Origem:
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da série sobre
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História do Japão
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A história do Japão (em japonês: 日本の歴史 ou 日本史, Nihon no rekishi / Nihonshi?) é a sequência de eventos
ocorridos no arquipélago japonês, com o surgimento de fatos
únicos influenciados pela sua natureza geográfica enquanto nação insular, assim
como por eventos inculcados por influência do império Chinês que definiram a sua língua, a sua escrita e
também a sua cultura política. Por outro lado, o Japão foi
ainda influenciado pelo Ocidente,
convertendo-se numa nação industrial, mas manteve os laços com a tradição
cultural do país. Exerceu uma influência significativa e expansão
territorial na região do Pacífico, mas após a Segunda Guerra Mundial estacou.
Após a
última idade do gelo, por volta de 12 000 AEC, o rico ecossistema do arquipélago japonês
promoveu o desenvolvimento humano. O aparecimento das primeiras pessoas no
Japão data do Paleolítico, há cerca de 35 000 anos.
Entre 11 000 e 500 AEC, estes povos
desenvolveram um tipo de cerâmica designada
de Jomon, a qual é
considerada das mais antigas do mundo. Posteriormente surgiu uma cultura
conhecida como Yayoi,
onde a produção de ferramentas de metal, assim como o
cultivo do arroz,
foram um importante progresso. Neste período existiram várias tribos, porém foi no período
Yamato que se fez notar maior predominância de povos. Séculos
depois, os governantes deste período reforçaram a posição do país e começaram a
disseminar-se por todo o arquipélago sob um sistema centralizado, comprimindo as inúmeras
tribos existentes e alegando a própria ascendência divina. Entretanto, o governo
central havia começado a assimilar os costumes próprios da Coreia e
da China.
Esta rápida imposição de tradições estrangeiras, contudo, produziu uma certa
tensão na sociedade japonesa e, no ano 794, a corte imperial
fundou uma nova capital, Heian-kyō (actual Quioto),
dando origem a uma cultura aperfeiçoada da aristocracia.
Apesar disso, o sistema centralizado fracassou nas províncias e iniciou-se um
processo de privatização de terras, dando origem a um colapso na administração
e ordem públicas. A aristocracia necessitava então da ajuda de guerreiros para
proteger a suas propriedades - mais tarde denominada a classe samurai.
Em
1192, Minamoto no Yoritomo foi
nomeado xogum (ditador
militar) do Japão pelo imperador, marcando o início do regime feudal xogunato(ou
bakufu) Kamakura, uma instituição militar permanente
que governaria durante quase setecentos anos. A corte viu assim o seu poder
transferir-se para os samurais sob tal regime militar. A eclosão da Guerra de
Ōnin em 1467 provocou uma série de guerras que se estenderam por
todo o Japão, num período que culminou em 1573, quando Oda Nobunaga iniciou
uma unificação do país que não foi concluída devido à traição de um dos seus
principais generais. O imperador foi morto e Toyotomi Hideyoshi vingou a sua morte,
completando a unificação em 1590. Depois disto, o país ficou novamente dividido em dois
lados: os que apoiavam o seu filho Toyotomi
Hideyori e os que apoiavam um dos principais daimyo, Tokugawa
Ieyasu. As duas vertentes enfrentaram-se então durante a Batalha de Sekigahara, da qual leyasu saiu
vencedor e foi oficialmente nomeado xogum em 1603, instaurando-se
o Xogunato Tokugawa. O período Edo caracteriza-se
por ter sido uma época de paz e pela implementação de uma nova política de relações internacionais que evitou o
contacto com o exterior. Este isolamento teve o seu término em 1853,
quando Matthew Calbraith Perry forçou o
Japão a abrir portas e assinar uma série de tratados com as grandes potências
estrangeiras (tratados desiguais), causando desconforto entre
alguns samurais que
apoiavam o imperador a favor da retoma do seu papel na política.
O último
xogum Tokugawa renunciou ao cargo em 1868, dando início à era Meiji,
em homenagem ao imperador Meiji que havia assumido o poder
político. Iniciou-se então a modernização do país com a evacuação do sistema
feudal e dos samurais, e com a transferência da capital para Tóquio.
Um forte processo de ocidentalização teve lugar, e o Japão emergiu
no mundo enquanto primeiro país asiático industrializado. O país encontrava-se num
processo de expansionismo territorial sobre as nações
vizinhas, o que originou conflitos com o Império Russo e
o Império Chinês. Com a morte do imperador Meiji,
o país havia se convertido numa nação moderna, industrializada, com um governo
central, assim como uma superpotência na Ásia que
rivalizava com o ocidente. Isto reflectiu-se numa explosão
social devido ao crescimento económico e populacional. O império começou a
conquistar terreno sob o extremismo político, sendo que em 1930 a
expansão militar se acelerou e o país confrontou a China pela segunda vez. Após a eclosão da guerra
na Europa,
o Japão aproveitou-se da situação para ocupar outras áreas territoriais da
Ásia. Durante o ano de 1941, as relações diplomáticas entre o Japão e os Estados
Unidos complicaram-se quando o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, interrompeu o
fornecimento de petróleo para o Japão e congelou todos os créditos japoneses
nos Estados Unidos. A 7 de dezembro de 1941 o Japão atacou Pearl Harbor, levando o país para
a Segunda Grande Guerra enquanto parte
das "Potências do Eixo". Apesar de uma série de
vitórias iniciais, o Japão veio a sofrer derrotas frente aos aliados, como
na Batalha de Midway, alterando consequentemente
os papéis na Guerra do Pacífico. Depois dos violentos bombardeamentos de Hiroshima e
Nagasaki, o Japão apresentou a sua incondicional rendição, uma vez
que estava sob ocupação das forças estadunidenses, as
quais desmantelaram o exército, libertaram as zonas ocupadas, o poder político
do Imperador foi suprimido e o primeiro-ministro eleito pelo parlamento.
Em 1952 o
Japão havia recuperado a sua soberania após a assinatura do Tratado de San Francisco, crescendo
economicamente com a ajuda da comunidade internacional. Politicamente, o Partido Liberal Democrata do Japão,
de tendência conservacionista, governou quase ininterruptamente no pós-guerra.
Com o início da era Heisei, o Japão sofreu uma crise económica nos
anos de 1990, enfrentando um declínio da taxa de
natalidade e um rápido envelhecimento da população. Em
princípios do século XXI, o Japão começou a reformar as práticas que
regiam desde o pós-guerra a sociedade, o governo e a economia, o que resultou
numa significante mudança política em 2009, com a tomada do poder por parte
do Partido Democrático do Japão. Contudo, em
finais de 2012, o poder voltou para as mãos do Partido Liberal Democrata.
Periodização
A história
do Japão divide-se em períodos importantes relativamente à produção artística,
assim como a relevantes acontecimentos políticos. A classificação
geralmente varia dependendo dos critérios do autor, contudo muitos dos períodos
podem ser subdivididos.
Eras
do Japão
Segundo
o imperador reinante, os nengō (年号?) (eras do Japão) possuem
outra divisão periódica na sua história. O sistema de classificação por eras
(ou períodos) fundamenta-se no nome do respectivo imperador, ou seja, pelo ano
correspondente ao seu mandato. Como exemplo, o ano 1948 corresponde ao
ano Shōwa 23. Atualmente é
utilizado tanto o calendário Gregoriano como o sistema
de nengō.
História
Período paleolítico japonês
Tradições
|
Fases
|
Datas
|
Ferramentas de seixo
talhado
|
Fase Ia
|
35 000 – 27 000 ap
|
Fase Ib
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27 000 – 23 000 ap
|
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Fase Ic
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23 000 – 21 000 ap
|
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Fase IIa
|
21 000 – 16 000 ap
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Fase IIb
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16 000 – 13 000 ap
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Trabalho microlítico
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Fase III
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13 000 – 12 000 ap
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Ponta
bifacial de projecteis
|
Fase IV
|
12 500 – 11 000 ap
|
Início do Período
Jomon
|
13 000 – 9 500 ap
|
A data
aproximada do início do período paleolítico é motivo de alguma controvérsia,
embora seja geralmente aceite que este período se defina entre
50 000/35 000 AP,
quando surgiram as primeiras ferramentas de pedra, e
13 000/9 500 AP, que corresponde ao início do Mesolítico.
Por definição, o período paleolítico do Japão terminou com o aparecimento das
primeiras técnicas de cerâmica durante o final do último período glacial, entre 13 000 e
10 000 anos AP Este período situa-se nos finais do Pleistoceno.
Existem
poucas evidências que comprovem o estilo de vida das pessoas que viviam no
Japão durante este período, assim como quanto à presença de seres humanos antes
de 35 000 AP, o que continua a ser algo controverso.[4] A
transição entre este período e o período seguinte foi gradual, não tendo sido
encontradas evidências de uma clara ruptura ou diferenciação entre as duas
culturas.
Sabe-se que
os primeiros habitantes eram caçadores-coletores vindos do continente.
Embora trabalhassem a pedra, desconheciam a tecnologia da cerâmica e não tinham
práticas agrícolas que indicassem sedentarização.[6] Este
período agrupa as mais antigas ferramentas de pedra polida conhecidas
no mundo, datadas por volta de 30 000 AEC.
O
paleolítico superior, documentado aquando realizada a escavação no sítio
arqueológico de Iwajuku em 1949, e que veio a permitir várias conclusões
a partir da década de 1960, é geralmente dividido pelas seguintes fases e
tradições: Através da datação por radiocarbono, concluiu-se que
os primeiros ossos humanos descobertos em Hamamatsu,
Shizuoka datam de 14 000 a 18 000 AP.
Período
Jomon
Estátua do período Jomon tardio.
A transição
do paleolítico para o período
Jomon (縄文時代, Jōmon-jidai?) teve início com a introdução
da cerâmica na
região a par de culturas agrícolas ainda incipientes. A primeira civilização japonesa
Jomon ocupou as ilhas nipónicas em finais da quarta glaciação por volta de 14
mil AEC. Durante os primeiros dez mil anos desde o aparecimento dos
primeiros povos, aproximadamente entre 11 000 e 500 AEC, a sobrevivência
dos habitantes dependia principalmente da caça, pesca e colecta.
O nome do
período provém do tipo de cerâmica desenvolvida, que significa "marca de
corda" - um cunho distinto deixado pelas cordas na argila ainda
crua, que se formava a partir de tiras de barro cozido a baixas temperaturas.
De acordo com a sua datação, a cerâmica deste período é das mais antigas
cerâmicas conhecidas no mundo.
