27 março 2013

As Comunidades Tradicionais Caiçaras


As Comunidades Tradicionais Caiçaras



“Reafirmando uma Identidade”

A palavra Caiçara é uma palavra Tupi Guarani, separadas elas sugerem uma definição (caa) significa: pau, galhos, mato, enquanto ( içara)significa:armadilha). Algumas interpretações: cerca de ramos, fortificação para vedar, armadilha de apanhar peixe, abrigo de galhos e outros...
As comunidades Caiçaras encontram-se ao longo das áreas litorâneas (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná). Trazem em suas origens contribuições étnico-culturais de indígenas, colonizadores portugueses e de negros africanos. É nessa confluência que surge uma nova cultura com características próprias, baseada em atividades de agricultura itinerante, pesca artesanal, extrativismo vegetal e artesanato, estabelecendo um contato direto com o ambiente que os rodeia.
Foi por volta do século XVII, com a desintegração de ciclos econômicos, como do ouro e do arroz, que as classes dominantes da época procuraram outras atividades. Os senhores de engenhos rumaram para o interior brasileiro em busca de terra boa para implantarem monoculturas com vista no progresso do país. Aqueles que permaneceram no litoral tiveram que sobreviver do que o mar, o rio e mata lhes ofereciam.  Naquele tempo, o litoral brasileiro, era visto como um local inóspito, sem futuro, desprezado. O excesso de vento, chuva, dificuldade de acesso, infertilidade do solo e outros aspectos naturais tornavam a terra improdutiva e descartada do interesse das classes dominantes.
 O Caiçara ficou na região onde enfrentou muitos desafios e aprendeu a conviver com o mar, com o rio e com a mata. Seu modo de vida é intimamente ligado a natureza, é possuidor de um conhecimento passado de geração em geração, é resultado de um processo secular.  Nesta região aprendeu a fazer sua própria canoa de um tronco só para pescar tanto no rio como no mar. Aperfeiçoou a feitio do pilão que seus ancestrais africanos trouxeram de além-mar; Aprendeu com mata o período certo de  caçar para  para dela tirar a carne que o sustentava,  aprendeu a  Lua certa para tirar a madeira  e construir casas e  outros afazeres  e assim ter maior durabilidade; Aprendeu a usar a caixeta, madeira típica da região, utilizada na confecção de viola Branca e Rabeca; Aprendeu com os índios a reconhecer as ervas medicinais incorporando esse conhecimento em seu cotidiano. O Caiçara também é um povo festeiro, que através dos mutirões ou ajutórios, para fazer roça, construir casa ou varar canoa, promoviam fandangos como forma de pagamento aos que participavam e nesse espaço de festividades, se davam as conversas, os namoros, as trocas de saberes e a rica culinária era saboreada. Também diversas manifestações religiosas estavam presentes no seu cotidiano, como as Folias de Reis, Festa do Divino, Festas dos Santos, Rezas, Cura espiritual e Uso de ervas medicinais.

Mudança no modo de vida

As comunidades caiçaras mantiveram sua forma tradicional de vida até a década de 1950, quando as primeiras estradas de rodagem interligaram as áreas litorâneas com o planalto, ocasionando o início do fluxo migratório e a especulação imobiliária. Uma das ameaças a essas comunidades e ao exercício de suas atividades tradicionais provém do avanço da especulação imobiliária, iniciada nas décadas de 1950 e 1960, sobretudo com a construção de residências de veraneio ao longo do litoral.
A especulação imobiliária por parte de grandes empresas e condomínios privou parte dos caiçaras de suas terras nas praias, fazendo com que eles passassem a trabalhar como caseiros e pedreiros, como a se mudar para longe do local de trabalho, dificultando as atividades pesqueiras e outras.
 O turismo desordenado é outro fator que, sobretudo no litoral norte e mais atualmente no litoral sul do Estado de São Paulo e no litoral do Rio de Janeiro, contribuiu para a desorganização das atividades tradicionais, criando uma nova estação ou safra nos meses do verão, quando muitos caiçaras se transformam em prestadores de serviços deixando suas praticas culturais em segundo plano,
A criação de áreas protegidas foi outro processo responsável pela desorganização da cultura caiçara pelo fato de que grande parte de seu território foi transformado em  Unidades de Conservação de Proteção Integral. A modificação do espaço de reprodução material e social para parque, estação ecológica e reserva natural resultou em graves limitações às atividades tradicionais de agricultura itinerante, caça, pesca e extrativismo e mudança no modo de vida, tornando-os invasores de seu próprio território.

Aqui em Peruíbe podemos citar exemplos como: Parque Estadual da Serra do Mar  e  Estação Ecológica de Jureia-Itatíns (SP). Emergiram assim, conflitos com os administradores das unidades de conservação além de uma migração ainda maior para as áreas urbanas, onde os caiçaras, expulsos de seus territórios, passaram a viver nas periferias das cidades vizinhas, fadados ao subemprego e a perda do conhecimento tradicional.

Reação das comunidades

A partir da década de 1980, inicia-se um processo de reafirmação da identidade cultural caiçara, abafada por décadas de discriminação por parte das autoridades e das elites urbanas interessadas na expropriação de suas terras.  Neste período quando a pressão dos órgãos governamentais e de ambientalistas sobre as comunidades caiçaras se fez maior, surgiram em alguns locais, associações de moradores, as quais se fizeram ouvir em reuniões, congressos e nas universidades. Atualmente existem diversos grupos comunitários organizados para lutar pela manutenção da cultura caiçara e direito de acesso a seus territórios. Também foram criados, decretos, leis e convenções como instrumentos de defesa das Comunidades,como: Decreto Federal 6.040/07 Convenção 169 da OIT e outros.
Recentemente uma conquista para os Caiçaras, O Fandango Caiçara foi reconhecido pelo Iphan como Patrimônio Brasileiro. Essa é uma das contribuições para a formação da Cultura Brasileira. Se você é um Caiçara, Orgulhe-se!!!
Adriana Souza Lima,
 Caiçara da Comunidade do Guaraú

Nenhum comentário: