Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Chegada dos franceses por
Kurt G. Hermann, 1920. Museu Histórico Municipal de São Francisco do Sul
A história de Santa
Catarina teve início nos primórdios do século XVI,
com os primeiros registros de incursões de piratas europeus.
No começo do século XVI, a região que é hoje o estado
catarinense era povoada pelos carijós,
tribo do grupo tupi-guarani, catequizados (que
instruíram-se e pacificaram-se no catolicismo romano) desde 1549. A partir do
início da época em que o Brasil foi descoberto, expedições vindas de Portugal e Espanha visitaram
a costa catarinense. No ano de 1526, Sebastião Caboto, viajando ao rio da Prata,
tinha passado pela ilha então denominada dos Patos e a chamou de Santa
Catarina. D. João III doou as terras
continentais para Pero Lopes de Sousa em 1534. Mas, em todos
os anos de século XVI, as terras ficaram desabitadas, recebiam a visita
de jesuítas, colonizadores espanhóis e portugueses,
porém, sem população permanente. Os portugueses somente começaram a se
interessar pela região na metade do século XVII. No ano de 1658, a povoação
permanente mais antiga do estado, o povoado de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco foi
fundado por Manuel Lourenço de Andrade e seus
amigos. Em 1675, Francisco Dias Velho, seguido de seus
filhos, escravos e criados, criou a povoação de Nossa Senhora do Desterro
(hoje Florianópolis) na ilha de Santa Catarina. Em
1676, o povoado de Laguna foi estabelecido por Domingos de Brito Peixoto. Em 1738,
criou-se a Capitania de Santa Catarina, vinculada à
de São Paulo. Em 1739, a capitania desmembrou-se de São Paulo
e passou a pertencer à Capitania Real do Rio de Janeiro. Um
sistema defensivo insular foi criado e cerca de 5 000 imigrantes açorianos começaram
a povoar a ilha e o litoral da capitania, de 1748 a 1756. Portugal e Espanha
entraram em guerra. Em consequência disso, a ilha de Santa Catarina foi
devastada e invadida por tropas espanholas em 1777. Os espanhóis foram
obrigados pelo Tratado de Santo Ildefonso a
devolver a região que eles mesmo conquistaram. A Capitania de
Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, fundada pelo Marquês de Cascais em 1656, substituiu
a Capitania de Santana, que teve início
na foz da baía de Paranaguá e fim na atual cidade
catarinense de Laguna, tendo como limites a Capitania de Santo Amaro (parte da
segunda seção de Capitania de São Vicente) ao norte, as águas
salgadas do oceano Atlântico a leste e o Governo do Rio da Prata e do Paraguay a
oeste, estados extintos delimitados pelo Tratado de Tordesilhas. Depois que a independência do Brasil foi
proclamada, a capitania foi elevada à categoria de província. A Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do
Sul em 1835, teve suas consequências sofridas pela então província. Em julho de 1839, a República Juliana foi proclamada pelos
revolucionários, chefiados por Garibaldi e Davi
Canabarro, que tinham tomado Laguna. Derrotados pelas tropas
do Império do Brasil, os rebeldes deixaram
Laguna. Em 1840, as trincheiras farroupilhas mais recentes foram extintas.
Em meados do século XIX vieram os imigrantes europeus,
especialmente alemães e italianos,
estes últimos em quantidade muito pequena. Foram criadas as colônias de Dona Francisca, atual Joinville,
em 1850, Blumenau em
1852, e Brusque em
1860. A proclamação da República foi
apoiada pela província agora elevada à categoria de unidade federativa, porém
a revolta do governador escolhido por nomeação presidencial, que se aderiu
à Revolução Federalista gaúcha em 1893,
foi contrária ao governo central. Desterro foi transformada em base naval da
esquadra revolucionária chefiada por Custódio José de Melo. As lutas
expandiram-se por toda a costa de Santa Catarina. Derrotados em 1894, os
revolucionários foram seriamente castigados pelas tropas legalistas. Em
1894, Hercílio Luz foi escolhido por voto
popular como governador e elaborou
uma política que pacificasse a região e que reparasse os problemas
infraestruturais que o estado sofreu. Homenageando Floriano
Peixoto, Desterro recebeu o nome de Florianópolis.
