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A história de São Paulo inicia-se
no século XVI, com a chegada de navegadores portugueses e espanhóis,
com o descobrimento do Brasil. No entanto, apenas em
1532 o português Martim Afonso de Sousa iria fundar a
primeira povoação de origem europeia na América —
a vila de São Vicente, na atual Baixada Santista,
realizando também as primeiras eleições em continente americano. No século XVII,
os bandeirantes paulistas intensificaram a exploração do interior da colônia,
o que acabou por expandir os domínios territoriais dos portugueses na América do Sul.
Após a instituição da Capitania de São Paulo, no século XVIII,
a região começa a ganhar peso político. São Paulo, no entanto, só conseguiu
crescimento econômico e populacional, após a independência, durante o Império, com a cultura do café, na segunda
metade do século XIX. A mão-de-obra escrava foi substituída por
imigrantes europeus, principalmente italianos, atraídos pela oferta de terras
do governo imperial, para que se estabelecessem como proprietários agrícolas. A
expansão da cultura cafeeira impulsionou o crescimento econômico de São Paulo e a construção de
ferrovias. Estas eram utilizadas para levar a produção até o Porto de Santos,
de onde seria exportada para a Europa e Estados Unidos.
Durante o século XX, o estado continuou a ter grande desenvolvimento econômico,
especialmente no setor industrial. Aumentou consideravelmente sua população e
conquistou a posição de principal força produtiva do país. Sob o regime de Vargas,
o estado é um dos primeiros a iniciar um processo de industrialização e sua
população se torna uma das mais urbanas da
federação.
A
população paulista é uma das mais diversificadas do país e descende
principalmente de italianos, que começaram a emigrar para
o país no fim do século XIX,[1] de portugueses, que colonizaram o Brasil e instalaram os
primeiros assentamentos europeus na região, de povos ameríndios nativos, de povos africanos e
de migrantes de outras regiões do país.
Outras grandes correntes imigratórias, como de árabes, alemães, espanhóis, japoneses e chineses, também tiveram presença
significativa na composição étnica da população local.
Povos indígenas
Gravura de André Thevet do
século XVI retratando índios tupinambás fumando
A
região do atual estado de São Paulo já era habitada por povos indígenas desde aproximadamente
12000 a.C.[2] Por
volta do ano 1000, o seu litoral foi invadido por povos do tronco linguístico tupi procedentes
da Amazônia[3].
No momento da chegada dos europeus, no século XVI, os indígenas majoritários da
região eram os tupinambás, tupiniquins e carijós,
no litoral; e povos do tronco linguístico macro-jê,
no interior.
Colonização europeia
"Fundação de São Vicente", por Benedito Calixto
No
início do século XVI, o litoral paulista já tinha sido visitado por navegadores
portugueses e espanhóis, mas somente em 1532 se deu a fundação da primeira
povoação de origem europeia, São Vicente, na atual Baixada Santista,
por Martim Afonso de Sousa. Com a criação da Vila
de São Vicente, instalou-se, o primeiro parlamento na América:
a Câmara da Vila de São Vicente. Realizaram-se também as primeiras eleições em
continente americano.
A
procura de metais preciosos levou os portugueses a ultrapassarem a Serra do Mar,
pelo antigo caminho indígena do Peabiru e,
em 1554, no planalto existente após a Serra do Mar, foi fundada a vila de São Paulo de Piratininga pelos jesuítas
liderados por Manuel da Nóbrega. Até o fim do século XVI, os
portugueses fundaram outras vilas no entorno do planalto, como Santana de Parnaíba, garantindo, assim, a
segurança e a subsistência da vila de São Paulo.
O
nome São Vicente foi dado por Américo Vespúcio, em 22 de janeiro de 1502, em viagem que
objetivava mapear o litoral do Brasil.
Quando passou pela região, encontrou duas ilhas, onde hoje estão as
cidades de Santos e
São Vicente na Ilha de São Vicente e a cidade
de Guarujá na ilha de Santo Amaro e o estuário,
que achou ser um rio.
Era dia de São Vicente, assim tendo sido batizada a localidade.
As
primeiras povoações de São Vicente também não foram oficiais. Ali foi
abandonado o Bacharel de Cananeia.
Segundo muitos historiadores, teria sido ele o português Cosme
Fernandes Pessoa, verdadeiro fundador de São Vicente, a partir de onde de fato
governava e controlava o comércio da região.
Segundo documento encontrado
pelo portuguêsJaime Cortesão,
o Bacharel já
moraria no Brasil antes até da chegada de Cabral: O degredado é citado num documento
datado de 24 de Abril de 1499, descoberto por Cortesão,
que se reporta a uma viagem não-oficial de Bartolomeu Dias ao
Brasil. Outro documento, de 1526,
descreve o povoado de São Vicente, informando que teria uma dúzia de casas, sendo apenas uma
de pedra,
com uma torre para
defesa.