Período
Yayoi
Dōtaku datado
do século III, no período Yayoi.
A cultura
do período Yayoi (弥生時代, Yayoi jidai?) caracteriza-se por ter sido a
fase de implementação de métodos de cultivo de
arroz e do trabalho em metal, apesar de, em arqueologia, ser
classificado segundo a identificação de determinados artefactos, especialmente
de diversos estilos de cerâmica. Considera-se que esta época está definida
desde 300 AEC até 500 EC.
Os membros
pertencentes à cultura Yayoi tinham
características físicas distintas das dos povos de Jomon, o que sustenta três
hipóteses quanto à origem dos Yayoi.
A primeira afirma que os povos deste período eram descendentes dos Jomon, tendo, no entanto, sofrido
alterações fisiológicas devido a mudanças na dieta e estilo de vida. Outra
teoria afirma que eram imigrantes do continente (Coreia).
A terceira hipótese sustenta que os povos Yayoi eram descendentes do cruzamento entre os Jomon e os imigrantes
provenientes do continente.
As
aplicações da tecnologia metalúrgica diversificaram-se, passando a ser comum o
fabrico de ferramentas agrícolas, espadas de bronze,
armas de ferro e espelhos para
o uso em rituais religiosos. Com a divisão do trabalho surgiu também uma
profunda estratificação da sociedade, fazendo com que se
estabelecessem classes dominantes e respectivos
feudatários, dando origem à divisão territorial por caciques.
Durante o
final deste período existia já um número significativo de caciques. Um dos mais
importantes foi Yamatai-koku, que estabeleceu bases para a
nação emergente do período seguinte. As Crónicas de Wei descrevem a existência
desse território; uma nação conhecida na China como Wa (primeiro registo escrito
do nome do Japão), a qual era liderada por uma
mulher chamada Himeko, provavelmente a imperatriz-consorte Jingo.
Período
Kofun
O Daisenryō-Kofun em Osaka, é o maior túmulo
deste tipo e a sua construção data do século V a.C.
O período Kofun
data entre 250 e 300, com a construção do primeiro kofun,
e 538 e 552, época em que se considera que o budismo foi
introduzido no Japão. Vários historiadores e arqueólogos, como Charles T.
Keally, prorrogam o prazo até 710, por forma a que os períodos Asuka e Hakuhō sejam considerados subperíodos
do Kofun.
Este período
adquiriu o mesmo nome das mamoas funerárias onde os membros da classe aristocrática
eram enterrados juntamente com as suas armas, armaduras e escudos de bronze
- kofun (古墳? lit. "antigo
túmulo"). A área destes túmulos varia de tamanho, chegando a
dimensões semelhantes às pirâmides do Egito, o que reflete a magnitude
de poder dos governantes.
O período
Kofun marca o fim da pré-história. Uma vez que não existem registos japoneses,
a história deste período dependeu de fontes externas (inicialmente de
documentos coreanos e posteriormente de chineses), assim como dos manuscritos
do início do período Nara, por volta do século XVII.
Apesar de não existirem registos de origem chinesa que mencionem o Japão entre
os anos 266 e 413, as escrituras coreanas do século IV proporcionam
uma vasta informação das actividades do reino de Wa na península coreana. Por outro lado, os registos
chineses do século V demonstram uma relação muito próxima entre a
China e o emergente governo Yamato (localizado
na atual província de Nara). Entre 413 e 502, os Cinco Reis de
Wa - nome que menciona os cinco monarcas do Japão -
mantiveram uma estreita relação com o dito país, enviando continuamente
emissários ao território chinês.
Durante este
período, o Japão teve um contacto significativo com a China e, sobretudo,
com a Coreia.
No ano 400, a infantaria do exército japonês acudiu em socorro o reino de
Baekje, no sudeste da península da Coreia, tendo contudo sofrido
uma significativa derrota nas mãos da cavalaria do
reino de Koguryo,
proveniente do norte da península.
O governo da
corte de Yamato focou-se num Kimi (君? "rei") e, a
partir do século V, o mandatário passou a ser chamado Tennō (天皇? "imperador").
O termo Tennō (天皇?"imperador"),
o qual é empregue atualmente, foi utilizado a partir do mandato do Imperador
Tenmu.
Período
Asuka
Templo budista de Hōryū.
Construído em meados do período Asuka por ordem do Príncipe Shotoku, representa
o início da presença do budismo no Japão.
O período Asuka (飛鳥時代, Asuka jidai?) teve início com a introdução
do budismo no
Japão, no ano 552. A introdução do budismo esteve na origem de uma série
de conflitos por todo o país. Alguns membros da corte viram com bons olhos a difusão
desta religião, ao considerar que a sua implementação poderia contribuir para a
unidade nacional e facilitaria o estabelecimento de uma nova hierarquia
religiosa sob a autoridade de uma divindade omnipotente (Buda), ao contrário das
centenas de kami do xintoísmo.
O conflito terminou com a vitória de Soga no Umako em
587, assim como com a implementação do budismo enquanto religião oficial,
atribuída pelo príncipe Shōtoku
Taishi e pela Imperatriz
Suiko em 593. Apesar do tudo, o budismo não se chegou a
sobrepor por completo ao xintoísmo e ambas as religiões coexistiram
pacificamente ao longo da história do Japão.
O príncipe
Shōtoku estabeleceu também um governo central. A corte financiou a construção
de vários templos e palácios,
inspirando-se em modelos arquitectónicos coreanos e chineses. O príncipe,
admirador profundo da cultura destas nações, fomentou o recurso a caracteres chineses (que estão na origem
dos kanji);
lançou bases para o desenvolvimento de códigos de
conduta e ética de governo fundamentados no budismo (constituição dos dezassete artigos,
604); e enviou inúmeras missões japonesas à China Imperial durante a dinastia Sui (600-618),
com o intuito de estabelecer firmes relações diplomáticas.
Em 602,
o príncipe Kume liderou
uma expedição à Coreia, acompanhado por cerca de 120 a 150 caciques locais (Kuni ni Miyatsuko). Cada cacique foi
escoltado por um exército pessoal, cujo número dependia da riqueza de cada
feudo. Estas tropas formaram o protótipo de um exército, que viria a ser
conhecido nos séculos posteriores por samurai.[17]
A arte deste
período incorpora os temas de arte budista.
Uma das obras mais notórias é o templo budista de Horyu-ji,
encomendado pelo príncipe Shōtoku no início do século VII, sendo a mais
antiga estrutura de madeira do mundo.
Período
Hakuhō
Nakatomi no Kamatari, personagem decisiva
no período Hakuhō ao contribuir para a
derrota do clã Soga e para a criação das Reforma Taika e
do Código Omi. Em virtude do seu trabalho recebeu
o apelido Fujiwara.
Izanagi (direita)
e Izanami(esquerda)
criando o submundo. Pintura de Eitaku
Kobayashi.
Após a morte
do príncipe Shōtoku em 621, surgiu dentro da corte um novo clã chamado Soga,
que foi gradualmente tomando o controlo político, o que constituiu uma forte
ameaça para o governo imperial. Em 645, face à urgência da situação,
o príncipe Naka no Ōe (626-672),
conjuntamente com outros membros, organizou um grupo e assassinou o líder do
clã, Soga no Iruka, em plena audiência com a Imperatriz Kogyoku (Incidente de Isshi).[24] A
imperatriz abdicou do trono em favor do seu segundo filho, o Imperador Kōtoku (596-654), ao mesmo tempo
que o clã Soga foi debelado. Em 646, o novo imperador, juntamente com Nakatomi no Kamatari e o príncipe
Naka no Ōe, redigiu uma série de leis designadas de "Reformas
Taika", com o propósito de fortalecer o poder central, as quais
implementaram uma reforma agrária e reestruturaram a corte
imperial segundo o modelo chinês da Dinastia Tang.
A corte impulsionou ainda o envio de embaixadas e
estudantes para a China a fim de assimilar aspectos culturais dessa região,
afectando de forma radical a cultura e sociedade japonesas. A este período
deu-se o nome de Hakuhō (白鳳文化, Hakuhō bunka?).
Após as
mortes do Imperador Kotoku (em 654) e da Imperatriz Kogyoku (que retomou o
trono com o nome de Imperatriz
Saimei, vindo a falecer em 661), o príncipe Naka no Ōe assumiu o
poder sob o nome de Imperador Tenji. Durante o seu reinado foram
promulgados o primeiro ritsuryo(uma compilação de leis baseada na filosofia de Confúcio e
em leis chinesas) e o Código Omi em
669. Nakatomi no Kamatari, que escreveu o código, foi recompensado pelo
imperador Tenji, recebendo o sobrenome de Fujiwara, que posteriormente veio a
fundar o clã Fujiwara.
No ano 618
a dinastia Tang tomou o poder na China e
aliou-se ao reino coreano de Silla,
com o propósito de atacar o reino de Paekche. Os japoneses enviaram três
exércitos expedicionários (em 661, 662 e 663) em auxílio do reino de Paekche.
Durante o conflito, o Japão sofreu uma das mais significativas derrotas na sua
história antiga, perdendo cerca de 10 mil homens, um número significativo de
barcos de grande porte e inúmeros cavalos de guerra. Receando uma invasão por
parte da nova aliança entre Silla e a China, o Japão iniciou uma militarização
progressiva. Em 670 foi ordenado um recenseamento demográfico tendo em
vista o recrutamento de população para o exército
japonês. Toda a costa norte de Kyushu foi
fortificada, ao longo da qual se edificaram postos de vigia, e se construíram
torres de sinalização com fogueiras na costa das ilhas Tsushima e Iki.
Após a morte
do Imperador Tenji em 671, os seus dois
sucessores disputaram o trono na Guerra
Jinshin. Após a vitória do Imperador
Tenmuem 684, este decretou que todos os elementos policiais civis e
militares dominassem as artes
marciais. Em 702, os sucessores do Imperador Tenmu culminaram
com as reformas militares através do Código Taihō (大宝律令, Taihō-ritsuryō?), conseguindo assim a vantagem de um
imenso e estável exército conforme o sistema chinês. Cada heishi (soldado japonês) era
atribuído a um gundan (regimento),
durante uma determinada parte do ano, enquanto que os restantes soldados
dedicavam-se à agricultura. Os soldados estavam individualmente equipados
com arcos,
uma aljava e
um par de espadas.
Estabelecimento
do sistema imperial
No século
VIII, os governantes do período
Yamato ordenaram que a sua inclusão nos mitos e lendas
japonesas fosse consumada, por forma a se legitimarem perante a
população. Uma das mais importantes lendas refere-se à origem do Japão,
atribuída aos kami Izanagi e Izanami.
Segundo a lenda, foi a partir destes dois que nasceram os três kami maiores: Amaterasu,
deusa do Sol e senhora dos céus; Susanoo,
deus dos oceanos; e Tsukuyomi, o deus da escuridão e da Lua. Em determinado
dia, Amaterasu e Susanoo discutiram e, embriagado, Susanoo destruiu tudo à sua
passagem. Amaterasu ficou tão assustada que se escondeu numa caverna, recusando-se
a sair, tendo o mundo ficado privado de luz. Com o propósito de fazê-la sair,
um kami feminino, Ame-no-Uzume-no-Mikoto, realizou uma dança
erótica acompanhada pelo regozijo da miríade dos deuses reunidos em assembleia.
No momento em que Amaterasu perguntava o que tinha acontecido, revelaram-lhe a
existência de uma kami mais
poderosa, Ame-no-Uzume, que tinha pendurado um espelho numa árvore, por forma a
que Amaterasu ficasse atraída por ele. Lentamente ela se aproximou do espelho
que tinham colocado à sua frente. A surpresa de ver o seu próprio
reflexo foi tão grande que Amaterasu ficou deslumbrada e algum tempo
depois a luz voltou a iluminar a Terra. Assim, o
espelho Yata no Kagami passou a fazer parte
da Regalia Imperial do Japão.
O segundo
elemento das três joias da coroa japonesa é descrito posteriormente na mesma
lenda. Susanoo foi banido pelos distúrbios que havia causado e, enquanto
caminhava pelas terras de Izumo,
ouviu uma cobra (ou dragão) de
oito cabeças, chamada Yamata no
Orochi, que atormentava os moradores locais. Susanoo assassinou a
cobra embriagando-a com saque e de seguida cortando-lhe as cabeças. Na cauda da
cobra, Susanoo encontrou uma espada e decidiu oferecer à sua irmã em sinal de
paz. Esta espada é, pois, o segundo ícone das insígnias imperiais.
A terceira e
última insígnia é uma magatama (miçanga em
forma de curva) que Amaterasu deu ao seu neto Ninigi-no-Mikoto,
quando este recebeu o cargo de governar o submundo. A joia, por sua vez, foi
entregue ao seu neto, o imperador
Jimmu, o primeiro imperador do Japão. Desta forma, subvencionados na
crença popular, os governantes de Yamato legitimaram o processo pelo qual o
Japão seria governado sob um sistema
imperial, fortemente apoiado pela crença no xintoísmo.
Período
Nara
Daibutsu-den, dentro do
complexo de Tōdai-ji. Este templo budista foi financiado pela corte
Imperial durante o período Nara.
O período
Nara (奈良時代, Nara-jidai?) teve origem em 710, quando a
capital foi transferida para Heijō-kyō -
próxima da província de Nara - prolongando-se até finais de 794, quando a
capital foi novamente transferida para Heian-kyō,
atual Quioto. A
nova capital foi inspirada em Changan,
antiga capital da China durante a dinastia Tang. Neste
período, o governo financiou a construção de inúmeros templos na capital e na
província, com o intuito de obter apoio religioso. Assim, a implementação em
definitivo do budismo e do confucionismo foi
imposta. A influência cultural chinesa tornou-se mais evidente, refletindo-se
na literatura.
É nesta época que surgem os primeiros registos históricos compilados pela corte
imperial - o Kojiki (712)
e o Nihonshoki (720).
Nasce então a poesia japonesa, o waka, e em 759 é compilada a primeira
coleção de poesia do Japão, o Man'yōshū.
Apesar de
tudo, o novo sistema chinês não foi bem recebido pela sociedade japonesa.
Disputas entre os membros da família imperial, o clã Fujiwara e os monges budistas
eram frequentes. Fujiwara no Fuhito, filho de Kamatari e
burocrata supremo dentro da corte, compilou então o Código Yoro em
720, por forma a revisar o anterior Código Taihō.
Contudo, no mesmo ano, o burocrata morreu, gerando uma fragmentação de poderes
entre os seus filhos, o que adiaria a publicação do código para o ano de 757.
Esta mudança de poderes foi a fonte de conflitos entre o príncipe Nagaya e os quatro filhos de
Fuhito (Muchimaro, Fusasaki, Maro e Umakai). Em 729, estes acusaram falsamente
Nagaya de corrupção, e ele foi condenado à pena de morte,
vindo posteriormente a cometer suicídio. Os filhos de Fuhito morreram após um
surto de varíola, que foi atribuída a uma suposta maldição lançada pelo
príncipe antes de morrer. Isto fez com que o Imperador
Shomu se transferisse para várias cidades, declaradas
sucessivamente capitais do país entre 740 e 745.
Após a
abdicação do trono por parte do imperador Shomu em 749, o clero budista tomou o
poder com o apoio da Imperatriz
Koken, que, apesar de ter abdicado do trono em 758, continuou a
exercer controlo sobre a corte, favorecida por um importante monge
chamado Dokyo,
ao qual outorgava poder político. Isso fez com que o clã Fujiwara e o imperador
Junnin intentassem um golpe de
estado em 764, tentativa esta falhada, provocando a deposição
do imperador e a execução de Fujiwara no Nakamaro, líder da
conspiração. A imperatriz retomou então o trono com o nome Imperatriz Shotoku, continuando com a permuta
de poder para Dokyo, que chegou inclusive a ser nomeado por um oráculo como
sucessor a imperador. Mais tarde, em 770, a imperatriz morreu de varíola e
Dokyo fugiu para o exílio, o que motivou profundas alterações políticas. Os
monges budistas foram, entretanto, excluídos do governo, seguindo-se a
suspensão dos apoios governamentais à religião. As medidas impostas pelo
imperador Konin (770-781), assim como pelo imperador
Kanmu (781-806), fizeram com que a corte imperial abandonasse
Nara, com o intuito de se afastar dos templos budistas. A corte foi então
transferida para Nagaoka-kyōem 784. Passados dez anos, esta foi
novamente deslocada para a nova capital Heian-kyō ("Capital
da Paz e Tranquilidade").
Com o
nascimento do estado unificado de Silla, a ameaça de uma
invasão da Coreia contra o Japão desvaneceu-se, e então a corte de Nara focou a
sua atenção nos habitantes do nordeste de Honshu,
designados de emishi (蝦夷? "bárbaros"),
com quem tiveram numerosas altercações. Em 774, eclodiu uma grande revolta,
conhecida como a guerra dos trinta e oito anos. Nela,
os emishi empregaram
um sistema de "guerra de guerrilhas" e o uso de uma espada com lâmina
curva, que lhes conferia uma significante vantagem de combate - com um melhor
desempenho rotativo, ao contrário da espada reta do exército da corte imperial
de Nara, tornando-se assim mais eficientes. Em 796, com ajuda de Sakanoue no Tamuramaro, os emishi conseguiram a vitória
sobre a corte imperial. Sakanoue recebeu então o nome de Seii Taishōgun (征夷大将軍? "Grande General
Apaziguador dos Bárbaros"),[38] -
expressão mais tarde empregue para designar o líder dos samurais.
O sistema de
recrutamento de camponeses terminou em 792, ao se reconhecer que a principal
força militar viera dos chefes e dos seus soldados e não dos camponeses, que
não possuíam a formação adequada e disciplina suficientes para os campos de
batalha.
Período
Heian
Ilustração de uma cena do Genji
Monogatari. Durante o período Heian, a aristocracia foi o
centro da cultura, política e sociedade japonesa.
O período Heian (平安時代, Heian jidai?) teve início em 794, indo até
1185, com o estabelecimento do primeiro regime xogum na história do
país - Xogunato Kamakura.
Consolidação
da aristocracia
Neste
período, a rede estatal chinesa foi adaptada às necessidades japonesas, e uma
cultura própria e sofisticada emergiu. Com o declínio do sistema
burocrático dos códigos Taika e Taihō,
a instituição imperial foi fortalecida durante os primeiros anos do reinado
do Imperador Kanmu. Contudo, depois da sua morte
em 806, a assimilação cultural com a China foi progressivamente desprezada e em
838 deram-se como finalizadas quaisquer relações com a Dinastia Tang.
Além disso, com o desaparecimento do antigo sistema político, o clã Fujiwara começou
um novo processo de adopção dos altos escalões hierárquicos do governo,
estabelecendo estreitos laços matrimoniais com a família imperial a partir da
primeira metade do século IX. Líderes do clã posicionaram-se de forma a se
tornarem regentes (Sesshō e Kanpaku) dos imperadores, enquanto que
outros membros do clã Fujiwara conseguiram monopolizar altos cargos, como o
Conselho de Estado (Daijō-kan). Os oficiais de gama média e baixa foram
distribuídos hereditariamente por outros clãs aristocráticos. Em finais
do século X e começos do século XI, os Fujiwara governaram de facto o
Japão e apenas uma pequena percentagem de imperadores regeram por conta
própria, uma vez que quando assumiam o trono, eram forçados pelos líderes do
clã a abdicar do mesmo ainda muito jovens, cedendo assim as decisões
administrativas aos regentes e ao Daijō-kan.
O budismo
esotérico das escolas de Tendai e Shingon tornou-se
bastante popular durante este período, levando a que aristocratas procurassem a
"salvação" através de cerimónias e rituais budistas em tais
instituições religiosas. Até então, mobilizada pela escrita chinesa, a cultura
japonesa sofreu um significativo aprimoramento, tendo como ponto central a
corte imperial. O aperfeiçoamento literário foi expressivo com a criação
do Kana,
uma escrita silábica, que se ajustava com a fonética japonesa. Novos géneros
literários foram estabelecidos como romances (monogatari) - salientando-se o
livro Genji
Monogatari de Murasaki
Shikibu escrito por volta do ano 1000 - seguidos pelos jornais, ensaios e
outros documentos pessoais feitos por cortesãos como Makura no
Soshi de Sei Shonagon,
escrito também por volta do ano 1000.
Em 860 já
poderia ser vista grande parte das características dos futuros samurais nos
campos de batalha - hábeis cavaleiros no uso do arco e flecha,
bem como de katanas.
Estes militares a cavalo possuíam total confiança do "Trono do Crisântemo, estando encarregues da
segurança das cidades, assim como dos confrontos contra as revoltas que se
sucedessem.