No ano de
1912, teve início a Guerra do Contestado, conflito de oposição
entre os habitantes empobrecidos da região que situa-se dentre os rios Negro, Iguaçu, Pelotas e Uruguai e
as forças oficiais. José Maria de Santo Agostinho, um
curandeiro considerado santo, liderava os sertanejos. Bem como isso, o Paraná e
Santa Catarina disputavam a região onde moravam, por esse motivo é que a área
recebeu o nome de Contestado. Ambas as unidades federativas se
desentenderam e os sertanejos lutaram contra as forças oficiais, e tudo isso somente
deixou de existir em 1916. Em 1930 o território de Santa Catarina foi invadido
pelas forças revoltosas as quais saíram do Rio Grande do Sul, apesar da
resistência de Florianópolis que se estendeu até o triunfo da revolução no país inteiro. Na época
da Segunda Guerra Mundial, foi necessário que
o problema da infiltração nazista fosse enfrentado no estado, em que o esforço
de guerra brasileiro não conseguiu ser prejudicado por agrupamentos de alemães,
diante de uma tentativa infrutífera. Em toda a administração de Getúlio
Vargas, até 1945, interventores governaram o estado. Desde
os anos 1950, colaborou ao progresso catarinense o estímulo concedido para que
o extremo oeste e
o meio-oeste do estado
fossem povoados por colonos ítalo-brasileiros que vieram do Rio
Grande do Sul. A Universidade Federal de Santa
Catarina foi criada em 1960 e a Universidade para o Desenvolvimento
do Estado de Santa Catarina foi fundada em 1965, e tudo isso
impulsionou em muito a educação estadual. Esperidião Amin Helou Filho foi escolhido
por voto popular nas eleições de 1985, após um
grande período de eleições indiretas para governadores
no Brasil. Sucederam-no os governantes eleitos Pedro Ivo
Campos (1987-1991). No mês de março de 1991, tomou posse do
poder executivo o senhor Vilson Kleinubing, do PFL (atual
Democratas), renunciando em abril de 1994 e sendo trocado por Antônio
Carlos Konder Reis, que concluiu o mandato. Nas eleições de 1994, foi
escolhido por voto popular Paulo Afonso Evangelista Vieira,
que tomou posse do poder executivo estadual em 1995, ficando no cargo até 1999,
quando foi substituído por Esperidião Amin Helou Filho. Luiz Henrique da Silveira venceu
as eleições de 2002,
permanecendo no cargo até 2006, no momento em que assumiu seu vice Eduardo Pinho
Moreira, que completou o mandato. Luiz Henrique da Silveira, eleito
em 2006, foi substituído
por Leonel Arcângelo Pavan, que concluiu o mandato.
Em 2010, João Raimundo Colombo foi eleito
governador no primeiro turno, sendo reeleito em 2014. Raimundo
Colombo ficou no cargo até 2018, quando foi sucedido pelo seu vice Eduardo Pinho Moreira.
Primeiras notícias
A região
costeira de Santa Catarina, mais exatamente onde se localizam as praias da
Mirlion e do Canto Grande, foi, desde a época do descobrimento, visitada por
piratas de várias nacionalidades. Afora a discutida versão da presença do
navegador francês Binot Paulmier de Gonneville, que teria
ancorado em São Francisco do Sul em janeiro de 1504 e ali permanecido por seis
meses, não existe dúvida quanto à viagem dos portugueses Nuno Manuel e Cristóvão de Haro, que passaram pelo litoral
catarinense em 1514,
e deram o nome de ilha dos Patos à atual ilha de Santa Catarina. No ano
seguinte, Juan Díaz de Solís passou por São
Francisco, ilha a que aplicou esse nome, e seguiu adiante, em demanda do elo
entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. Não foi além do Rio da Prata, em cujas
margens foi morto pelo nativos. Onze náufragos dessa expedição regressaram do
Uruguay e foram bem recebidos pelos índios carijós e
iniciaram com eles intensa miscigenação.
