Origem:
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Herrmann Rudolf Wendroth: Mapa da
Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1852.
A história do Rio Grande do Sul, o
estado mais ao sul do Brasil, inicia-se com a chegada do homem à
região, cerca de 12 mil anos atrás. Suas mudanças mais dramáticas, no entanto,
ocorreram nos últimos cinco séculos, depois do descobrimento do Brasil. Esse percurso mais
recente transcorreu em meio a diversos conflitos armados externos e internos,
alguns de grande violência. Guilhermino César dizia, justificadamente,
que essa história "é um dos
capítulos mais recentes da história brasileira", pois quando
no Nordeste já se cantavam missas polifônicas,
este estado ainda era ocupado por um punhado de povoados e estâncias de
gado portuguesas no centro-litoral, e o sul-sudeste era uma "terra de
ninguém" onde frequentemente incursionavam tropas espanholas mandadas
por Buenos Aires, defendendo os interesses da Coroa
Espanhola, proprietária legal da área nessa época. Essencialmente,
o Rio Grande do Sul, até o fim do século XVIII,
era uma região virgem habitada por povos indígenas.Os únicos focos
importantes de civilização e cultura europeias em todo o território até esta
altura eram um brilhante grupo de reduções jesuítas fundado
no noroeste, destacando-se entre elas os Sete Povos das Missões. Entretanto, sendo
de criação espanhola, até há pouco tempo as Missões eram vistas como sendo um
capítulo à parte da história do estado, tanto mais por não terem deixado
descendência cultural direta significativa. Em anos recentes, entretanto, vêm
sendo assimiladas à historiografia integrada do estado.
Na primeira
metade do século XIX, após muitos conflitos e tratados, obtendo Portugal a
posse definitiva das terras que hoje compõem o estado, expulsos os espanhóis,
desmanteladas as reduções e massacrados ou dispersos os índios, se estabeleceu
uma sociedade de matriz claramente portuguesa e uma economia baseada
principalmente no charque e no trigo, iniciando um
florescimento cultural nos maiores centros do litoral - Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. Esse
crescimento contou com a contribuição de muitos imigrantes alemães,
que desbravaram novas áreas e criaram culturas regionais significativas e
economias prósperas, bem como com a força de muitos braços escravos.
Em 1835 iniciou um dramático conflito que envolveu os gaúchos numa guerra fratricida,
a Revolução Farroupilha, de caráter
separatista e republicano. Finda a guerra a sociedade pôde se reestruturar.
No final do século o comércio se fortaleceu, chegaram imigrantes de outras
origens como italianos e judeus,
e na virada para o século XX o Rio Grande do Sul havia se tornado a terceira
maior economia do Brasil, com uma indústria em
ascensão e uma rica classe burguesa,
mas ainda era um estado dividido por sérias rivalidades políticas, e houve mais
crises sangrentas. Nessa época o Positivismo delineava
o programa de governo, criando uma dinastia de políticos herdeiros de Júlio de Castilhos que governou até os
anos 1960 e influiu em todo o Brasil, especialmente através de Getúlio
Vargas, que em sua origem fora castilhista. No período da ditadura
militar o Rio Grande do Sul enfrentou muitas dificuldades no
que diz respeito à liberdade de expressão, como enfrentou todo o país, mas o
crescimento econômico do Milagre Brasileiro propiciou investimentos
na infraestrutura. No final do ciclo, porém, o estado havia acumulado enorme
dívida pública. Nas últimas décadas o estado vem consolidando uma economia
dinâmica e diversificada, ainda que bastante ligada ao setor agropecuário, e
vem ganhando fama como tendo uma população politizada e educada. Ainda que
existam muitos desafios a serem vencidos e grandes diferenças regionais, em
geral melhorou sua qualidade de vida alcançando índices superiores à média
nacional, projetou-se culturalmente em todo o Brasil e iniciou um processo de
abertura para outros cenários em face da globalização,
enquanto que passava a prestar mais atenção às suas raízes históricas, à sua
diversidade interna, aos excluídos e minorias, e ao seu ambiente natural.
Pré-história
Fóssil de Dinodontosaurus, Acervo da UFRGS.
Árvore petrificada no Jardim Paleobotânico de Mata.
O perfil
geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que
iniciaram há cerca de 600 milhões de anos. Esse território já foi um mar, já
foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por
derrames de lava.
Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos
como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral.
Há apenas
cerca de 12 mil anos antes do
presente (AP) iniciou a ocupação humana, com a chegada de
grupos de caçadores-coletores vindos do
norte. Várias regiões da América do
Sul nesta época já haviam sido povoadas, algumas ao que parece
desde alguns milênios antes, por populações de origem asiática. A tese
predominante é que elas tenham originalmente cruzado o Estreito de Behring, no extremo norte da América do Norte, que então estava seco por
causa de uma glaciação global, migrando em seguida para o sul,
ocupando neste percurso muitos espaços ao longo de gerações.
Os pioneiros
que chegaram ao território do Rio Grande do Sul encontraram uma região bastante
diferente da que hoje vemos. Em 12 mil anos AP, a glaciação, que cobrira de
gelo toda a Patagônia e esfriara o clima global, começava a regredir,
e o clima da região, mais seco e frio do que no presente, se aquecia e
umedecia. No entanto, provavelmente a neve ainda caía na região todos os
invernos. O nível do mar subia, ao derreter o gelo glacial que se acumulara no
mundo, e inundava a planície litorânea. A vegetação local provavelmente
era esparsa, composta principalmente de savanas,
com matas apenas nas terras altas e nas margens dos rios. A fauna local também
era outra, composta de muitas espécies
gigantes, como os milodontes, gliptodontes e toxodontes.
Pontas de flecha em pedra lascada da
tradição Umbu. Museu da UFRGS.
Escultura em pedra da tradição Sambaqui,
representando um tubarão, Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e
Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ-UFPEL)
A penetração
humana deu-se aparentemente através da fronteira oeste, ao longo do rio Uruguai,
onde o estado hoje faz divisa com a Argentina e
o Uruguai.
No município de Alegrete, localizado nesta área, às
margens do rio Ibicuí, foi encontrado o sítio arqueológico com vestígios humanos
mais antigo do estado, cuja datação o situou com 12.770 anos. Esses primeiros
povos, que compartilhavam de uma mesma cultura
material, conhecida como tradição Umbu, viviam da caça e da coleta nas
planícies do pampa,
entre seus campos abertos e matas
ciliares. Eram nômades, e devem ter estabelecido acampamentos
temporários de acordo com a abundância sazonal de determinados recursos naturais,
seguindo rotas de migração de animais ou épocas de amadurecimento de vegetais
comestíveis.
Deixaram
registros relativamente pobres. Os sítios arqueológicos incluem vestígios de
assentamentos, restos de alimentação como ossos de animais e sementes, além de
adornos pessoais e artefatos líticos como pontas de flecha e
lança em pedra lascada, boleadeiras,
cortadores, raspadores e outras ferramentas. Sua cultura predominou por cerca
de 11 mil anos, ainda que exibisse adaptações regionais ao variado cenário do
território, que se compõe de diferentes tipos de ecossistemas.
Deve ser lembrado que as mudanças climáticas que a região atravessou ao longo
de milênios determinaram importantes modificações na composição da flora e da
fauna, às quais as populações humanas precisaram se adaptar, e isso se refletiu
em variações em seus costumes e culturas. Durante o ótimo climático, um
período de importante elevação nas temperaturas globais ocorrido a partir de 6
mil anos AP, esses povos passaram a colonizar as matas das serras e a subir o
planalto. Aparecem gravuras rupestres e ferramental adaptado
ao trabalho com madeira, especialmente machados bifaciais. Formava-se ali a
chamada tradição Humaitá.
Cerâmica guarani. Museu da UFRGS.
Machado em pedra polida dos
povos Jê. Museu da UFRGS.
Enquanto
isso, se completava a conquista do litoral, formando-se uma cultura específica,
a tradição Sambaqui,
adaptada à vida junto ao mar e nas planícies costeiras. São característicos
dessa tradição os depósitos de conchas, carapaças de crustáceos e restos de
peixes que lhe deram o nome, os sambaquis,
onde também são encontrados enterramentos e artefatos indicativos de sua
associação com o mar, tais como anzóis e pesos de redes. Também se encontram
indícios de práticas agrícolas rudimentares, sugerindo que eram sedentários
pelo menos em parte do ano. Outras características que os distinguem são os
assentamentos sobre colinas artificiais baixas, conhecidas como cerritos,
formadas em zonas alagadiças da planície costeira.
Por volta de
3 mil anos AP o clima esfriou novamente e se estabilizou em uma condição semelhante
à do presente, produzindo novas adaptações na vida selvagem e nas culturas
humanas que floresciam. Nas serras e no planalto, onde o clima permaneceu
relativamente frio, com nevadas e geadas frequentes, os povos da tradição
Humaitá, que colonizaram a área durante o ótimo climático, precisaram se
adaptar, aparecendo então típicos abrigos subterrâneos cobertos de palha, que
podiam se organizar em aldeias com várias unidades.
Pouco mais
tarde, coincidindo com o início da era cristã,
chega a segunda grande onda humana a atingir a região, composta de
indígenas Guaranis procedentes
da Amazônia.
Cogita-se que eles também devem ter sido impelidos à migração pelas mudanças
climáticas globais. Eles tinham uma desenvolvida cultura agrícola, domesticavam
animais e dominavam a técnica da terracota e
da pedra polida. Colonizaram os vales florestados
da depressão central, o litoral e parte das serras, evitando porém as regiões
mais altas e frias, e pouco avançaram sobre o pampa, já que preferiam climas
mais quentes e o ambiente florestal a que estavam acostumados no norte, mas sua
influência cultural foi mais ampla. Seus sítios se distinguem das outras tradições
pela forma dos assentamentos, em aldeias mais estáveis e estruturadas, e pela
abundância de artefatos em pedra polida como pontas de flecha, machados,
maceradores, e vasos em cerâmica de
diferentes formatos e decoração, técnicas que se observa doravante aparecer nos
sítios de outros grupos. A sua influência também se revelou na expansão da
agricultura.
Outro grupo
a descer do norte junto com os guaranis foi o dos Jês,
de cultura similarmente desenvolvida, deixando uma marca maior no planalto,
onde primeiro influenciaram os povos da tradição Humaitá e logo os
suplantaram. Mas quando o Brasil foi "descoberto", em 1500,
quase todos os índios do estado, que somavam de 100 mil a 150 mil na estimativa
dos estudiosos, já eram Guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos
afetados por essa invasão foram os Jês do planalto médio, e os Charruas e Minuanos,
do pampa.
Início da colonização europeia
O território
que hoje constitui o Rio Grande do Sul já constava nos mapas portugueses, sob o
nome de Capitania d'El-Rei, desde o século XVI. A
despeito do Tratado de Tordesilhas, que definia o fim
das terras portuguesas na altura de Laguna, Portugal ansiava por estender seus
domínios até a foz do Rio da Prata. No século XVII, bandeirantes de São Paulo já percorriam a área em busca de
tesouros e para escravizar os índios. Nesse espírito, ignorando os tratados, em
17 de julho de 1676, através de Carta Régia,
Portugal delimitou duas capitanias no sul que, em conjunto, se estendiam de
Laguna até o Rio da Prata, doadas ao Visconde de Asseca e a João Correia de Sá. Em 22 de novembro de
1676, a bula papal Romani Pontificis Pastoralis Solicitudo veio fortalecer as
pretensões portuguesas, pois ao criar o bispado do Rio de Janeiro,
estabelecia como seus limites desde a costa e sertão da Capitania do Espírito Santo até o Rio
da Prata. Logo em seguida, a Coroa Portuguesa passou a cogitar seriamente a
ocupação das terras do sul, legalmente espanholas.
Ocupação do
litoral
Uma primeira
expedição de conquista, organizada em 1677, malogrou. Outra, de 1680, sob
comando de Dom Manuel Lobo, conseguiu tocar o Prata em janeiro
do ano seguinte, fundando a Colônia do Sacramento, com um presídio e
os primeiros abrigos para os colonos. A Espanha, nesta altura fragilizada por
guerras contra a França, apesar de atacar a colônia, não esboçou uma reação
mais séria à expansão portuguesa e, em 1681, estabeleceu-se o Tratado Provisional, delimitando novas fronteiras
na região e reconhecendo a soberania portuguesa sobre a margem esquerda do Rio
da Prata.
Matriz de
Viamão (1766 - 1769), uma das mais antigas igrejas do estado.
Com o
incentivo do estabelecimento deste posto avançado, os portugueses passaram a se
interessar pela ocupação das terras intermediárias entre o Sacramento e a Capitania de São Vicente. O General João Borges Fortes, em sua obra "Rio
Grande de São Pedro", observou que ao bandeirante Francisco de Brito Peixoto deve-se o
pioneirismo na ocupação das terras que ficam entre Laguna e Colônia do Sacramento, dando início à
presença luso-brasileira no Rio Grande do Sul:
"Estudando-se
o processo de povoamento do Rio Grande do Sul a primeira figura com que se
depara é a de Francisco de Brito Peixoto, que foi o pioneiro da conquista
pacífica das terras que se interpõem entre a Laguna e a Colônia do Sacramento,
ao longo da trilha litorânea. Fundador, com seu pai, Domingos de Brito Peixoto, da povoação
da Laguna,
levou Francisco as suas aventuras e descobertas pelo território a dentro [...]
na procura de jazidas auríferas ou de prata, quer descendo para o Sul, até o
grande estuário do Prata, na captura de gados e cavalos, perlustrando nessas
investidas terras que, sob o domínio dos índios e jesuítas pertenciam de fato à
soberania castelhana. Se essa soberania era exercida de fato, não era
reconhecida de direito pela corte portuguesa que reivindicava para Portugal,
com a existência da Colônia do Sacramento, o domínio senhorial da margem norte
do Rio da Prata".
A partir
daí, colonos procedentes de Laguna dirigiram-se ao Rio Grande, ocupando as regiões do
Viamão. Em 1732, são concedidas as primeiras sesmarias. Em 1737, uma
expedição militar portuguesa, comandada pelo brigadeiro José da Silva Pais, foi incumbida de prestar
socorro à colônia, tomar Montevidéu e
levantar um forte em Maldonado. Fracassada esta última empresa, o
brigadeiro decidiu instalar uma povoação mais ao norte, livre das constantes
disputas entre portugueses e espanhóis. Destarte, navegou até a barra da Lagoa dos
Patos, erroneamente tomada como um rio, o "Rio Grande", e
ali chegando em 19 de fevereiro de 1737, fundou um presídio e
ergueu o Forte Jesus, Maria e José,
constituindo a origem da cidade do Rio Grande, primeiro
centro de governo da região. O local era um ponto estratégico para a defesa do
território, estando a meio caminho entre Laguna e
a Colônia do Sacramento. As primeiras famílias colonizadoras chegariam ali
ainda neste ano, mas o trecho entre Rio Grande e Tramandaí e
os campos da região de Vacaria, na serra do nordeste, também estavam sendo povoados
independentemente, situação facilitada pela extensão, pelos tropeiros,
da Estrada Real que vinha de São Paulo até
os Campos de
Viamão, sendo que já em 1734 se contavam grandes estâncias de gado
na área, se lançavam as sementes das primeiras urbanizações e os estancieiros
começavam a solicitar a concessão de sesmarias.
A partir de 1748 começaram a chegar ao estado famílias açorianas,
enviadas pela Coroa Portuguesa, para colonizá-lo. Instalaram-se primeiro em Rio
Grande, e depois outras se fixaram na região da futura Porto Alegre,
então ainda um diminuto povoado erguido junto ao porto de Viamão. Partindo
dali, outros grupos avançaram pelos vales dos rios Taquari e Jacuí.
Primeira
ocupação europeia do interior
Acervo de
estatuária missioneira no Museu das Missões.
Entrementes,
na parte noroeste do estado, os jesuítas espanhóis,
ligados à Província Jesuítica do Paraguai,
haviam estabelecido desde 1626 numerosos aldeamentos muito organizados,
reunindo grande população indígena, as reduções,
fundadas na região noroeste próximo ao Rio Uruguai e
penetrando pela depressão central até quase Porto Alegre. Sete delas ficariam
sendo conhecidas como os Sete Povos das Missões, cujo
extraordinário florescimento incluía refinadas expressões de arte nos moldes
europeus. Os padres construíram uma civilização à parte dos conflitos que
agitavam o litoral, e deixaram muitos registros sobre os povos indígenas, sobre
a geografia, a fauna e
a flora da
região, mas suas missões acabaram por ser varridas do mapa, e sua contribuição
mais direta para a história do estado luso que se formou se resumiu à
introdução do gado, ao desenvolvimento de técnicas de pastoreio que mais tarde
seriam assimiladas pelos portugueses, e à criação de uma mitologia própria
sobre a cultura missioneira, que hoje vem ganhando crescente prestígio no
discurso oficial. Deixaram também extraordinário legado escultórico e
arquitetônico, que se não fossem as pilhagens e depredações que sofreu no
século XIX, muito maior e melhor conservado seria, documentando a opulência de
suas igrejas e a sofisticação dos aldeamentos.
No século
XVIII um novo acordo entre as coroas ibéricas, o Tratado de Madrid, haveria de mudar mais
uma vez as fronteiras. Através deste tratado, firmado em 13 de janeiro de 1750,
estabeleceu-se a permuta da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos, cujas
populações indígenas seriam transferidas para a área espanhola além do rio
Uruguai. A demarcação das novas fronteiras e a mudança dos povos aldeados não
transcorreram sem dificuldades. Os jesuítas e os índios protestaram,
esperava-se confronto, e o Marquês de Pombal ordenou que o legado
português, o capitão-general Gomes Freire
de Andrade, não entregasse Sacramento sem que antes tivesse recebido
os Sete Povos. A situação se agravou e o conflito esperado eclodiu em Rio Pardo,
originando a chamada Guerra Guaranítica, que dizimaria grande número
de índios e dissolveria as Missões, mas no episódio despontou a figura
legendária do líder indígena Sepé Tiaraju,
hoje considerado um herói do estado e um mártir da causa dos índios.
Depois da
Guerra Guaranítica, Portugal decidiu prestar mais atenção à capitania, que por
esta altura contava com pouco mais de sete mil habitantes, distribuídos em
cerca de 400 estâncias e poucos povoados e arraiais. Desvinculou-a de Santa
Catarina e a ligou diretamente à sede carioca, nomeando um governador civil em
vez de um comandante militar. Em 1760 o governador espanhol em Buenos Aires, Don Pedro de
Cevallos, começou a intimar os portugueses a abandonarem todas as
terras ocupadas ilegalmente. Diante da ausência de resposta, em 1763 atacou e
conquistou Rio Grande, causando a fuga em massa dos populares e obrigando a
mudança às pressas da capital portuguesa para Viamão. Agora o território
português se resumia a uma estreita faixa entre o litoral e o vale do rio
Jacuí. Em 1773 a capital foi transferida de Viamão para Porto Alegre, em vista
de sua situação geográfica privilegiada. Em 1776 a vila de Rio Grande foi
retomada. Um outro tratado, o de Santo Ildefonso, de 1777,
mais uma vez retificaria as fronteiras e estabeleceria desta vez como posse
espanhola tanto Sacramento como os Sete Povos. No final do século já existiam
cerca de 500 estâncias em atividade.
O modelo estancieiro e a formação do "gaúcho”
Um gaúcho
retratado por Debret no
início do século XIX.
Com a paz de
Santo Ildefonso se intensificou a concessão de sesmarias aos que se haviam
destacado na guerra, e esta classe de militares, agora donos de terras, foi a
origem da aristocracia pastoril gaúcha, consolidando o regime das estâncias
como uma das bases econômicas da região, mas dando margem também a uma grande
quantidade de abusos de poder, que tinham seu fundamento na realidade de um
grupo que se experimentara a ferro e fogo, mas para quem o senso de justiça,
lei e humanidade estava morto. Os próprios administradores régios davam péssimo
exemplo, enriquecendo à custa da província e acumulando vastas extensões de
terras. Cada grande sesmeiro era como um poderoso senhor feudal que
só atendia aos seus interesses e os impunha pela força. Repetidas vezes as
queixas chegaram à Coroa, mas sempre com pouco resultado. A vida na estância
era precária em todos os sentidos. Somente os senhores podiam ter algum luxo
numa casa grande, que mais se parecia a uma fortificação, com paredes grossas e
grades nas janelas. Em torno dela se agrupavam a senzala e
famílias livres, que vinham em busca de proteção e recebiam uma porção de terra
em troca de um compromisso de fidelidade servil para com o proprietário,
produzindo alimentos e bens manufaturados para seu sustento próprio mas
sobretudo para o patrão. A habitação desses agregados era um sumário casebre de
barro coberto de palha, despojado de todo conforto. Um relato de época,
deixado por Felix Azara, descreve o ambiente:
"Possuem um barril para a água, uma guampa para o leite e um
espeto para assar a carne. A mobília não vai além de umas três peças. As
mulheres andam descalças, sujas e andrajosas. Seus filhos se criam vendo
somente rios, desertos, homens vagos correndo atrás das feras e touros,
matando-se friamente como se degolassem uma vaca".
Mas esse
cenário nem sempre foi assim tão desumano. Muitas estâncias produziam uma
variedade considerável de produtos agrícolas e de uma indústria primitiva,
tornando a propriedade autossuficiente e as condições gerais um pouco melhores.
Havia momentos de entretenimento nos bolichos, pequenas casas de comércio, bebida e encontro social
masculino de beira de estrada, e as festas religiosas na capela local
congregavam toda a pequena comunidade e atraíam grupos de outras estâncias.
Nesses encontros começou a se formar o folclore do
Rio Grande do Sul, na contação de causos (relatos
de façanhas e fatos extraordinários) em torno do fogo, nas carreiras de
cavalos, na troca de experiências sobre a vida campeira, na absorção e
transformação dos mitos indígenas locais.
Wendroth:
Típica propriedade rural da região central do RS em meados do século XIX.
O empregado
da estância foi, assim, um dos formadores da figura prototípica do gaúcho,
uma figura que na verdade foi "construída" pela intelectualidade
local no século XX, mas que hoje é a inspiradora de parte importante da cultura
do estado e do seu senso de identidade. Outra parte do caráter total dessa
entidade abstrata, uma parte que diz respeito à insubmissão e liberdade, foi
emprestada do povo errante de homens sem lei, formado por índios evadidos das
missões, contrabandistas, caçadores de couros, aventureiros, escravos e
bandidos foragidos, que percorriam em predação os campos de gado livre.
Diversos nomes se deram a essa população, entre eles faeneros, corambreros, índios vagos,
gaudérios, guascas e gaúchos.
Viviam em bandos por conta própria, comendo carne e bebendo mate e aguardente,
vestidos de uma indumentária simples e adaptada à vida constante sobre um
cavalo, enfrentando dias de intenso frio nos invernos, tendo de dormir via de
regra a céu aberto. Eram sempre um perigo para os estancieiros, especialmente
os mais pobres, e constantemente se envolviam em rusgas com os espanhóis na
fronteira. Suas relações com os oficiais do reino eram ambíguas. Por um lado
competiam na presa do gado solto, mas também podiam ser contratados para
fazerem o mesmo serviço para um senhor ou prestar tarefas militares junto a um
destacamento oficial. Em 1803 seu número chegava a quatro mil, numa população
total de 30 mil habitantes.
