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A História do Equador compreende um
período de cerca de nove mil anos, sendo subdividido em cinco períodos
principais: Era pré-colombiana, Conquista Espanhola, Era Colonial, Independência e
República. A história do Equador tem início com o estabelecimento de várias
civilizações, seguidas pelo crescimento dos Incas, e estes
pelos colonizadores espanhóis. Na primeira metade do século XIX, surgiram
os ideais de independência da América com relação ao domínio espanhol,
influenciado pelos LibertadoresSimón
Bolívar e José de San Martín.
Era pré-colombiana
A primeira
etapa da história do Equador começa
com a chegada dos primeiros povoadores indígenas que
desenvolveram ao longo de 10.000 anos impressionantes civilizaçőes donas de uma
tecnología e sabedoria únicas.
Povoamento da América (ca. 40.000 - 15.000
a.C.)
Os últimos
continentes a serem invadidos por europeu foram a América e a Oceania há 40 mil
anos aproximadamente. Em relação com o povoamento de nosso continente, uma das
teorias mais conhecidas é aquela que foi proposta inicialmente no ano de 1590
d.C. por José de Acosta e passou a ser aceita em 1930. Tal hipótese tornou-se
aceita cientificamente entre os anos de 1928 e 1937 quando foram encontrados,
em escavações arqueológicas nas proximidades da cidade de Clovis (Novo México),
EUA, artefatos de mesmo tipo dos anteriormente descobertos na região da
Beríngia. Atualmente é consenso entre os especialistas que durante a última
glaciação a concentração de gelo nos continentes fez descer o nível dos oceanos
em pelo menos 120 metros. Esta descida provocou em vários pontos do planeta o
aparecimento de diversas conexões terrestres, como por exemplo
Australia-Tasmania com Nova Guiné; Filipinas e Indonésia; Japão e Corea. Um
destes lugares foi a Beringia, nome que recebe a região que divide a Ásia da
América, é nesta área que ambos os continentes entraram em contacto. Devido a
sua baixa profundidade (entre 30 e 50 metros) a descida do nível do mar colocou
a descoberto um amplo território que alcançou 1500 KM, unindo as terras da
Sibéria e do Alasca, aproximadamente 40.000 anos atrás.
Outra teoria
foi aquela defendida pelo antropólogo francês Paul Rivet em 1943, segundo a
qual diversas tribos da Polinésia e da Malásia teriam utilizado canoas
primitivas para ir de ilha em ilha rumo a leste, chegado na América do Sul. Não
negava a passagem do homem pela Beringia apenas defendia que a chegada do homem
na América teria ocorrido por mais de uma rota. Esta passagem teria ocorrido em
dois momentos e de dois lugares diferentes. Primeiramente da Austrália 6.000
anos antes de Beringia e da Melanesia um pouco mais tarde.
Povoamento dos Andes equatoriais (10.000 - 4000 a.C.)
O primeiro
período da história equatoriana se denomina Paleo-Índio. É o mais longo e o
menos valorizado. O local mais antigo de povoamento no Equador fica no litoral
sul, na atual província de Santa Elena e é conhecido como Las Vegas. As
primeiras referências a este lugar as forneceu o arqueólogo americano Edward
Lanning, em 1964, que chamou Las Vegas para uma área na qual ele identificou os
restos de uma cultura no início da aparição da cerâmica. O interesse em
investigar esses testemunhos motivaram o dinamarquès Olaf Holm (+) para conduzir
um projeto de pesquisa liderada pela antropóloga americana Karen Stothert, que
começou seus estudos em 1971, identificando um local em um morro alongado cerca
de 150 m de comprimento. O local foi escavado em várias ocasiões, mais
recentemente, em 1977. [1]Eram
caçadores transhumantes que se estabeleceram na Península de Santa Elena, um
território coberto por uma vegetação própria das savanas tropicais e
manguezais. Alimentavam-se de frutos do mar, além de carne de veado e frutos
selvagens. Em 7000 a.C., estes primeiros povoadores cultivaram a cabaça, sendo
a planta mais antiga produzida pelo homem nas Américas, pelo menos dois mil
anos antes dos peruanos e mexicanos.
Zona semi-árida da atual província de Santa
Elena, local de assentamento da cultura Las Vegas (10.000 a.C.)
Neste local
foi achado um cemitério datado em 7.000 a.C. aproximadamente considerado o mais
antigo e maior da América com cerca de 200 túmulos. um dos enterros mais
notáveis reportados em Las Vegas é aquele denominado "amantes de
Sumpa". Seu interesse radica em ser um enterro duplo, onde um casal adulto
(de uns 20 anos no momento da morte) aparece entrelaçado, A mulher repousa em
posição flexionada , com os braços estendidos para o homem que repousa junto
com ela. Este cobre a cintura da sua companheira com um braço e a perna
dobrada.
Quase mil
anos depois do litoral, grupos de caçadores e colheitores chegaram nos Andes
entre os anos 9000 a.C. e 8000 a.C. Nos arredores da cidade de Quito, no norte
da cordilheira, os
arqueólogos encontraram os restos de ferramentas feitas de uma pedra de origem
vulcânica denominada obsidiana. Tratava-se de facas e pontas de lança usadas
para a caça de veados, perus e porquinhos da Índia (cuy em quéchua).
Os homens
viviam em grutas ou em construções muito simples, feitas de ramos e palha. Os
assentamentos eram temporais e se localizavam em locais que lhes permitisse a
caça e a provisão de matérias-primas para as ferramentas.
Na província
de Azuay se encontra a Gruta preta de Chobshi, cujos achados incluem pontas de
lança e facas de obsidiana, além de restos fóseis de animais caçados pelo homem
como porquinho da Índia, peru e coelho. Desde o período Paleo-Índio se sabe da
existência e domesticação do cachorro andino, uma espécie de cão sem pêlo que
hoje é conhecido como cachorro peruano.
Panorâmica dos Andes. Entre os vulcões Ilaló e
Antisana encontraram se as minas de onde os primeiros caçadores coletavam a
pedra obsidiana para fazer as suas ferramentas.
A população
indígena na Amazônia se
formou graças a algumas migrações procedentes da bacia do rio Orinoco, na Venezuela e
na Colômbia, e do
planalto brasileiro. Entre os primeiros crânios achados pelo arqueólogo
francês Paul
Rivet em 1906, se estabeleceram semelhanças com o homem da Lagoa Santa, no Brasil.
Estatueta feminina de argila da cultura Valdivia
(3.900 a.C.) no Museu Nacional de Quito.
A agricultura e a cerâmica (4.000 - 500 a.C.)
No litoral
equatorial, principalmente na Península de Santa Elena, os antigos habitantes
de Las Vegas evoluiram até se transformar na civilização Valdivia (4.000
- 1.500 a.C.). Esta cultura foi descoberta pelo arqueólogo guayaquilenho Emilio Estrada em
1956 e foi estudada por vários pesquisadores equatorianos como Jorge Marcos e os
americanos Clifford Evans e Betty Meggers. A cerâmica
encontrada nos enterros e sítios arqueológicos data de 3.800 a.C., considerada
a segunda tradição oleira mais antiga das Américas depois de Monsú e Puerto
Hormiga na Colômbia.
Os
valdivianos tinham uma organização social baseada na vida em comunidade. Por
causa dos objetos encontrados, entre os quais aparecem as famosas estátuas de
pequeno tamanho com representações femininas, os arqueólogos pensam que a forma
de governo devia ser o matriarcado. Na década de 1970 foi descoberto o complexo
arqeológico de Real
Alto (3.500 a.C.). Aqui os valdivianos ergueram uma aldéia de forma
rectangular com choças ovaladas localizadas ao redor de uma praça cerimonial
feita por baixo do nível do resto do vilarejo. Aos lados da praça foram
construídos uns montículos de terra com rampas de acesso para os templos. Na casa
denominada ossário, os arqueólogos descobriram um enterro de uma mulher
colocada junto a um homem e, por trás, os osos de oito homens que foram
sacrificados em honra dela e da Pachamama (Mãe Terra). Estes
indígenas cultivavam milho, feijões, amendoins, pimenta, abóbora e
complementavam a dieta com frutos do mar, peixe e carne de veado.Em Real Alto
também se encontrou o vestígio mais antigo da cultura do algodão no Equador,
utilizada para a produção de tecidos. Da planta do agave, conhecida também como
"cabuya",os indígenas extrairam uma fibra vegetal usada até
hoje na elaboração de bolsos, sandálias e vestidos.
Por volta do
ano 1.500 a.C., o litoral do Equador viu
florescer outra civilização chamada Machalilla. Este grupo assentou-se na
província de Manabi, no Pacífico central
equatoriano. A cerâmica apresenta variações em relação à de Valdivia. Além da
cor natural da argila, aparecem linhas de decoração de cor vermelha. São
famosas as garrafas com asa em forma de estribo e as representações de mulheres
com as cabeças deformadas.
A deformação
foi uma prática que começou no período Formativo, mas que se difundiu nos
períodos seguintes até a chagada dos espanhóis. A aplicação de tabuinhas de
madeira amarradas à cabeça de um bebezinho permitia dirigir o crescimento do
crânio no sentido que se desejasse, alongando ou alargando a testa e oferecendo
marcadas diferencias sociais entre os membros da comunidade e ao mesmo tempo
dava um aspecto característico desde o ponto de vista estético.
Morteiro cerimonial de Valdivia (3.900 a.C.)
feito em pedra andesito com forma de um jaguar, animal cultuado nas culturas
andinas ao longo de milénios.
A cerâmica
apresenta variações em relação à de Valdivia. Além da cor natural da argila,
aparecem linhas de decoração de cor vermelha. São famosas as garrafas com asa
em forma de estribo e as representações de mulheres com as cabeças deformadas.
Entre os
anos 1.300 a 500 a.C., no final do período Formativo, aparece a cultura Chorrera. Localiza-se na bacia dos
rios Daule e Babahoyo, embora a extensão atingisse as áreas costeiras de Manabí
e Esmeraldas. Possivelmente a sua influência chegou a uma parte dos Andes e da
bacia amazônica. Segundo pesquisas recentes, Chorrera baseou sua estabilidade
material na cultura do milho. Foi um centro de troca de produtos manufaturados
e matérias primas com outras regiões.
A cerâmica
desta civilização poderia ter sido um objeto de intercâmbio com outros grupos,
mostrando através dela toda a sua ideologia e cosmologia. As cerâmicas de
Chorrera mostram uma tecnologia com a argila mais avançada. As sofisticadas
formas dos recipientes que encontramos expostos no museu pertenceram a
contextos rituais, por quanto à qualidade e perfeição são a sua principal
característica. Algumas vasilhas são antropomorfas e outras representam peixes,
aves, macacos, caracóis, serpentes, além de espécies de plantas como a abóbora
e a graviola.
A técnica
desenvolvida pelos artesãos de Chorrera incluiu a pintura iridescente, feita
com oxido de ferro ou hematita que era usada como pintura aplicada sobre a
figura depois da primeira co
Destacam-se
as garrafas-apito, as quais têm representações de bichinhos diferentes como
morcegos, macacos, patos, corujas e lhamas. Estas garrafas funcionam colocando
água no interior. Não se precisa soprar. É só colocar água e movimentá-la. O
som é produzido por um apito que se encontro no interior da representação por
onde o ar preso passa e sai.
Estatueta de argila chorrera (1.000 a.C.)
Mulher chorrera que apresenta a deformação do
crânio. (1.000 a.C.)
Garrafa-apito da cultura Chorrera (1.000 a.C.)
No final do
período Formativo tem dois locais estrategicamente importantes, que tiveram uma
grande transcendência posterior. Cerro
Narrío, na província de Cañar, localizada ao sul dos Andes equatoriais
deixou objetos que revelam uma sociedade avançada que mantinha laços comerciais
com os povos do litoral com os quais trocava produtos muito variados como a
concha Spóndylus. Como prova disso temos as “ucuyayas”, uns amuletos feitos de
concha marinha que representam aos seres do inframundo, associados com os
espíritos dos mortos e dos ancestrais
Outra
cultura se chamou Cotocollao (1800
a.C.), localizada na região onde atualmente fica a cidade de Quito, que
por sua situação geográfica controlava rotas comerciais entre a Costa, os Andes
e a Amazônia. Esta área geográfica abrange uma variedade de nichos ecológicos -
tanto devido à sua diferente altitude ao respeito das cadeias montanhosas
andinas - que incluem desde a floresta úmida subtropical até o piso temperado e
úmido (coberto do bosque montano e campinas) e as profundezas cálidas e secas
da Serra.
Os moradores
desta civilização foram agricultores com uma vasta experiência na cultura do
milho, feijão, quinoa, batata, oca e o tromoço branco. Eles tamb[em
tiveram acesso a outras plantas como a coca e o algodão. A sua dieta estava
baseada nos produtos agrícolas e nas proteinas obtidas da carne de veado,
coelho, jaguar, paca, lobo, porquinho da Índia e pombos. Estes grupos do
planalto de Quito aproveitaram os recursos naturais que oferecia a natureza. Do
vulcão Pichincha desciam 68 ravinas que alimentavam as águas de uma antiga
lagoa que existia nesta região. As moradias deste grupo eram de forma
retangular e tinham uma extensão de 5 x 8 metros. As paredes tinham pilares
cobertos de mato e barro.
Com relação
aos mortos tinham dois costumes: no começo faziam túmulos individuais
sobre canguahua, um tipo de barro vulcânico, onde se colocava
o corpo com as pernas dobradas e com uma oferenda de pedras; depois variaram os
tipos de enterros dependendo da importância do morto.
A folha de coca e a sua função social e
espiritual
Erytroxylum coca, chamada pelos atuais quéchuas
e aymaras de "cocamama" ou mãe coca.
A planta da
coca (Erythroxylum coca) é nativa das zonas tropicais e subtropicais da
América. Embora não exista mais cultura da coca no Equador, ao longo de
milhares de anos foi produzida e considerada sagrada para os povos indígenas.
Tem se achado 14 espécies de coca no Ecuador, duas delas cultivadas: Erythroxylum
coca var. coca e Erythroxylum novogranatense var. truxillense.
A primeira se produz em condições úmidas e a segunda em climas secos. As
primeiras evidências arqueológicas da coca são pequenos recipientes para a cal,
elemento necessário para liberar das folhas os apetecidos alcalóides. No
Equador existe eivdência da cultura de coca desde a civilização Las Vegas (ca.
8.000 a.C.) onde os arqueólogos acharam recipientes de concha usados para a
preparação da cal.
No entanto,
desde a fase tardia de Valvidia (1.600 a.C.) aparecem representações cerâmicas
dos "cocaleiros", que eram as pessoas que masticavam as folhas de
coca. Estas representações continuam nas cerâmicas de Cerro Narrio,
Jama-Coaque, Tumaco-La Tolita e Pasto. Notícias dos cronistas espanhóis
reafirmam a presença estendida da coca no território do atual Equador. De fato,
existiam terraços e plantações de coca desde o vale de Chota/Mira (ao norte)
até Loja (ao sul). E na Amazônia, na bacia do rio Quijos era conhecida como “a
província da coca”.
A folha de
coca representa para os indígenas; a força, a vida, é um alimento espiritual
que lhes permite entrar em contato com as suas divindades Apus,
Achachilas, Intitaita, Quillamama, Pachamama. Enquanto para os seus
inimigos, a coca é a causa de loucura e depenência. Junto com a concha
Spóndylus, a coca se converteu em objeto de culto até a chegada dos
conquistadores espanhóis.
Durante os
séculos coloniais, a coroa espanhola, através de vários editos reais conseguiu
acabar com as culturas de coca no atual Equador, sem contar com que o
extermínio dos povos originários a causa das doenças introduzidas da Europa
contribuiu à sua extinção.
Spondylus princeps, chamada pelos indígenas
de mullu era cultuada na América pré-colombiana.
Comércio da Spóndylus (3.800 a.C. - 1526 d.C.)
O comércio
foi uma das principais atividades econômicas das antigas civilizações
americanas. No caso equatoriano, além de produtos agrícolas como milho,
abóbora, feijão, amendoim e pimenta, também se tem outros produtos considerados
suntuários como a concha marinha Spóndylus princeps, o sal grosso, a folha de
coca e o colorau.
A Spondylus
foi um tipo de molusco que se encontra nas águas quentes do oceano Pacífico
desde o litoral norte do Peru em Tumbes até a Baixa Califórnia no México. No
entanto, as pesquisas revelam que os valdivianos descobriram esta concha há 6
mil anos atrás no litoral central do Equador. Desde então, a Spóndylus adquiriu
o status de objeto sagrado por quanto os indígenas consideravam-no como
alimentos dos deuses. Segundo os historiadores, a Spondylus não era só cultuada
no Equador. [7]Foram
encontrados vestígios de adoração também no Peru, norte do Chile, América
Central e México. Para a sua obtenção não se podia pegar na praia, porém se
precisava navegar até mar aberto o que significa que os antigos habitantes do
litoral equatoriano tinham avançados conhecimentos de navegação. Culturas como
a Valdivia, Bahia, Jama-Coaque já navegavam, no entanto foi a cultura Manteña
que desenvolveu a navegação a grande escala.
Balsa manteña representada numa gravura
colonial.
As técnicas
navais continuaram se desenvolvendo e, no ano 500, as condições já eram
perfeitas para que os manteños se tornassem os fenícios da América. Eles
utilizavam o algodão para fabricar as velas das embarcações, construídas à base
do chamado palo de balsa, obtido de uma árvore que só
existe no litoral do Equador, a Ochroma logopus. Sua madeira é
muito leve, se expande com a água e jamais afunda. As embarcações
mediam 6 metros de comprimento por 3 de largura, em média. Numa extremidade
ficava uma casinha de bambu coberta por um telhado de folhas, usada para a
tripulação descansar. Na outra, eram estocados alimentos e bebidas. Exímios
pescadores, os manteños não passavam fome a bordo e agüentavam viajar até 90
dias.
Quando os
espanhóis chegaram, o comércio marítimo dos manteños vivia seu apogeu. Suas
embarcações estão nos relatos dos primeiros europeus que estiveram na costa
americana do Pacífico.
Para
conseguir as conchas sagradas, mergulhadores tinham que descer até 30 metros
nas profundezas do mar. Um saco de pedras preso ao corpo era usado para que
afundassem mais facilmente. Quando achavam uma Spóndylus, arrancavam-na das
rochas com ferramentas de metal e eram içados pelos barqueiros por meio de uma
corda amarrada à cintura.
Estatueta de argila representando um xamã da cultura
Tumaco-La Tolita (500 a.C.)
Desenvolvimento Regional (500 a.C. - 500 d.C.)
Se durante o
período Formativo as bases da organização social e econômica estiveram bem
diferenciadas, durante o período do Desenvolvimento Regional, entre os anos 500
a.C. e 500 d.C., muitos dos grupos costeiros e andinos se desenvolveram e
adquiriram comportamentos próprios que os diferenciavam, fato que na maioria
dos casos pode se constatar através das suas expressões artísticas. Neste
período, as sociedades aldeãs acrescentaram notavelmente a sua população e
os aldeamentos começaram se transformar em centros cerimoniais e urbanos,
aonde as classes privilegiadas planejavam o espaço no qual desenvolviam as
atividades religiosas e civis. Os centros mais importantes foram Bahia,
Jama-Coaque, Guangala e Tumaco-La Tolita no litoral do Equador e Panzaleo entre
os Andes centrais e a bacia amazônica.
Estes grupos
apresentam certas características comuns, entre elas a construção de montículos
artificiais de terra que recebiam o nome de “tolas”, junto às quais, os espaços
abertos com forma de praças se combinavam em procura de funcionalidade. Os
tamanhos e as formas das tolas variavam, coincidindo as maiores com as
edificações mais importantes, locais cerimoniais ou moradias dos chefes, também
podiam se usar como local de enterro. As construções superiores eram de
materiais perecedouros, embora se conheça a sua existência pelas representações
que aparecem nos objetos de cerâmica. As moradias dos camponeses chamados de
palafitas eram construídas a certa altura do solo, sustentadas por estacas que
as protegiam da umidade e dos bichinhos. O acesso às casas era por escadarias
enquanto a entrada às grandes construções se fazia por meio de rampas.
No litoral
setentrional equatoriano, os aldeamentos de Tumaco-La Tolita, localizada na foz do rio Santiago, e de
Atacames, localizado em Esmeraldas, respondem a este tipo de aldeamento com
tolas, da mesma forma que Bahia, na baia de Caráquez, e os de Jama-Coaque,
ambos na atual província de Manabí.
Dentro deste
período destaca-se a complexidade dos cultos e o poder que parecem ostentar os
xamãs, conhecidos hoje em língua quéchua como yachak.
Mulher xamã em posição de oferenda da cultura
Jama-Coaque (500 d.C.)
Na cultura
La Tolita, houve uma enorme produção de estatuetas cerâmicas, de um tamanho
entre 7 e 20 centímetros, e as representações de homens com máscaras, grandes
penteados e emblemas de poder foram muito freqüentes. Também são abundantes as
representações de seres mitológicos definidos como “dragões” (metade homem,
metade animal) quem devido às constantes referências do mundo felino (garras,
dentes), adquiriam em ocasiões um aspecto de fera. Em Bahia e em
Jama-Coaque, personagens de maior tamanho representam complicados penteados
semicirculares rematados em picos ou em dois grandes coques, carregados de
elementos simbólicos e enfeitados com orelhas, narigueiras –que perfuravam o
lóbulo da orelha e o septo nasal- e barbas postiças e “bezotes”, um enfeite que
se colocavam debaixo do lábio.
O modelado e
a aplicação destes objetos é muito realista e permite um conhecimento bastante
detalhado, assim como o da hierarquia que simbolizava a sua utilização.
Todo este
mundo de crenças e cerimônias exigia um grande número de produtos
manufaturados.
Este período
se caracteriza pela produção de objetos com metais preciosos como ouro, prata,
cobre e platina. Algumas das técnicas conhecidas pelos ourives Tolita foram
compartilhados com a área colombiana como martelado em frio, repoussé e a cera
perdida.
Não é de
esquecer que as atuais fronteiras entre os estados da Colômbia e o Equador não
correspondem com a realidade do mundo pré-colombiano.
A ilha de La
Tolita foi um local místico onde construíram um centro cerimonial, além de
converter esta região num núcleo de comunicação e intercâmbio de influências
entre Mesoamérica e os Andes. Graças a sua abundante produção de cerâmicas se
pode conhecer a forma de vestir de seus moradores, assim como cenas da vida
cotidiana: navegadores, pessoas que cozinham, mulheres que batem papo e
crianças que são amamentadas, representações eróticas numas placas pequenas,
raladores de mandioca ou descamadores para peixe. Tudo isso mostra que era uma
economia mista baseada na agricultura e pesca.
Copo cerimonial e musical da cultura
Jama-Coaque. Representa um músico tocando um rondador, tipo de flauta típica do
Equador. Este copo funciona do mesmo jeito que uma garrafa-apito. Eles herdaram
esta tradição da cultura Chorrera.
Os Jama-Coaque se desevolveram no
litoral central, principalmente nos territórios da atual província de Manabí. A
sua fina cerâmica é uma mostra do altíssimo grau de desenvolvimento cultural
deste povo de mercadores, navegadores e agricultores. Tinham uma organização
social bem estabelecida e pelas peças de argila podem se conhecer as estruturas
das casas e dos templos.
A sociedade
Jama-Coaque estava governada por líderes religiosos e esteve organizada em um
ou mais "senhorios" ou "chefaturas". Estes eram
organizações políticas complexas lideradas por um "curaca" que era
considerado o líder político e espiritual, além de ser a ponte para se
comunicar com os espíritos. Jaguares, jacarés, águias harpías e serpentes eram
cultuados por serem considerados os animais mais importantes do universo
andino.
A
cultura Bahía cobriu
uma vasta zona geográfica do centro e sul da província de Manabí e norte da
província de Guayas. Tem muitos vínculos com Jama-Coaque e La Tolita, com as
quais compartilha o gosto pela elaboração de maquetes , camrimbos e estatuetas
antropomorfas; porém trabalhou as maiores peças de cerâmica do Equador antigo:
algumas podem ter até 80 centímetros de altura: representam sacerdotes e
sacerdotisas durante cerimônias, com seus típicos enfeites.
Os grupos
dos Andes apresentam uma evolução e umas características culturais próprias e,
uma adaptação aos ecossistemas de altura. Na zona central, nas atuais
províncias de Cotopaxi e Tungurahua, foi ocupada pelo grupo Panzaleo. Esta cultura teve relação
com os grupos do litoral e com os da bacia amazônica. A sua alimentação se
baseava na agricultura do milho combinada com a caça. Eles eram capazes de
adaptar a produção a uma altura média de 2.500 metros.
Da produção
cerâmica panzaleo, temos que destacar a introdução de partículas de mica na
composição da pasta de argila, técnica que permitiu deixar as vasilhas mais
leves. Com esta técnica as paredes podiam ser mais finas e as peças eram
cozidas de melhor forma e menos pesadas.
A ourivesaria pré-colombiana
A origem da
metalurgia no Equador começou por volta do ano 1.500 a.C. no final do período
Formativo, na cultura Chorrera, na qual se conheceu o uso do ôxido de ferro
como corante de cerâmica, uma vez pulverizado e acrescentado antes do
cozimento.
Figura de oferenda feita de ouro pela cultura
Tumaco-La Tolita (500 a.C.-500 d.C.)
Os metais
descobertos pelos povos ameríndios do Equador foram ouro, prata, cobre e pela
primeira vez no mundo, a platina. O primeiro registro da platina na Europa é
datado no Século XVI, porém somente com o marinho espanhol que acompanhou à
Missão Geodésica Francesa, Antonio de Ulloa vieram a conhecê-lo em 1735, porém
só foi publicado na Europa em 1748.
Os fornos de
fundição eram normalmente construídos sobre as encostas e eram alimentados por
dois longos tubos por onde o ar penetrava, soprado por várias pessoas ou pelo
vento.
As ligas
mais habituais eram obtidas à base de ouro e cobre, de ouro e prata, de cobre e
prata, de cobre e estanho, bem como de cobre, ouro e prata fundidos em
proporções variáveis.
O processo
de fabricação mais frequentemente utilizado era o da cera perdida, que
consistia em modelar na cera o objeto que se desejava produzir. O modelo era
seguidamente recoberto por uma espessa camada de argila. Quando a argila
estivesse endurecida, expunham-na ao calor do fogo. A cera derretia e escorria
através de um orifício feito no revestimento, sendo substituída por metal de
fusão. Uma vez arrefecido o metal, bastava partir a argila e retirar o objeto,
cujas irregularidades eram então polidas].
Os objetos
de metal eram habitualmente incrustados com pedras preciosas ou semipreciosas.
Apesar do seu notável desenvolvimento, o artesanato de metais foi fundamentalmente
utilizado para fins ornamentais.
A platina
foi usada em mistura com ouro: embora nunca conseguissem uma autêntica liga
destes metais dado o alto ponto de fusão da platina. O composto (ouro branco)
era obtido martelando o ouro com pós de platina (frequentemente em quente), até
conseguir uma massa uniforme à qual se podia dar a forma e ornamentação
desejada.
Os grupos
ameríndios misturavam prata, ouro e cobre em diversas proporções, mas a liga
mais bem-sucedida foi chamada tumbaga (de cobre e ouro, que acrescenta a
resistência das joias, sem perderem a aparência áurea.
Tzantza ou
cabeça reduzida, um costume ritual de vários povos pré-colombianos do antigo
Equador.