Os aborígenes do
litoral de Santa Catarina - os Carijós - viviam de caça, pesca e cultivo de
variedades de milhos, batatas, mandiocas e amendoins, sendo exímios tecelões de
redes, esteiras e cestos, além de fabricar objetos de pedra. Habitavam uma
vasta região litorânea - desde Cananéia,
no litoral de São Paulo, até a Lagoa dos
Patos, no Rio Grande do
Sul - e tinham como limite pelo interior as matas habitadas por
índios inimigos, chamados botocudos ou Guanana (Guaianã), hoje conhecidos por kaingang e
Xxokleng.
Esses índios mantinham contato com os guaranis do
interior do estado do Paraná e do Paraguai.
Por manterem intensa comunicação através da rota do Peabiru,
cujo destino era a região de Potosi, no império inca,
despertaram interesse dos estrangeiros na procura de prata e ouro.
Expedições espanholas
Várias
expedições espanholas detiveram-se no litoral catarinense a caminho do rio da Prata:
·
Em 1516, um dos navios da
expedição comandada pelo espanhol Juan Díaz de Solís, que estava retornando para
a Espanha, naufragou em frente à Ilha de Santa Catarina. Em decorrência do
naufrágio, 18 tripulantes, foram deixados no lugar. Dentre esses naufrágos
merece destaque Aleixo Garcia, que, entre 1521 partiu de lá
para uma uma expedição por terra que passou pelo Paraguai e chegou ao sopé
dos Andes no
território que atualmente pertence à Bolívia, onde encontrou metais preciosos
·
Em 1525, Don Rodrigo de Acuña, deixou
dezessete tripulantes na ilha, onde se fixaram voluntariamente.
Entre 1526 e
1527, Sebastião Caboto ali se abasteceu, seguiu
para o Prata e retornou. Após Caboto, nela
aportaram Diego García e, em
1535, Gonzalo de Mendoza.
Entre 1538 e
1548, os franciscanos espanhóis Bernardo de Armenta e Alonso Lebrón fizeram
esforços de evangelização dos nativos da etnia carijó,
no território que atualmente pertence à cidade de Laguna. Esses esforços foram interrompidos
quando 1548, quando salteadores portugueses, liderados por Pascoal Fernandes, oriundo
de São Vicente, e Martin Vaz, oriundo
de Ilhéus,
invadiram o local para prender e escravizar os nativos.
Em
1541, Álvar Núñez Cabeza de Vaca partiu da
ilha de Santa Catarina para transpor a serra do Mar e
atingir por terra o Paraguai.
Mantendo
sempre o propósito de tomar posse do Brasil meridional,
o governo
espanhol nomeou Juan Sanabria governador do Paraguai,
com a missão de colonizar o rio da Prata e povoar também o porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina.
Com a morte de Juan Sanabria, tomou posse seu filho Diogo. Alguns navios da
expedição lograram chegar à ilha de Santa Catarina, onde os espanhóis
permaneceram dois anos. Dividiram-se em dois grupos: um deles rumou para Assunção;
o outro, chefiado pelo piloto-mor Hernando Trejo de Sanabria, estabeleceu-se
em São Francisco, de onde, após as maiores
privações e sempre sob a ameaça de ataque pelos silvícolas, seguiu para Assunção.
Merecem
destaque na passagem da expedição de Sanabria o fato de tê-la integrado Hans Staden,
que legou interessante narrativa da viagem, e o nascimento, em São Francisco, do filho de Hernando,
Herdinando Trejo de Sanabria futuro bispo e fundador da Universidade de Córdoba, na Argentina.
Ainda em 1572,
Ortiz de Zarate, a caminho de Assunção,
esteve sete meses em Santa Catarina, onde praticou incríveis e inúteis
violências. Foi esta a última expedição espanhola à região.
Ocupação portuguesa
Os
aborígines da região foram catequizados, a partir de 1549, por jesuítas que
viajaram em companhia do governador-geral Tomé de Sousa,
sob a chefia do padre Manuel da Nóbrega. Os jesuítas empenharam-se
com ardor nessa missão, colocando-se como obstáculo às tentativas dos
colonizadores portugueses de escravizarem os índios. Não conseguiram, contudo,
levar a bom termo sua tarefa e, já em meados do século XVII,
desistiram da catequese no sul. Com a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, a costa
catarinense até a altura de Laguna, e mais tarde dois terços da do Paraná,
formaram a capitania de Santana, o último quinhão do sul, doado a Pero Lopes de Sousa. Nem o donatário nem seus
herdeiros providenciaram a colonização. O território, após um litígio de dois
séculos entre os herdeiros de Pero Lopes e os de seu irmão Martim Afonso de Sousa, foi, no começo
do século XVIII, comprado pela coroa, juntamente
com as terras do Paraná e grande parte de São Paulo. Ao mesmo tempo, a Espanha considerava
indiscutível seu direito a esses territórios e recomendava aos adelantados a
conquista e povoamento não só da ilha como do litoral.