Até então o
interesse dos colonizadores pelo gado se resumia ao couro, que era de grande
importância na vida cotidiana da colônia. A carne era apenas para uso familiar,
e todo o excedente era desprezado. Calcula-se que o rebanho livre tenha chegado
a cerca de 48 milhões de reses e um milhão de cavalos. Depois de 1780 o gado
livre começou a rarear, mas então se abriu um novo e amplo mercado para a carne
que era descartada, iniciando a cultura das charqueadas, cujo produto
seguia para o Nordeste a fim de alimentar os
escravos dos engenhos de açúcar.
Século XIX
Wendroth:
Tipos humanos característicos do Rio Grande em meados do século XIX
Prefeitura
de Triunfo, com sua arquitetura colonial portuguesa
Após a Guerra de
1801, um novo acordo, o Tratado de Badajoz, redefiniria o traçado
das fronteiras do estado entregando as Missões para Portugal, permanecendo
Sacramento com a Espanha. Assim se iniciava um período de organização
administrativa, social e econômica. Nos poucos centros urbanos, como Porto
Alegre, Rio Grande, Viamão, Pelotas e Rio Pardo,
a sociedade começava a se estruturar. Um inglês, J. G. Semple Lisle, visitando Rio Grande
nessa época, deixou um testemunho muito favorável sobre o bom acolhimento que
teve e as maneiras prestativas do povo, cuja hospitalidade "excede tudo o que vi em outras partes
do mundo.... Poderia encher um volume com a narração dos atos de bondade com
que fomos cumulados".
Porto Alegre
tinha cerca de quatro mil habitantes e sua vida como capital começava a se
definir claramente, além de crescer como força econômica, assumindo a posição
de maior mercado do sul. Seu comércio se
fortalecia com a atividade crescente do porto, localizado na confluência das
duas principais rotas de navegação interna, e já havia espaço para a abertura
da sua primeira Casa de Ópera, na verdade um barracão de pau-a-pique,
mas que indicava o esboço de um interesse cultural mais sofisticado. Enquanto
isso, Pelotas se firmava como maior centro da produção de charque e através
dele nascia uma aristocracia urbana, embora fosse se
individualizar de Rio Grande apenas em 1812, tornando-se Freguesia de São
Francisco de Paula (recebendo o nome Pelotas algumas décadas depois). Em 19 de
setembro de 1807 a Capitania ganhou sua autonomia e em 1809 foi elevada a
Capitania Geral, composta por apenas quatro municípios: Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha, Rio Grande e
Rio Pardo, que dividiam entre si toda a extensão do estado.
A paz durou
pouco. Em 1811 o estado já se via envolvido em nova disputa internacional, agora
despertada pela revolução iniciada por Artigas em
Buenos Aires e que pretendia unificar todos os estados do Prata. Montevidéu resistiu
e pediu ajuda ao príncipe regente Dom João,
e este enviou tropas gaúchas para combater, sob o comando de Dom Diogo de Souza, o
chamado Exército Pacificador.
Na esteira do avanço militar pelo pampa, fundaram-se cidades como Bagé e Alegrete. Retirou-se o exército pouco
depois, em função da assinatura de um armistício,
apenas para ser substituído em 1816 por um batalhão ainda maior vindo de
Portugal, composto por veteranos das guerras européias, a fim de rechaçar
a invasão das Missões por Artigas. As lutas
terminaram com a anexação da Banda
Oriental, o atual Uruguai, ao Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves sob o nome de Província Cisplatina, que na prática se
tornou uma extensão do Rio Grande.
Em 1822, com
a Independência do Brasil, a Capitania se
tornou uma Província, foi constituída a primeira Assembléia eleita, e recebeu
seu primeiro governante civil, José Feliciano Fernandes Pinheiro,
autor também da primeira história geral do estado, os Anais da Província de São Pedro.
Nesta altura a população total chegava a cerca de 90 mil almas. Pelo interior
os povoados se multiplicavam, aparecendo Jaguarão, Passo Fundo, Cruz Alta, Triunfo, Taquari, Santa Maria. Na
capital viviam cerca de 12 mil pessoas. Auguste de Saint-Hilaire, visitando na
década de 1820, considerou-a bela, com um comércio variado, muitas oficinas e
casas de dois andares, com um povo formoso e vigoroso, mas deplorou a sujeira
das ruas. Sobre a administração da Província sua opinião foi claramente
condenatória:
"Os abusos atingiram o cúmulo, ou melhor, tudo era abuso. Os
diversos poderes confundiam-se e tudo era decidido pelo dinheiro e pelos
favores. O clero era a vergonha para a Igreja Católica. A magistratura, sem
probidade e sem honra.... Os empregos multiplicavam-se ao infinito, as rendas
do Estado eram dissipadas pelos empregados e pelos afilhados, as tropas não
recebiam seus soldos; os impostos eram ridiculamente repartidos; todos os
empregados desperdiçavam os bens públicos, o despotismo dos subalternos chegou
ao cúmulo, em tudo o arbítrio e a fraqueza andam a par da violência".
Arquitetura
alemã de enxaimel em Nova Petrópolis
O ano de
1824 foi marcado pelo início da colonização alemã no estado,
uma iniciativa do governo imperial para povoamento do sul, que visava
dignificar o trabalho manual, formar uma classe média independente
dos latifundiários, engrossar as forças de defesa
do território e dinamizar o abastecimento das cidades.[9] Integrava
a política imigratória do governo, também, o desejo de "branquear" a
população brasileira, até então majoritariamente negra e mestiça, e por isso a
escolha de alemães. Isso se repetiria no fim do século, com o incentivo à
imigração de italianos, ibéricos e eslavos.
Chegando em
Porto Alegre, os imigrantes aguardavam até a definição de suas terras e a
concessão de provisões iniciais. Nesta cidade grupos remanescentes deram origem
ao bairro Navegantes. O grosso do contingente, porém, seguiu para a
região ao norte da capital, concentrando-se em torno do rio dos Sinos,
formando os núcleos iniciais de cidades como Novo Hamburgo e São Leopoldo e
desbravando as matas em torno para instalação de propriedades rurais. As levas
de imigrantes germânicos continuariam a chegar ao longo de todo o século XIX,
totalizando mais de 40 mil indivíduos, e os centros de povoamento que eles
fundaram desenvolveram economias prósperas e culturas regionais características.
As guerras,
porém, continuavam. O estado foi a base de operações durante a Guerra
Cisplatina, que eclodiu em 1825 pretendendo recuperar o território
da Província Cisplatina para as Províncias Unidas do Rio da Prata,
havendo em território gaúcho algumas escaramuças e um grande confronto, a Batalha do Passo do Rosário, tida como a
maior batalha campal já ocorrida no Brasil. Fructuoso
Rivera chegou a reconquistar para as Províncias Unidas os Sete
Povos das Missões, mas com a assinatura da Convenção Preliminar de Paz, em 1828, as
Missões foram devolvidas — não sem antes serem pilhadas pelo exército em
retirada, que carregou 60 carretas com objetos preciosos e obras de arte. O
Brasil acabou por entregar a Cisplatina por força do Tratado do Rio de Janeiro,
que criou a República Oriental do Uruguai.
Depois
disso, as Missões, que já não estavam em boas condições desde a expulsão dos
jesuítas, entraram em rápida decadência e sua população se dispersou. Perdendo
suas referências, muitos índios se entregaram à bebida e ao crime, ou foram
incorporados à força nas milícias brasileiras e platinas, enquanto mulheres se
entregavam à prostituição. Outros se ocuparam nas estâncias de gado, virando
peões e assumindo as lides campeiras, encontrando aqui um estilo de vida um pouco
mais afim do que levava antigamente e contribuindo para a mitologia do "gaúcho".[20] Mas
sua situação em geral era precária, considerados párias irrecuperáveis,
e um viajante, notando o abandono em que estavam decaídos, os descreveu como
"um bagaço de gente".
Revolução
Farroupilha
Em 1835,
iniciou-se a Revolução Farroupilha, um dos mais dramáticos e sangrentos
episódios da história gaúcha, que durou dez anos e no qual morreram de 3 a 5
mil pessoas. A revolta eclodiu como consequência do declínio na economia
estadual, devido à sobretaxa do charque, então base da economia gaúcha, além do
excesso de outros impostos, da ineficiência do governo da Província, e das
sucessivas perdas agrícolas por pragas naturais e calote oficial. Com a
crescente insatisfação contra o governo imperial, culpado por gaúchos de fazer
uma política nefasta ao estado, rebeldes em Porto Alegre expulsaram o
presidente da Província da capital em 20 de setembro de 1835, tomando a cidade
posteriormente. Assim, o movimento adquiriu caráter separatista e republicana,
que acarretou a reação do governo imperial. Em pouco tempo, Porto Alegre foi
recapturada; as forças interioranas, contudo, continuaram a opor-se ao império
brasileiro. A guerra acabou em 1845, com as forças gaúchas sob o comando
do Visconde de Caxias, quando ambos os lados
assinaram a Paz do Poncho Verde. Esse tratado previa a
anistia geral aos revoltosos, pagamento de indenizações aos chefes militares, e
libertação dos escravos sobreviventes que haviam lutado na guerra.
Um dos
canhões usados pelos Farroupilhas. Acervo do Museu Júlio de Castilhos.
Theatro São
Pedro.
Em
determinado momento esta revolta, que resultou na proclamação da efêmera República Rio-Grandense e
que conseguiu dominar cerca de metade do estado, propagando-se até Santa Catarina, mobilizou dois terços da força
militar nacional, enviada para suprimi-la. Nesse intervalo de tempo, a economia
da província, já fragilizada, entrou em colapso. Mesmo havendo decretado
medidas para melhoria no setor produtivo, os revolucionários nunca conseguiram
organizar de fato a administração da sua nova República; depois da guerra, os
governantes imperiais também não tiveram êxito administrativo, sucedendo-se 19
deles em apenas dez anos. Apesar da derrota final dos farroupilhas, a
guerra serviu para acentuar o espírito regionalista; com a consolidação do
poder dos estancieiros, foi alterado o equilíbrio de forças nas relações do Rio
Grande do Sul com o Império, fazendo com que a guerra se tornasse um símbolo de
identidade na construção da memória do estado.
Crescimento
e novos conflitos
Ainda que
gravemente traumatizado pela guerra, com suas perdas humanas e materiais e suas
rupturas nas redes de confiança mútua que cimentam a vida em sociedade, a
recuperação do estado foi bastante rápida. A situação nacional era favorável. O
governo de Dom Pedro II pela primeira vez trabalhava
em superávit,
e o monarca desejava pacificar os ânimos locais. Com a restauração das
instituições incentivou-se a instalação de Câmaras em várias cidades e a
administração da justiça se normalizou. As maiores urbanizações receberam
verbas para melhorar a infraestrutura e os serviços públicos, a lagoa dos Patos
foi sinalizada, se formaram várias associações de comerciantes e produtores,
novas levas de imigrantes alemães foram chegando, a mineração do carvão se
desenvolvia e já se pensava em estradas de ferro para escoar a produção
estadual e circular pessoas. Em 1851 o estado recebeu um desenho muito próximo
do atual, com a retificação das fronteiras com a República do Uruguai. Em 1854
já havia condições de se fundar o primeiro banco regional,
o Banco da Província.
A
repercussão cultural desse surto de progresso também foi significativa. Em 1858
Porto Alegre inaugurava uma grande casa de ópera, o Theatro São Pedro,
decorado com grande riqueza. Os saraus literários se
tornavam uma moda, e na capital se fundava em 1868 a Sociedade Parthenon Litterario,
reunindo a nata da intelectualidade gaúcha. Nesse círculo brilharam os
primeiros literatos, educadores, políticos, doutores, artistas e poetas de
vulto do estado, como Luciana de
Abreu, Caldre e Fião, Múcio Teixeira, Apolinário Porto Alegre, Carlos von Koseritz e vários outros.