Cosme
Fernandes Pessoa foi acusado junto ao Rei de Portugal, por
dois amigos que em troca receberam doações em terras, de manter relações
com espanhóis que
viviam mais ao sul,
com perigo para o domínio português na região. Martim Afonso de Sousa partiu
para o Brasil com diversos objetivos. O primeiro deles era o de estabelecer
oficialmente a colonização do
Brasil, confirmando o poder da coroa.
Como consequência, subtraiu o poder das mãos de Cosme Fernandes Pessoa.
Avisado, o Bacharel incendiou o local e retirou-se com seu pessoal para Cananeia.
Martim Afonso de Sousa, fidalgo e
explorador português
Martim
Afonso de Sousa fundou oficialmente o povoado de São Vicente no local em que se
encontravam as ruínas anteriores, na data de 22 de janeiro de 1532. Em 1536 o Bacharel de
Cananeia (ou Bacharel Cosme) atacou, saqueou e queimou o povoado, enforcando o
antigo amigo e traidor Henrique Montes. Esse é o último registro histórico
sobre o Bacharel de Cananeia. Martim Afonso de Sousa distribuiu sesmarias e
efetuou diversas edificações, deixando São Vicente povoada e organizada.
O Porto de São Vicente foi
alvo do primeiro grande desastre ecológico do Brasil:
a terra à beira mar foi limpa e cultivada. Sendo a terra arenosa e tendo
o solo perdido sua camada protetora, as chuvas levaram
a areia para
o mar assoreando o porto de São Vicente. Martim Afonso de Sousapartira de São Vicente
em 22 de maio de 1533, deixando a
administração nas mãos de sua esposa Dona Ana Pimentel (primeira donatária no
Brasil). Por sua vez, D. Ana Pimentel nomeou Brás Cubas como Capitão-Mor e
ouvidor da Capitania de São Vicente, que, devido ao
assoreamento do Porto,
única via de comunicação com a Metrópole portuguesa
e o ataque do Bacharel de Cananeia a São Vicente, decidiu montar novo porto na
região Enguaguaçu, local mais protegido, para onde foi transferido o porto em
1536, estabelecendo ali um povoado. O simples fato do nome do local ser
indígena, e não português, evidencia que a iniciativa não foi oficial. Brás
Cubas atraiu para ali colonos de áreas próximas e fundou um povoado,
que futuramente receberia o nome de Santos,
e promoveu melhorias, como a construção da primeira Santa Casa do
Brasil. São Vicente entra assim em declínio. Embora haja notícias da existência
de mulheres portuguesas
na frota de Martim Afonso de Sousa, não foram ainda encontrados registros
escritos. O primeiro registro escrito relativo a mulheres portuguesas vindas
para o Brasil data de 1550.
Assim as mães eram geralmente mamelucas ou índias.
A
fundação de São Vicente no litoral paulista iniciou
o processo de colonização do Brasil como política
sistemática do governo português, motivada pela presença de estrangeiros que
ameaçavam a posse da terra.[9] Evidentemente,
antes disso já havia ali um núcleo português que, à semelhança de outros das
regiões litorâneas, fora constituído por náufragos e
datava, provavelmente, do início do século XVI. Foi, no entanto, durante a
estada de Martim Afonso de Sousa que se fundou, em
20 de janeiro de 1532, a vila de São Vicente e com ela se instalou o primeiro
marco efetivo da colonização brasileira.
O
nome de São Vicente se estendeu à capitania hereditária doada ao mesmo Martim
Afonso de Sousa pelo Rei de Portugal em 1534. Assim, o primeiro
nome do atual estado de São Paulo foi capitania de São Vicente.
"Biquinha de
Anchieta", na cidadede São Vicente, cenário das aulas de catecismo do padre jesuíta José de Anchieta
A
despeito das inumeráveis dificuldades para transpor a serra do Mar,
os campos do planalto logo atraíram os povoadores, o que tornou São Paulo uma
exceção no tipo de colonização dos portugueses dos primeiros tempos, que se
fixavam sobretudo no litoral. Assim, em 1553, povoadores
portugueses fundaram a Vila de Santo André da Borda do Campo. No ano seguinte,
os padres da Companhia de Jesusfundaram, em uma colina de
Piratininga, um colégio para os índios,
berço da Vila de São Paulo. Em 1560, a Vila de Santo
André foi extinta e seus moradores foram transferidos para São Paulo de
Piratininga.