Tzantzas
Alguns
grupos indígenas da região equatorial da América do Sul praticavam um costume
de reduzir cabeças humanas como parte de um ritual que podia ser tanto de
guerra quanto de um possível sacrifício em honra dos deuses. Eles acreditavam
que o espírito do sacrificado estava na cabeça. Para tanto, eles cortavam a
pele da nuca ao pescoço e retiravam o crânio (toda a parte óssea), o cérebro,
olhos e todas as partes moles. Colocavam a pele a ferver numa panela com
algumas ervas que faziam a cabeça ir reduzindo aos poucos e não deixavam que o
cabelo se soltasse. Depois de reduzida, a retiravam da água e costuravam o
corte na nuca, a boca e os olhos. Pedras quentes ou areia eram colocadas
no interior da cabeça até conseguirem o tamanho ideal e o formato mais
aproximado do rosto do inimigo. Ao final, defumavam a cabeça para que ela ficasse
escura e tudo isso tinha um importante significado.
Integração (500 - 1526 d.C.)
Entre 500 e
1526 d.C., os diversos grupos humanos que moravam nos Andes equatoriais
conformaram grandes confederações, também conhecidas no Equador como
"Senhorios Étnicos". A agricultura, a ourivesaria, a cerâmica e os
tecidos, foram algumas das atividades feitas por estes indígenas. Já para 500
d.C., as redes comerciais entre o litoral com os Andes e com culturas peruanas
ou amazônicas eram intensas.
Os grupos
mais representativos deste período eram Manteños e Milagro-Quevedo no litoral,
Pasto e Puruhá nos Andes e os Omaguas na Amazônia.
Cadeira de pedra usada pelos chefes ou curacas
ou pelos xamãs da civilização Manteña (500 d.C.).
Os Manteños se dividiam em dois grupos:
os chamados Manteños e os Huancavilcas. O seu território se espalhou ao norte
até Jama-Coaque, e ao sul até a península de Santa Elena e a ilha Puná. Os
Huancavilcas se localizavam ao oeste da atual cidade de Guayaquil, território
que compartilhavam com outras etnias. Os Manteños controlavam praticamente todo
o litoral sul da província de Esmeraldas.
A
estabilidade econômica destas culturas se baseava numa grande variedade de
produtos agrícolas: mandioca, milho, pimenta, algodão, amendoim, abóbora, cacau,
tomate e tabaco. Entre suas técnicas agrícolas destaca o sistema de cultivo em
terraços colocados nas ladeiras das montanhas, que forneciam de espaços
horizontais de cultivo controlado. Esta tecnologia provinha da região central
do Peru, onde foi utilizada aproximadamente desde o ano 500 d.C., e modificou a
paisagem natural das montanhas.
Salango foi um dos principais aldeamentos dos
Manteños.
Junto à
agricultura os manteños praticavam a pesca e a colheita de moluscos. A base
econômica mais importante deste grupo foi a rede de troca de produtos baseada
no que se conhece como confederação de mercadores. Seu conhecimento do mar, do
litoral, enseadas e das correntes marinhas fez dos manteños importantes
navegadores que estabeleceram relações com variados povos da América Central e
o México ao norte e o Peru e o Chile no sul. O principal produto de intercâmbio
foi a concha Spondylus, além do algodão, sal e cacau. Para este processo usavam
machados-moeda, os quais tinham medidas e tamanhos dependendo dos produtos que
trocavam. Para conhecer mais sobre este povo, vale a pena ler as crônicas dos
primeiros espanhóis que chegaram a terras equatoriais como o marinheiro
Bartolomé Ruiz que se encontrou no mar com uma embarcação manteña e o
historiador Pedro Cieza de León que fez uma descrição do costume de adorar uma
grande esmeralda conhecida como “Uminha”.
Entrando no
litoral interior do Equador, entre as atuais províncias de Guayas e Los Ríos se
desenvolveu uma cultura chamada pelos arqueólogos como Milagro-Quevedo. Esta região
equatorial está conformada por áreas inundáveis que os indígenas aproveitaram
para a agricultura. As cerâmicas revelam uma cultura muito rica que teve que se
enfrentar aos incas e aos espanhóis. Um personagem importante que é pouco
valorizado no país é uma mulher chamada Caiche, que por volta do ano 1593 foi a
esposa de um chefe indígena chamado Ambiocón que controlava uma porção do
território huancavilca na ilha Puná. Quando ficou viúva, ela casou com um
espanhol e se converteu numa das mulheres índias mais influentes da época. Os
espanhóis respeitaram a sua hierarquia por quanto ela liderava a várias
comunidades indígenas que forneciam aos conquistadores de matérias primas como
madeira para as suas construções ou balsas para a navegação.
Vulcão Chimborazo (6.310 metros) foi cultuado
pelos moradores da civilização Puruhá (300-1300 d.C.)
Na região
dos Andes setentrionais, na atual fronteira com a Colômbia. Aqui se encontrou
uma civilização chamada de Pasto,
a qual esteve conformada por vários aldeamentos como Tuza, Piartal e Capulí,
cada um com uma cerâmica especial. A principal caracteristica é a rica
iconografia representada nas vasilhas e pratos de argila. Admirar os desenhos é
descobrir uma cosmologia muito rica que nos ajuda a compreender melhor a
filosofia dos antigos povos andinos.
Mais para o
centro dos Andes equatoriais, na atual província de Chimborazo e aos pés do
vulcão homônimo se desenvolveu a partir do ano 300 d.C. e até a chegada dos
conquistadores espanhóis, uma civilização chamada de Puruhá e que foi identificada
tanto pelos cronistas coloniais no século XVI, quanto pelo religioso
historiador Juan de Velasco no século XVIII. Estavam organizados em comunidades
cujos centros de poder foram identificados pelos arqueólogos como Punín,
Yaruquíes e Guano. Mesmo que não tinham uma estrutura social bem definida pelos
pesquisadores, se pensa que mantinham relações comerciais com os chimbos, um
povo que habitava a província vizinha de Bolívar e onde se encontravam
importantes minas de sal na região de Tomavela, localizada nas ladeiras
ocidentais do vulcão Chimborazo. [4] Trabalhavam
a cerâmica e a ourivesaria, principalmente cobre dourado, prata e ouro. Os
arqueólogos têm achado muitos objetos metâlicos, a maioria como enfeites
funerários ou oferendas. Seus deuses estavam representados nos montes sagrados
como Chimborazo (considerado macho), Tunguragua (considerado fêmea), além do
sol e a lua.
Atuais indígenas quéchuas da Amazônia
equatoriana ainda mantêm alguns costumes herdados das antigas civilizações
pré-colombianas.
Na grande
floresta amazônica nos leva para as terras da civilização dos Omaguas ou Napo que se
desenvolvee entre 1200 e 1600 anos d.C. ao longo da beira do rio Napo e seus
principais afluentes da Alta Amazônia. As provas desta cultura se encontram
espalhadas na floresta amazônica do Equador, Peru e Brasil.
Dentro e
fora de suas casas, localizadas em altitudes próximas ao rio, construídas com
folhas de palmeira e de forma redonda, ocorriam as atividades da sua vida
diária. Lá, preparavam os seus alimentos e teciam cestas para coleta de frutos
silvestres ou armadilhas de rio com diferentes fibras vegetais. Tem se achado
várias ferramentas para a fiação .
Eles
produziram vasilhas de cor creme, bastante pesadas e decoradas com figuras
humanas e com representações pretas, vermelhas e brancas de animais
adorados como a onça-pintada e a anaconda.
Eles usaram
grandes jarros para depositar a chicha à base de mandioca e usaram folhas
grandes para dividir a comida .
Pesca de
tambaqui, pirarucu, piranhas e enguias, bem como a caça de aves, macacos, tatus
e jacarés formaram a base de sua dieta.
Durante o
ritual, os participantes cantaram e dançaram enquanto o xamã consumia yagé,
bebida sagrada e preparada a partir de ayahuasca com a realização de voos
espirituais para se transformar em um jaguar ou anaconda, obtendo o poder
destes animais para ajudar a sua comunidade.
Os Napo
enterravam seus mortos de uma forma particular. Quando uma pessoa morria,
deixavam o corpo exposto ao ar livre para que as suas partes moles foram
comidas por animais. Em seguida, reuniam os ossos e os pintavam de vermelho e
depositavam em urnas ricamente decoradas.
Terraços agrícolas nas ladeiras da cordilheira
dos Andes na atual província de Cañar, local onde se desenvolveu a cultura
Cañari.
No sul dos
Andes, os Cañaris, do mesmo
jeito que seus ancestrais, canalizaram o comércio e redistribuição de produtos
exóticos ao Peru e também mantinham relações com seus vizinhos da Amazônia e do
Litoral. Entre os produtos mais procurados pelos mercadores temos o algodão, as
penas coloridas das aves exóticas da floresta tropical, o sal grosso que vinha
de minas nas montanhas, peixe conservado em sal e mandioca.
Os povos que
ocuparam a serra durante o período de Integração (500 a.C.) foram conhecidos
através das inúmeras notícias escritas nas crônicas dos espanhóis.
Aclimatizados à altitude que é a principal característica da região, os Cañaris
conformaram aldeias de serranos, agricultores e caçadores que tinham
desenvolvido as suas lideranças e organização social em função a crenças
mágicas e princípios práticos. As crenças que faziam dos morros, das montanhas
e dos vulcões seres vivos estavam muito espalhadas pelos Andes. As lagoas, as
araras coloridos e as serpentes eram parte de seu panteão de seres mitológicos.