No entanto,
o sistema público de terras que se estendia sobre as províncias estava prestes
a entrar em colapso. Em inúmeros locais foram criadas terras privadas (shōen), as quais eram utilizadas em primeira instância
pela aristocracia e pelos grandes templos. Com a suspensão de registos
familiares e a alocação de terras de cultivo no século X, os terrenos do
estado foram ultimados enquanto áreas privadas. Assim, os proprietários
destes terrenos elegiam os clãs e camponeses locais como seus administradores,
o que resultou na transferência do poder das terras para estes. Contudo, a
existência de numerosas propriedades privadas reduziu significativamente
os impostos,
chegando ao ponto em que a própria família imperial se viu forçada a adquirir
terras privadas para assegurar a sua renda.
Ascensão
da classe samurai
Mon do clã Minamoto,
um dos protagonistas do período Heian.
Mon do clã Taira,
inimigo do clã Minamoto e um dos clãs mais
importantes do período Heian.
O processo
de descentralização sofrido pelo governo fez com que a administração local
apresentasse dificuldades, resultando numa quebra da lei e ordem públicas.[34] Durante
o século IX, o Japão sofreu uma grave crise económica e social como
resultado de pragas e fomes acompanhadas pela má nutrição em massa, epidemias e
aumento da mortalidade. Com isto, numerosos distúrbios, motins e revoltas
começaram a surgir em inícios do século X. O governo tomou então a decisão
de conceder amplos poderes aos governantes de cada região, sendo que estes
passaram a ter permissão para recrutar tropas de combate, que faziam uso
do sabre japonês
(katana),
de arqueiros (Kyujutsu)
e cavalaria,
alistando ainda agricultores enquanto seus simpatizantes que atuavam contra as
crescentes rebeliões conforme sua vontade. Isto veio a conceder um enorme poder
político aos governadores. Foi durante este período que se documentou pela
primeira vez a palavra "samurai", ou seja, “aqueles que servem”, isto
num contexto puramente militar.
O primeiro
grande teste de equilíbrio sobre o sistema ocorreu no ano de 935, quando uma
revolta contra o governo central de Quioto,
liderada pelo samurai Taira no
Masakado, descendente do príncipe Takamochi,
começou a tomar graves proporções. A princípio, a corte Heian considerou que o
incidente que envolvia Masakado seria apenas uma revolta da localidade, até que
este veio a auto-proclamar-se "o novo imperador". Respondendo a tal
situação, a corte enviou um exército provincial para sufocar a revolta,
originando na morte do líder por decapitação em 940. A partir deste
momento e dependendo da sua origem social, estes líderes de guerreiros
começaram a definir uma aristocracia em
cada região, sendo-lhes confiado o poder, o qual passou a ser dominado por um
grupo elitista de guerreiros.
Alguns
aristocratas que não conseguiram cargos importantes no poder viram-se forçados
a emigrar para outras províncias, assumindo a liderança sobre os guerreiros
samurai do respectivo local. Um exemplo foram os clãs Taira, Minamoto e
Fujiwara, que exerciam na capital. Estes possuíam guerreiros que os protegiam -
tal como nos templos budistas, onde existiam monges armados (sohei) que guardavam
defensivamente as suas próprias propriedades. Minamoto no Yoriyoshi,
viu-se envolvido num marcante conflito da época denominado de Guerra
Zenkunen ou "guerra dos primeiros nove anos" entre
1051 e 1062. Esta foi a primeira guerra que ocorreu no país desde a batalha contra
os emishi. A disputa
começou quando Abe no Yoritoki, descendente dos emishi e membro do clã Abe,
não entregou os impostos à corte imperial. Yoriyoshi teria sido enviado para
resolver o problema pessoalmente. Yoriyoshi e Yoritoki chegaram de forma
pacifica a um acordo, contudo um conflito interno eclodiu no clã Abe e Yoritoki
foi morto. Com este facto, foi declarada guerra entre Abe no Sadato,
filho de Yoritoki, e Minamoto. Só em 1062 é que Yoriyoshi conseguiu vencer os
Abe na batalha de Kawasaki, tendo transportado a
cabeça do rebelde até Quioto como sinal de vitória. Minamoto no Yoshiie, filho de Yoriyoshi,
combateu lado a lado com o seu pai durante todo o conflito, ganhando grande
reputação pelas suas proezas militares. Isso lhe valeu o apelido de Hachimantarō ou "o filho
primogénito de Hachiman, o deus da guerra".
Enquanto que
a crise económica e a instabilidade política iam causando confrontações entre
os clãs Fujiwara, Taira e Minamoto, tanto dentro como fora da corte, na segunda
metade do século X, a família imperial restaurou o seu poder político com
a ascensão ao trono do Imperador Go-Sanjo (1068
- 1073). Este impediu o clã Fujiwara do controlo de decisões administrativas;
regulou os shōen; decidiu
implementar reformas económicas sobre os obsoletos ritsuryo; e estabeleceu um sistema
monárquico designado de insei(governo enclaustrado), em que o
governante nominal de todos os governos e unidades administrativas não possuía
um poder prático, senão o de simplesmente articular todos os processos. Apenas
os conselheiros detinham o poder real. O imperador, ao momento de abdicar do
trono, retirar-se-ia para um templo budista, contudo mantinha a posição de
regente sobre o seu sucessor, preenchendo o vazio de poder que deixava o clã
Fujiwara entre disputas internas e faccionárias. O seu sucessor, o Imperador Shirakawa (1073 - 1087), foi
quem aplicou o sistema insei na
sua máxima expressão ao governar enquanto imperador aposentado por mais de
quarenta anos até 1129. Assim, Shirakawa governava sobre três imperadores que
não passavam de títeres do governo. O imperador
Toba (1107 - 1123) havia também adoptado o sistema insei, administrando o país por mais
de três décadas até à sua morte em 1156. Toba exerceu influência sobre outros
três imperadores. Neste período houve, contudo, contradições entre o imperador
reinante e o aposentado, dando lugar à autoridade militar para governar o país
sobre a autoridade civil.
Em 1083
eclodiu novamente um conflito armado em que Minamoto estaria envolvido, agora
na Guerra Gosannen, que teve origem sobre as
diferenças entre os líderes dos antigos dirigentes e aliados dos clãs Minamoto
e Kiyowara. Depois de uma feroz batalha por três anos consecutivos, em que a
corte se recusou a auxiliar o clã Minamoto, este conseguiu, contudo, sair
vitorioso. Quando Yoshiie foi a Quioto com a finalidade de conseguir uma
recompensa, tal desejo foi recusado pela corte, que recriminou os impostos em
atraso que o mesmo devia, dando assim início a um claro distanciamento entre a
corte e Yoshiie. Enquanto isso, os seus rivais, os Taira, desfrutavam cada vez
mais de uma boa relação com a corte imperial devido às suas façanhas na região
oeste do país. A rivalidade entre os clãs Minamoto e Taira foi se
intensificando e tornou-se cada vez mais evidente. Em 1156, depois da morte do
imperador Toba, teve início um conflito entre os dois clãs, quando Minamoto no Yoshitomo se juntou
a Taira no Kiyomori contra o seu pai Minamoto no Tameyoshi e o seu
irmão Minamoto no Tametomo, durante a revolta de
Hogen. A batalha foi breve, Tameyoshi acabou por ser executado e
Tametomo castigado com o desterro. Esta revolta pôs em causa o poder do
sistema insei, quando o
retirado Imperador Sutoku foi vencido pelo
governante Imperador Go-Shirakawa, e também
sentenciou o destino final do clã Fujiwara, que foi banido do poder. Assim, o
domínio foi monopolizado exclusivamente pelos clãs Taira e Minamoto.
Em 1159,
houve outro confronto, conhecido como Rebelião
Heiji, onde Yoshitomo enfrentou Kiyomori. A superioridade do clã
Taira era de tal forma proeminente que os membros do clã Minamoto fugiram para
se salvarem. Os Taira perseguiram-nos e Yoshimoto foi capturado e morto. Dos
membros do grupo inicial da família Minamoto, restava um número insignificante
deles, tendo o clã sido aniquilado quase por completo. Em 1167 Taira no
Kiyomori recebeu do imperador o título de Daijō Daijin (Primeiro
Ministro), o qual constituía o mais alto posto que o imperador poderia
conceder, tornando-se então o governante do país e o primeiro governador
militar da história do Japão. Entretanto, na tentativa de aderir ao poder,
Kiyomori entrou um conflito com o imperador Go-Shirakawai, que intentava
exercer controlo através do sistema insei,
em 1158. No ano 1177, o imperador planeou um golpe de estado que acabou por
fracassar, o que resultou consequentemente no seu exílio e na supressão do seu
poder político. Kiyomori nomeou em 1178 como herdeiro ao trono o seu neto ainda
criança, que em 1180 assumiu o poder com o nome de imperador
Antoku. Isto motivou a ira dos opositores do clã Taira, dando origem
às Guerras Genpei.
Guerras
Genpei
Cena das Guerras Genpei (painel do século XVII).
As Guerras
Genpei (源平合戦, Genpei kassen ou Genpei gassen?) foram uma série de guerras civis que
evolveram os clãs mais influentes da acção política do país, designadamente os
clãs Taira e Minamoto.
Estas guerras ocorreram entre 1180 e 1185. Em 1180, instalaram-se no país
duas revoluções independentes, que envolveram duas gerações distintas do clã
Minamoto. Uma das revoluções sucedeu-se em Quioto e foi chefiada pelo veterano
Minamoto no Yorimasa, enquanto que a outra ocorreu na província de Izu, comandada pelo jovem Minamoto no Yoritomo. Ambas as revoltas
foram apaziguadas com relativa facilidade. Na província de Izu, Yoritomo foi
forçado a fugir de Kanto, enquanto que em Quioto, Yorimasa foi vencido na batalha de Uji, onde cometeu seppuku antes
de ser capturado.
Durante dois
anos, ambos os lados foram se envolvendo em pequenos conflitos. Em 1183, os
Taira decidiram enfrentar Minamoto no Yoshinaka, primo de Yoritomo.