A
faixa litorânea, estreita pela presença da Serra do Mar,
não apresentava as condições necessárias para o desenvolvimento da grande
lavoura. Por sua vez, o planalto deparava com o sério obstáculo do Caminho do
Mar, que, ao invés de ligar, isolava a região de Piratininga,
negando-lhe o acesso ao oceano e, portanto, a facilidade para o transporte. Em
consequência, a capitania ficou relegada a um plano econômico inferior,
impedida de cultivar com êxito o principal produto agrícola do Brasil colonial,
a cana-de-açúcar, e de concorrer com a principal
zona açucareira da época, representada por Pernambuco e Bahia. Estabeleceu-se, em
Piratininga, uma policultura de subsistência, baseada no trabalho forçado
do índio. Os inventários dos primeiros paulistas acusavam pequena quantidade de
importações e completa ausência de luxo. O isolamento criou
no planalto uma
sociedade peculiar. Chegar a São Paulo requeria fibra especial na luta contra
as dificuldades do acesso à serra, os ataques dos índios, a fome, as doenças,
o que levaria a imigração europeia a um rigoroso processo seletivo. Tais condições
de vida determinariam a formação de uma sociedade em moldes mais democráticos
que os daquela que se estabelecera mais ao norte da colônia.
Concorreu
em boa parte para tanto a proliferação de mamelucos oriundos
do inevitável e intenso cruzamento com as índias da terra, pertencentes às
tribos tupis que
dominavam o litoral brasileiro. Em São Paulo, especialmente, o hibridismo
luso-tupi na sua feição étnico-cultural não se atenuaria tão rapidamente como
ocorreu em outras regiões em que o fluxo de negros e
o contato mais fácil com a metrópole veio diluí-lo. Mais do que em qualquer
outro lugar, o português saberia, à sombra de uma excepcional capacidade de adaptação,
integrar certos traços culturais dos tupis que lhe permitiriam sobreviver — e
mais, tirar proveito do sertão hostil.
As bandeiras
Estátua de Antônio Raposo Tavares, um dos mais
famosos bandeirantes, no Museu Paulista em São Paulo.
Dificuldades
econômicas, tino sertanista, localização geográfica (São Paulo era um
importante centro de circulação fluvial e terrestre), espírito de aventura, seriam
poderosos impulsos na arrancada para o sertão. Desde os primeiros tempos da
colonização eram constantes as arremetidas, num bandeirismo defensivo que
visava a garantir a expansão
paulista do século XVII.
Este seria o grande século das bandeiras, aquele em que se iniciaria o bandeirismo ofensivo
propriamente dito, cujo propósito era em grande parte o lucro imediato
proporcionado pela caça ao índio. Da vila de São Paulo partiram as bandeiras de
apresamento chefiadas por Antônio Raposo Tavares, Manuel Preto, André Fernandes, entre outros.
As
condições peculiares de vida no planalto permitiram que os paulistas, durante
os dois primeiros séculos, desfrutassem de considerável autonomia em setores
como defesa, relações com os índios, administração eclesiástica, obras públicas
e serviços municipais, controle de preços e mercadorias. As câmaras municipais, compostas por
"homens bons" da terra, raramente se continham dentro de suas
legítimas atribuições; em São Paulo, especialmente, sua independência quase fez
esquecer o governo lusitano.
Do bandeirismo de apresamento
passou-se ao bandeirismo minerador, quando a atividade de Borba Gato, Bartolomeu Bueno da Silva, Pascoal Moreira Cabral e outros foi
recompensada com o encontro dos veios auríferos em Minas Gerais e Mato Grosso.
Dura provação foi o efeito do descobrimento do ouro sobre São Paulo e outras
vilas do planalto: todos buscavam o enriquecimento imediato representado pelo
metal precioso. Como disse José Joaquim Machado de Oliveira,
"não havia paulista que, mais ou menos, deixasse de afagar o pensamento de
descobrir minas".
Assim,
o povoamento dos sertões brasileiros fez-se com sacrifício dos habitantes de
São Paulo e em detrimento da densidade populacional da capitania. Essa ruptura
demográfica, aliada a fatores geográficos já mencionados (a serra do Mar),
ocasionou uma queda da produtividade agrícola, bem como o declínio de outras
atividades, o que acentuou a pobreza do povo no decorrer do século XVIII.
A capitania, que então abrangia toda a região das descobertas auríferas, foi
transferida para a coroa e ali instalou-se governo próprio em 1709, separado do governo
do Rio de Janeiro e com sede na vila de São Paulo, elevada a cidade em 1711.
O ciclo do ouro e decadência da capitania
No
final do século XVII, bandeirantes paulistas descobrem ouro na região
do Rio das Mortes, nas proximidades da
atual São João del-Rei. A descoberta das imensas
jazidas de ouro provoca uma corrida em direção às Minas Gerais,
como eram chamadas na época os inúmeros depósitos de ouro por exploradores
advindos tanto de São Paulo quanto de outras partes da colônia.
Divisão administrativa do
Brasil após a Guerra dos Emboabas.
Como
descobridores das minas, os paulistas exigiam exclusividade na exploração do
ouro, porém foram vencidos em 1710 com
o fim da Guerra dos Emboabas, perdendo o controle das
Minas Gerais, que se torna capitania autônoma em 1721. O ouro extraído de Minas
Gerais seria escoado via Rio de Janeiro. Como compensação, a Vila
de São Paulo é elevada à categoria de cidade em 1711. O êxodo em direção
às Minas Gerais provocou a decadência econômica na capitania, e ao longo
do século XVIII esta foi perdendo território
e dinamismo econômico até ser simplesmente anexada em 1748 à capitania do
Rio de Janeiro. Assim, pouco antes de ser anexada ao Rio de Janeiro, São Paulo
perdeu território para a criação da Capitania de Goiás e a Capitania do Mato Grosso. Estas duas
capitanias correspondem hoje aos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Tocantins, Distrito Federal e
o Triângulo Mineiro. Alguns autores têm contestado
essa versão da decadência da capitania. O principal argumento que leva
historiadores a defenderem tal tese é a estabilização do número de vilas que
surgidas no período. Porém, o número de habitantes não teria diminuído, apenas
se concentrado nas vilas já existentes, e sua população, apesar de não lucrar
diretamente com as minas, dominava o fornecimento de mantimentos,
principalmente ligados à pecuária. A principal justificativa para a anexação
à Capitania do Rio de Janeiro foi a
segurança das minas, já que São Paulo seria seu escudo natural contra invasões
oriundas da Argentina ou outras colônias espanholas (ironicamente o
mesmo argumento utilizado para sua restauração anos depois).
A restauração da
capitania e a província de São Paulo
Mapa da província de São Paulo
(1886).
O
governador da Capitania de Minas Gerais, Luís Diogo Lobo da Silva, em 24 de setembro de 1764, anexa a margem
esquerda do Rio Sapucaí, atual Mesorregião do Sul e Sudoeste de
Minas, estendendo os limites de Minas Gerais, aproximadamente, até a
divisa atual com São Paulo. Este território jamais voltaria a ser recuperado
por São Paulo mesmo depois da recriação da capitania. Essa região anexada por
Minas Gerais, continuou entretanto, pertencendo à Arquidiocese de São Paulo. Em 1765, pelos esforços
do Morgado de Mateus é
reinstituída a Capitania de São Paulo e este promove uma política de incentivo
à produção de açúcar para garantir o sustento da capitania. A capitania é
restaurada entretanto com cerca de um terço de seu território original,
compreendendo apenas os atuais estados de São Paulo e Paraná e parte de Santa Catarina.
O Morgado de Mateus criou a Vila de Lages e Campo Mourão para
a defesa da capitania. Foram criadas várias outras vilas, fato que não ocorria
desde o início do século XVIII em São Paulo. Assim, são
fundados no leste paulista, região propícia para tal cultivo, as vilas de Campinas e Piracicaba,
onde logo a cana-de-açúcar desenvolve-se. O açúcar é exportado pelo porto
de Santos e
atinge seu auge no início do século XIX.
A capitania de São Paulo ganha peso político, durante a época da Independência do Brasil, pela figura
de José Bonifácio, natural de Santos, e em 7 de setembro de 1822 a Independência
é proclamada às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, por Dom Pedro I.
Em 1821 a
capitania transforma-se em província. Em 1820, D. João VI anexou
Lages a Santa Catarina, perdendo São Paulo mais um pouco de seu território. Em 1853 é criada a
província do Paraná, e São Paulo perde, pela última vez território, ficando
a partir daquela data com seu território atual.
As
divisas atuais do estado de São Paulo só foram fixadas em definitivo, na década
de 1930.
O ciclo do café
Já
em 1817 é
fundada a primeira fazenda de café de
São Paulo, no vale do rio Paraíba do Sul, e, após a Independência do Brasil, o cultivo de café
ganha força nas terras da região do Vale do Paraíba, enriquecendo rapidamente
cidades como Guaratinguetá, Bananal, Lorena e Pindamonhangaba.
Bolsa do Café em Santos.
Nas
fazendas cafeeiras do Vale do Paraíba, era utilizada em grande escala a
mão-de-obra escrava, e os grãos eram escoados via Rio de Janeiro. Assim sendo,
o Vale enriquece-se rapidamente, gerando uma oligarquia rural, porém o restante
da província continua dependente da cana-de-açúcar e do comércio que vai se
estabelecendo na cidade de São Paulo, impulsionado pela fundação de uma
faculdade de Direito em 1827.
São Paulo começa a se desenvolver também como cidade, abrindo seus primeiros
estabelecimentos receptivos aos viajantes, estudantes e comerciantes que
desejavam conhecer o lugar ou para estabelecer empreendimentos. Pensões, hotéis
e pousos passavam a ser regulamentados e cresciam em número, proporcionando
opções de hospedagem, conforto e lazer.
Entretanto, a exaustão dos solos do Vale do
Paraíba e as crescentes dificuldades impostas ao regime escravocrata levam
a uma decadência no cultivo do café a partir de 1860 naquela região. O Vale vai
se esvaziando economicamente enquanto o cultivo do café migra em direção ao
Oeste Paulista, adentrando primeiramente na região de Campinas e Itu,
substituindo o cultivo da cana-de-açúcar realizado até então.
A migração do café rumo ao oeste provoca
grandes mudanças econômicas e sociais na Província. A proibição do Tráfico negreiro em 1850 leva a
necessidade de busca de nova forma de mão-de-obra para os novos cultivos. A
imigração de europeus passa a ser incentivada pelo governo Imperial e
provincial. O escoamento dos grãos passa a ser feito via porto de Santos,
o que leva a fundação da primeira ferrovia paulista, a São Paulo Railway, inaugurada em 1867, construída por
capitais ingleses e do Visconde de Mauá, ligando Santos a
Jundiaí, passando por São Paulo, que começa a se transformar em importante
entreposto comercial entre o litoral e o interior cafeeiro.
Café sendo
embarcado no porto de Santos em 1880, por Marc Ferrez.
O
café vai adentrando paulatinamente o oeste paulista, passando por Campinas, Rio Claro e Porto Ferreira;
em 1870,
a penetração da cultura encontra seus campos mais férteis de cultivo: as terras
roxas do nordeste paulista, próximas a Ribeirão Preto, São Carlos e Jaúonde surgiram
as maiores e mais produtivas fazendas de café do mundo.
Atrás
de novas terras para o café, exploradores adentram o até então desconhecido
quadrilátero compreendido entre a Serra de Botucatu e os rios Paraná, Tietê e
Paranapanema, onde fundaram cidades como Bauru, Marília, Garça, Araçatuba e Presidente Prudente no final do século XIX e
início do século XX.
As fronteiras paulistas são fixadas com a
emancipação do Paraná em 1853. O sul paulista (Vale do Ribeira e
região de Itapeva) não atraem o cultivo do café e sofrem
com litígios de divisa entre São Paulo e Paraná, sendo portanto postas à margem
do desenvolvimento do resto da província, tornando-se, até nossos dias, as regiões
mais pobres do território paulista.
O
enriquecimento provocado pelo café e a constante chegada de imigrantes italianos, portugueses, espanhóis, japoneses e árabes à
Província, além do desenvolvimento de uma grande rede férrea, trazem
prosperidade a São Paulo.
República Velha e
a política do café com leite
Ao
se instalar a república, afirmava-se claramente o predomínio econômico do novo
estado. Se o Brasil era
o café, o café era São Paulo. Essa realidade repercutiu na esfera nacional, daí
a homogeneidade de 1894 a 1902, em três quadriênios
consecutivos, com os presidentes Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Alves.
No início do Século XX,
com o avanço das ferrovias rumo ao Rio Paraná são
criados dezenas de municípios ao longo das ferrovias Estrada de Ferro Sorocabana, NOB e Companhia Paulista de Estradas de
Ferro. Pela primeira vez é ocupado o Oeste paulista. Por ter sido
povoado ao longo das ferrovias, o oeste paulista se dividia em regiões chamadas
"Zona da Paulista", "Zona da Sorocabana", "Zona da
Noroeste" e "Zona da Araraquarense". As ferrovias foram
construídas nas regiões mais altas mais próprias para o café, os chamados
espigões, menos sujeitos à geada.]
Estação da Luz, um dos símbolos do poder
paulista no auge da República do café com leite.
São
Paulo ingressou com dois trunfos na era republicana: a riqueza representada
pelo café e o sistema de mão-de-obra livre, que fora introduzido antes da
abolição da escravatura e já se adaptara e integrara no modo de produção da
agricultura paulista. De outro lado, a autonomia local conferida pelo novo
regime federativo, que em face dos amplos direitos conferidos aos estados
resultava, na prática, numa verdadeira soberania, veio reforçar política e
administrativamente as vantagens conferidas pelos dois fatores acima
mencionados.