No caso dos Cañaris, é importante destacar a exploração que fizeram dos metais
e seus trabalhos em ouro, prata e cobre. Estavam organizados em centros
administrativos chamados "cacicazgos" como Hatum-Cañar, Molleturo,
Cañaribamba, Tanday-Pindilig e Sigsig. A língua falada era a cañari, mesmo que
segundo as pesquisas etno-históricas existiram enfrentamentos entre os líderes
das comunidades, o que nos faz pensar que não era uma confederação unida,
aliás, na hora de lutar contra algum inimigo como os Shuaras da Amazônia ou os
incas peruanos eram uma força só.
No local
onde se encontra atualmente a cidade de Cuenca, os Cañaris levantaram seu
centro de poder político-administrativo chamado "Guapondélig" que
significa "planície tão grande quanto o céu".
O sistema de caminhos incas foi uma rede vial
que uniu o império desde o sul da Colòmbia até o norte chileno e argentino.
A conquista inca (1460 - 1534 d.C.)
Keru, o copo cerimonial inca feito
de madeira no século XVI. Museu Nacional de Quito.
Os incas
constituem uma grande civilização que dominou uma ampla faixa de terras pelo território
sul-americano. De acordo com um relato de natureza mítica, o povo inca se fixou
inicialmente na região de Cuzco e teve como primeiro grande líder Manco Capac e
a sua esposa Mama Ocllo. Tudo isso ocorreu no ano 1200 depois de Cristo. Por
causa das condições geográficas mais favoráveis, a presença inca se concentrou
primeiramente na região central dos Andes.
Por volta do
ano 1300, os incas estabeleceram um processo de expansão territorial que buscou
os planaltos encravados entre as montanhas andinas e as planícies do litoral
Pacífico. Sob a tutela do imperador Pachacuti, começou a expansão territorial
do império. Os incas chegaram dominar os territórios do Peru, a Bolívia, o
norte do Chile e da Argentina.
No ano 1460,
começaram a expansão ao norte andino, chegando ao atual Equador e o sul da
Colômbia. A capital administrativa do império era Cuzco no Peru, porém o inca
Túpac Yupanqui fundasse a cidade de Tumipamba no antigo aldeamento da cultura
cañari de Guapondélig. Este inca casou com uma princesa indígena e teve um
filho chamado Huayna Cápac, quem continuou a conquista do norte até chegar à
atual cidade de Pasto, no sul colombiano.
O atual
Equador foi a província do Chinchaysuiu, que significa "terra do
jaguar". A conquista do que hoje é território equatoriano devia estar
motivada, em grande medida, por causa da alta produtividade agrícola dos vales
andinos, sobretudo em milho e batatas. Também pode ser o fato de ter tipos de
culturas especializadas nos Andes setentrionáis como o caso da coca, a planta
sagrada que se cultivava de forma especial na região de Pimampiro (atual
província de Imbabura). Além disso, como as populações do norte do Equador
atual sabiam melhor do que ninguém cultivar essa planta, grupos inteiros de
moradores dessa zona foram trasladados aos vales de clima similar de outras
regiões para melhorar e ampliar seu cultivo.
Outra razão
para a conquista do norte andino pode estar relacionada com o fato de que a
costa equatoriana era o principal local da América para a obtenção do
"mullu" ou concha Spondylus, objeto de grande valor para os povos
andinos, tanto pelo seu significado religioso (culto à fertilidade e oferendas
aos deuses) quanto pelo grande valor como matéria prima para fazer jóias e
enfeites.
“O Inca” era
a mais importante autoridade política entre o povo inca. Venerado como o
descendente do deus-sol ou “Intitaita”, o imperador era o principal guardião de
todos os bens pertencentes ao Estado, incluindo a propriedade das terras. Os
terrenos cultiváveis eram divididos em três parcelas distintas: a terra do
Inca, destinada ao “Hatum Apu” e seus familiares; a terra do Intitaita,
controlada pelos sacerdotes; e a terra da população.
Em um âmbito
geral, a elite da sociedade inca estava composta pela família real e os
ocupantes dos altos cargos político-administrativos (sacerdotes, chefes
militares, juízes, governadores provinciais e sábios). Logo abaixo, em posição
mediana, temos os comerciantes e artesãos que garantiam a circulação de
mercadorias que atestaram a presença de uma rica cultura material.
Os
camponeses se organizavam através de um extenso grupo familiar que ficava
conhecido com o nome de ayllu. Cada ayllu tinha o trabalho agrícola, o serviço
militar e suas demais obras organizadas por um líder mais velho chamado curaca.
Geralmente, cada uma dessas unidades de produção era dotada de um grande
armazém que estocava alimentos e roupas
utilizados
em qualquer eventualidade.
Terraços agrícolas incas em Pumapungo, antigo
bairro de Tomebamba.
A
religiosidade dos incas era marcada pela adoração de vários elementos da
natureza, como o sol (Intitaita), a lua
(Quillamama),
o raio (Illapa), todos parte da Mãe Terra (Pachamama). No sistema de valores da
religião inca, todos os benefícios alcançados deveriam ser retribuídos com
algum tipo de sacrifício que expressava a gratidão dos homens. Por esse fato,
observamos que os incas organizavam vários rituais onde os
sacrifícios,
inclusive de humanos, eram comuns.
Para
interligar as cidades de integravam o Império Inca, uma série de estradas em
pedra foi construída com o objetivo de facilitar a comunicação e o deslocamento
entre as pessoas. Vale ressaltar que as cidades incas contavam com vários
projetos arquitetônicos complexos que incluíam a construção de palácios,
fortalezas, e templos com dimensões surpreendentes.
Os incas
falavam uma língua denominada quíchua. Não tinham escrita. Contudo, mantinham
registros usando um complicado sistema de nós de cordões coloridos chamados
quipus.
No século
XVI, momento que marca a chegada dos espanhóis à América, a civilização inca
sofria com uma série de conflitos de ordem interna. O inca Huayna Cápac morreu
de variola, uma doença que chegou da Europa de barco à região do Caribe e que
logo se espalhou pela América matando a milhares de indígenas. O império foi
dividido entre os dois filhos herdeiros em duas regiões: Quito sob o controle
do inca Atahualpa e Cuzco sob o controle do inca Huáscar. Os espanhóis
começaram a explorar o Peru na década de 1520. Em 1533, soldados espanhóis
comandados por Francisco Pizarro tomaram Cuzco e subjugaram o Império Inca.
Conquista espanhola
Primeiros contatos com os europeus
Depois da
consolidação do poder espanhol sobre o itsmo do Panama no começo do século XVI,
várias notícias de um antigo reinado perdido chegaram lá. Em 1524 se organizou
uma empresa privada de conquista e colonização que encabeçaram Francisco
Pizarro e Diego de Almagro. Pizarro comandou uma primeira expedição pelo
litoral sul-americano em 1526, que chegou pela primeira vez às praias do atual
Equador. Após resolver dificuldades, os dois chefes voltaram a
organizar uma nova expedição, que em 1531 percorreu de novo o litoral até
chegar em Túmbez, aonde desembarcaram para começar explorar os territórios
continentais do norte peruano.
Naquele
momento o império inca estava envolvido numa sangrenta guerra civil na qual se
enfrentaram os dois irmãos que eram os herdeiros do poder: Atahualpa e Huáscar.
O primeiro deles ganhou e fez prisioneiro ao seu irmão. Os invasores europeus
aproveitaram esta situação para conseguir seu objetivo. Aprisionaram o
imperador em Cajamarca, no Peru. Foi tal o desconcerto entre os indígenas da
região que foi difícil estabelecer uma estrategia coordenada para lutar contra
os invasores, os quais demandaram um resgate pelo líder, mas finalmente
julgaram-no e assassinaram-no.
A múmia real ou "malqui" do Atahualpa
Após a morte
de um governante inca, o corpo era embalsamado e depois colocado em seu palácio
para ser cultuado como um ancestral divino. As múmias dos reis, chamadas de
"malquis" eram tratadas como se estivessem vivas, levadas em
procissões em Cuzco, vestidas e até alimentadas.
Em 16 de
julho de 2004, Jaime Pástor Morris, a arqueóloga Tamara L. Bray e Tamara
Estupiñán, equatoriana bolsista do Instituto Francês de Estudios Andinos,
chegaram à fazenda chamada Malqui , localizada
na paróquia Chugchilán, província de Cotopaxi nos Andes centrais do Equador.
Ali tem se conservado um local que pode contar a história do útimo grande
imperador dos incas. Este importante local foi descoberto em duas expedições.
Na primeira expedição organizada em 16 de julho de 2004, a turma de
pesquisadores chegaram a Malqui, um complexo de ruínas que se encontram na
parte baixa do rio Quindigua e, na segunda feita em 26 de junho de 2010,
conseguiram acessar a Machay, um monte pequeno em cujo cume se encontram os
vestígios mais imponentes ligados ao culto que os incas tinham a seus
ancestrais progenitores.