Depois de derrotar os Taira na batalha de Kurikara, Yoshinaka dirigiu-se com o
seu exército para o local onde se encontrava Yoritomo. As tropas de Yoshinaka e
de Yoritomo estavam envolvidas na batalha de Uji em 1184. Yoshinaka perdeu o
confronto e tentou escapar, contudo foi capturado em Awazu, onde foi
decapitado. Com esta vitória, o corpo principal dos Minamoto focou os seus
esforços em derrotar os seus principais inimigos, os Taira. Yoshitsune
dirigiu então o seu exército ao encontro do clã em nome do seu irmão mais
velho, Yoritomo, que permanecera em Kamakura. Por fim, Minamoto reivindicou a
vitória na Batalha de Dan no Ura. Entretanto,
Yoritomo ordenou que os seus homens perseguissem o seu irmão Minamoto no Yoshitsune, pois este era
considerado como uma forte ameaça e essencialmente um rival. Yoshitsune foi
derrotado e morto na batalha de Koromogawa em 1189.
Período
Kamakura
Minamoto no Yoritomo, fundador do Xogunato
Kamakura em 1192. Estabeleceu o primeiro regime militar em que
os samurais governavam.
Em
1192, Minamoto no Yoritomo auto-proclamou-se xogum - denominação
esta que até então tinha sido apenas temporária, e tornou-se um título militar
de alto nível. Com isto foi instituiu o xogunato enquanto
figura permanente, que duraria cerca de 700 anos até à restauração Meiji. Com o novo ideal xogum, o
imperador converteu-se num mero espectador quanto às questões políticas e
económicas do país, enquanto que os samurais se tornaram efectivos.
Yoritomo
estabeleceu o povo costeiro de Kamakura como a principal sede do
xogunato, tendo assim este período recebido o seu nome. A corte imperial
concedeu a Yoritomo o poder de nomear os seus próprios vassalos de protectores
provinciais (Jito) e mordomos (shugo), responsáveis pela gestão das propriedades
privadas. Em paralelo, a corte imperial continuou elegendo funcionários
provinciais, assim como proprietários de imóveis enquanto administradores da
respectiva terra. Posto isto, a estrutura política durante o período Kamakura
apresentou uma dualidade, pois enquanto a administração civil era subvencionada
pela corte imperial, a administração feudal era custeada pelo xogunato.
Após apenas
três xoguns do clã Minamoto, e depois da morte do último, o clã não possuía
outros herdeiros. Hōjō Masako,
viúva de Yoritomo, tomou então a decisão de adoptar uma criança de um ano de
idade, descendente de uma família do clã Fujiwara, e nomeou-o xogum. Assim,
o clã Hōjō se perpetuaria no poder por várias décadas ao
eleger uma criança a xogum a qual foi descartada assim que cumpriu vinte anos
de idade, aproveitando-se de um estado
fantoche para exercer o controlo do país. Por este motivo,
em 1219, o aposentado imperador
Go-Toba, que procurava restaurar o poder imperial que detinham antes
do estabelecimento do xogunato, acusou os Hōjō de malfeitoria. As tropas
imperiais mobilizaram-se, dando lugar à guerra Jōkyū (1219-1221),
a qual culminaria com a terceira batalha de Uji. Durante este
conflito, as tropas imperiais foram derrotadas e o imperador Go-Toba exilado.
Com a derrota de Go-Toba, confirmou-se o governo dos samurais sobre o país.
Invasões
mongóis do Japão
Um samurai atacado
por diversos arqueiros e explosivos lançados por catapultas durante
as invasões dos mongóis contra o Japão.
Samurais atacam barcos mongóis durante a invasão de 1281.
Depois
de Kublai Khan reclamar
o título de imperador da China, decidiu invadir o Japão com
a finalidade de submeter o país ao seu domínio. Esta foi a primeira
oportunidade dos samurais para testarem as suas forças contra inimigos
estrangeiros.
A primeira
invasão ocorreu em 1274, quando as tropas mongóis desembarcaram
em Hakata (actual Fukuoka).
Durante esta batalha as tropas japonesas enfrentaram uma técnica bastante
diferente no uso do arco e flecha daquilo a que estavam acostumados. Os mongóis
arremessavam flechas a grandes distâncias, gerando "nuvens de setas",
enquanto que os arqueiros japoneses efectuavam um tiro único e de curta
distância contra os oponentes. Outra grande diferença entre as duas formas de
combate encontrava-se no uso de catapultas do
exército mongol. Entretanto, durante a noite do dia da batalha, uma forte tempestade danificou
significativamente a frota invasora, obrigando-a a regressar à Coreia para
rearmar o seu exército. Depois da retirada do exército inimigo, os japoneses
tomaram uma série de medidas preventivas, como foi exemplo a construção de
muros nos pontos mais vulneráveis da costa, assim como o posicionamento de um
guarda efectivo em cada um deles.
A segunda
tentativa de invasão teve lugar em 1281. Os samurais efectuaram ataques
aos navios inimigos, tais como a pequenas balsas que tinham uma
capacidade limitada de transportar cerca de doze guerreiros, isto com o
propósito de impedir que as tropas inimigas apeassem na costa. Após uma semana
de combates, um emissário imperial foi requerido para solicitar a Amaterasu,
a deusa do sol, que intercedesse pelo exército japonês. Um tufão atingiu
a frota mongol e a afundou quase por completo. Isso deu origem ao mito do Kamikaze (神風, lit. "Vento Divino"?), considerado como um sinal de que
o Japão teria
sido escolhido pelos deuses e, portanto, estes seriam responsáveis pela sua
segurança e sobrevivência das forças japonesas. Os poucos
sobreviventes mongóis decidiram aposentar-se, determinando a vitória do Japão.
Restauração
Kemmu
Estátua de Kusunoki Masashige em Tóquio,
um samurai de suma importância nas guerras Nanbokuchō.
No início
do século XIV o clã Hōjō, que se encontrava em decadência, enfrentou
uma tentativa de restauração imperial, agora sob a figura do imperador Go-Daigo (1318-1339). Tendo
conhecimento de tais eventos políticos, o clã Hōjō enviou um exército de
Kamakura, para impedir o sucesso do imperador. Frente a esta situação Go-Daigo
fugiu para Kasagi, levando a regalia imperial com ele. O imperador
Go-Daigo procurou refugio por entre os monges guerreiros que o acolheram e se
prepararam para um possível ataque inimigo.
Após
tentativas de negociação entre os Hōjō e o imperador para que este abdicasse do
poder, e uma vez a sua recusa, decidiu-se então que outro membro da família
imperial subisse ao trono. Contudo, visto que o imperador havia levado consigo
a insígnia real, não foi possível realizar a tradicional cerimónia. Kusunoki Masashige - um importante
guerreiro samurai que veio a tornar-se um modelo de referência para os futuros
samurais da época - combateu contra o imperador Go-Daigo num yamashiro (castelo japonês). No entanto, com a
superioridade numérica do exército do imperador somada à vantagem da topografia do
local, foi possível constituir uma eficaz defesa contra o ataque. Em 1332, o
castelo desmoronou e Masashige decidiu retirar-se para dar continuidade à
batalha no futuro. O imperador foi capturado e levado para a sede dos Hōjō
localizada em Quioto, tendo sido mais tarde exilado nas ilhas Oki.
Construído
um castelo em Chihaya, o qual possibilitava uma defesa superior comparada
com o último, o exército liderado por Masashige foi atacado pelos Hōjō, porém a
ofensiva do clã foi imobilizada. A forte defesa de Masashige motivou o
imperador Go-Daigo a retomar novamente a batalha em 1333. Tomando conhecimento
do retorno do imperador, os Hōjō decidiram enviar um dos seus principais
generais, Ashikaga Takauji. Porém, Ashikaga decidiu
aliar-se ao exército do imperador e definiu o lançar de um ataque juntamente
com o exército ao quartel-general dos Hōjō em Rokuhara.
A traição de
Ashikaga trouxe graves consequências aos regentes, e o exército do general foi
dizimado. Entretanto, golpe definitivo surgiu pouco depois,[64] quando
um guerreiro chamado Nitta
Yoshisada se uniu aos partidários imperiais, aumentando as suas
forças. Nitta e o seu exército partiram para Kamakura e venceram os Hōjō.
Período
Muromachi
O Kinkakuji,
o "Templo do Pavilhão Dourado", é um símbolo da cidade de Kyoto. Foi construído
pelo Xogum Ashikaga Yoshimitsu em 1397.
O período
Muromachi (室町時代, Muromachi-jidai?) envolve a era do xogunato
Ashikaga (足利幕府, Ashikaga bakufu?), sob o regime militar feudal que se
encontrava em vigor desde 1336 até 1573. O referente período deve o seu nome à
área onde o terceiro xogum Yoshimitsu havia estabelecido a sua residência.
Depois de ter auxiliado o imperador Go-Daigo a conquistar novamente o seu
trono, Ashikaga Takauji acreditava receber uma recompensa substancial pelos
seus serviços. No entanto, por considerar que a retribuição não seria o
suficiente e tendo em conta a insatisfação da classe samurai com este novo
governo, decidiu então revoltar-se.[65][66]Descendente
do clã Minamoto, Ashikaga podia ascender ao trono imperial. Assim, com o
intento de impedir tal acontecimento, o imperador decidiu agir rapidamente,
enviando um exército contra Takauji, que o seguiu até à ilha Kyushu.
Porém Takauji não foi derrotado e regressou ao trono em 1336. O imperador
ordenou então que Masashige enfrentasse as tropas rebeldes em Minatogawa
(agora Kobe),
mas foi novamente derrotado, resultando na vitória decisiva para Takauji.
Masashige decidiu cometeu seppuku antes de ser capturado pelo exército de Takauji.
Entretanto, o xogum nomeou o príncipe imperial Yutahito de imperador (Imperador
Komyo). Go-Daigo foi para a cidade de Yoshino e,
durante os seguintes 50 anos, duas cortes imperiais foram efetivas: a Corte do Sul em Yoshino e a Corte do Norte em Kyoto. Esta
pendência ficou conhecida como período Nanboku-chō (南北朝時代, Nanbokuchō-jidai?, literalmente "Cortes do Norte e
do Sul"). A situação durou até 1392, graças às habilidades diplomáticas de
um dos maiores governantes da história do Japão, o xogum Ashikaga Yoshimitsu, quando as duas linhagens
se reconciliaram e a Corte do Sul cedeu.
Com a
divisão do governo imperial perdeu-se todo o poder político efetivo, uma vez
que a Corte do Norte recebia o apoio do xogunato e a Corte do Sul controlava
apenas alguns territórios do Japão. O Xogunato Ashikaga erigiu enquanto governo
central, apesar de ter sido um governo bastante débil, ao contrário do Xogunato
Kamakura. Isto deveu-se ao facto de os guardas das províncias do Japão não
serem simples oficiais, pois tinham poder suficiente para organizarem grupos
elitistas de samurais e exércitos baseados no conceito entre senhor e vassalo,
que foi progredindo até aos senhores
feudais que detinham um controlo independente sobre várias
regiões. Este novo tipo de líder foi chamado de daimió (大名? lit. "Senhor das
Terras").
Período
Sengoku (1467-1568)
Após um
breve período de relativa estabilidade, desenvolveu-se uma certa abstinência
política durante o xogunato de Ashikaga Yoshimasa, neto do famoso Yoshimitsu Ashikaga. Yoshimasa havia-se
dedicado por longo prazo às questões artísticas e culturais, pelo que se
encontrava completamente ignoto sobre a situação económica e política do país.
Com isto, os proprietários aproveitaram-se deste oportuno momento e começaram
uma disputa interna pelo poder e pelas terras, acontecimento que ficou
conhecido como a Guerra de
Ōnin (応仁の乱, Ōnin no Ran?). De uma disputa entre Hosokawa Katsumoto e Sōzen Yamana escalou
para uma guerra que envolveu todo o país, incluindo o Xogunato
Ashikaga e uma série de daimyo de
várias regiões do Japão. Este período da história que se estabeleceu entre 1467
e 1568 ficou conhecido como o período Sengoku (japonês: 戦国時代, sengoku jidai). É
justamente neste clima de instabilidade e inúmeros conflitos que a participação
dos samurais teve significante importância.
Das figuras
mais importantes deste período destacam-se Takeda
Shingen e Uesugi
Kenshin, cuja lendária rivalidade serviu de inspiração para várias
obras literárias. Os exércitos de Shingen e Kenshin enfrentaram-se nas
famosas batalhas de Kawanakajima (1553 -
1564). Apesar de a maioria das batalhas não passarem de meras guerrilhas,
a quarta batalha de Kawanakajima,
que ocorreu em 1561, teve grande importância na aplicação de várias tácticas de
combates. Esta batalha resultou em grandes perdas para ambos os lados,
distinguindo-se de qualquer outra batalha do período Sengoku. O confronto corpo
a corpo entre os dois líderes resultou num desfecho em igualdade de
circunstâncias no final do combate.
A guerra
derrubou a ordem do estado antigo, assim como o sistema de territórios
privados, contudo esclareceu a capacidade da classe guerreira e camponesa
perante tais eventualidades, uma vez que teriam sido instituídas entidades
autónomas locais. Da mesma forma, as cidades edificadas nas principais vias de
circulação do Japão passaram a ser administradas por cidadãos armados. Os daimyo que conseguiram agrupar
estas localidades autónomas ao seu poder político obtinham um maior estatuto e
poder. Esta dinâmica, com o surgimento de novos centros políticos e económicos
através do país, fez com que a sociedade do período Sengoku se tornasse
bastante diferente da que anteriormente existia, onde o poder estava antes
concentrado apenas na capital.
Com estes
excessivos confrontos internos pelo desejo de mais poder e mais terras, era só
uma questão de tempo até que um poderoso daimyo tentasse alcançar Kyoto, com o objetivo de derrubar
o xogum, como aconteceu em 1560. Acompanhado por um imenso exército, Imagawa
Yoshimoto (1519-1560) marchou em direcção à capital com a
finalidade de derrubar o então líder. No entanto, ele não contava em
enfrentar as tropas de Oda Nobunaga, um daimyo secundário que se encontrava em desvantagem em
relação a Imagawa numa proporção de doze soldados para um. Yoshimoto, confiante
do seu poder militar, havia celebrado a vitória antes mesmo de a batalha
terminar. Oda Nobunaga conseguiu atacá-lo quando este se encontrava
desprevenido durante uma das suas habituais celebrações na Batalha de Okehazama. Enquanto Yoshitomo
saia da sua tenda justo à causa da agitação que ocorria no exterior, foi
capturado e em seguida morto nesse mesmo local. Nobunaga passou então de um
simples daimyo para
uma figura de destaque na conjuntura política e militar do país.
Desenvolvimento
cultural e contacto com o ocidente
Grupo de Nanban portugueses.Biombo
de Kano Domi (finais do século XVI).
Apesar do
proeminente estado de guerra, o desenvolvimento de vários factores culturais no
Japão foi evidente neste período na arquitetura, pintura, música e poesia.
O terceiro xogum Yoshimitsu foi um importante promotor das artes no Japão,
aspecto este fulcral que estimulou a origem da cultura
Kitayama durante o seu reinado, que perdurou entre a segunda
metade do século XIV e inícios do século XV. Este período ficou
marcado pelo surgimento dos teatros Noh e Kyogen e
pela distinta construção do pavilhão Kinkaku-ji (em japonês 金閣寺, Templo do Pavilhão
Dourado).[67][72] Na
segunda metade do século XV, o oitavo xogum, Ashikaga Yoshimasa, promoveu a cultura Higashiyama,[73] onde
o zen budismo e
a estética wabi-sabi influenciaram a harmonização cultural entre a
corte imperial e a classe samurai, assim como incentivaram o florescimento de
expressões artísticas, como o surgimento da cerimónia do chá (chadō ou sadō),
a Ikebana,
o Kōdō,
o renga, entre outras.
Durante a
fase final do período de Sengoku deu-se a chegada dos primeiros europeus, oriundos de Portugal, ao Japão. Isto
ocorreu em 1543, quando um navio de portugueses aportou
na costa da ilha de Tanegashima (a sul de Kyushu).
As armas de fogo trazidas pelos exploradores
portugueses foram as primeiras a serem introduzidas no Japão. Em 1549, o jesuíta espanhol Francisco
Xavierchegou a Kyushu e destacou-se como um importante difusor
do cristianismo no Japão. Nos anos seguintes,
comerciantes portugueses, holandeses, ingleses e espanhóis chegaram
ao Japão enquanto missionários jesuítas, franciscanos e dominicanos.
Com isto, os visitantes europeus denominados de nanban (南蛮
literalmente: "Bárbaros do Sul") desembarcaram na região sul do
arquipélago japonês e rapidamente desenvolveram um conceito elementar
relativamente aos japoneses, considerando-os enquanto sociedade feudal,
providos de um grande desenvolvimento urbanístico e uma sofisticada tecnologia
pré-industrial.
As armas de
fogo trazidas pelos portugueses foram uma importante inovação tecnológica e
militar que ocorreu neste período. A produção deste tipo de armas começou a ser
efectiva em inúmeras áreas do Japão, tendo sido um factor decisivo com a
utilização do Arcabuz na batalha de Nagashino em 1575. O
cristianismo espalhou-se pelo país muito rapidamente, sobretudo a oeste do
arquipélago, refletindo-se na conversão religiosa por parte de
alguns daimyo da
região. No entanto, as autoridades japonesas consideraram o cristianismo como
uma eventual ameaça, que poderia facilmente desencadear uma possível conquista
europeia sobre o Japão. Assim, foi proibida a prática desta doutrina religiosa
em toda a nação, recorrendo-se à violência como método exemplar e impiedoso.
Isto resultou no corte gradual entre as relações comerciais do Japão com o
resto do mundo (excepto com a China e Países Baixos) nos começos do período Edo.
Período
Azuchi-Momoyama
Em 1573 Oda
Nobunaga (1534 - 1582) marchou em direção a Kyoto para derrotar o xogum Ashikaga
Yoshiaki. Este acontecimento marcou o início do que é denominado
de período Azuchi-Momoyama (安土桃山時代,, Azuchi Momoyama jidai?), o qual recebeu o nome de dois
emblemáticos castelos da época, nomeadamente os castelos Azuchi-jō e Fushimi-Momoyama.
Uma semana depois, após conseguir a retirada do xogum Yoshiaki, Oda Nobunaga
convenceu o imperador a alterar o nome da era para Tenshō enquanto
símbolo do estabelecimento de um novo sistema político. Da mesma forma, o
imperador concedeu-lhe o título de Udaijin (太政大臣? lit. "Grande
ministro do estado") tendo assim permanecido por quatro anos.
Oda
Nobunaga
Oda Nobunaga depôs
ao xogum Ashikaga Yoshiaki terminando assim o Xogunato
Ashikaga.
Nobunaga
nasceu em 1534 na província de Owari e até 1560 havia sido
um daimyo secundário.
Em 1560, alcançou fama e reconhecimento ao vencer o vasto exército de Imagawa
Yoshimoto durante a batalha de Okehazama. Depois de colaborar
com a ascensão de Yoshiaki ao poder, Nobunaga lançou uma campanha com o
propósito de tomar o controlo da parte central do país. Em 1570 derrotou os
clãs Azai e Asakura,
durante a batalha de Anegawa, e em 1575 derrotou a
lendária cavalaria do clã Takeda na batalha de Nagashino. Outros dos seus
principais inimigos foram os monges guerreiros Ikko-ikki,
membros da seita budista de Jōdo-Shinshu, uma rivalidade que perdurou durante
doze anos, dez dos quais persistiu o mais duradouro cerco da história, o cerco
da fortaleza Ishiyama Hongan-ji.
Em 1576,
Nobunaga mandou construir o castelo de
Azuchi, o qual se veio a tornar o seu local de operações militares.
Em 1582, Oda dominava quase toda a parte central do Japão e as suas principais
vias, entre as quais as estradas Tōkaidō e Nakasendo.
Assim, decidido a estender o seu domínio territorial para oeste, dois dos seus
principais generais ficaram encarregues de completar a tarefa; enquanto
que Toyotomi Hideyoshi pacificaria a parte sul
da costa oeste do Mar Interior de Seto, em Honshu, Akechi
Mitsuhide marchou para o litoral norte do Mar do Japão.
Durante o verão do mesmo ano, Hideyoshi encontrava-se detido no cerco do Castelo de Takamatsu, controlado
pelo clã Mōri. Hideyoshi solicitou reforços a Nobunaga, que
respondeu à solicitação e ordenou que Mitsuhide avançasse com o seu exército
para apoiar Hideyoshi. Contudo, contrariamente ao acordo inicial, Nobunaga
permaneceu no templo Honnō-ji para sua própria
segurança. Ocorrente da situação Mitsuhide, decidiu então regressar a Kyoto
para atacar e incendiar o templo no que ficou conhecido como o Incidente de Honnō-ji. Como resultado,
Nobunaga acabou por cometer seppuku.
Toyotomi
Hideyoshi
Retrato de Toyotomi Hideyoshi.
Toyotomi
Hideyoshi (1536 - 1598) teve um importante papel político e militar no
Japão. Distinto pela sua destreza no campo de batalha, acabou por se tornar num
dos principais generais do clã Oda.
Durante o
Incidente de Honnō-ji, Hideyoshi encontrava-se no castelo Takamatsu quando
recebeu a notícia da morte do seu mestre. Imediatamente realizou tréguas com o
clã Mori e regressou a Kyoto numa marcha forçada para defrontar o exército do
recém auto-nomeado xogum Akechi Mitsuhide. O confronto ocorreu nas margens
do rio Yodo,
perto do pequeno povoado designado Yamazaki, onde a batalha recebeu o seu nome. Hideyoshi saiu
vitorioso e Mitsuhide foi obrigado a partir em retirada, porém acabou por ser
assassinado por um grupo de camponeses, pondo fim ao seu governo de apenas 13
dias.
O facto de
ter vingado a morte do seu antigo mestre concedeu-lhe a previsível oportunidade
de se tornar a mais alta autoridade militar do país. Derrotou e enfrentou todos
os rivais que contra ele se opuseram, por cerca de dois anos. Em 1585, e depois
de ter garantido o controlo sobre o centro do Japão, dirigiu-se para oeste,
conquistando territórios para além do escopo que Nobunaga havia conseguido.[78]Em
1591, depois de unificar o Japão, Hideyoshi tentou conquistar a China. Para
isso, o regente solicitou o apoio da dinastia
Joseon da Coreia, para que garantisse uma passagem segura até à China.
Porém, o governo coreano negou tal assistência. A Coreia foi então palco
de duas invasões massivas por parte das
tropas japonesas entre 1592 e 1598, originando na morte de Hideyoshi, que
durante todo esse tempo havia permanecido no Japão.
Uma vez que
Hideyoshi não possuía descendência real e nem sequer provinha de qualquer um
dos históricos clãs japoneses, não lhe foi nunca concedido o
título de xogum. Em compensação, recebeu uma designação de menor importância em
1595, nomeadamente a de Kanpaku (関白? regente) e
posteriormente a de Daijō Daijin (太政大臣?) em 1586. Finalmente
adoptou o título de Taikō (太閤? "Kanpaku retirado").
Tokugawa
leyasu
Retrato de Tokugawa Ieyasu.
Tokugawa
Ieyasu (1542-1616) passou a maior parte da sua infância como refém na
corte de Imagawa Yoshimoto, uma vez que o seu clã era
feudatário dos Imagawa. Após a vitória de Oda Nobunaga sobre Yoshimoto,
inúmeros daimyo retiraram-se
do país e outros tornaram-se independentes ou declararam-se aliados do clã Oda,
como o ocorrido com o próprio Ieyasu.
Sob as
ordens de Nobunaga em 1564, leyasu combateu contra os Ikko-Ikki da província de
Mikawa. Em 1570 lutou na batalha de Anegawa ao lado das forças de Nobunaga. Em
1572 foi obrigado a participar na batalha de Mikatagahara - um dos seus maiores
desafios da sua vida militar - onde o seu exército foi derrotado pela cavalaria
de Takeda Shingen, que viria a morrer no ano
seguinte depois de sofrer um tiro de arcabuz. Em 1575, Tokugawa Ieyasu
esteve presente na batalha de Nagashino onde o clã Takeda foi derrotado e, a
partir de então, concentrou-se somente na consolidação da sua posição militar,
mesmo depois de Toyotomi Hideyoshi adquirir o controlo do país.
Uma vez que
o feudo de Ieyasu se situava no centro do Japão, este evitou assistir a
campanhas de pacificação em Shikoku e Kyūshū. Apesar de tudo, foi forçado a
enfrentar o clã Hōjō tardio (後北条氏, Go-Hōjō-shi?) no Cerco de Odawara (1590). Alcançada a
vitória sobre os Hōjō, Hideyoshi concedeu a Ieyasu as terras penhoradas,
transferindo a capital para Edo, actual Tóquio).
A sua nova localização em Kyūshū, possibilitou-lhe evitar participar nas
invasões japonesas na Coreia, guerra esta que exauriu significativamente os
exércitos dos seus principais rivais.
Batalha
de Sekigahara
Após a morte
de Hideyoshi, Tokugawa Ieyasu começou a estabelecer uma série de alianças com
importantes figuras do país através de casamentos combinados. Contudo, Ishida
Mitsunari, um dos cinco bugyō (奉行? magistrado), desenvolveu
alianças contra Ieyasu
A 22 de
agosto de 1599, enquanto Ieyasu se preparava para enfrentar o clã de um
rebelde daimyo chamado Uesugi
Kagekatsu, Mitsunari decidiu agir sob a ajuda de vários apoiantes,
incluindo outros bugyō e
três dos quatro tairō (大老? lit. "Grande
ancião"). Assim, haviam criado uma suposta conspiração contra Ieyasu para
o assassinarem, acusando-o de treze distintas funções ilegais e condenáveis.[85] Entre
as acusações destacam-se acções ilícitas, dando em matrimónio filhos e filhas
com poder político. Ieyasu foi inclusivamente incriminado de ter tomado posse
do castelo de Osaka, antiga residência de
Hideyoshi, como que se a ele pertencesse. Enviada uma carta a Ieyasu, este
interpretou-a como uma declaração de guerra. Praticamente todos
os daimyo do país se
alistaram para o confronto, tanto o "Exército do Oeste" de Mitsunari
como o "Exército do Leste" de Ieyasu.
Os dois
exércitos enfrentaram-se naquela que é conhecida a Batalha de Sekigahara (関ヶ原の戦い, Sekigahara no tatakai?), que teve lugar na vila Sekigahara (da província de Gifu) a 21 de
outubro (15 de setembro) no antigo calendário chinês. Ieyasu saiu vitorioso,
depois de vários generais do "Exército do Leste" decidirem mudar de
lado no decorrer do conflito. Ishida Mitsunari foi forçado a fugir, no entanto
acabou por ser capturado e decapitado em Kyoto. Com esta vitória, Ieyasu
tornou-se a maior figura política e militar do país.
Vitória de Ieyasu durante a Batalha de Sekigahara, dando início
ao Xogunato Tokugawa, que permaneceu mais de 250
anos no poder.
Período
Edo
Recepção dos daimyos no Castelo de
Edo com a aplicação da política sankin kōtai, que lhes permitiu o
controlo do xogunato, forçando-os a adquirir dupla residência que variou entre
Edo e Han, o "sequestro" das suas famílias
em Edo e o custo de transporte entre os dois locais.Biombo de Kyosai Kiyomitsu
(1847).
O Período
Edo (江戸時代, Edo-jidai?), também conhecido como Período
Tokugawa (徳川時代, Tokugawa-jidai?)é um período da história do Japão que
se estende desde 1603 até 1868. Esta época define o Xogunato Tokugawa, também
denominado pelo seu nome original japonês Edo bakufu (江戸幕府?), o qual foi o último
xogunato que deteve poder no Japão.
Em 1603,
Ieyasu foi oficialmente nomeado xogum pelo imperador Go-Yozei, ocupando o lugar por apenas
dois anos, pois em 1605 havia decidido abdicar da posição em favor do seu filho
Hidetada. Adquirindo o título de Ōgosho (大御所? "Xogum
enclausurado"), Ieyasu manteve assim o controlo governamental do país. Enquanto
isso, Ōgosho foi compelido a enfrentar a ameaça de Toyotomi
Hideyori, uma vez que alguns partidários alegavam que este seria o
legítimo sucessor do governo. Assim, inúmeros samurais e ronins se aliaram a
Hideyori, contrapondo-se ao xogunato, o que resultou em duas batalhas
abreviadas do Cerco de Osaka.
Em 1614, sob a liderança de Ōgosho
Ieyasu e Xogum
Hidetada, os Tokugawa comandaram um imenso exército até ao castelo de
Osaka, acontecimento este denominado de "O cerco de inverno de
Osaka". Sugere-se que Ieyasu havia realizado um acordo com Yodogimi,
mãe de Hideyori, consentindo que as tropas de Tokugawa regressassem a Sunpu.
Contudo, Hideyori recusou-se a abandonar novamente o castelo, tendo sido
cercado, situação esta que ficaria conhecida como "Cerco de verão de
Osaka". Por fim, em finais de 1615, o castelo de Osaka foi destruído
durante a batalha de Tennōji, onde inúmeros
defensores morreram no confronto, incluindo o próprio Hideyori, que
cometeu seppuku. Com o clã
Toyotomi exterminado, o domínio dos Tokugawa sobre o Japão estava agora livre
de sérias ameaças.
A unificação
do país durante o período Azuchi-Momoyama permitiu
ao Japão tornar-se um país mais pacífico. No período Edo a estrutura social
havia-se consolidado, estabelecendo-se três classes sociais; a classe samurai
governante, a agrícola e a do cidadão (artesãos, mercadores e comerciantes). A
partir do período Momoyama, a pacificação e o aumento de produção de ouro e prata concederam
condições de vida mais estáveis sobre as classes sociais por cerca de dois
séculos e meio, beneficiando um desenvolvimento de habilidades profissionais
sobre a população em geral. A classe samurai foi organizada de acordo com
um sistema administrativo eficiente e legal, assegurando avanços em vários
campos da erudição, enquanto que os agricultores e cidadãos comuns
adquiriram condições de vida mais favoráveis. No século XVII, a produção
de arroz duplicou
e tornou-se significante a sua extensão no mercado de cada cidade. Com o
desenvolvimento industrial, foi alcançado um elevado nível de prosperidade em
inúmeras cidades e o poder económico dos comerciantes depressa ultrapassou o
dos samurais.
Sakoku
Vista do porto de Nagasaki e da ilha de Dejima (abaixo
do centro). Observam-se dois barcos holandeses (à direita) e vários juncos
chineses estacionados no porto e um cerca de Dejima. O Império Chinês e os Países Baixos foram
os únicos a comercializar com Japão durante o sakoku.Pintura de 1820.
Quando
Ieyasu assumiu o poder, o Japão encontrava-se no esplendor do período comercial
Nanban, e apesar do comércio com a Europa ter sido autorizado, as acções
políticas do governante encontravam-se sob conspecto. Em 1614, Ieyasu realizou
a primeira viagem transoceânica para o Ocidente com a embarcação à vela galeão San Juan Bautista, numa missão liderada por Hasekura Tsunenaga. Entre 1604 e 1636, o
xogunato havia então permitido várias permutas comerciais em diversas regiões
da Ásia, utilizando-se de 350 Shuinsen.