Fundações litorâneas
Na década de
1650, Manoel Lourenço de Andrade, um português que vivia na Vila de
São Paulo e ali chegara a ocupar bastão de Oficial Vereador, trouxe família,
escravos, gado e instrumentos agrícolas, além de inúmeros outros bandeirantes,
para fundar uma povoação no rio de São Francisco. Mais tarde, em 1660, quando a
povoação ganhou foros de vila sob a denominação de Nossa Senhora da Graça do
Rio São Francisco, Andrade foi designado seu primeiro Capitão-Mor. Distribuiu
os colonos pelas terras circunjantes e promoveu o crescimento da vila, que foi
a primeira fundação estável da costa catarinense.
Por volta
de 1675,
estabeleceu-se na ilha de Santa Catarina o paulista Francisco Dias Velho, que ergueu uma
igreja em louvor de Nossa Senhora do Desterro. A ele se atribui a mudança do
nome da ilha dos Patos para ilha de Santa Catarina, de quem, ao que
consta, uma filha dele tinha o nome. (Entretanto, outros atribuem a autoria do
nome a Sebastião Caboto, que teria consagrado a ilha a Santa Catarina ou,
antes, prestara homenagem a sua mulher, Catarina Medrano. Francisco Dias Velho
dedicava-se à cultura da mandioca e da cana-de-açúcar, à pesca e à procura de ouro. Quinze anos mais
tarde, Dias Velho e sua gente aprisionaram um navio pirata que arribara na ilha
e mandaram homens e cargas para São Vicente. Passaram-se dois anos e os
corsários voltaram; Dias Velho foi morto e sua família sofreu terríveis
sevícias. ,A maior parte dos habitantes locais, em desespero, retornou a São
Vicente. A povoação ficou praticamente abandonada.
Laguna foi
outro ponto do litoral povoado na mesma época. Domingos de Brito Peixoto,
também paulista, organizou uma bandeira para tomar conta de terras desabitadas
ao sul e, em 1676,
fundou Santo Antônio dos Anjos de Laguna.
A povoação teve vida incerta e o bandeirante despendeu nela toda sua fortuna,
com o objetivo de dar-lhe estabilidade. Buscou recursos no aprisionamento do
gado nativo e na caça ao gentio e, só em 1696, deu início à
construção da matriz local. No início do século XVIII, Laguna,
pequena e pouco habitada, vivendo de uma agricultura rudimentar
e da exportação de peixe seco para Santos e
o Rio de Janeiro, era o mais importante
núcleo da costa catarinense.
Primeira metade do século
XVIII
A abertura,
em 1728,
do caminho que ligaria as pastagens do Rio Grande do
Sul ao planalto paulista representou sério abalo para Laguna,
que perdeu progressivamente sua posição proeminente, e foi deixando de ser
entreposto único de comércio e foco de expansão do Sul. A grande era da história catarinense
ia começar com o governo de José da Silva Pais. Em 1726, o povoado de Nossa
Senhora do Desterro, hoje Florianópolis,
foi elevado a vila. A atenção dada à ilha aumentou e em 1737 chegaram as
primeiras forças de linha. No ano seguinte foi nomeado governador Silva Pais,
que chegou em 1739,
diretamente subordinado ao Rio de Janeiro. As primeiras providências tiveram
caráter militar. Do uniforme das milícias, e especialmente da cor do colete,
deriva, para os habitantes da terra, o apelido de "barriga-verde",
que nada tem de pejorativo.