Assim equipado, beneficiando-se da fraqueza
institucional decorrente da Proclamação da República do Brasil,
São Paulo aliou seu poder econômico à força eleitoral de Minas Gerais e
instaurou a política do café com leite, que teve por
consequência uma mudança no federalismo no Brasil, sendo até hoje visíveis
os resultados. Para isso, concorreu também a visão empresarial de seus homens
de negócios, cafeicultores principalmente, que, ainda no império,
haviam aprendido a usar com presteza e vigor o poder político em defesa de seus
interesses econômicos. Perceberam de imediato a oportunidade da introdução do
imigrante estrangeiro e a subsidiaram com recursos da província, uma vez que o
governo imperial dispensava maiores atenções ao estabelecimento de núcleos
coloniais do que à imigração assalariada. Com a nova situação criada pela
instituição do regime republicano, puderam ampliar seus meios de ação. Daí por
diante, até a crise de 1929, não perderam de vista a expansão
e defesa do produto que sustentava a economia da região.
Apesar
das dissensões internas e de várias dissidências, o Partido Republicano Paulista (PRP)
conseguiu manter grande coesão em face da União, o que lhe permitia levar
avante uma política que satisfazia, em geral, aos interesses dominantes e que,
inegavelmente, contribuiu para o prestígio de São Paulo dentro da federação.
Não foram, entretanto, tranquilos os primeiros
momentos republicanos em São Paulo. Eles refletiam as agitações e desacertos
que ocorriam no âmbito federal. Como nos demais estados, estabeleceu-se uma
junta governativa provisória. Em seguida foi nomeado governador Prudente de
Morais, que logo renunciou. O governo do estado passou então para Jorge Tibiriçá, indicado por Deodoro.
Em 1890 inaugurou-se a
era das dissensões políticas dentro do PRP, com a oposição exercida pelo Centro
Republicano de Santos, que, em manifesto de 24 de agosto de
1890, lançou a candidatura de Américo Brasiliense de Almeida e Melo.
Agitou-se a faculdade de direito, enquanto as principais figuras republicanas
de São Paulo, como Prudente de Morais, Campos Sales, Bernardino de Campos e Francisco Glicério de Cerqueira Leite,
entre outros, inquietaram-se com o autoritarismo do marechal Deodoro da Fonseca. Este destituiu Jorge Tibiriçá
e delegou o poder, em 1891, a Américo Brasiliense, que Deodoro da Fonseca
considerava o único capaz de organizar São Paulo.
Agravaram-se
os descontentamentos. Amargas polêmicas foram travadas entre Campos Sales, pelo
Correio Paulistano, e Francisco Rangel Pestana, que usava como
porta-voz O Estado de S. Paulo. Nesse ambiente
instalou-se, em 8 de junho de 1891, a Assembleia
Constituinte e, em julho, Américo Brasiliense, já escolhido presidente do
estado, promulgou a primeira constituição paulista.
Os ânimos pareciam serenar quando o golpe de
Deodoro da Fonseca fez renascer a agitação. A capital e o interior viviam apreensivos,
sob a ameaça de subversão da ordem pública, que se generalizava pelo país. Para
evitar a guerra civil, Deodoro renunciou, e assumiu a presidência da república
o vice-presidente, Floriano Peixoto, que recebeu então apoio
político e financeiro de São Paulo contra as revoltas que se alastravam pela
nação. Em troca, São Paulo assumiu a hegemonia da federação, com a eleição de
Prudente de Morais, em 1894,
que dava início à série de presidentes civis.
Enquanto
isso, no estado, Américo Brasiliense passou o governo ao major Sérgio Tertuliano
Castelo Branco, que logo o transmitiu a quem de direito: o
vice-presidente, José Alves de Cerqueira César. Este,
diante do espírito de motim e de reação monárquica que reinava, dissolveu a
Assembleia Legislativa, convocou imediatamente outro Congresso e depôs todas as
câmaras municipais do estado. Realizaram-se eleições de deputados e senadores
para o segundo legislativo estadual, que se instalou em 7 de abril de 1892. Demonstrando sempre
decisão e firmeza, Cerqueira César convocou o eleitorado para escolher novo
presidente do estado, Bernardino de Campos, o primeiro governante paulista
eleito pelo sufrágio direto.
Após
1904, os mandatos dos presidentes do estado de São Paulo se estabilizaram, de 4
em 4 anos. Jorge Tibiriçá Piratininga reformou
as polícias de São Paulo. Em 1910, em uma campanha malograda, os paulistas
apoiaram a candidatura de Rui Barbosa à
presidência da república, tendo o presidente de São Paulo Albuquerque Lins como
seu vice. Derrotado Rui Barbosa e assumindo a presidência Hermes da
Fonseca, São Paulo correu o risco de intervenção federal na Política das Salvações, porém, com a eleição do
Conselheiro Rodrigues Alves, presidente de São Paulo
de 1912 a 1916, graças a seu
prestígio em todo o Brasil, São Paulo escapou da intervenção federal.