A instalação
dos novos imigrantes alemães, que continuavam a chegar, porém, se fazia com
mais dificuldade. Mudanças nas leis estaduais tornaram a aquisição de terra
onerosa para os colonos e impuseram uma hipoteca compulsória
sobre as terras até sua quitação, e iniciativas privadas de atração de novos
alemães nem sempre foram coroadas de sucesso. Também se registraram confrontos
sangrentos com remanescentes dos povos indígenas nas áreas desbravadas, e
eventos de violência entre os próprios alemães, como a Revolta dos Muckers, de caráter messiânico.
Mesmo assim, a colonização como um todo prosperou, trouxe as culturas da batata,
dos cítricos,
do fumo,
introduziu a cerveja, promoveu a industrialização, o artesanato,
a educação privada e a policultura, e fundou uma série de outras
cidades, como Estrela, São Gabriel, Taquara, Teutônia e Santa Cruz do
Sul, que logo veio a ser o maior pólo produtor de fumo. Além disso
os alemães logo se organizaram em sociedades culturais onde se praticava música
erudita e se encenavam peças de teatro,
e se notabilizaram por sua luta pela liberdade religiosa e pela abolição da
escravatura.
Em 1864,
nova guerra. Desta feita contra o Paraguai.
O Brasil fora invadido por Solano Lopez e
o estado enviou mais de dez mil homens para a frente de batalha. A Guerra do Paraguai afetou diretamente
apenas três cidades gaúchas: São Borja, Itaqui e Uruguaiana,
que foram atacadas várias vezes, mas depois de um ano o conflito direto se
moveu para outros locais, e o estado como um todo foi relativamente pouco
abalado. Mas graças à atuação destacada do gaúcho General
Osório no conflito, o prestígio do estado cresceu
sensivelmente. Ele foi um dos fundadores do Partido Liberal no
estado, que iniciou a partir de 1872 uma marcha ascendente até enfim dominar a
situação política gaúcha. Com sua morte abriu-se espaço para outra
personalidade brilhante, o de início liberal mas depois monarquista Gaspar da Silveira Martins, criador do
jornal A Reforma e
ocupante de vários cargos públicos, incluindo o de Presidente da Província. Ele
seria chamado de "o dono do Rio Grande", tal sua influência.
Propriedade
rural italiana na região de Caxias do Sul, fim do século XIX.
A partir de
1874 o trem já
circulava entre a capital e São Leopoldo, dando a partida para a modernização
dos meios de transporte no Rio Grande do Sul. O
ano de 1875 também assinala a chegada das primeiras levas de imigrantes italianos,
em novo projeto oficial de colonização, a serem instalados na Serra do
Nordeste, ao norte da área ocupada pelos alemães. Antecedendo a
ocupação italiana da área, os índios caingangues que
a habitavam foram submetidos a novo genocídio pelos
chamados "bugreiros", pistoleiros contratados especialmente para
"abrir espaço" para os imigrantes.
Apesar das
previsíveis dificuldades de ocupação de uma região ainda totalmente virgem, e
do limitado apoio governamental aos colonos, o empreendimento foi exitoso, e
até o final do século chegariam ao estado cerca de 84 mil italianos, além de
grupos menores de judeus, polacos, austríacos e
outras etnias.
Através dessa nova onda imigratória se fundaram cidades como Caxias do Sul, Antônio Prado, Nova Pádua, Bento Gonçalves, Nova Trento e Garibaldi,
e se introduziram produções novas como a uva, os embutidos e
o vinho.
Como acontecera com os alemães, criou-se na região uma cultura muito próspera e
muito característica, até com dialeto,
hábitos e arquitetura próprios. O estado atravessava
uma fase de real florescimento, já havia cerca de 100 tipos de indústrias em
atividade, que evoluíram a partir de artesanatos e manufaturas,
e em 1875 a sociedade se sentiu capaz de exibir publicamente o resultado de seu
esforço numa primeira exposição geral, montada no Arsenal de Guerra de Porto
Alegre. No catálogo da mostra constavam 558 produtos, desde roupas, maquinário
pesado e instrumentos de precisão até relógios e obras de arte. O evento foi um
sucesso absoluto, saudado como "um festim do trabalho" pela imprensa da
época.
Solar
do Barão de Três Serros, em Pelotas, hoje
o Museu da Baronesa.
Um dos
primeiros grupos de negros libertos em Porto Alegre, c. 1884.
Aparício e Gumercindo Saraiva, líderes da Revolução
Federalista, aparecem nesta foto, sentados, no centro
Mesmo com o
crescimento de várias cidades, principalmente Porto Alegre, Pelotas passou a
ocupar a posição de predomínio econômico no estado, quando o ciclo do charque
entrava em seu apogeu. Cerca de 300 mil reses eram abatidas anualmente nas
charqueadas da região, gerando grandes lucros para a elite local. O charque se
transformava em pinturas, louças finas, roupas da última moda francesa,
cristais, móveis de luxo, casas elegantes. Nos jornais os cronistas se
orgulhavam de em sua cidade nem um único edifício público ter sido pago pelo
governo estadual, sendo tudo financiado pelos locais. Em visita à cidade,
o Conde D'Eu observou: "É Pelotas a cidade predileta do que eu
chamo de aristocracia rio-grandense. Aqui é que o estancieiro, o gaúcho cansado
de criar bois e domar cavalos no interior da Campanha, vem gozar as onças e os
patacões que ajuntou em tal mister".
Enquanto
esse ciclo econômico continuava, na política a situação começava a mudar. Em
1881 voltou à sua terra natal um grupo de jovens liderado por Júlio de Castilhos, depois de temporada de
estudos em São Paulo, onde entraram em contato com ativos intelectuais e com a
filosofia positivista. A campanha abolicionista ganhava
as ruas e Castilhos assumiu imediatamente a dianteira do movimento, ao mesmo
tempo em que criava um Partido Republicano diferenciado,
o Partido Republicano Rio-grandense (PRR),
inspirado no Positivismo, cujo porta-voz foi o influente
jornal A Federação.
A partir de 1884, por iniciativa do Centro Abolicionista do Parthenon
Literário, contando com a decisiva mobilização do PRR, outros partidos e
grandes segmentos da sociedade, consegui-se iniciar um processo de libertação
dos cerca de oito mil escravos do estado, quatro anos antes da proclamação
da Lei Áurea.
Os libertos, contudo, não encontrariam facilmente uma colocação no mercado de
trabalho, reunindo-se em guetos e vilas, sofrendo privações e discriminações de
toda ordem, e obtendo apenas tarefas de baixa remuneração.
Na alvorada
da República Júlio de
Castilhos assumiu a secretaria do governo e em seguida participou no Rio da
elaboração da nova Constituição. Voltando ao estado em 1891, passou a trabalhar
na Constituição Estadual. Aprovada em 14 de julho, no mesmo dia se realizou a
primeira eleição para uma Presidência constitucional, saindo-se Castilhos
vencedor com 100% dos votos. Mas as rivalidades políticas se acirraram a um
ponto sem retorno. O Partido Federalista (antigo
Partido Liberal) lutava pela centralização e o parlamentarismo;
o Partido Republicano, pelo sistema presidencialista e
pela autonomia provincial. Depois de várias mudanças de governo deflagrou-se
uma nova guerra civil em 1893, a Revolução Federalista, liderada por Silveira Martins, antigo adversário de
Castilhos, que estava de novo no poder. Se na Revolução Farroupilha ainda se
viram cenas de nobreza, honra e altruísmo, ao longo da Revolução Federalista
generalizou-se a crueldade e a vilania. Décio Freitas diz
que foi a mais violenta das guerras civis em toda a América
Latina, e outros que escreveram sobre ela não cessam de reiterar
expressões de horror. Durou mais de dois anos e ceifou mais de dez mil vidas,
imprimindo uma nódoa de ódio fratricida que até hoje envergonha a memória do
estado.
Com a
derrota dos rebeldes em 1895, Júlio de Castilhos concentrou em si o controle
absoluto do estado. A oposição se viu completamente desarticulada e os
principais líderes dos revoltosos ou estavam mortos ou partiram para o exílio,
acompanhados por cerca de 10 mil correligionários. Então se iniciou uma longa
dinastia política que iria governar o estado por décadas, e influenciaria todo
o Brasil através de um de seus discípulos, Getúlio
Vargas. Castilhos controlava toda a máquina administrativa estadual
através de uma rede de subordinados fiéis, interferindo diretamente na vida dos
municípios. Adepto entusiasta do Positivismo, orientou sua administração por
suas ideias de ordem, moralidade, civilização e progresso, mas dava pouco valor
à opinião popular, como se revela no seu desprezo do voto, sendo repetidamente
acusado de fraudar as eleições.
Por seu círculo ele era visto como um iluminado, e mesmo exercendo um
poder ditatorial,
relevou antigas ofensas e não perseguiu seus desafetos, nem obstruiu o trabalho
da imprensa,
permitindo considerável liberdade de expressão. Seu carisma pessoal
era forte e seu governo chegou a ser elogiado até por seus oponentes,
como Venceslau Escobar, que admirou-se de sua
"largueza de descortino, realizando e projetando medidas
progressistas". De fato, com ele o estado entrou definitivamente na
modernidade, atualizando uma herança administrativa colonial obsoleta que até
então fora baseada mais no improviso. Sua primeira preocupação foi reorganizar
a justiça, os transportes e as comunicações. Apoiou os imigrantes e fomentou o
desenvolvimento do interior. Em 1898, deixou o governo assegurando a
continuidade do seu programa através da eleição de Borges de Medeiros num pleito sem
adversários.
Século XX
Modernização
Chegada do
trem em Ijuí.
Fachada
principal do suntuoso prédio dos antigos Correios e Telégrafos, hoje o Memorial do Rio Grande do Sul, construído
na grande fase da construção civil de Porto Alegre ocorrida no início do século
XX.
Quando
Borges subiu ao poder o Rio Grande do Sul já tinha cerca de um milhão de
habitantes. Castilhos ainda regia a política estadual como chefe do PRR, e
indicou Borges mais uma vez para Presidente ao fim do primeiro mandato.
Enquanto Castilhos era uma figura carismática, Borges construiu uma imagem de
discrição e modéstia, não apreciava ostentação nem publicidade pessoal, mas
manteve da mesma forma que seu mentor uma rédea curta no sistema de poder e foi
outro eficiente administrador, cujo lema era "nenhuma despesa sem receita". Reorganizou o sistema
de impostos e terminou a reforma do Judiciário iniciada
por Castilhos, incentivou a produção dos imigrantes e a pequena indústria,
apoiou a melhoria nos serviços municipais expandindo redes de água, luz e
esgoto, estatizou ferrovias e o porto de Rio Grande. Manteve uma relação
distante com o governo federal, e por isso o estado acabou sendo prejudicado
com um sempre magro repasse de verbas.
Quando ia
concorrer a um terceiro mandato a oposição apresentou um adversário de peso, e
Borges teve de encontrar um outro nome, Carlos Barbosa, que acabou vencedor,
fazendo um governo de continuidade. Na eleição seguinte Borges retornou ao
governo, conseguindo se reeleger uma quarta vez, e realizou mais uma
administração importante. Enfrentou uma das maiores ondas de greves da história do
estado, mas foi conciliador com os grevistas. Aumentou os salários dos
funcionários públicos e decretou medidas protecionistas para produtos essenciais
como o feijão, arroz e banha. Mas teve de pedir um substancial empréstimo
externo para financiar seu intenso programa de obras públicas. Em Porto Alegre
ele foi um dos motores de uma febre construtiva que reformulou o perfil da
paisagem urbana, sendo erguidos muitos prédios públicos de grande luxo e
realizadas várias obras de urbanização, já que a cidade deveria ser "o cartão de visitas do Rio
Grande". Diversas cidades do interior nessa época já ultrapassavam
os dez mil habitantes onde se multiplicavam os negócios e a sociedade formava
uma nova estratificação. Bagé, Uruguaiana, Caxias do Sul, Rio Pardo, bem como a
capital há mais tempo, já imitavam os hábitos requintados dos pelotenses,
desfrutando de cafés, salas de cinema e teatro,
e lazeres diversificados.