Os
interesses portugueses no Sul aconselhavam a manutenção e o
fortalecimento dos povoados litorâneos. Com tal objetivo, Laguna foi
elevada em 1774 à
categoria de vila, passando a exercer o papel de posto avançado para a
conquista do Rio Grande do Sul. Dali partiram expedições que
atingiram a colônia do Sacramento e Montevidéu e,
de passagem, arrebanharam gado e aprisionaram indígenas. Enquanto isso,
Desterro, onde se haviam instalado os povoadores, ia vivendo como "mera
pescaria" - lugar procurado para refresco de navios piratas, que eram
recebidos sem nenhuma hostilidade.
Desde o
começo do século XVIII, Santa Catarina esteve sob a
jurisdição da capitania de São Paulo. As lutas no Prata
representaram pesado encargo para os catarinenses, que não só tiveram seus
filhos convocados às armas, como foram obrigados a suprir tropas estacionadas
ou de passagem, em troca de vales como pagamento. Nessa ocasião, toda a costa
meridional brasileira, até a ilha, passou à jurisdição direta do Rio de
Janeiro, por razões estratégicas que também aconselharam a ocupação eficaz do
mesmo território.
Com esse
objetivo, recorreu-se à imigração proveniente da Ilha da
Madeira [16] e
dos Açores.
De 1748 até 1756, em sucessivas levas,
chegaram cerca de cinco mil madeirenses e açorianos, a maior parte dos quais
fixou-se na ilha de Santa Catarina. Os novos colonos foram distribuídos pelos pontos
já mencionados, recebendo doações de terras na ilha e no continente fronteiro.
As dificuldades que tiveram de ser vencidas foram inúmeras, desde as péssimas
condições da viagem até a inadaptação à terra onde deveriam fixar-se.
Segunda metade do século XVIII
O governo de
Santa Catarina, na segunda metade do século XVIII,
abrangia as três fundações litorâneas. O sertão não era explorado nem povoado:
essa seria mais tarde a missão de Don Luís António de Sousa Botelho Mourão,
o Morgado de Mateus, governador da capitania de São Paulo,
interessado em garantir o domínio português sobre a região e o escoamento do
gado do Rio Grande do Sul para São Paulo. Com tal finalidade, encarregou um
abastado paulista, Antônio Correia Pinto, de estabelecer povoação na paragem
denominada Lages.
Houve protestos contra a invasão de território fora de sua jurisdição, mas o
morgado não lhes deu atenção. Guaratuba,
no litoral, foi povoada também por ordem sua, e em 1775 fundou-se
a Vila de Nossa
Senhora dos Prazeres de Lages.
Esse foi o
primeiro núcleo de povoação da serra. Perdida no interior, sem comunicação com
o litoral, tendo precária ligação com Curitiba e São Paulo, Lages vegetou durante todo o século.
Em seus campos, ocupados por uma população escassa, estabeleceram-se fazendas
de criação de gado. De Lages partiram mais tarde os povoadores de Campos Novos
e Curitibanos, que estenderam a fronteira pastoril.
Quando
irrompeu a guerra entre Portugal e Espanha,
a ilha de Santa Catarina, mal defendida apesar de sua importância estratégica e
abandonada pela esquadra portuguesa, que não queria pôr em risco seus navios,
foi tomada em 1777 por Pedro de
Ceballos, sem que o invasor desse um só tiro ou perdesse um único
homem. Dali estendeu-se a conquista de povoado em povoado, com exceção de
Laguna, que ofereceu resistência. Um ano depois, a ilha voltou às mãos
portuguesas.
Ao lado de
uma agricultura de subsistência, da fabricação de farinha de mandioca e da
salga de peixe, atividades todas de pouca importância, que não propiciavam
oportunidade de enriquecimento, instalaram-se na ilha armações para pesca de
baleia, monopólio da coroa concedido a comerciantes reinóis. A extinção do
privilégio, no começo do século XIX,
desestimulou a atividade, que entrou em decadência.
Toda a
capitania, de modo geral, enfrentou, na segunda metade do século XVIII,
um período de estagnação, com a agricultura em retrocesso e sua gente onerada
com a requisição de produtos para as tropas. Nas primeiras décadas do século XIX,
porém, a situação da capitania tinha melhorado um pouco. Pelo testemunho de
viajantes, as vilas eram habitadas por pessoas de recursos medianos, não
havendo nem grandes fortunas nem miséria gritante.