Sebastián de Benalcázar, conquistador espanhol e
fundador de Quito,
Em 2012, os
trabalhos de recuperação do complexo arqueológico começaram com o apoio do
Ministério Coordenador do Patrimônio Cultural, a Prefeitura de Sigchos e do
Instituto Francês de Estudos Andinos. Segundo as pesquisas preliminares, é
possível que, depois do assassinato do inca Atahualpa em Cajamarca, seu corpo
foi enterrado na catedral dessa cidade e um grupo de indígenas tiraram daí e
levaram a múmia em peregrinação a longo da cordilheira em diração norte,
enquanto o general Rumiñahui, considerado o líder da resistência indígena no
atual Equador, organizava a ofesnsiva contra o avanço das tropas espanholas. O
tipo de arquitetura achada em Malqui Machay revela um local muito importante e
sagrado aonde possívelmente chegou a múmia real para ser enterrada aqui.
Conquista dos Andes e fundação espanhola de Quito
O
conquistador Sebastián de Benalcázar, sem consentimento de seus superiores,
começou a conquista de Quito desde a cidade de San Miguel, ao norte do Peru.
Quando recebeu notícias que o conquistador Pedro de Alvarado, governador da
Guatemala estava se aproximando com uma grande frota ao litoral daquelas
terras, onde segundo a tradição estavam escondidos os tesouros do Atahualpa,
Benalcázar e um exército de quase duas centenas de homens e cerca de oitenta
cavalos empreenderam uma viagem em direção norte.
No norte do
Tahuantinsuyo, vários generais do Atahualpa (Rumiñahui, Quisquis, Calichuchima,
Píntag e Quimbalembo) organizaram a resistência, mas foram sucessivamente
vencidos pelas tropas espanholas apoiadas por povos indígenas descontentos[3] como
os Cañaris.
Ao chegar a
Tomebamba, os Cañaris, desejando se independizar de Quito e do Rumiñahui, não
os combateram, mas se ofereceram como os seus aliados, prestando valiosa ajuda,
guiando-os pela desconhecida terra pela que transitavam e salvando-os inúmeras
vezes de cair nas ciladas e emboscadas com que o astuto Rumiñahui os esperava[14]. Em
Tiocajas se travou uma batalha que ficou indecisa, e na qual combateram os
12.000 soldados do Rumiñahui contra os espanhóis e 11.000 Cañaris. Rumiñahui
continuou seu caminho em direção norte para organizar mais outra resistência e
destruir Quito, capital do reino com o objetivo de impedir que os tesouros
foram roubados pelos invasores.
Rota do conquistador Benalcázar.
Semanas
depois, Benalcázar chegou a uma cidade em ruínas. Indignado e sem achar os
tesouros, travou vários combates sangrentos em El Quinche e Cayambe, onde
assassinou bárbaramente a centenares de mulheres e crianças que negaram lhe dar
a informação sobre o esconderijo dos tesouros.
Quando
voltou a Quito se encontrou com Diego de Almagro, enviado pelo Pizarro para
opor-se às pretensões do Pedro de Alvarado. Os dois capitães decidiram esperar
a Alvarado que tinha desembarcado em Bahía de Caráquez. Enquanto ele chegava,
fundaram a cidade de Santiago de Quito na chapada do atual vilarejo de Sicalpa,
em 15 de agosto de 1534.
Após duras
negociações com o objetivo de evitar uma gerra civil entre os conquistadores,
Alvarado aceitou se retirar em troca de uma indenização de 100.000 pesos de
ouro. Almagro e Alvarado foram para o Peru com o fim de que o dinheiro fosse
entregue em presença do Pizarro. Antes de partir, Almagro nomeou o Benalcázar
Tenente Governador de Quito e autorizou, numa ata assinada em 28 de agosto, a
fundação de uma cidade definitiva, a qual devia se instalar sobre os ruínas da
cidade destruída pelos incas. Benalcázar só conseguiu reafirmar aquele
assentamento em 6 de dezembro de 1534, dia em que entrou pela segunda vez em
Quito e fundou-na com o nome de San Francisco em honra do Francisco Pizarro.
A
resistência indígena continuou mesmo que dispersa e descoordenada. Rumiñahui
foi preso, torturado e finalmente assassinado. Os outros espanhóis que
acompanhavam Benalcázar Ampudia e Puelles continuaram as crueldades contra os
indígenas em procura de ouro e riquezas.
Era colonial
Fundação das primeiras cidades (1534 - 1557)
Após o
estabelecimento definitivo de San Francisco de Quito em 1534, o conquistador
Sebastián de Benalcázar retornou oara Peru para se entrevistar com o Francisco
Pizarro. Estando em Piura, preparou uma turma de homens, alimentos e aprestos.
Em agosto de 1535 zarpou rumo ao Golfo de Guayaquil, desembarcou na ilha Puná e
continuou rio acima. Entre outubro e novembro chegou a um casario indígena
chamado de Guayaquile. Benalcázar deixou 40 espanhóis para concretizar o
assentamento nestes territórios e voltou para Quito.
San Francisco de Quito foi fundada em 1534 aos
pés do vulcão Pichincha. Logo se converteu num importante centro de arte e
cultura colonial.
Os indígenas
chonos atacaram a vila e os espanhóis tiveram que abandonar o local. Francisco
Pizarro enviou Hernando de Zaera para a relocalização da cidade e nova
colonização. Entretanto, Francisco Pacheco, enviado pelo Pizarro fundou em 12
de março de 1535 a vila de San Gregorio de Portoviejo.
Em 1537,
Guayaquil foi novamente atacada violentamente pelos chonos e o local ficou
despovoado. Entre 1538 a 1547 se produziu o assentamento definitivo da cidade
de Santiago de Guayaquil, aos pés do morro La Culata no local atual.
Outras
fundações importantes foram Loja pelo capitão Alonso de Mercadillo em 1548
sobre território dos indígenas paltas e Santa Ana dos Rios de Cuenca, fundada
pelo Gil Ramírez Dávalos em 1557, sobre a antiga cidade inca de Tomebamba.
Nova ordem colonial
Nesta planta de Guayaquil de 1741 se observa a
sua importância estratégica como porto e estaleiro da Espanha no Pacífico.
Com a
fundação espanhola de quito começou uma nova ordem política e administrativa.
Benalcázar estabeleceu a cidade no local que hoje é conhecido como Plaza de la
Fundación. No entanto devido a seu reduzido tamanho, em 1535 mudou a praça
principal a seu local atual onde fica o Palácio de Governo e a Catedral. Junto
com a conquista chegou a religião católica e novos atores. As ordens religiosas
da Nossa Senhora da Mercê, de São Francisco, de Santo Agostinho, de São
Domingos e finalmente da Companhia de Jesus se estabeleceram para a
evangelização dos indígenas. A cidade foi planejada desde a praça principal
onde se encontravam a casa do governo, a igreja matriz, a prefeitura e a sede
do bispado. A primeira igreja fão oi a atual Catedral Primada, construída em
1535. Em 1551, Garci Díaz Arias foi nomeado primeiro bispo de Quito. Em 14 de
fevereiro de 1556, foi dado o titulo de "Muito Nobre e Leal Cidade de San
Francisco de Quito", mesmo titulo dado em 1557 ao porto de Guayaquil e a
San Gregorio de Portoviejo.
Com os
espanhóis neste território, iniciou-se o intenso processo de mestiçagem
cultural.
Descoberta do Rio das Amazonas (1541 - 1542)
Gonzalo
Pizarro é nomeado Governador de Quito e em 1541 organizou uma expedição a
terras orientais. Levou inumeros indígenas que morreram no trajeto. Decidiram
seguir a rota explorada antes pelo Gonzalo Díaz de Pineda. Na expedição se uniu
o Francisco de Orellana. Diante a falta de privações e alimentos, Orellana é
enviado a continuar rio abaixo num bergantim, que acaba chegando no Rio
Amazonas em 12 de fevereiro de 1542. Pizarro, sem ter notícias, decidiu voltar
para Quito só com 80 homens do total que acompanharam a expedição. O Orellana
continuou a viagem até o Atlântico e finalmente a Espanha para informar ao rei
sobre esta nova descoberta que seria uma das mais importantes da história
colonial da América.
Assassinato de Francisco Pizarro segundo uma gravura
do séxulo XIX.
Lutas de poder entre os conquistadores (1535 - 1548)
O século XVI
é considerado pelos historiadores como o mais violento da história equatoriana.
Começou com as lutas entre incas e indígenas locais, depois a guerra civil
entre Atahualpa e Huáscar, e finalizou com as lutas de poder entre os
espanhóis.
Os dois
personagens mais importantes da conquista espanhola foram sem dúvida Francisco
Pizarro e Diego de Almagro. O Rei tinha criado duas governações nos territórios
descobertos e conquistador por ambos espanhóis: Nova Castilha (Peru), entregue
a Pizarro e Nova Toledo (Chile) sob o comando do Capitão Almagro. O limite
entre Nova Castilha e Nova Toledo era a cidade de Cusco, porém as cédulas reais
não especificavam a qual dos territórios pertencia a antiga capital do
Tahuantinsuyu. Dom Diego de Almagro, sem solucionar o problema, partiu para a
conquista do Chile em 1535, mas aquela empresa foi mais complicada do que ele
imaginou e aquelas terras não tinham tantas riquezas quanto as que o Peru
tinha. Almagro voltou para Cusco e tomou posse do maior centro urbano da
América do Sul naquela época. Manco Inca liderou a resistência e um novo
alçamento que deixou em perigo a sobrevivência do regime castelhano na América
do Sul. Almagro se apoderou pela força do Cusco em abril de 1537, tomando
prisioneiros a Hernando e Gonzalo Pizarro, os dois irmãos do governador do
Peru. Acreditando que o conflito acabou, Almagro os liberou , mas eles em vez
de aceitar uma possível solução aos problemas internos entre eles, organizaram
um exército que derrotou Almagro na Batalha das Salinas, perto de Cusco em 26
de abril de 1538. Em 8 de julho o Almagro foi finalmente executado.
Batalha de Iñaquito. Gravura da “Historia
General de las Indias” (1554) de Francisco López de Gómara.
No entanto,
a facção dos "almagristas" não desapareceu com a derrota das Salinas.
O Diego de Almagro "o moço", filho do anterior nascido no Panama em
1520[15], comandou a
resistência contra o poder dos Pizarro e uma turma de "almagristas"
em 26 de julho de 1541 entrou em Lima e assassinou a Francisco Pizarro na sua
própria residência e proclamou ao jovem como general do Peru.
A coroa
espanhola enviou a Cristóbal Vaca de Castro como comissionado régio, com o
propósito de acalmar a região. Também vinha com o objetivo de impor ordem
naquela região, pois a Metrópole considerava que os governadores estavam
governando esses territórios com autonomia demais. Ele tinha sido nomeado novo
governador de Nova Castilha e Nova Toledo. Quando se encontrava em Popayán,
recebeu a notícia da morte do Pizarro, então avançou a Quito aonde foi
conhecido como novo governador em 26 de dezembro de 1541. Almagro "o moço",
não quis se submeter às ordens do Vaca de Castro e ambos os dois prepararam uma
batalha que acabou se realizando em Chupas, perto da cidade de Huamanga, em 16
de setembro de 1542. Almagro foi derrotado, do mesmo jeito que o seu pai, na
antiga capital dos incas.
Batalha de Jaquijahuana. Gravura das “Décadas”
de Antonio de Herrera. Ano ca. 1615.
Longe de
acabar os confrontos, com a promulgação das Leis Novas do Rei Carlos I em 1542
e completadas no ano seguinte, o ambiente de guerra continuou entre os
conquistadores. Os mais conhecidos representantes dessas leis foram os
sacerdotes dominicanos Francisco de Vitoria e Bartolomé de las Casas. Dentro
daquelas reformas estava a proteção dos índios e a prohibição para os
religiosos e os espanhóis de ter encomiendas (um sistema de
escravidão e exploração contra os índios).
O
encarregado da execução das Leis Novas nesta parte do continente foi Blasco
Núñez de Vela, primeiro Vice-Rei do Peru, quem assumiu o governo depois do Vaca
de Castro em 17 de maio de 1544. Antes da sua chegada a Lima, já tinha
despertado forte oposição entre os colonos. A mão dura que ele pôs fez que os
oidores da recentemente criada Audiência de Lima o depusseram e embarcaram-no
rumo ao norte de volta para a Espanha.
O vice-rei
conseguiu a restitução do cargo e a permissão para desembarcar em Túmbez. Desde
lá foi para Quito aonde chegou em janeiro de 1545, para formar um exército e se
opor aos rebeldes[14]. Graças ao
apoio de Quito e de outras cidades, foi para o Peru à frente de um exército,
mas o Gonzalo Pizarro era bem mais forte e as tropas do Núñez de Vela não
estavam dispostas a combater contra esse inimigo poderoso. O vice-rei teve que
voltar para o norte para receber os reforços que o Sebastián de Benalcázar que
trouxe de Popayán. Pizarro buscava o confronto e perseguiu o vice-rei quem
fugiu para o norte. A meados de junho, Núñez de Vela se encontrava de novo em
Quito e tentou resistir a Pizarro mas não pôde porque não tinha soldados
dispostos a continuar os enfrentamentos. Então continuou para Popayán perseguido
por Pizarro, quem depois de colocar fora o vice-rei de Nova Castilha, voltou
para Quito. Em Popayán Núñez de Vela recebeu novos reforços comandados por
Benalcázar e decidiu tomar conta da capital pensando que seria uma tarefa muito
simples, no entanto, Pizarro armou uma emboscada e esperou o inimigo com um
importante exército localizado ao norte da cidade. Os dois exércitos se
enfrentaram em 18 de janeiro de 1546, travando um combate conhecido como
Batalha de Quito ou Batalha de Iñaquito porque foi travada no local que
atualemte está conformado pelos parque La Alameda e El Ejido. Núñez de Vela
morreu trágicamente decapitado, embora Benalcázar tinha sido perdoado.
A resposta
da Coroa a semelhantes acontecimentos sangrentos foi tentar uma negociação com
os colonos recem chegados que tinham a ambição de obter provilégios e estavam
enfrentados com os encomenderos. As autoridades decidiram não aplicar as
polêmicas leis, dando certo controle dos assuntos americanos aos colonos, em
troca de consolidar a unidade.
Para
enfrentar a Pizarro o religioso Pedro de la Gasca foi designado para se
enfrentar a Pizarro. O clérigo obteve o apoio dos colonos e conseguiu levantar
uma importante força militar. O governador Pedro Puelles, colocado em Quito por
Pizarro foi assassinado e os dois exércitos acabaram se enfrentando em
Jaquijaguana, perto de Cusco a inícios de 1548. Pizarro foi derrotado e
executado com seus tenentes. Finalmente a Coroa consolidou o seu poder mesmo
com certas concessões ao poder local.
Criação da Real Audiência de Quito e administração colonial (1563)
Mapa da Real Audiência de Quito.
Em 1541, o
rei da Espanha Carlos I ordenou a criação do Vice-reino do Peru. A capital era
a "Ciudad de los Reyes" (Cidade dos Reis), atual Lima. O vice-reinado
constituiu a máxima expresão territorial e político-administrativa que houve na
América espanhola e esteve destinado a garantir o dominio e a autoridade da
monarquia peninsular sobre as terras recentemente descobertas.
Dentro dessa
organização estavam as reais audiências. Estas eram regiões geográficas
delimitadas que serviam de unidade administrativa e política e de assento de
governo misto. O judiciário se encomendava aos "oidores" e o político
ao presidente da audiência que representava o vice-rei e em último termo o
rei .
Reunidas as
audiências formavam as capitanias gerais e vice-reinados. As audiências como os
cabildos permaneceram inalteráveis em sua condição legal. Nada podia se mudar e
serviram de base para a libertação e organizar os novos estados e as
administrações sociais.
Devido ao
crescimento democráfico, os requerimentos administrativos, as demandas da
sociedade colonial e o número de assentos e paróquias, se criou a Real
Audiência de Quito. Em 1560 se fez o pedido ao monarca sua criação e três anos
depois, em 29 de agosto de 1563, Felipe II assinou a Cédula Real.
Os limites
incluiam até Pasto, Popayán e Cali na atual Colômbia e Piura e Chiclayo no
atual Peru. A leste estava a região amazônica incluindo uma boa parte do Rio
Amazonas. A Real Audiência se dividiu nas governações de Popayán, Quito,
Cuenca, Zamora, Loja, Jaén, San Miguel de Piura, Santiago de Guayaquil e
Portoviejo. Quito foi a capital administrativa.
Francisco de Toledo, vice-rei do Peru
(1569-1581)
Seu primeiro
Presidente foi o Licenciado Hernando de Santillán, que tomou posse em 1564.
A revolta das Alcabalas
Além das
cidades de fundação espanhola, houve vários aldeamentos indígenas conservados.
A nova legislação colonial estabeleceu uma divisão entre a República
dos brancos e a República dos índios. Uma das primeiras
formas de governo colonial espanhol foi conhecida como mandato indireto, que
consistia em manter as autoridades indígenas com o objetivo da cobrança de
impostos.
Durante o
governo do vice-rei Francisco Toledo no Peru (1569-1581) se realizaram várias
reformas fundamentais administrativas e fiscais que consolidaram o poder
colonial em todo o vice-reinado e na Audiência de Quito.
No fim do
século XVI em Quito houve um conflito entre o presidente da Audiência Manuel Barros
de San Millán, de inclinações em favor dos índios, e o Cabildo, instituição que
defendia os interesses dos brancos. Entre 1592 e 1593 se travou a Revolta das
Alcabalas contra a plicação de um imposto que atingia o comércio local. Afinal
triunfou mais uma vez a Coroa, mas se manteve um certo equilíbrio de forças
entre ela e os poderes locais.
"Mitas" e "obrajes"
Buscando
atingir os interesses mercantilistas hispânicos na América, os colonizadores
desse país buscaram empreender meios para extrair a abundante disponibilidade
de metais preciosos do continente americano. Contudo, sem possuir fácil acesso
à mão de obra escrava dos africanos, os espanhóis tiveram que empregar formas
de trabalho que pudessem transpor a riqueza colonial à metrópole espanhola.
Uma das
práticas adotadas pelos incas para organizar o trabalho coletivo era a mita,
que significa turno. Ou melhor, um sistema de escalas de mão de obra,
divididodetalhadamente entre províncias, vilas e aldeias, a fim de garantir o
maior equilíbrio possível na convocação de pessoas para trabalhar. Este
sistema foi utilizado pelos colonizadores como uma forma de organizar melhor o
trabalho dos indígenas que eram chamados de mitayos.
Independência
Em 1822 forças
locais se organizaram e derrotaram o exército monarquista se unindo à Grã Colômbia, república
fundada por Simón
Bolívar, da qual só veio a separar-se no dia 13 de maio de 1830.