Carvoeiros,
início do século XX. Acervo do Museu do Carvão.
Fábrica
guardada por milícia do governo durante a greve de 1917 em Porto Alegre. Acervo
do Museu
Hipólito José da Costa.
No início do
século o estado alcançava a terceira posição na economia nacional. O censo de
1900 acusou 1 149 070 habitantes; 67,3% de analfabetos; 43% dos
empregos eram na área rural. Do total de habitantes, quase 300 mil eram
trabalhadores; destes 56 mil eram mulheres, 49 mil eram artesãos ou possuíam um
ofício, 31 mil estavam no comércio. Havia também 3165 "capitalistas",
como chamavam os grandes industriais e comerciantes, e 4455 funcionários
públicos. Mas as demandas do progresso em ritmo acelerado resultaram em que a
vida das classes operárias estava longe de ser tranquila. Mesmo que a
industrialização em vários setores já tivesse facilitado as coisas, ainda era
primitiva e exigia muito trabalho pesado. Os salários eram baixos e mal cobriam
o sustento mais básico; os ambientes fabris não primavam pelo conforto e
salubridade; ao contrário, segundo os padrões atuais, eram locais de trabalho
escravo e antros de disseminação de doenças. Em muitas fábricas a disciplina
ainda era imposta a chicote mesmo para trabalhadores brancos; funcionários eram
submetidos a revistas periódicas e pagavam pesadas multas por infrações
mínimas; crianças e mulheres faziam usualmente a mesma jornada que os homens
adultos, que podia chegar a ter 15 horas. No campo a carga de trabalho era
ainda mais pesada - o expediente durava na prática todo o dia, todos os dias do
ano, envolvendo toda a família, e muitas vezes com resultados incertos. Em
vista dessas condições opressivas, desde muito cedo os operários urbanos e os
colonos rurais se viram obrigados a encontrar garantias e assistência por si
mesmos, por meio das associações de mútuo socorro e sindicatos,
que fortaleceram a classe, dando-lhe oportunidade de articulação e expressão
pública. Começava, junto com a modernização, a proletarização da força trabalhadora, e
com ela não admira a quantidade de greves e manifestações populares contra as
políticas governamentais, exigindo melhores condições, que começaram a pipocar
por todas as partes. De 1890 a 1919 os operários fizeram 73 greves locais e
três greves gerais, em anos de explosiva organização, quando predominavam
ideias anarquistas e socialistas.
Exercendo uma pressão efetiva difícil de ignorar, as greves tiveram muitas
vezes resultados favoráveis aos trabalhadores.
Nesse
cenário em rápida transformação, a antiga oligarquia pastoril,
que em boa parte enriquecera enormemente e fora enobrecida no império, e ainda
mantinha no fim do século XIX o monopólio dos
meios de produção mais importantes, diante da crescente concentração das
atividades comerciais e industriais nos centros urbanos, ambas em franca
ascensão, viu-se rapidamente perdendo dinheiro, espaço político e influência. O
resultado foi a última das grandes guerras civis do estado, a Revolução de 1923, chamada de A Libertadora, que procurou acabar
com o continuísmo de Borges de Medeiros. O tumulto mal chegou às portas das
cidades, limitou-se ao campo, e foi um confronto desigual. De um lado os
revoltosos, desorganizados, em menor número e com munição precária, usando
armas do tempo da Revolução Farroupilha, contra a Brigada
Militar, bem treinada e equipada com metralhadoras e
grande volume de soldados. Os revoltosos perderam a questão e Borges ficou por
um quinto mandato, mas teve de renunciar a uma sexta reeleição. O governo
federal não se envolveu, a não ser como intermediário nas conversações que
levaram à Paz de Pedras Altas, selada em 14 de dezembro, que foi um acordo
bastante equânime e conciliador. Possibilitou um entendimento real entre as
facções maragato (libertadores, assisistas) e chimango (republicanos,
borgistas). Do lado da Federação, houve avanços e recuos no setor econômico. De
início o governo tentou aplacar os estancieiros suspendendo a importação de
charque platino, concorrente mais barato, mas logo depois iria proibir o
escoamento de produtos brasileiros através de portos estrangeiros, o que foi
mais um golpe para as charqueadas da fronteira oeste, que usavam o porto de
Montevidéu. A exportação de charque caiu pela metade, o mesmo acontecendo com a
carne resfriada. A economia gaúcha no final desses primeiros trinta anos do
século XX só foi salva pelos ganhos crescentes da indústria e do comércio,
capazes inclusive de sustentar novos avanços no campo cultural. Logo no ano
seguinte um outro foco de agitação se revelaria na fronteira oeste, por ocasião
da formação da Coluna Prestes, enquanto o governo estadual
enviava 1200 soldados para auxiliar no combate aos revoltosos tenentistas em
São Paulo. Esses movimentos, contudo, tiveram bem menor repercussão no Rio
Grande do Sul e se desenrolaram principalmente em outros estados.
O atelier de
escultura do Instituto de Belas Artes em 1915.
Cena de
opereta montada em Caxias do Sul, 1922.
O time do
Internacional, Campeão do Citadino de 1922.
Cultura[editar | editar código-fonte]
Os primeiros
grandes eventos culturais do século XX aconteceram em 1901: a fundação da Academia Rio-Grandense de Letras agregando
muitos jornalistas, poetas e escritores, como Caldas Júnior, Marcelo Gama, Alcides Maia e Mário Totta,
e a realização de outra exposição geral em Porto Alegre, com três mil
expositores exibindo as tecnologias mais modernas e os produtos que moviam a
economia. Logo em seguida se fundou o primeiro museu do estado,
o Museu Júlio de Castilhos, criado em 1903.[23] No
mesmo ano ocorreu o primeiro evento inteiramente dedicado às artes, o Salão de 1903, promovido pela Gazeta do Commercio. Este salão, segundo Athos Damasceno,
foi "o primeiro certame a
dar às artes do Rio Grande do Sul um estatuto de autonomia (…) legitimando-as
como objeto de aprovação e distinção social"[2].
Outro marco foi a fundação de várias faculdades em Porto Alegre - Medicina, Química, Farmácia, Direito e Engenharia -
e mais do Instituto Livre de Belas Artes, incluindo
cursos de música e artes plásticas, que concentraria a produção de
arte na capital e seria no estado inteiro praticamente a única referência
institucional significativa até meados da década de 1950 nos campos do estudo,
ensino e produção de arte[24] Pelo
Instituto passaram alguns do nomes mais notórios da pintura local desse início
de século, como Pedro Weingärtner, membro de bancas de
avaliação, junto com Oscar Boeira, Libindo
Ferrás, João Fahrion e
alguns mestres estrangeiros, professores contratados.[2] Também
despontaram mais nomes de peso na literatura e na poesia, como Augusto Meyer, Dyonélio Machado e Eduardo Guimarães, além de a atividade da Biblioteca Pública do Estado,
reinaugurada com grandes ampliações em 1922, contribuir significativamente para
dinamizar as letras locais
Na música se
destacaram as atividades do Club Haydn de
Porto Alegre, organizando muitos recitais divulgando autores europeus e
brasileiros, e complementando as temporadas do Theatro São Pedro, onde se
apresentaram astros como Arthur
Rubinstein e Magda
Tagliaferro e se encenaram as primeiras óperas gaúchas, Carmela, de José de Araújo Viana, e Sandro, de Murillo
Furtado. Companhias teatrais e de ópera circulavam com frequência
pelos teatros do interior, pequenos conjuntos vocais e instrumentais de
repertório erudito já existiam em várias cidades, e se percebia a consolidação
de expressões musicais regionalistas e populares dos hispano-portugueses, dos negros e dos descendentes de
imigrantes em suas colônias. Também é de destacar o ensino qualificado
ministrado pelo Instituto de Belas Artes, onde atuavam o mesmo Viana junto
com Tasso Corrêa, Libindo
Ferrás, Olinto de Oliveira e alguns outros mestres[24].
O cinema tornava-se
uma moda muito popular [27] e
o esporte já
contava com clubes como o Grêmio e o Internacional, que seriam grandes forças
no futebol brasileiro anos mais tarde.
.
Anos 30 a 60
Manifestações
de rua em Porto Alegre em favor da Revolução de 30.
Em 1928
Getúlio Vargas sucedeu a Borges de Medeiros, e foi mais um castilhista no
poder. Buscou o apoio dos estancieiros representando a classe junto ao governo
federal, e protegendo os sindicatos que eles estavam organizando. Descobrindo
nos custos de transporte o maior problema, ampliou as ferrovias e incentivou a
primeira companhia aérea do estado, a futura VARIG. Para facilitar
o crédito,
fundou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul.
Sua maior proeza, contudo, foi a dissipação de antigas rivalidades políticas
que afligiam o Rio Grande do Sul desde muito tempo. O fruto disso foi a
construção da Aliança Liberal, da qual foi o candidato às
eleições nacionais em 1930, vencendo a competição, contudo, Júlio Prestes.
Mas este não chegaria a tomar posse, sendo deposto pela Revolução de 30, que guindou Getúlio à
Presidência com decisiva participação dos gaúchos.
Getúlio
Vargas assumiu o governo levando sua herança política castilhista e a
experiência que tivera com os sindicatos gaúchos, e diz-se que foi uma fase de
"gauchização" da política do Brasil, mas temperada com os ideais
tenentistas. Decretou a intervenção nos estados e através da Constituição de 1934 introduziu
reformas importantes como o voto secreto e obrigatório para maiores de 18 anos;
o voto feminino; previu a criação da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, entre outras coisas. Seu
governo instituiu uma versão do castilhismo conhecida como populismo,
pois buscou atrair as classes populares na construção de uma nova sociedade.
Tinha bons propósitos, mas eles não bastaram para que a oposição se calasse, e
em pouco tempo movimentos se organizaram em vários pontos do país para
removê-lo do Catete. No Rio Grande do Sul a oposição
encontrou forças em José Antônio Flores da Cunha, o
interventor indicado pelo próprio Vargas, e em intelectuais como Dyonélio
Machado, um dos líderes locais da Aliança Nacional Libertadora, de esquerda.
A reação de Vargas foi dura - Flores da Cunha teve de se exilar e os membros da
ALN foram reprimidos violentamente, sendo usada até a tortura.
Por outro
lado, diversas reformas impostas pelo governo federal não estavam sendo
cumpridas no estado, pois a elite industrial e comercial resistia a abrir mão
de direitos tradicionais. Novas greves foram organizadas, as entidades
operárias romperam relações com o Ministério do Trabalho, e
o clima se tornou tenso novamente nos círculos da produção..[3] Também
a política estadual continuava convulsionada, pois nesse momento o Brasil,
amedrontado com a "ameaça bolchevique", se encontrava largamente
influenciado pelos regimes totalitários europeus como o Nazismo e
o Fascismo.
A repercussão disso no estado foi especialmente intensa pois os descendentes
dos imigrantes italianos e alemães se haviam identificado com o que se passava
em seus países ancestrais, e nessa altura esses grupos já constituíam grandes e
fortes colônias, respondendo por 50% da população e da renda totais do estado,
e alguns de seus representantes atingiam posições de eminência no empresariado
e na política, como o Intendente de Porto Alegre, Alberto Bins,
de origem alemã, que em declarações públicas expressou sua simpatia pelo
Nazismo. Os alemães logo passaram a ostentar suas preferências políticas em
passeatas vestidos de trajes militares e carregando bandeiras com a suástica,
enquanto que os italianos se ufanavam de sua etnia e conquistas incentivados
pelo próprio Mussolini. Outros ainda aderiam ao Integralismo,
de caráter similar.
Abertura da
Exposição de 1935 em Porto Alegre.
Sede do
Banco Pelotense.
Metalúrgica
Abramo Eberle, anos 1940-50.
Apesar da
agitação, a economia havia se recuperado bastante bem depois da crise econômica mundial de 1929. Na verdade ela
relativamente pouco havia afetado o estado, salvo seu setor financeiro, com
a falência de
bancos importantes como o Banco
Pelotense, o que selou o início de um longo período de estagnação
econômica para Pelotas e outras cidades.[30] Mas
nesta época o Rio Grande do Sul abastecia significativa uma parcela do mercado
nacional com sua produção agropecuária. Tanto é que em 1935, comemorando o
centenário da Revolução Farroupilha, foi organizada outra grande exposição
geral em Porto Alegre, a maior que a cidade já vira. Além de apresentar os frutos
da economia gaúcha para a sociedade, teve uma seção cultural e foi importante
também por ter introduzido no sul a arquitetura modernista, que doravante iria constituir
o principal estilo arquitetônico empregado no estado até os anos 1980,
revolucionando as concepções do urbanismo gaúcho.
Os
movimentos de direita culminaram em 1937 com a criação
do Estado Novo através de novo golpe de
estado de Getúlio, que impôs uma Constituição fascista.
A euforia dos descendentes de imigrantes, que se reuniram em passeatas por
vários pontos do estado para aclamar o novo regime, logo se desfez, pois
Getúlio começou a orientar a política em direção à construção de um senso de
identidade nacional, e assim todos os estrangeirismos começaram a ser
severamente censurados, iniciando um tempo de perseguições e repressão nas colônias,
e em vez de colaboradores no processo de crescimento e povoação os imigrantes
passaram a ser vistos como potenciais inimigos da pátria.
O processo chegou ao extremo com a entrada do Brasil na II Guerra
Mundial contra os países do Eixo, com pesadas consequências econômicas e
sociais para a região de imigração, incluindo as colônias da capital.
Na economia
a virada foi em direção à unificação do mercado nacional, com perda de
dinamismo regional. Num momento em que algumas indústrias gaúchas já se
projetavam nacionalmente, como a Eberle, a Renner,
a Berta e a Wallig, reversamente se tornava mais fácil a penetração no mercado
gaúcho de concorrentes nacionais. Ao mesmo tempo desaqueciam as economias
coloniais baseadas em empreendimentos familiares, iniciando um processo de
desvalorização econômica dos artesanatos e manufaturas tradicionais, das
indústrias caseiras e das cooperativas.
Com esse impacto negativo sobre as colônias também iniciou o êxodo rural no
estado e apareceram as primeiras favelas em
Porto Alegre. Entretanto, o governo estadual tentou minimizar os problemas
através de medidas protecionistas sobre os produtos
exportáveis, investindo no setor de transportes e simpatizando com as questões
do setor produtivo como um todo, além de criar uma rede de centros de saúde.
Com o fim da
II Guerra e com a concomitante deposição de Getúlio, as instituições
democráticas começaram a se restabelecer, e em 1947 foi eleito um novo
governador, Walter Jobim, comprometido com a proposta de
expandir a eletrificação das colônias para evitar o êxodo rural. Para isso
construiu diversas centrais de energia, num programa que teve continuidade com
seus sucessores. Em sua gestão foi aprovada uma nova Constituição Estadual,
ampliando os poderes do Legislativo gaúcho. Getúlio fora deposto
mas manteve seu prestígio, e logo se tornou o líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
que teve no estado uma de suas maiores bases eleitorais. Assim o apelo às
massas e ao nacionalismo, e o combate às tendências de esquerda, continuavam vivos. No estado a
política se dividia entre o Partido Libertador, porta-voz da elite pecuarista,
o Partido Social Democrático,
defendendo os interesses da burguesia agroindustrial, e o PTB, atuando
pelo trabalhismo, a nova versão do populismo
getulista, que tinha em Alberto Pasqualini seu mentor local.
Getúlio acabou sendo reeleito para a Presidência da República, consagrando o
trabalhismo como linha de governo.
O suicídio de
Getúlio em 1954 foi intensamente sentido no Rio Grande do Sul, havendo enormes
manifestações de rua. Mas sua época parecia ter mesmo passado, pois poucas
semanas após o trágico evento os trabalhistas perdiam a eleição para
governador, assumindo Ildo
Meneghetti como um fenômeno eleitoral até então sem precedentes
na política gaúcha. Descendente de italianos, sua ascensão ao poder máximo do
estado foi um claro indicador de que a discriminação que os imigrantes
enfrentaram durante os anos anteriores havia sido superada. Já fora duas vezes
prefeito de Porto Alegre, onde deixara obra sólida priorizando a habitação
popular. Mas como governador não conseguiu cumprir muitas metas. O estado
estava entrando em uma crise econômica onde, apesar do crescimento do número de
indústrias e da introdução de novas e lucrativas lavouras como a soja, deixava de ser
importador de mão-de-obra para ser exportador. E a
situação de Meneghetti como opositor do novo presidente Juscelino Kubitschek deixou o estado
à margem dos investimentos federais em pleno Desenvolvimentismo. Sucedeu-lhe Leonel
Brizola, que seguiu pela tradição trabalhista. Seu governo foi
pautado por um Plano de Obras,
que tinha como objetivo melhorar a infraestrutura e ampliar a rede escolar.
Encampou empresas estrangeiras, fundou a Caixa Econômica Estadual do Rio
Grande do Sul, reequipou a polícia, estimulou uma reforma agrária de âmbito estadual,
criando o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária,
e estimulou a criação de empresas de porte como a Refinaria Alberto Pasqualini e
a Aços Finos Piratini. Sua atuação mais dramática
foi o lançamento da campanha da Legalidade,
em 1961, que levou multidões para as ruas, quando o Palácio Piratini, onde ele se entrincheirara,
foi votado ao bombardeio pelas chefias militares federais, o que, devido à
desobediência dos soldados gaúchos, acabou não acontecendo.
Cultura e
outros indicadores entre 1930 e 1960
Palácio Farroupilha, erguido em 1955.
Escola Marista Medianeira de Erechim,
em 1935.
Na cultura
os principais movimentos desses trinta anos aconteceram na capital. Foi
importante nesta época a criação em 1934 da Universidade de Porto Alegre, de âmbito
estadual, que foi a antecessora da UFRGS. Pelo fim dos
anos 1930 o Modernismo já estimulava um debate intenso entre a elite
pensante sobre os novos rumos que a arte vinha tomando. Esse movimento foi
introduzido em Porto Alegre primeiro pelas artes
gráficas, com destaque para as ilustrações em revistas como a Revista do
Globo, que tinha grande circulação, e que mantinha em suas
oficinas um grupo de talentosos ilustradores, alguns dos quais mais tarde
definiriam o perfil de toda a melhor arte local e estadual. Entre eles
estavam Ernest Zeuner, Edgar Koetz,
Francis Pelichek e João Fahrion Para os negros, que vinham até então sendo
continuamente desprezados pela sociedade, o ano de 1943 representou o marco
inicial de sua mobilização, quando se fundou a União dos Homens de Cor, que cinco anos
mais tarde já estaria ramificada por mais dez estados da Federação
Porto Alegre
nos anos 1950 já tinha seu desenho largamente transformado pela arquitetura
modernista, que incluía grandes melhorias na planta urbana e grandes prédios
públicos. A cidade já realizava sua Feira do Livro, dispunha
de um museu especialmente dedicado às artes, o MARGS, uma universidade
federal, a UFRGS,
ouvia os concertos de sua nova orquestra sinfônica, a OSPA, e nomes como Mario
Quintana, Aldo Obino, Lupicínio Rodrigues, Dante de
Laytano, Aldo Locatelli, Érico Veríssimo, Manuelito de Ornelas, Paixão Côrtes, Walter
Spalding, Bruno Kiefer, Túlio Piva, Barbosa Lessa, Armando Albuquerque, Ado Malagoli e Ângelo Guido,
entre muitos outros, já eram referência nos campos da literatura, poesia,
historiografia, tradicionalismo e folclore, artes plásticas, música e crítica
de arte.
Na virada
para a década de 1960 a vida boêmia de Porto Alegre enriquecera com um forte
colorido político e cultural, reunindo expressivo grupo de intelectuais e
produtores artísticos influentes, alinhados ao Existencialismo e
ao Comunismo.
Entre o fim da década anterior e os anos que precederam o golpe de 64 foram
montadas peças teatrais de vanguarda,
em abordagens polêmicas e desafiadoras do status quo; as artes plásticas mostravam uma feição realista/expressionista muitas
vezes de cunho social, regionalista e panfletário, destacando-se a atividade de
artistas como Francisco Stockinger, Vasco Prado, Iberê Camargo e
os membros do Grupo de Bagé (de fato atuantes na
capital) e do Clube de Gravura de Porto Alegre.
Nessa época a Livraria Vitória se tornara a maior arena de discussão filosófica
e política.
Nos anos
1950 o estado apresentava uma das melhores perspectivas de vida do país. A vida
do gaúcho se estendia em média até os 55 anos, 30% acima da média nacional,
enquanto que a mortalidade infantil era metade da
brasileira; a incidência de tuberculose estava
em franco declínio; iniciava-se a fluoretação da
água potável; havia cerca de dois mil médicos em atividade e mais de vinte mil
leitos hospitalares disponíveis. O ensino por todo o estado atingia um
grau de sensível avanço, expandindo-se bastante para a zona rural, e com
grandes colégios atuando em muitas cidades, sendo que para isso se contou
frequentemente com o esforço dos religiosos, especialmente os católicos,
mantenedores além de colégios também de hospitais, asilos e outras obras
assistenciais. No fim da década de 1950 havia mais de duas mil escolas
primárias, e as faculdades se multiplicavam, chegando a quase 150.[37] O
número de cidades com mais de cinco mil habitantes chegava a cerca de 70 e se
patenteava a conurbação de Porto Alegre com as cidades vizinhas,
formando uma região metropolitana com mais de 800 mil habitantes, quando o
total do estado ultrapassava 5 milhões.
Durante a
ditadura militar
Em 1962
Meneghetti foi reeleito, numa coligação que contou com o apoio de grandes
forças conservadoras, enquanto os trabalhistas estavam divididos com o
surgimento do trabalhismo renovador de Fernando
Ferrari. Meneghetti representava a opção mais sensata para aqueles
importantes setores da sociedade que, temendo o avanço comunista,
estavam preparando o golpe militar de 64, quando o governador
desempenhou um papel de relevo. Articulou ligações decisivas com líderes
nacionais e na madrugada de 1º de abril de 1964 transferiu o governo estadual
para Passo Fundo, a fim de não ser deposto pela resistência que se organizava
em Porto Alegre pelas forças fiéis a Jango. No dia 4, após
Jango se retirar para o exílio no Uruguai, Meneghetti voltou à capital,
conduzido por uma força combinada de unidades da 3ª Divisão de Infantaria do
Exército, sediada em Santa Maria, e de tropas da Brigada Militar.