Independência e primeiro
reinado
Em 1820, Lages passou à
jurisdição do governo da ilha, dando a Santa Catarina uma configuração
aproximada da atual e retirando da alçada de São Paulo toda a região chamada da serra, seja, o planalto.
Devido à precariedade das comunicações, a notícia da independência do Brasil só
chegou a Desterro nos primeiros dias de outubro de 1822. O juiz de fora e
presidente da Câmara, Francisco José Nunes, no dia 11, fez a aclamação do
imperador. Durante o império, a província sofreu, como outras, os prejuízos da
descontinuidade administrativa. Teve no período mais de setenta presidentes,
entre titulares e substitutos. Sob o governo do brigadeiro Francisco de
Albuquerque Melo, em 1829, iniciou-se a colonização de Santa Catarina com
imigrantes alemães.
Em 1831, após a abdicação
de D. Pedro I, o presidente da província, Miguel de Sousa Melo e Alvim, português de
nascimento, foi forçado a renunciar em conseqüência de um levante da tropa.
Nesse mesmo ano, em 28 de julho, foi lançado o primeiro jornal
publicado na província, com o título de O Catarinense, dirigido pelo capitão
Jerônimo Francisco Coelho.
República Juliana
O movimento
farroupilha teve considerável repercussão em Santa Catarina, sobretudo na
região mais próxima ao Rio Grande do
Sul. De 24 de julho a 15 de
novembro de 1839, Laguna foi ocupada pelos revolucionários, que ali
proclamaram a República Juliana, aliada à de Piratini. Nessa
ocasião, Ana de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita
Garibaldi, uniu sua vida à de Giuseppe Garibaldi. No planalto, Lages aderiu à
revolução, mas submeteu-se no começo de 1840. Em 1845, a província, já inteiramente
pacificada, recebeu a visita de D. Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina.
De 1850 a 1859,
Santa Catarina foi governada por João José Coutinho, que demonstrou grande zelo
administrativo e particular interesse pela instrução e a cultura, esforçando-se
também no incentivo à atividade das colônias de imigrantes. Em 1849 foi
fundada Joinville;
no ano seguinte, Blumenau; e, em 1860, Brusque.
Período final do Império
Na década de
1870, a província de Santa Catarina contava cerca de 160 mil
habitantes, distribuídos por vinte municípios. Ao ser proclamada a república, a
população era de 200 mil habitantes aproximadamente. As numerosas vilas e
cidades litorâneas estagnavam, dedicadas à pesca de subsistência, pequena
lavoura e comércio sem grande expressão. As freqüentes mudanças de
administração, em benefício de protegidos do poder central, prejudicaram o
progresso catarinense.
Santa
Catarina sempre teve número relativamente reduzido de escravos comparado a
outras provincias. Atingiu o máximo em 1857, com cerca de 18 mil
para uma população total de 92.912, assim sendo 19,57% da população era
escrava, porém estamos falando de proporção. Pois em 1831 temos o dado que
23,99% da população total era escrava numa proporção de 49.949 habitantes,
sendo 11.984 escravos. Daí em diante o número diminuiu, não só pelas alforrias
e pela Lei do Ventre Livre, como pela venda de
escravos a outras províncias.
A campanha
abolicionista nunca foi grande em Santa Catarina, consistiu em pequenos clubes
e de pouca duração, ela se deu mais por iniciativas particulares e oficiais,
mas nunca gerou um movimento amplo. Em 24 de março de 1888, o presidente da
Câmara de Desterro anunciou que já não havia, na capital da província, um
só escravo.
No entanto esse discurso se deve por que a abolição estava entrelaçada com a
imigração no discurso catarinenese, pois a imigração foi vista como um sistema
progressista frente ao sistema escravocrata que apodrecia cada vez mais e
estava no seu fim.
Colonização estrangeira
Em Santa
Catarina, a posse da terra não era base para grandes fortunas e obtenção de
títulos de nobreza. Observava-se uma preferência pelo enriquecimento nas
atividades urbanas. Em pleno século XX,
grandes extensões de terras, no oeste, estavam por desbravar. A sociedade e as
lides campeiras do planalto constituíam um tipo de vida quase sem contato
com o litoral.
Desde o
começo do século XIX, havia planos para a ocupação dos
espaços vazios com a vinda de colonos estrangeiros. A primeira tentativa data
de 1829,
com a instalação de 166 famílias alemãs, oriundas de Bremen, no lugar depois
chamado São Pedro de Alcântara.
Quer por
iniciativa oficial, quer aliciados por companhias particulares que acenavam com
uma nova Canaã,
acorreram imigrantes para a província, principalmente alemães e italianos,
durante todo o século XIX. Embora muitos tenham sido
absorvidos pelas comunidades tradicionais, e em várias colônias situadas nas
matas tenha ocorrido o fenômeno da "caboclização" do imigrante, na
maioria da colônias criaram-se ambientes próprios, com características
marcadas. Desde o início, mantinham uma lavoura de policultura e dedicavam-se a
atividades de transformação artesanal-familiar que seriam a origem de futuras
fábricas.
Em 1850, os primeiros
colonos, reunidos pelo doutor Hermann
Blumenau, ocuparam seus lotes à margem do rio Itajaí-Açu. Era o começo da colônia São Paulo de Blumenau, que o
farmacêutico Ph.D. pela universidade de Erlangen decidira
instalar. Anos mais tarde, o governo brasileiro comprou a colônia e manteve H.
Blumenau à frente da mesma. Vinte anos após sua criação, contava com seis mil
habitantes e 92 núcleos fabris, espraiando-se pela bacia hidrográfica do Itajaí-Açu e seus
tributários.
Ao norte,
nas terras que a princesa D. Francisca recebera como dote de casamento, foi organizado
um núcleo pela "Sociedade Hamburguesa de Colonização", com o nome da
princesa. Os imigrantes ali chegados a partir de 1851 eram alemães,
suíços e noruegueses. A colônia Dona Francisca possuía
regulamento próprio, o qual, entre outras cláusulas, garantia aos colonos o
direito de se constituírem em comunas livres e autônomas. Com dez anos de vida
contava com três mil habitantes, setenta engenhos de mandioca,
trinta de açúcar e mais de trinta fábricas.
Joinville também
prosperou, em breve ocupando faixas de mata ao longo dos rios Negro e Iguaçu.
A colonização no sul da província, na bacia do Tubarão, foi levada a efeito no
final do século XIX. Os colonos eram na maior parte
italianos e se dedicavam à lavoura e à vitivinicultura.
Foi também nessa área que, mais acentuadamente a partir da segunda guerra
mundial, a exploração de carvão de terra constituiu mais tarde importante fator
na economia catarinense.
República
A partir
de 1870 as
ideias republicanas ganharam impulso em Santa Catarina, sobretudo entre os
moços. Criaram-se clubes e jornais de propaganda, mas os republicanos não
chegaram a conseguir representação na assembleia. Entretanto, a cidade de São
Bento elegeu em 1888 a primeira câmara de vereadores no país formada somente de
elementos republicanos. A república tomou a província de surpresa, pois em
geral se esperava apenas a queda do ministério. Confirmada a proclamação do
novo regime, em 17 de novembro, comemorou-se o acontecimento e
um triunvirato assumiu o governo.
O primeiro
governador do estado de Santa Catarina, nomeado por Deodoro da Fonseca, foi o tenente Lauro Severiano Müller. Mais tarde
confirmado pela constituinte de 1891, foi logo deposto com
a saída de Deodoro. Uma vez deflagrada, a revolução federalista do Rio Grande do
Sul teve pronto reflexo em Santa Catarina.
Seguiu-se
uma época de instabilidade política, com sérios entrechoques provocados por
motivos locais ou mesmo municipais, e agravados pelos acontecimentos no resto
do país. Após a revolta da armada, Santa Catarina foi palco de numerosos
episódios da revolução federalista, sendo Desterro proclamada capital
provisória da república. Em 17 de abril de 1894, a esquadra ali
aportava e ocupava a cidade. Pouco depois, o coronel Antônio Moreira César
assumia o governo do estado para exercê-lo com mão de ferro. Entre as
incontáveis vítimas desse período de violenta repressão, destaca-se o chefe do
governo revolucionário, almirante Frederico Guilherme de Lorena, fuzilado por
ordem de Moreira César. Serenados os ânimos, elegeu-se governador Hercílio Luz.
Nessa ocasião, a capital do estado passou a chamar-se Florianópolis.