O
presidente de São Paulo de 1916 a 1920, Dr. Altino Arantes Marques enfrentou os 5 G:
a primeira guerra mundial, a grande geada de 1918, as greves (paredes)
de 1917, a gripe espanhola e a invasão de gafanhotos
no interior de São Paulo.
O Dr. Washington Luís, que governou São Paulo de 1920
a 1924, revolucionou São Paulo com seu lema "Governar é abrir estradas", sendo que, atualmente, 19 das
20 melhores rodovias brasileiras são paulistas.
Em 1924, durante a presidência de Carlos de Campos,
ocorre em São Paulo, tanto na capital quanto no interior, a Revolução de 1924, que obriga Carlos de
Campos a se retirar da capital. Acontecem destruições e depredações e
bombardeiro por parte do governo federal. Os rebeldes são derrotados e rumam
para o interior do Brasil.
O Dr. Washigton Luís chegou à presidência da
república em 1926, sendo porém deposto em 24 de outubro de 1930.
Revolução de 1930
e a Revolução de 1932
Em 1 de março de
1930, o presidente de São Paulo, o paulista Júlio Prestes,
foi eleito presidente da república, obtendo 91% dos votos válidos em São Paulo,
mas não tomou posse, impedido pela Revolução de 1930, a qual também derrubou da
presidência da república Washington Luís que fora presidente de São
Paulo entre 1920 e 1924.[30] São
Paulo então passou a ser governado pelos vencedores da Revolução de 1930 e logo
em seguida se revoltou contra essa situação protagonizando a Revolução de 1932. Júlio
Prestes e Washington Luís foram exilados. Os jornais apoiadores do PRP foram
destruídos.
Cartaz MMDC convocando o
povo paulista às armas.
A década de 1930 em
São Paulo caracterizou-se, do ponto de vista econômico, pelos esforços de
ajustamento às novas condições criadas pela crise mundial de 1929 e pela derrocada
do café. Do ponto de vista político, o período foi marcado pela luta em prol da
recuperação da hegemonia paulista na federação, atingida pela Aliança Liberal e afinal aniquilada pela
revolução de 1930.
Esta
submeteu o estado à ação dos interventores federais, que, de início, nem
paulistas eram.
Surgiram
logo as reivindicações a favor de um governo paulista, o que, na versão dos
vencedores da Revolução de 1930, era visto como tentativa de a restaurar os
grupos hegemônicos paulistas, cujos interesses, tanto econômicos quanto
políticos, estavam sendo prejudicados pela nova situação. No entanto, mesmo
alguns interventores, como o tenente pernambucano João Alberto Lins de Barros, procuraram
conciliar a cafeicultura com a nova orientação do governo federal.
Habituadas
a conduzir seu próprio destino, as classes dirigentes se insurgiram sob a
liderança do Partido Democrático, então presidido pelo professor Francisco Morato,
justamente o partido aliado à revolução getulista de 1930.[34] A
organização política rompeu, porém, com o governo federal e constituiu, com as
classes conservadoras e o velho PRP, a Frente Única Paulista. Esta procurou aliança
com outros estados, particularmente com a oposição gaúcha,
mas afinal os paulistas rebelaram-se,[35] contando
apenas com o apoio de tropas do Estado de Maracaju (atual Mato Grosso do Sul).
Em
9 de julho de 1932,
irrompeu a revolução constitucionalista de São Paulo. Governava o estado, como
interventor federal, o paulista Pedro de Toledo, logo proclamado governador.
Formaram-se batalhões de voluntários, e aderiram ao movimento algumas unidades
do Exército, um forte contingente de Mato Grosso e a quase totalidade da força
pública estadual. Foram mobilizados inicialmente cinquenta mil homens, cujo
comando coube ao general Bertolo Klingler, e depois ao coronel Euclides de
Oliveira Figueiredo.
A indústria participou
da revolução com entusiasmo. Sob a direção de Roberto Cochrane Simonsen, todo o parque
industrial paulista foi colocado a serviço da rebelião, dedicado à produção
bélica. Organizou-se também o abastecimento interno. A luta durou, porém,
apenas três meses e terminou com a derrota dos paulistas e a perda de centenas
de vidas.
Alguns
meses após a capitulação, o governo federal, a fim de pacificar o país, decidiu
convocar eleições para a Assembleia Constituinte, respondendo ao objetivo
principal dos revolucionários paulistas: a restauração da ordem constitucional.
Enquanto isso, São Paulo foi ocupado militarmente de outubro de 1932 a agosto
de 1933.
Foram exilados o ex-governador Pedro de Toledo, seu secretariado e outros
políticos que tomaram parte ativa na revolução.
