente nas classes subalternas, sendo a mulher solteira, negras, mulatas e brancas empobrecidas, as chefes de família.
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Casal de imigrantes portugueses em São José do Rio Preto (1887).
Após a independência do Brasil no século XIX, a sociedade brasileira já havia mudado parte de suas características. O concubinato, que antes predominava, passa a dar lugar aos casamentos na igreja. Na definição da historiadora Mary del Priore, "no século XIX, a sexualidade se dividiu. De um lado, o sexo legítimo da união legal. De outro, o sexo ilegítimo e clandestino das relações adúlteras e da prostituição que se desenvolvem com o crescimento das cidades". Isto não quer dizer que as uniões informais foram abolidas no Brasil, pois continuavam a existir de forma significativa. Entre 1906 e 1910, 12,5% dos filhos de mulheres brasileiras em São Paulo eram ilegítimos (comparado a 3,5% dos filhos de imigrantes portuguesas). A imigração portuguesa não perdeu seu caráter masculino nos séculos XIX e XX. O Norte de Portugal na época era conhecido por ter o predomínio de mulheres exercendo atividades agrícolas tradicionais, pois muitos dos homens emigraram. As mulheres (e as crianças) portuguesas desembarcaram em maior número no Brasil quando alguma crise aflingia Portugal, como durante a epidemia de filoxera que destruiu temporariamente a indústria dovinho do Porto em meados do século XIX. A regra, porém, era de 80% de homens entre os imigrantes e uma porcentagem mais elevada de adultos.
Em suas práticas matrimoniais, os imigrantes portugueses no Brasil nos séculos XIX e XX mostraram-se particularmente inclinados para a endogamia, quando comparados a outros imigrantes europeus. Dos 22.030 homens e mulheres portugueses que casaram na cidade do Rio de Janeiro no período de dez anos de 1907 a 1916, 51% dos homens casaram com mulheres portuguesas — uma percentagem mais elevada do que a dos italianos ou dos espanhóis (50% e 47% dos quais, respectivamente, casaram com mulheres originárias do seu país). 84% das portuguesas casaram com homens portugueses, em comparação com 64% das mulheres italianas e 52% das mulheres espanholas que casaram com homens da sua nacionalidade. Essa alta endogomia acontecia mesmo sendo o número de mulheres portuguesas bem mais baixo do que o número de homens. Tal endogamia pode ser explicada pela chegada constante de novos imigrantes, ou pela pobreza inicial desses portugueses, gerando desprezo da população brasileira, o que afastava as possibilidades de casamento entre os dois grupos. No decorrer do século XX, essa endogamia caiu e o casamento envolvendo um cônjuge português e o outro brasileiro cresceu gradualmente, passando então a predominar.
As mulheres portuguesas no Brasil
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A cantora e atriz Carmen Miranda, apelidada de "Brazilian Bombshell" nasceu em Portugal e imigrou para o Brasil com sua família em 1910, com dez meses de idade. Apesar de nunca ter se naturalizado, sempre se considerou brasileira.
Nos primeiros séculos de colonização houve uma verdadeira escassez de mulheres brancas na colônia. Isso se deve ao caráter migratório aventureiro dos colonos portugueses, que buscavam enriquecimento rápido, pensando num breve retorno a Portugal. Isso desestimulava um padrão migratório familiar. Para diminuir a falta de mulheres brancas foram levantadas duas soluções: o envio de mulheres condenadas a cumprir pena de degredo no Brasil e de órfãs desprovidas de dote para a colônia. Uma terceira opção seria o envio de “mulheres erradas” para o Brasil, ou seja, de prostitutas portuguesas. Quanto à presença de prostitutas portuguesas no Brasil, não há dados numéricos disponíveis. Quanto às órfãs, na legislação portuguesa, era uma pessoa que havia perdido o pai, pois a perda da mãe não acarretava nessa situação. O número de órfãs disponíveis não era suficiente e isso se refletia no pedido do jesuíta Manuel da Nóbrega para que o rei enviasse qualquer tipo de mulher, mesmo as “erradas”. Para o jesuíta, essas mulheres mudariam de vida por meio do casamento. A falta de mulheres brancas empurrava os colonos para relações com mulheres indígenas e africanas, ameaçando a “limpeza de sangue” tão almejada naquela sociedade.
Um estudo mostrou que as órfãs do recolhimento do Castelo, em Lisboa, eram mandadas para possessões ultramarinas onde havia escassez de mulheres portuguesas (Índia e Brasil). Elas chegavam acompanhando o governador-geral, ou seja, de três em três anos. Para o Brasil não viajavam mais que duas ou três de cada vez, o que era claramente insuficiente. Num registro de 21 mulheres que chegaram à Bahia, todas já estavam casadas, e as idades variavam de 18 a 80 anos. Não chegavam apenas portuguesas: uma era espanhola de Toledo, uma cigana da Galiza (Espanha) e outra mulher de Arzila, no Marrocos. Sete delas eram de Lisboa e cinco do Alentejo. Não se sabe ao certo se essas mulheres já chegavam casadas ao Brasil ou se contraíram matrimônio na colônia. O que se sabe é que essas mulheres brancas eram disputadas fervorosamente pelos homens, devido à sua escassez na colônia.
A contribuição das órfãs para o aumento da população brasileira foi, sem dúvida, menor do que a contribuição das mulheres que chegavam acompanhadas dos seus homens ao Brasil, sejam esposas ou concubinas. As que chegavam sozinhas eram normalmente as degredadas, forçosamente exiladas na colônia. As degredadas chegavam para cumprir penas aplicadas pela justiça secular por crimes que haviam cometido, enquanto outras eram vítimas da Inquisição, que também condenava os “culpados” com o degredo. O século XVII foi marcado pela chegada constante de “visionárias”, acusadas de feitiçaria, que eram sentenciadas ao exílio na colônia. Nem todas permaneceram no Brasil, parte regressando a Portugal após os cinco anos de pena de degredo.
A mulher no Brasil colonial vivia uma condição subalterna, herança de tradições já cristalizadas. Tanto a legislação portuguesa quanto as práticas sociais acentuaram o caráter subalterno da mulher. As mulheres brancas viviam reclusas dentro de casa, raramente saíam à rua e, quando o faziam, deviam cobrir o rosto com véus e os pés com a barra da saia. De acordo com o padrão dominante, a mulher virtuosa apenas poderia sair de casa em situações específicas: para ser batizada, frequentar missas, casar e ser enterrada. Isso contribuía para os relatos sobre a mulher portuguesa no Brasil colonial: precocemente envelhecida, gorda, cercada de mucamas, tratada com sadismo e descontando sua fúria sobre as escravas.
No século XVIII, em Salvador, Mariana e Vila Rica as mulheres frequentavam a missa no final da madrugada para não serem vistas pelos homens. Muitas eram mandadas para conventos e recolhimentos femininos, o que causava desconforto nas autoridades, uma vez que a escassez de mulheres brancas na colônia era ainda mais agravada pelo fato de muitas tomarem o caminho religioso. O governador de Minas Gerais, Lourenço de Almeida, reclamou em 1731: “Suponho que toda mulher no Brasil será freira”. De fato, um dos raros momentos em que as mulheres podiam comandar suas casas se dava na viuzez: em muitos casos, enviuvando a mulher com filhos menores, cabia a ela a direção da propriedade rural e o futuro da família.
Por outro lado, as mulheres pobres, livres ou escravas, estavam muito mais expostas na sociedade. Essas compunham a maioria da população colonial, embora os estudos históricos tenham sempre focado na vida das mulheres da elite. As mulheres comuns eram domésticas, roceiras, costureiras, cozinheiras, feiticeiras, lavadeiras, prostitutas etc. O Brasil colonial, mergulhado em valores hierárquicos e patriarcais, delegava à mulher uma condição inferior dentro da sociedade. À mulher rica era destinada a reclusão dentro de casa e, à mulher pobre ou escrava, o trabalho pesado e os abusos sexuais.
Após a independência, a mulher portuguesa que desembarcava no Brasil, geralmente pobre, se empregava como criada nos serviços domésticos. O censo de 1872 mostrou que 129.816 escravas estavam ocupadas no serviço doméstico, portanto para as portuguesas apenas sobravam as casas onde se dava preferência à contratação de criadas brancas. Frequentemente os textos da época faziam referência implícita à prostituição de portuguesas no Brasil.
O início do século XX foi um momento que representou uma reviravolta nas características da imigração portuguesa ao Brasil, uma vez que as mulheres passaram a representar uma parcela considerável dos imigrantes. Dos portugueses que desembarcaram no porto de Santos entre 1908 e 1936, as mulheres representavam 32% do total, indicando uma grande migração familiar nesse período. A legislação portuguesa dificultava a migração de pessoas do sexo feminino, uma vez que exigia a emissão de passaporte e as mulheres dependiam da autorização dos pais ou do marido para imigrar. Até a década de 1890, o contingente feminino entre os imigrantes sempre foi muito pequeno, vindo a crescer rapidamente a partir dessa década. Antes disso, eram quase sempre os homens que emigravam, deixando muitas vezes suas esposas em Portugal, que passavam a ser incumbidas de cuidar dos filhos e de todo o trabalho produtivo. Os seus maridos frequentemente constituíam uma nova família no Brasil, fazendo delas “viúvas de vivos”.
A partir da década de 1890, verifica-se uma mudança no comportamento migratório português. As mulheres, que antes ficavam para trás, passaram a acompanhar seus homens na viagem migratória. Assim, a migração familiar e feminina portuguesa cresceu 41% entre 1891 e 1899 e 36% entre 1910 e 1919. Essas mulheres dividiam com seus maridos pequenos negócios, como padarias, bares e quitandas, trabalhavam como operárias, lavadeiras, costureiras, em áreas completamente diferentes das quais exerciam em suas aldeias de origem, muitas vezes tendo que trabalhar em jornada dupla para poder sobreviver e vencer os desafios no novo país de acolhimento.
Identidade luso-brasileira
No período colonial
As relações dos brasileiros brancos com Portugal se mantiveram bastante fortes durante o período colonial. Os brasileiros mantinham vínculos mais estreitos com a metrópole e tinham menos motivos de insatisfação que os criollos da América Espanhola em relação à Espanha. A colonização portuguesa no Brasil foi lenta e gradual, portanto, no fim do período colonial, a oligarquia brasileira, em sua maioria, tinha origem portuguesa recente. Embora algumas famílias da elite, sobretudo em Pernambuco e na Bahia, remontavam as suas origens aos donatários do século XVI, grande parte dos proeminentes proprietários de terra do Brasil do início do século XIX eram brasileiros de primeira geração ou portugueses natos. O governo colonial português não se mostrava tão opressivo e excludente como foi o governo espanhol, uma vez que Portugal era uma potência mais fraca em recursos financeiros, militares e humanos.
Isso abria as portas para que brasileiros natos tivessem a oportunidade de ocupar postos no nível baixo e médio da burocracia e alguns até chegaram a ser magistrados da coroa e governadores, não só no Brasil como em outras partes do Império Português. Portugal, muito mais do que a Espanha, governava suas colônias por intermédio das elites locais e os vínculos familiares e pessoais entre os membros da elite portuguesa e brasileira eram reforçados com a ida de brasileiros para estudar na Universidade de Coimbra.
Portanto, a classe dominante do Brasil durante o período colonial manteve laços estreitos com Portugal, haja vista que grande parte era composta por portugueses natos ou filhos de portugueses, muitos dos quais estudavam em universidades portuguesas e mantinham relações econômicas diretas com a Metrópole. O antropólogo Darcy Ribeiro ensina que o colono português, por mais que se identificasse com a nova terra, gostava de se manter atado à sua origem portuguesa, pois esta era a sua única "superioridade" inegável. O processo de miscigenação, porém, fazia nascer uma identidade brasileira, pois mestiços, mulatos emamelucos já não se identificavam com suas matrizes indígenas, africanas ou europeias, forçando-os a assumir uma identidade brasileira. 

O caso dos açorianos no Sul
O historiador Sérgio Luiz Ferreira estudou o processo de "abrasileiramento" dos descendentes de açorianos da freguesia de Santo Antônio de Lisboa, localizada em FlorianópolisSanta Catarina, no Sul do Brasil. A região foi povoada por colonos oriundos dos Açores, Portugal, entre os anos de 1747 e 1753. No período de 1780-1799, 75% da população da freguesia tinha os avós nascidos nos Açores. Para o período de 1800-1824, 33% dos habitantes ainda eram netos de açorianos. Portanto, na segunda metade do século XVIII e no início do século XIX, a população da freguesia poderia ser considerada açoriana.98
Porém, no decorrer do século XIX, a população da freguesia foi se afastando dessa matriz portuguesa e se "abrasileirando", ao ponto de, no final do século XIX, seus habitantes já nem lembrarem que eram descendentes de açorianos. No início do século XX, a população da Ilha de Santa Catarina se considerava "sem origem", enquanto os descendentes de imigrantes italianos e alemães do interior do estado eram vistos como aqueles "com origem". A origem portuguesa dessas pessoas, portanto, permaneceu apenas nos documentos históricos, sendo que não permaneceu na memória da população. Aliás, o autor ressalta que não saber a origem dos antepassados é uma característica marcante da população brasileira.
Foi só na década de 1940, com o Primeiro Congresso de História Catarinense, que a origem açoriana dessa população foi resgatada. Os habitantes da Ilha de Santa Catarina foram "ensinados" pela elite intelectual que eram descendentes de portugueses oriundos dos Açores. Em decorrência, na segunda metade do século XX, com esse processo de resgate da açorianidade, muitas tradições que tinham origem açoriana foram nomeadas, enquanto outras que nunca foram açorianas passaram a ser consideradas como se fossem, numa verdadeira "invenção de tradições".
A questão da identidade açoriana, porém, só preocupava a elite, como por exemplo frente ao "perigo alemão" representado pelos descendentes de alemães do interior catarinense. O homem do litoral pouco importava com a sua "identidade", uma vez que vivia isolado na costa onde não havia o embate com o "outro". O incômodo realmente apenas surgiu na década de 1980, quando forasteiros passaram a comprar propriedades no litoral catarinense e passaram a reprimir determinadas práticas culturais dos habitantes da região, como a farra do boi. A partir de então, foi necessário buscar uma identidade que já não estava na memória.
A identidade açoriana é ainda débil nos próprios Açores, onde, segundo pesquisa, a maioria da população se identifica primariamente com sua freguesia ou município ou ilha de nascimento e não com a região dos Açores como um todo. No caso dos habitantes do litoral catarinense, nos últimos anos tem havido um processo de "açorinização" da Ilha de Santa Catarina, por meio do resgate de tradições e elementos culturais e do aumento do intercâmbio com o arquipélago português.
Imigrantes mais recentes
Os portugueses que chegaram ao Brasil mais "recentemente", no século XX, buscavam se aglutinar por meio do movimento associativo. Essas associações serviam e ainda servem de referência cultural, apoio econômico e/ou assistência social. Distante do país natal e muitas vezes abandonados pelo governo português, os imigrantes sentiam-se desamparados e vulneráveis às situações imprevisíveis que um novo país poderiam oferecer. Portanto, um local para encontro com compatriotas se mostrava fundamental para mobilizar interesses compartilhados em relação à cultura, trabalho, saúde, lazer e negócios. 
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Beneficência Portuguesa de Porto Alegre é um hospital brasileiro fundado porportugueses e luso-brasileiros, localizado na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. Tendo sido fundado na segunda metade do século XIX, principalmente como forma de homenagear e prantear Dona Maria IIRainha de Portugal, que havia falecido. Para além disso, Dona Maria II era irmã do então imperador do BrasilDom Pedro II. Neste clima emocional a imprensa começou a instigar a comunidade portuguesa da cidade para que se criasse, a exemplo de outros locais, uma entidade assistencialista própria, o que alguns anos depois se realizaria.
Os imigrantes que chegavam se mantinham em contato com Portugal mas, com o tempo, foram se integrando ao Brasil. O contato com a terra natal acabou por se perder a medida que se tornavam mais tênues os laços e a mobilidade interna aumentava. Assim, a partir da década de 1950, a perda da identidade portuguesa foi aumentando e a integração no novo país foi se fortalecendo. 
Quantos brasileiros possuem ascendência portuguesa?
Não existem números concretos sobre o número de brasileiros com ascendência portuguesa. Dada a antiguidade da imigração portuguesa para o Brasil - remontante ao século XVI -, seria impossível obter um número exato. Muitos brasileiros de origem portuguesa desconhecem suas origens pelo fato de estarem enraizados no Brasil há gerações e se consideram apenas como sendo brasileiros. Órgãos oficiais estimam, no entanto, que a população luso-descendente direta no Brasil orbita em torno de 5 milhões de pessoas (portugueses que vieram para o Brasil recentemente).101
Em 1872, havia no Brasil 3,7 milhões de pessoas brancas. Por fatores históricos, quase a totalidade dessa população era de origem portuguesa, tendo em vista que a imigração maciça de outros cidadãos europeus para o Brasil (italianos, principalmente) só começou após o ano de 1875. A população parda (ou seja, mestiça de português comafricano e índio) era de 4,1 milhões de pessoas e os negros totalizavam 1,9 milhões. Desta forma, viviam no Brasil, na década de 1870, 80% de pessoas com alguma ascendência portuguesa, entre portugueses, luso-brasileiros e mestiços.
No século XIX e por grande parte do século XX, uma nova onda de imigrantes portugueses chegou ao Brasil. Entre 1881 e 1991, mais de 1,5 milhão de pessoas imigraram de Portugal para o Brasil. Em 1906, por exemplo, viviam 133.393 portugueses na cidade do Rio de Janeiro, compondo 16% da população. O Rio é, ainda hoje, considerada a "maior cidade portuguesa" fora de Portugal.
Estudos genéticos também confirmam a forte influência racial portuguesa nos brasileiros. De acordo com uma pesquisa, pelo menos metade de todos oscromossomos Y da população brasileira é oriunda de portugueses. Os negros brasileiros possuem, em média, 48% de genes não-africanos, provavelmente oriundos de antepassados vindos de Portugal.

Em pesquisa de 1998 realizada pelo sociólogo Simon Schwartzman, apenas 10,46% dos brasileiros entrevistados disseram que a sua ancestralidade era portuguesa. Como constatou o historiador Sérgio Luiz Ferreira em seu trabalho sobre os açorianos do litoral de Santa Catarina, com o passar das gerações os descendentes de portugueses no Brasil apagam da memória as suas origens, sendo uma das características do povo brasileiro não saber de onde vieram seus antepassados. 

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