O movimento
militar consolidou-se através da força. De imediato se verificaram reações em
várias esferas, incluindo manifestações de rua antigolpe, mas todas foram
reprimidas com violência. O prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise,
foi preso, e junto com ele centenas de pessoas. Mas em sua maioria foram
libertados pouco depois na primeira semana. Entretanto a repressão permaneceu
como o recurso usual de preservação da nova ordem, justificada como medida de
segurança nacional, e logo aconteceram outras prisões, junto com o fechamento
de jornais, das ligas camponesas, dos sindicatos e da União dos Estudantes,
cassações de políticos, extinção dos partidos e expurgos de professores das
universidades. Também se criou o sistema de eleição indireta para governador. O
principal teórico do regime foi o general gaúcho Golbery do Couto e Silva, que assumiu a
chefia do Serviço Nacional de Informações,
embora ele pessoalmente não fosse um adepto da linha dura.
Até 1968 os estudantes permaneceram como a principal força de oposição aos
militares, desafiando-os em vários confrontos. Nesse mesmo ano foi instituído
o AI-5,
que desencadeou novo ciclo de cassações, generalizou a censura à imprensa e a
oficialidade passou a se valer da tortura e morte como meio de silenciar as
vozes contrárias.
Centro
Administrativo do Estado, erguido nos anos 1970, com um monumento
de Carlos Tenius em primeiro plano celebrando
a colonização açoriana em Porto Alegre.
Entrando nos
anos 1970 o regime militar atravessava sua fase mais rigorosa, mas ao mesmo
tempo o país iniciava uma fase de euforia com a conquista do tricampeonato
mundial de futebol e com o aceleramento econômico, num ciclo conhecido como
o Milagre Brasileiro, quando o crescimento
chegava a mais de 10% ao ano. Com isso se realizaram grandes obras públicas nas
cidades, em especial Porto Alegre, e o estado passava a ser um dos motores da
economia nacional por meio do enorme incremento da cultura da soja, então o
principal produto do estado e o mais importante item das exportações do Brasil,
com crédito subsidiado, isenção de impostos e massivos investimentos na
mecanização das lavouras. Com a soja em alta os produtores enriqueceram e a
concentração de terras aumentou, e os rendimentos públicos foram aproveitados
também na expansão das redes de assistência médica e escolar, mas a mecanização
expulsou o trabalhador do campo agravando o êxodo rural. A ênfase em apenas um
setor produtivo, protegido por diversos incentivos, acabou por desequilibrar a
economia do estado com uma grave crise fiscal, exacerbada com a subida do preço
do petróleo,
levando ao déficit público e a um severo endividamento externo.
Em meados da
década, contando com o apoio da Igreja Católica, a oposição conseguira se
reorganizar em torno do MDB, o único partido oposicionista autorizado. Em 1974
aconteceu em Porto Alegre o primeiro debate político "livre"
transmitido pela televisão brasileira, quando se
enfrentaram os candidatos gaúchos ao senado, Paulo
Brossard, do MDB, e o governista Nestor Jost.
O planejamento e a realização deste evento foram feitos com extremo cuidado
pela TV Gaúcha, evitando pontos mais sensíveis de
polêmica, mas mesmo assim foi um divisor de águas. O resultado das eleições
confirmou o predomínio do MDB em todo o país, e se iniciava lentamente a fase
de abrandamento do regime militar. O governador Sinval
Guazzelli teve assim de dialogar com a oposição para poder
governar. Mas outros setores do governo, mais radicais e descontentes com as
novas concessões, conceberam ações independentes de repressão a fim de
desmoralizar o governador, tornando-se emblemático o sequestro de Lilian
Celiberti e Universindo Diaz, que foram levados ao Uruguai e lá torturados e
condenados por crimes políticos, como parte da Operação Condor, uma aliança político-militar
entre os vários regimes militares da América do Sul com o objetivo de coordenar
a repressão aos opositores dessas ditaduras. De qualquer forma o processo de
distensão era irreversível. Em 1979, em iniciativas pioneiras, o estado começou
um processo de anistia dos perseguidos políticos, quando a Assembléia
homenageou os cassados, a Câmara municipal de Porto Alegre reabilitou
vereadores e a prefeitura de Cruz Alta readmitiu servidores expulsos pelos
militares. Ao mesmo tempo os partidos voltavam a ter seu funcionamento
autorizado e renascia no Rio Grande o movimento sindical, com a eclosão de
várias greves, mas não sem enfrentar repressão violenta, o mesmo acontecendo
com a articulação do Movimento dos Sem-Terra.
Resistência intelectual[editar | editar código-fonte]
Nesses anos de
chumbo, com o ambiente rigorosamente controlado, a vida intelectual
independente sobrevivia em guetos. Um dos mais célebres foi a "Esquina
Maldita", em Porto Alegre, localizada diante do campus central da UFRGS. De
acordo com Nicole dos Reis, foi
"um ponto de discussão das questões políticas locais e nacionais
pelos intelectuais e artistas da época. Era um surgimento de um espaço de
contestação em um bairro, o Bom Fim, que é citado (...) como o principal ponto
de sociabilidade dos componentes desta rede social".
Juremir Machado da Silva complementa,
reforçando sua importância, dizendo que ela foi um espaço em que
"intensificou-se as lutas pela emancipação da mulher,
fortaleceu-se o respeito pelos homossexuais, combateu-se o machismo, viveram-se
radicalmente os sonhos das relações abertas e da liberdade sexual. Ou seja,
partiu-se para a defesa das diferenças. Pela Esquina Maldita, Porto Alegre
mergulhou na pluralidade cotidiana, caminhou em direção ao direito à
singularidade e aprofundou-se no exame e na recusa do conservadorismo
moral".
História recente
Protesto de
professores em greve diante do Palácio Piratini, 1985. Foto de Luis Geraldo
Melo
O movimento
pela redemocratização do Brasil venceu afinal
em 1985, em meio a intensa mobilização da sociedade. Em Porto Alegre os
comícios pelas Diretas Já reuniram
200 mil pessoas. Mas quando assumiu Pedro Simon,
o primeiro governador democrático, o estado estava à beira da falência,
com um aumento de 4.185% no déficit público
apenas nos dois anos anteriores. Explodiam vários movimentos de protesto entre
as classes produtoras e vários outros setores da sociedade, como os professores
e os servidores públicos. Mesmo conseguindo sanear parte das finanças
estaduais, Simon não dispôs de excedentes para muitos investimentos. Uma das
medidas adotadas pelo governo foi a criação dos Conselhos Regionais de
Desenvolvimento (Coredes), para a aplicação dos investimentos possíveis em
concordância com as prioridades apontadas por lideranças regionais. Nesta época
a prefeitura de Porto Alegre instituiu o programa do Orçamento Participativo, para compartilhar
com a sociedade a responsabilidade pelas decisões, tornando-se logo um modelo
administrativo para outras cidades; articulou-se o MERCOSUL,
e em vista de sua situação geográfica estratégica, o estado assumiu um papel de
destaque. Um pouco mais adiante o governador Antônio
Britto iniciou uma polêmica administração que envolveu o
enxugamento do quadro funcional do estado em um programa de demissão voluntária
e redução dos Cargos em Comissão, vendeu e fechou empresas públicas,
reorganizou o sistema financeiro estadual e buscou atrair investimentos
estrangeiros através de grandes isenções fiscais e incentivos. Os 2,3 bilhões
de reais que conseguiu com as privatizações não foram aplicados no fomento
econômico direto, foram gastos principalmente na amortização da dívida pública,
e a falta de incentivos do governo fez com que a indústria entrasse em crise,
falindo várias empresas de pequeno e médio porte.[3][4] Olívio Dutra,
do Partido dos Trabalhadores, fez um governo
voltado para a causa social, fixando no campo trabalhadores antes sem terra e
criando reservas para os índios; incentivou o ensino; criou programas de
emprego para o jovem; apoiou a polícia e levou para o âmbito estadual a
experiência que tivera com o Orçamento Participativo na prefeitura de Porto
Alegre. Mas, quando entregou o cargo para Germano
Rigotto, a dívida do estado chegava a 4 bilhões de reais. Sem meios
para grandes investimentos, Rigotto dedicou-se a captar recursos externos para
cobrir a dívida, reduziu os gastos governamentais e estabeleceu alianças com os
outros governadores do sul, procurando criar linhas fortes de diálogo com os
vários setores da sociedade.
A Rainha e
princesas da Festa da Uva saudando o casal presidencial.
Apesar de o
Rio Grande do Sul ser um dos estados brasileiros mais endividados, com
cerca de 30% de seus ativos (2005) sob forma de dívida ativa,
praticamente toda em cobrança judicial,e sendo obrigado a emprestar
recentemente US$ 1,1 bilhão do Banco Mundial para
reestruturação da dívida pública, sua situação geral no presente é
bastante positiva. Segundo o relatório de 1998 da ONU o estado alcançou
um IDH superior
à média nacional, com 0,869 pontos, conduzido pela boa distribuição de renda e
o alto nível de escolarização, permanecendo o analfabetismo abaixo
dos 10%. Em 2007 o PIB estadual
era o quarto maior do Brasil, chegando a R$ 175 bilhões, e o PIB per
capita estava em R$ 15,8 mil. A expectativa de vida está na
casa dos 70 anos, e a população total ultrapassou os 10 milhões de habitantes,
sendo que 80% dela vive em zona urbana, embora ainda cerca de 40% dos recursos
estaduais sejam gerados no campo. Festas de produção como a Festa da Uva,
a Expointer,
a Fenasoja e
a Fenarroz já
constituem eventos internacionais, onde se realizam negócios vultosos. O Rio
Grande do Sul é também atualmente um dos maiores produtores e exportadores de
grãos do país, e esses fatores, junto com as boas condições das estradas,
telecomunicações e energia e os programas de fomento econômico do governo
estadual, o situam como o estado brasileiro mais atraente para investimentos
nacionais e estrangeiros. Cabe ressaltar que as universidades têm se
tornado em ativos centros regionais de pesquisa em vários campos, introduzindo
uma série de novas técnicas e recursos tecnológicos nos setores produtivos e
aprofundando a produção intelectual, fomentando as economias e a cultura das
áreas onde se localizam com um trabalho altamente qualificado. O governo do
estado também têm se juntado a esse esforço acadêmico investido na pesquisa
em ciência e tecnologia,
havendo vários programas oficiais para amparo aos pesquisadores.
A boa posição
geral do estado esconde, porém, disparidades regionais. Na região oeste os
índices de mortalidade infantil estão entre os mais altos do Brasil; as
culturas tradicionais nas antigas colônias evidenciam sério depauperamento
diante da modernização generalizada; as grandes concentrações urbanas enfrentam
desafios difíceis no que diz respeito à habitação, poluição,
emprego, segurança e outras questões básicas de infraestrutura e serviços. A
área plantada vem diminuindo e as grandes redes de comércio, serviços e
indústrias competem com a pequena empresa, desestruturando os pequenos mercados
regionais, um sintoma da globalização que
tem caracterizado a economia mundial em anos recentes.
Outra área
em que surgem problemas crescentes é o meio ambiente. A despeito
de o Estado patentemente investir muitos recursos em várias frentes e o assunto
ser parte do currículo escolar desde os níveis primários, o balanço de sua política
ambiental tem sido pobre, e instituições, acadêmicos e organizações
ambientalistas vêm denunciando sem cessar o sucateamento e a ineficácia do
aparelho de controle e da infra-estrutura institucional, a criação de
legislação contraditória e a atuação de esquemas de corrupção, contexto que tem
causado profundos prejuízos para a natureza em larga escala, levado inúmeras
espécies à beira da extinção, esgotado ou usado mal seus recursos naturais, e
causado doenças na população, além de comprometer o futuro das novas gerações. Estão
se tornando especialmente graves problemas de poluição, mau manejo e
esgotamento de mananciais em todas as maiores bacias hidrográficas, com vários
corpos de água de enorme importância em situação crítica em quase toda sua
extensão, como a Lagoa dos Patos, o lago Guaíba e
o Rio dos Sinos; o desmatamento da mata
atlântica, que preserva apenas 7% da cobertura original e está sob
constante pressão; a poluição de solos, águas e alimentos por agrotóxicos,
utilizando-se quase o dobro da média nacional num país que é o campeão mundial
no uso desses venenos, e a desertificação do pampa, associada à
introdução das monoculturas de arroz, pinus e eucaliptos e à superexploração
pecuária.
Cultura e
sociedade
Casa da
Cultura de Montenegro, no prédio da
antiga estação ferroviária.
Índios
guarani em São Miguel das Missões.
Passeata de
abertura do Fórum Social Mundial de 2003.
Palácio dos
Festivais de Gramado.
As últimas
décadas confirmaram o Rio Grande do Sul como uma voz importante, dinâmica,
atualizada - sendo por vezes até vanguardista - e politicamente engajada no
cenário cultural brasileiro. Em todo o estado existem centros culturais e
universidades em atividade intensa. Num panorama geral desse período se
destacam alguns pontos importantes, entre eles:
·
a recuperação da memória
social, da cultura imaterial e do folclore,
revelados no resgate da figura do gaúcho, dos imigrantes, do negro e outros
grupos minoritários, dos bens materiais com a preservação da arquitetura antiga
e a multiplicação dos museus histórico-artísticos, e nos grandes investimentos
em cultura, patrimônio e turismo
cultural;
·
a criação de uma cultura
decididamente cosmopolita nos grandes centros urbanos;
·
a conscientização sobre os
problemas do meio ambiente, com início de movimentos ecológicos
e a evidência do interesse governamental na criação de leis ambientalistas e de
áreas de preservação, e junto com isso se valorizou o cenário paisagístico do
estado, com o aquecimento do setor turístico;
·
a revelação do estado de
abandono e pobreza em que se encontravam as populações indígenas;
·
a problematização do convívio
social em cidades, com a elevação dos índices de crime com ameaça à vida e à
propriedade, gerando um sentimento geral de insegurança. Em todas as áreas com
deficiências foram tomadas medidas saneadoras, embora ainda muito falte fazer e
as reclamações da sociedade sejam constantes.
Recapitulando,
no início dos anos 1980 a sociedade civil começava a reconquistar seu espaço de
representação política. A produção artística estadual, bem como a brasileira,
que haviam sido mantidas sob a pressão da censura, rearticularam-se sob uma
forma altamente politizada, reivindicando a normalização da vida institucional
e cultural brasileira. Porto Alegre iria conduzir os principais avanços. Sandra
Pesavento afirma que neste período
"em Porto Alegre começa o movimento local ‘Deu Pra Ti anos 1970’
que comemorava o fim da década. A geração que crescera com o AI-5 e os
deserdados dos anos 1960 e 70 reclamavam um outro país e uma outra cidade em
seus sonhos".
Neste novo
panorama da vida urbana portoalegrense, um dos espaços mais importantes foi o
bairro Bom Fim e
seus bares, formando quase uma república independente encravada no coração da
cidade. Ali se reuniam os principais líderes da atividade contestatória da época,
freqüentadores de diferentes ideologias, que viviam utopias transformadas
em estilos de vida - como os punks, os rockers, darks, junto com cineastas, filósofos, poetas e literatos -
das quais resultaria a definição de identidade de toda uma geração. Foi o ponto
de efervescência da cena musical underground e pop,
com o surgimento de várias bandas e cantores que marcaram a música local,
como Os Replicantes, Bebeto Alves, Os
Cascavelletes, Nei Lisboa, TNT, Graforréia Xilarmônica, entre outros, e
que foram louvados pela crítica do Brasil. Novamente Juremir Machado da
Silva esclarece:
"Criamos um território de combate. Ali conviviam aqueles que
estavam colocando em xeque os valores sociais. Mas, mais do que isso, estava na
ordem do dia a discussão de um projeto político para a sociedade".
Outras áreas
que cresceram foram o teatro e o cinema, com a edição de grandes festivais como
o Festival de Gramado e o Porto Alegre em Cena e o surgimento
de muitos realizadores talentosos. Literatura, artes plásticas, poesia, música,
filosofia, e outros ramos das artes e humanidades acompanharam o florescimento.
Alguns de seus artistas, como Roberto
Szidon, Vera Chaves Barcellos, Luis Fernando Verissimo, Jorge Furtado, Moacyr Scliar e Regina
Silveira, são nomes internacionais, e existem muitíssimos outros que
são reconhecidos em âmbito nacional. O estado já sedia uma bienal importante,
a Bienal do Mercosul, recebe shows e espetáculos
do Brasil e do exterior, e organiza eventos de grande repercussão como o Fórum Social Mundial. O esporte igualmente
conheceu grande progresso; atletas como Daiane dos
Santos e Ronaldinho Gaúcho são estrelas de fama mundial;
os velejadores Nelson Ilha,
José Luís Ribeiro e Fernanda
Oliveira já trouxeram muitas medalhas panamericanas incluindo uma olímpica,
André Luiz Garcia de Andrade foi duas vezes medalhista paraolímpico com ouro
em Atenas,
enquanto que o Inter e Grêmio, de já longa
trajetória, são equipes de futebol que se colocam entre as mais conhecidas do
Brasil, tendo ambas conquistado vários títulos internacionais e possuindo
grandes torcidas.
A
reconstrução do "gaúcho”
Estátua do Laçador, o símbolo
da capital do estado.
Há que se
tratar com especial interesse a reabilitação da figura do gaúcho, um dos mais
fortes símbolos da identidade estadual - lembre-se que o termo
"gaúcho", para o resto do Brasil, consagrou-se como sinônimo de
sulriograndense. Entre o fim dos anos 40 e o início dos 50 se iniciara uma fase
de novo interesse pelo passado, em vista do rápido desaparecimento das tradições
campeiras com o progresso econômico e a internacionalização dos costumes. Nessa
época apareceram Barbosa Lessa e Paixão Cortes como
figuras de proa nesse processo, iniciando uma série de pesquisas antropológicas quando
essa ciência mal era reconhecida no estado. Segundo Cortes
"Era o auge do pan-americanismo. Para se ter uma ideia, se um
camponês saísse de casa em direção à cidade, carregava uma muda de roupas para
substituir as bombachas quando fosse chegar. Se não fizesse isso era visto com
maus olhos. Era considerado um cidadão de segunda classe. O próprio chimarrão,
na cidade, era consumido apenas dentro da residência e longe das janelas.
Enquanto o modernismo estava na ordem do dia, um grupo de jovens secundaristas
saía na busca de suas raízes. (…) O gaúcho sempre existiu como o tal centauro
dos pampas, o monarca das coxilhas ligado a um fato épico, histórico e
político, e não mais do que isso. Mas esta é uma figura poética que surgiu para
se transformar em um símbolo. E símbolos são importantes para que se mantenha a
identidade do povo. Só que esta imagem já existia. O que fizemos foi
recuperá-la e dar-lhe uma outra dimensão. Até então, o aspecto social e
recreativo era totalmente desconhecido. Era "Boi Barroso",
"Prenda Minha" e estamos conversados. Encerrou-se o repertório
musical e coreográfico do Rio Grande. Havia os registros do Cezimbra Jacques e
do Simões Lopes Neto, tinha ali "O Balaio", por exemplo. Mas como se
dança? Como se canta?".
Essa busca,
porém, estava em sua origem mais ligada a um desejo de reconstrução histórica
do que de interpretação, e paradoxalmente iniciou no ambiente urbano. Em 24 de
abril de 1948 aqueles folcloristas, junto com um grupo de jovens
estudantes, fundaram em Porto Alegre o Centro de Tradições Gaúchas 35. Ali
tomavam mate e imitavam os hábitos do interior, entre eles o da charla (conversa) que os peões
entretêm nos galpões das estâncias. Barbosa Lessa recorda que
Apresentação
de dança gauchesca.
"não se tinha muita pretensão de revolucionar o mundo, embora nós
não concordássemos com aquele tipo de civilização que nos era imposto de todas
as formas (…) não pretendíamos escrever sobre o gaúcho ou sobre o galpão: desde
o primeiro momento, encarnamos em nós mesmos a figura do gaúcho, vestindo e
falando à moda galponeira, e nos sentíamos donos do mundo quando nos reuníamos,
sábado à tarde, em torno do fogo-de-chão".
Desde lá
o movimento tradicionalista foi
lentamente ganhado visibilidade e se constituindo num verdadeiro estilo de vida
para muitas pessoas mesmo nos núcleos urbanos. Nos anos 60 apareceram artigos e
palestras sobre o assunto, e também a figura de Teixeirinha,
um fenômeno de popularidade. Em 1971 se realizou a primeira Califórnia da Canção Nativa, que se
ramificou em centenas de outros festivais similares pelo estado, onde aspectos
da música pop também foram assimilados. Esses
festivais deram espaço para expressões politicamente engajadas que levaram a
uma integração entre regionalismos campeiros de vários países do Cone Sul,
cujas histórias tiveram muitos pontos de contato. Mas foi a partir da década de
1980 que o ritmo desse processo cresceu enormemente, a ponto de ganhar respaldo
da cultura oficial, atrair simpatizantes de outras origens culturais além da
campeira como os alemães e italianos, e inspirar a criação de centenas de CTGs,
além das fronteiras estaduais, até no exterior. Em 1980 cerca de novecentos mil
gaúchos (11,5% do total) moravam fora do Rio Grande do Sul, levando as
tradições locais com eles. É certo também que divulgação tão maciça e muitas
vezes sem criterios e desinformada deu margem à formação de estereótipos mistificantes
e hibridismos espúrios, que vêm sendo questionados tanto na pesquisa acadêmica
como na cultura popular, muitas vezes até de forma
humorística.
Os vários
"gaúchos
O gaúcho
"típico", finalmente, não é a única imagem do gaúcho real
contemporâneo. As outras inúmeras etnias e segmentos culturais que compuseram a
sociedade gaúcha conseguiram em anos recentes apreciável nível de articulação
para a conquista de seu espaço. Nas regiões italiana e alemã as festividades
folclóricas são inúmeras, originando divisas, teses acadêmicas, filmografia e
literatura ficcional, além de um sentimento de coesão social legítimo em função
da autenticidade do testemunho histórico onde se baseiam essas interpretações
modernas do passado. É verdade que as tradições perderam muito diante da sua
transformação em produto à venda e da modernização da vida em geral, e o que
hoje se consome como "tradição" muitas vezes é apenas um eco diluído
e estilizado de uma realidade irremediavelmente perdida, mas esses movimentos
têm conseguido se cristalizar em símbolos eficientes
e cultivar expressões autênticas o bastante para assegurar a consolidação e
preservação de uma memória social significativa e veraz, com o aval de inúmeros
pesquisadores sérios e patrocínios oficiais. Além disso em muitos pontos do
estado ainda se encontram manifestações vivas e espontâneas dos antigos
costumes. A cultura urbana também criou traços característicos aparentes em
seus neologismos,
seus hábitos sociais diversificados e cosmopolitas,
no acesso fácil à tecnologia de ponta e à informação, e no surgimento de um
folclore próprio, já objeto de estudo acadêmico. E como eles os judeus vêm
revisitando sua história, os polacos, os negros, e os outros grupos
minoritários, levando à reescrita de largos trechos da historiografia oficial
do Rio Grande do Sul e, no diálogo entre tais culturas distintas, a uma maior
integração interna e à síntese de novas formas de expressão e arte, algumas de
notável vigor e originalidade.
Show da banda de rock alternativo Aristóteles de Ananias Jr.
Roda de Capoeira no Brique da Redenção.
Gaúcho desfilando
na Semana Farroupilha.
Imagem de Sepé Tiaraju no Memorial da
Epopeia Riograndense.
Parada Livre LGBT em Porto Alegre.
Carro alegórico na Oktoberfest de Igrejinha.
Banda da Brigada Militar em desfile em Porto Alegre
Estátua de Iemanjá na Barra do Chuí
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