Industrialização e
metropolização
Após
a Primeira Guerra Mundial, o cultivo do café
começa a enfrentar crises de excesso de oferta e concorrência de outros países.
O cultivo começa a ser controlado pelo governo, a fim de evitar crises e
fazendas fecham, levando imigrantes em direção a São Paulo, onde se tornam
operários.
Pressões
políticas exigindo o fim do predomínio da elite cafeeira paulista surgem e
movimentos artísticos como a Semana de 1922propagam
novas ideias sociais e econômicas. A imigração externa começa a se enfraquecer
e greves anarquistas e comunistas rebentam
em São Paulo enquanto impérios industriais como o de Matarazzo são formados.
Em 1930 o café entra em
sua derradeira crise com a Crise de 1929 e
o crash da Bolsa de Nova Iorque no ano anterior, o
colapso dos preços externos dos grãos e a Revolução de 1930, que retira os paulistas do
poder.
Imagem de satélite focalizando a Região Metropolitana de São Paulo.
Dois
anos depois, em 1932,
São Paulo combate Getúlio Vargas na Revolução Constitucionalista,
em uma tentativa de retomar o poder perdido, porém é derrotado militarmente. A
crise do café se amplifica e o êxodo rural em
direção à cidade de São Paulo esvazia o interior do estado.
No
período do Estado Novo (Brasil) com Ademar de Barros como
governador do estado e Prestes Maia prefeito da cidade de São
Paulo, o estado entra em uma nova fase de desenvolvimento com a construção de
grandes rodovias e usinas hidrelétricas.
A Segunda Guerra Mundial interrompe as
importações de produtos e a indústria paulista inicia um processo de
substituição de importações, passando a produzir no estado os produtos até
então importados. O processo intensifica-se no governo de Juscelino Kubitschek, que lança as bases
da indústria automotiva no ABC paulista. Para suprir a mão de obra
necessária, o estado passa a receber milhões de nordestinos, vindos principalmente dos
estados da Bahia, Ceará, Pernambuco e Paraíba,
que substituem os antigos imigrantes, agora compondo a classe média paulista,
como operários. Estes se fixam principalmente na periferia de São Paulo e
nas cidades vizinhas. Este rápido aumento populacional promove um processo
de metropolização, onde São Paulo se aglomera com as cidades vizinhas, formando
a Região Metropolitana de São Paulo.
Em
1960, a cidade de São Paulo torna-se a maior
cidade brasileira e principal polo econômico do país, superando o Rio de Janeiro. Este título de maior
cidade brasileira deve-se a um número maior de migrantes que escolhiam ir para
São Paulo.
Neste
período a política paulista era dominada pela rivalidade entre o
"janismo" e o "ademarismo", sendo os dois maiores líderes
políticos de São Paulo, Ademar de Barros e Jânio Quadros.
Industrialização
do interior
Rodovia dos Bandeirantes, um dos
principais vetores de desenvolvimento do interior do estado.
Nas décadas de 1960 e 1970 o
governo estadual promove diversas obras que incentivam a economia do interior do
estado, esvaziado desde a quebra do café em 1930.
A abertura e duplicação da Via Dutra (BR-116)
recupera e industrializa o Vale do Paraíba, que se concentra em torno
da indústria aeronáutica de São José dos Campos. Para o Oeste, a
implantação do Aeroporto Internacional de Viracopos,
a criação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
a abertura de rodovias como a Rodovia Anhanguera e Bandeirantes e Rodovia Washington Luís o implemento
de técnicas modernas de produção, em especial da cana-de-açúcar e de seu
subproduto, o álcool combustível, levam novamente o progresso
às regiões de Campinas, Sorocaba, Central, Ribeirão Preto e Franca.
Campinas,
a maior cidade do interior paulista.
Este
processo de recuperação econômica do interior intensifica-se a partir da década
de 1980,
quando inúmeros problemas urbanos, como violência, poluição e
ocupação desordenada, afligem a Região Metropolitana de São Paulo.
Entre 1980 e 2000 a grande maioria dos investimentos realizados no estado foi
feita fora da capital, que passa de uma metrópole industrial para um polo de
serviços e finanças. O interior, em especial os eixos entre Campinas - Piracicaba - São Carlos - Ribeirão Preto - Franca e Sorocaba - São José dos Campos - Taubaté,
torna-se industrializado e próspero.
Entretanto,
mesmo com o enriquecimento e industrialização do interior, outros estados
passam a ter uma taxa de crescimento econômico ainda mais elevada que São
Paulo, principalmente as regiões Sul e Centro-Oeste.
Atualmente,
ainda que o crescimento não seja mais tão alto e haja concorrência de outros
estados, São Paulo é o principal polo econômico e industrial da América do Sul,
sendo o maior mercado consumidor do Brasil.
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