O século XIX foi marcado
por instabilidades, com rápidos movimentos políticos e institucionais. O
conservador Gabriel García Moreno unificou
o país nos anos de 1860 com o
apoio da Igreja
católica.
Com o
aumento da demanda mundial de cacau, desde o
início de 1800,
produziu-se uma migração dos altiplanos em direção à fronteira agrícola da
costa do Pacífico.
Em 1895, sob a
liderança de Eloy
Alfaro, se deflagrou uma revolução liberal
nas planícies, que reduziu o poder do clero e
possibilitou o desenvolvimento do capitalismo.
Entretanto,
o declínio do ciclo econômico do cacau produziu nova instabilidade política que
culminou com o golpe
militar de 1925.
Os trinta
anos seguintes foram marcados por políticos populistas como o presidente José María Velasco Ibarra que,
em janeiro de 1942, assinou o
"Protocolo do Rio", acordo pelo qual se
encerrava a rápida guerra com o Peru, iniciada
um ano,no qual o Equador aceitou uma fronteira provisória que consolidou a
perda de grande parte do território que antes reivindicava na Bacia Amazônica.
Período após Segunda Grande Guerra
Depois
da Segunda Guerra Mundial, a
recuperação do mercado agrícola e o crescimento da indústria da banana ajudaram
a restabelecer a prosperidade e paz política.
De 1948 a 1960, três
presidentes, iniciando por Galo Praça Laço, foram
eleitos livremente e completaram seus mandatos.
Num ambiente
em que quase toda a América do Sul foi
palco de golpes militares, o retorno de políticas populistas provocou
inquietações que foram motivo de intervenções militares domésticas nos anos
sessenta, época em que a descoberta de petróleo atraíram companhias
estrangeiras e foi fundada a "Amazônia Equatoriana".
Em 1972, um golpe
militar derrubou o regime de José María Velasco Ibarra passando a utilizar a
riqueza do petróleo e
empréstimos estrangeiros para custear um programa de industrialização, reforma
agrária, e subsídios para consumidores urbanos.
Com o
desvanecimento de ciclo econômico do petróleo, o Equador voltou a democracia em 1979, sob o
primeiro presidente da Constituição equatoriana de 1979, Jaime Roldós Aguilera, candidato
de uma grande frente partidária, a "Concentração de Forças Populares"
ou "CFP" que obteve expressiva vitória sobre Sixto Durán Ballén do
Partido Cristão Social "(PSC)".
Depois de
uma discordância de liderança com Asaad Bucaram, o líder de então do CFP,
Roldós, deixou a coligação para fundar com sua esposa um partido próprio
denominado "Mudança e Democracia" levando condigo grande número de
partidários. Com isto, o PCD, se tornou o terceiro partido em importância
política .
Em 1981 ocorreu
novo episódio de conflito de fronteira com o Peru, na região de Paquisha, com
algumas recorrências posteriores.
Ao final de
1981 o vice-presidente Osvaldo Hurtado Larrea do partido Democracia Popular
"DP" sucedeu o presidente Roldós depois que este morreu num acidente
aéreo na selva amazônica.
Devido à
pressão econômica da guerra sobre o mercado (particularmente do petróleo), o
governo de Osvaldo Hurtado enfrentou uma crise econômica crônica em 1982, com
crescente inflação, déficits de orçamento com efeitos desvalorizadores da
moeda, acúmulo do serviço da dívida e parque industrial não competitivo.
Em 1984 as
eleições presidenciais foram vencidas por León Febres Cordero Rivadeneira do
PSC por estreita margem de votos. Durante os primeiros anos da sua
administração dele, Febres Cordero orientou sua política econômica para o
livre-mercado, fortaleceu o combate à produção de drogas e terrorismo, no que
foi auxiliado pelos Estados Unidos da América.
Seu mandato
foi prejudicado por disputas políticas dentro do governo e pelo seu breve
seqüestro por elementos do exército. Em março de 1987 um
terremoto devastador suspendeu a exportação de petróleo piorando assim os
problemas econômicos do país.
Em 1988 Rodrigo
Borja Cevallos do partido da Esquerda Democrática "ID" elegeu-se
presidente, concorrendo contra Abdalá Bucaram do "POR". Sua proposta
era de melhorar a proteção de direitos humanos e levou a cabo algumas reformas,
notavelmente uma abertura de Equador para comércio estrangeiro. O governo de Borja
concluiu também um acordo com o pequeno grupo terrorista " Alfaro Vive,
Carajo " porém a continuidade de problemas econômicos no país acabou
arruinando sua popularidade, permitindo que a oposição obtivesse maioria no
Congresso de 1990.
Em 1992, Sixto
Durán Ballén ganhou sua terceira concorrência para a presidência da república.
As medidas de ajuste de macroeconômicas duras que ele impôs eram impopulares,
mas obtiveram sucesso mediante iniciativas de modernização do Congresso. O
vice-presidente de Durán Ballén, Alberto Dahík, foi o arquiteto das políticas
econômicas de administração, mas em 1995, Dahík
fugiu o país para evitar processo por corrupção impulsionado pela ferrenha
oposição. Uma guerra com o Peru (chamada Guerra de Cenepa, na área do rio com
este nome) estourou em janeiro e fevereiro de 1995 em função de atrito sobre as
fronteiras estabelecidas em 1942 e foi solucionada Protocolo de Rio.
Período recente
Abdalá
Bucaram, do POR, foi eleito presidente em 1996 com
uma plataforma populista prometendo reformas econômicas e sociais e o
rompimento do que chamou de poder da oligarquia nacional. Durante seu curto
mandato a administração de Bucaram criticou a corrupção sendo deposto em 1997
pelo Congresso sob alegação de incompetência mental, sendo nomeado em seu lugar
o presidente interino Fabián Alarcón então Presidente de Congresso e líder do
pequeno partido Frente de Alfarista Radical "FRA".
Em maio
de 1997 a
presidência interina de Alarcón foi endossada por um referendo popular. Durante
a presidência de Alarcón, foi escrita a nova Constituição do país (1979) que só
entrou em vigor no dia 5 de junho de 1998, depois das
eleições presidenciais e de membros do Congresso de 31 de maio de 1988.
Como nenhum
candidato a presidência obteve maioria, no dia 12 de julho de
1998 seguiu-se uma eleição de segundo turno entre os dois candidatos mais
votados, o prefeito de Quito Jamil Mahuad do "DP" e Álvaro Noboa
Pontón do Partido Cristão Social. Mahuad foi eleito por uma estreita margem de
votos assumindo o cargo no dia 10 de agosto de
1998, mesmo dia em que a nova Constituição do Equador entrou em vigor.
Mahuad
concluiu um acordo de paz com o Peru em 26 de outubro de 1998, mas com as
crescentes dificuldades econômicas, fiscais e financeiras do país, sua
popularidade foi diminuindo até quando, inesperadamente substituiu a moeda
corrente indígena o sucre (homenagem póstuma de um herói
venezuelano na guerra revolucionária contra a Espanha), obsoleto,pelo dólar
norte-americano (política monetária chamada de dolarização)
Esta reforma
monetária causou grave desassossego nas classes de baixo poder aquisitivo que
tentava converter seus sucres em dólar com muita perda no câmbio enquanto as
classes mais abastadas, que já possuíam grandes volumes desta moeda e já faziam
negócios com ela, capitalizaram grandes lucros.
Nas
manifestações populares de grupos indígenas de 21 de janeiro de 2000, em Quito,
o exército e a polícia se recusaram reprimir os manifestantes e em seguida a
Assembléia Nacional Constituinte, num golpe de estado semelhante aos muitos já
ocorridos no Equador, instituiu uma junta de tripartite para intervir na
administração do país.
Oficiais
militares graduados declararam seu apoio à intervenção e, durante uma noite de
confusão, depois de fracassarem as conversações, o presidente Mahuad foi
forçado a fugir o palácio presidencial para sua própria segurança, encarregando
por decreto, o seu Vice-presidente Gustavo Noboa como responsável pela
administração.
Na manhã
seguinte, Mahuad endossou Noboa como seu sucessor por uma rede nacional de
televisão e o triunvirato militar, que efetivamente já dirigia o país, também o
endossou.
Assim, na
reunião de emergência do mesmo dia 22 de janeiro, em
Guayaquil, o Congresso do Equador ratificou Noboa como Presidente da República.
A política
de dolarização ainda permaneceu sob a liderança de Noboa. Embora a dolarização
tenha mitigado seus efeitos e iniciado ligeira melhoria sobre a economia, o
governo de Noboa foi acusado pela mantença da dolarização e descuido com
problemas sociais e outros assuntos importantes da política Equatoriana.
Em 15 de janeiro de 2003, o Coronel
aposentado Lúcio Gutiérrez, membro da junta militar que subverteu presidente Jamil
Mahuad em 2000, assumiu a presidência do Equador com
uma plataforma de combate à corrupção. O partido de Gutierrez, tendo poucos
assentos no Congresso, o força a negociar com outros partidos para mudar a
legislação, já tendo ensaiado algumas reformas econômicas.
Lucio
Gutiérrez, deixou o poder em 2005 diante da falta de apoio das Forças Armadas e
no meio de fortes protestos, o que conduziu a que seu vice-presidente, Alfredo
Palacio, assumisse a presidência até os dias de hoje. As eleições no país estão
previstas para Outubro desse ano e pode ser um novo passo para uma possível
maior integridade política do país.
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