A vida política
ocorreu a partir daí sem acontecimentos de grande relevo. Havia problemas e
cisões dentro do Partido
Republicano Catarinense, que, contudo, sempre conseguia recompor-se.
Personalidades catarinenses com projeção nacional apareceram neste período,
como Vidal Ramos, Adolfo Konder e Vítor Konder.
O domínio político, então, não era mais exercido exclusivamente pelas famílias
tradicionais do litoral, mas dividido com figuras influentes do planalto e
descendentes de imigrantes.
Iniciado o
movimento revolucionário de 1930 no Rio Grande do
Sul, Santa Catarina foi o primeiro estado a ser invadido pelas
forças que conduziram Getúlio
Vargas ao poder. Muito embora fossem sendo vencidas as forças
legais, Florianópolis resistiu ao avanço gaúcho,
até que a revolução viesse a triunfar em todo o território nacional. De 1930 a 1945, o estado foi
governado por interventores federais.
Ao longo
desses quinze anos, houve um breve período, de 1935 a 1937, em que o poder
executivo estadual esteve entregue ao governador eleito, Nereu Ramos,
mantido como interventor pelo Estado Novo, em 1937. O governo de Nereu Ramos distinguiu-se
pela preocupação com o setor educacional e com a assistência médico-hospitalar.
A infiltração nazista entre os colonos de ascendência alemã radicados no estado
foi um dos problemas mais graves enfrentados pelo interventor.
Depois de 1945
O Partido Social Democrático (PSD), estruturado em torno
de Nereu Ramos, e a União Democrática Nacional (UDN), formada por antigos republicanos,
foram os partidos que dominaram a vida política de Santa Catarina de 1945 a 1964. Em 1946 elegeu-se
governador Aderbal Ramos da Silva, do PSD; depois dele o
predomínio foi da UDN, com Irineu
Bornhausen e Jorge Lacerda.
Em 1960,
foi eleito Celso Ramos, do PSD.
Nesse
período, uma grande área do estado, que vivia semimarginalizada e escassamente
povoada - o meio e o extremo oeste - passou a ter importância cada vez maior.
Essas glebas foram sendo ocupadas por gente vinda do Rio Grande do
Sul, colonos estrangeiros e seus descendentes, que nelas vislumbraram
um novo eldorado.
Em 1960, a criação da Universidade Federal de Santa
Catarina representou grande avanço no setor educacional. Florianópolis tornou-se
centro de atração para estudantes também de outros estados. Em 1965, fundou-se a
Universidade para o Desenvolvimento do Estado, ao que se seguiu a criação de
vários institutos de ensino superior em municípios do interior. No ano
seguinte, tomou posse o governador Ivo Silveira,
eleito por voto direto. Depois, dois governadores foram escolhidos pela Assembléia Legislativa do estado
- Colombo Salles e Antônio Carlos Konder Reis - e um por
um colégio eleitoral - Jorge
Bornhausen.
Durante a
gestão do governador Esperidião Amin, eleito por voto direto
em 1982,
o estado foi atingido por uma das mais graves enchentes de sua história, em
julho de 1983.
Em Blumenau,
que fica às margens do rio Itajaí-Açu, setenta por cento do centro
urbano ficou submerso. Dos 199 municípios que integravam o estado na época, 136
foram declarados em estado de calamidade pública e quase cem ficaram totalmente
isolados. O fenômeno se repetiu de forma menos violenta em 1984. As enchentes
causadas em parte pela destruição das matas catarinenses e afetaram a produção
industrial e agrícola do estado.
Em 1986, elegeu-se
governador Pedro Ivo Campos, ex-prefeito de Joinville.
Desde meados da década de 1980, ocorriam no campo graves
conflitos entre lavradores e proprietários rurais pela posse da terra.
Geralmente acompanhadas de violência, as invasões de fazendas por dezenas e até
centenas de famílias de lavradores eram geralmente mediadas pelo governo
estadual. Em 1990,
após a morte de Pedro Ivo Campos, tomou posse o
vice-governador Casildo Maldaner. No mesmo ano, elegeu-se para
ocupar o cargo Vilson Kleinübing (PFL), a quem se seguiu,
em 1995,
Paulo Afonso Vieira (PMDB).
Nenhum comentário:
Postar um comentário