Contudo, a
contínua expansão do cristianismo era considerada um "problema" por
parte do xogunato, visto serem cada vez mais evidentes as relações comerciais
entre daimyos cristãos
de Kyushu e comerciantes europeus. Assim, a percepção de que a presença espanhola e portuguesa no
Japão iria facilmente desencadear um processo de conquista semelhante ao
ocorrido no Novo Mundo era manifestamente provável.
Calculoso, o xogunato considerou que a atividade dos europeus era um
frontispício que ocultaria a intenção de uma conquista política. Em 1612, o
regime obrigou a que os vassalos e residentes de propriedades do clã Tokugawa
repudiassem o cristianismo. Então, em 1616 foi restringido o comércio fora das
cidades de Hirado e Nagasaki;
em 1622 foram executados 120 missionários; em 1624 os espanhóis foram
desapossados do arquipélago do Japão e em 1629 foram executados milhares de
pessoas que se converteram ao cristianismo.
Durante o
governo do terceiro xogum Tokugawa, Iemitsu,
foi registada a primeira grande fome do período, que
perdurou desde 1630 até 1640 e 1641. Isto resultou em inúmeros protestos
por parte dos agricultores em 1632, 1633 e 1635. A rebelião Shimabara de 1637 até 1638 foi a
consequência mais dramática da deteriorada relação com o governo devido a esta
crise, onde
camponeses católicos enfrentaram o numeroso exército do governo. No entanto, e
apesar deste protesto não se fundamentar em motivos religiosos nem políticos,
este acontecimento aparentemente motivou Iemitsu a restringir definitivamente o
cristianismo no Japão, ao emitir uma ordem em 1639 que proibiu a prática da
religião no país. Assim, sacerdotes portugueses ficaram
impedidos de entrar no Japão, assim como japoneses interditos de saírem do país
- processo este controlado sob a consequência de pena de morte. Durante
este período de isolamento, conhecido como sakoku (鎖国?), as relações comerciais com
todas as nações europeias foram obstruídas, com excepção dos Países Baixos,
que permitiria comércio ativo apenas em Dejima.
Todavia, o Japão continuou a manter relações comerciais com a China e Coreia,
ainda que limitadas.
Sociedade
e política
Com o
xogunato, Tokugawa estabeleceu uma estrutura de poder equilibrada, conhecida
como Bakuhan (o
xogunato e os feudos), em que o referente regime governava diretamente a cidade
de Edo (sede
do governo militar), enquanto que os daimyos governavam os seus feudos. Depois da
pacificação, vários samurais haviam perdido os seus bens essenciais e suas
terras, o que refletiu numa redução do número de daimyos (cerca de 260 até ao século XVIII), uma vez
consideradas as limitadas escolhas a eles disponíveis - ou deixavam suas
espadas tornando-se agricultores, ou se tornavam vassalos de um daimyo ou de um xogum (hatamoto).
Os daimyos foram
também parcialmente controlados pelo xogunato quando imposta a política Sankin-kōtai (1635-1862),
em que as famílias dos daimyos eram
obrigadas a viver na cidade de Edo, enquanto que estes estariam submetidos ao
dever de alternar as suas residências anualmente entre Edo e o seu feudo,
causando custos adicionais para manter duas habitações e compensando distâncias
significantes entre estas. Assim, os daimyo estavam limitados no poder económico e militar,
evitando-se assim qualquer tentativa de revolta contra o xogunato.
Além dos
membros do bakuhan, o
imperador e os cortesãos (kuge)
tiveram também uma posição privilegiada. Abaixo destes encontravam-se as
"quatro classes sociais" (身分制,mibunsei?), ou seja, os samurais no topo da
tabela (com cerca de 5% da população), depois os agricultores (com cerca de 80%),
seguindo-se os artesãos e por último os comerciantes.
Os agricultores eram forçados a viver nos campos, enquanto que os samurais, os
artesãos e os comerciantes viviam nas cidades (jōkamachi)
que se situavam ao redor do castelo do daimyo, estando subordinados ao seu feudo. À parte deste sistema
existiam ainda os eta e
os hinin, que eram vistos
como os Dalit (os
"intocáveis" ou "impuros").
Cultura
Kaitai
Shinsho, tratado de anatomia publicado em 1774, sendo
uma tradução para a língua japonesa do livro holandês Ontleedkundige Tafelen, desenvolvido
por estudiosos rangaku.
A Grande Onda de Kanagawa, uma xilogravura de
1832 do mestre japonês Hokusai, especialista em ukiyo-e.
O Japão foi
parcialmente influenciado pelas técnicas e ciências ocidentais do rangaku (蘭学? "aprendizagem
holandesa") a partir de fontes bibliográficas que os holandeses
deixaram na ilha de Dejima. Os campos de estudo envolviam a medicina, geografia, astronomia, arte, ciência, línguas, física e mecânica.
Durante o governo do xogum Tokugawa Yoshimune em 1720, houve uma
proeminente flexibilização na introdução de livros estrangeiros no país, o que
proporcionou a tradução destes para a língua japonesa, levando consequentemente ao
aumento adicional desta área de estudo. No início do século
XIX existiu uma proeminente troca cultural entre o Japão e a Holanda. Um
exemplo encontra-se num facto conhecido em que o Dr. Philipp Franz von Siebold havia
ensinado medicina ocidental pela primeira vez em 1824 a estudantes japoneses,
com permissão do xogunato. Contudo, este decidiu reverter o seu apoio aos
estudos ocidentais (rangaku) em
1839, ao promulgar o decreto de lei bansha no
goku. Isto provocou a repressão de vários estudiosos que
questionavam os efeitos do sakoku e
do edital de repulsão de embarcações
estrangeiras em 1825. Em 1842, estes editais expiraram, e
o rangaku passou a
ser ensinado novamente, até se tornar obsoleto com a abolição do sakoku uma década depois.
Nesta época,
o neoconfucionismo tornou-se o principal
movimento intelectual uma vez adoptado pelo xogunato. Esta filosofia exerceu
uma maior atenção na vida secular do homem e da sociedade, tendo como resultado
um pensamento racionalista e humanista.
Em meados do século XVII este sistema filosófico chinês tornar-se-ia na
principal corrente filosófica do país, estabelecendo bases nas escolas kokugaku (国学? "aprendizagem
nacional") que rejeitavam o estudo de textos budistas e chineses,
favorecendo antes a investigação filosófica dos clássicos japoneses.
Com a
expansão do neoconfucionismo a classe samurai mostrou um maior interesse na
história japonesa e no cultivo das artes, dando origem ao bushido (caminho
do guerreiro).
Houve também um florescimento cultural da classe trabalhadora, através do chōnindō,
onde a educação, a alfabetização e o estudo da aritmética se
estenderam para a população em geral.
Uma das
consequências deste estilo de vida mais culto foi o surgimento do ukiyo (浮世? "mundo
flutuante"), um estilo de vida adoptado pela classe média que valorizava a
diversão e o entretenimento como meios pelos quais se alcançava o prazer e
o bem-estar,
o qual produziu um florescimento cultural na era Genroku (1688
- 1704 conhecida também como cultura
Genroku): onde o bunraku , o kabuki,
a gueixa ,
a cerimónia do chá, a música, a poesia e a literatura se converteram numa parte
desse mundo, originando também representações artísticas como o ukiyo-e.
Este estilo teve início no século XVII através de Hozumi
Harunobu, e teve como principais representantes Kitagawa
Utamaro e Torii
Kiyonaga, conseguindo o seu esplendor com pintores como Utagawa
Hiroshige e Katsushika Hokusai na primeira metade
no século XIX.
Entre os
principais expoentes da literatura deste período, encontram-se o dramaturgo Chikamatsu Monzaemon e a poeta Matsuo Bashō,
que escreveu a poesia haiku durante a sua viagem a diversos locais no Japão em
finais do século XVII.
Início
do declive
No século
XVIII, houve um significativo aumento do tráfego de mercadorias nas zonas
urbanas e rurais. Isso teve como consequência o facto de que tanto o xogunato
como os daimyo acondicionassem
uma situação desfavorável, onde os impostos de renda sobre a produção de arroz
tornaram-se insuficientes para cobrir as despesas em constante acréscimo anual.
Com vista a solucionar o problema, o aumento dos impostos foi adotado pelo
xogunato. Todavia, as rebeliões tornaram-se veementes por parte da classe
agrária, adicionadas ao surgimento de inúmeras fomes e
desastres naturais que assolaram o país, como são exemplo o Grande incêndio de Meireiki de 1657,
o terremoto de Genroku de 1703 e
a erupção do Monte Fuji em 1707, que
provocaram milhares de mortes. Com isto, o xogunato desenvolveu várias
reformas, a fim de conter a queda da governação do país - entre as quais as reformas Kyōhō (1717—1744), que visaram à
solvência financeira do governo; as reformas
Kansei (1787—1793), que solucionaram vários problemas sociais
provocados pela grande fome de Tenmei, ocorrida entre 1782
e 1788, revertendo algumas decisões do governo; as reformas
Tenpo (1830—1842), que se destinaram ao controle do caos social
causado pela grande fome de Tenpō, em que a imigração a
Edo foi proibida, tal como o método rangaku e
a formação de sociedades, sendo que o alcance dessas reformas se estendeu a
nível militar, religioso, financeiro e agrícola; e por fim, as reformas Keiō (1866—1867),
que foram projectadas com o objetivo de conter a crescente rebelião que existia
nos domínios de Satsuma e Chōshū, sem sucesso algum.
Apesar do
governo intentar conter os problemas, estes tornaram-se cada vez mais evidentes
com o desejo do povo pela transformação ante a inação do xogunato. Um
destes casos veio a evidenciar-se quando o samurai Ōshio Heihachirō, um oficial do xogunato
em Osaka,
pediu aos seus superiores que apoiassem as vítimas de fome durante a grande
fome de Tenpo. Dada a recusa destes, Heihachirō vendeu seus livros com o nobre
propósito de ajudar as pessoas, e, seguindo os preceitos neoconfucionistas,
acusou o xogunato de corrupção. Heihachirō criou um exército com agricultores,
estudantes neoconfucionistas e outros plebeus, suscitando subsequentemente numa
rebelião em 1837, que destruiu parte da cidade antes das tropas do governo se
terem antecipado ao ataque. O samurai cometeu seppuku quando foi capturado.
Representação japonesa do HMS Phaeton na baía de
Nagasaki em 1808. Este incidente foi uma das poucas tentativa do Ocidente em
quebrar a política do sakoku,
sem sucesso.
Em paralelo
com o que se sucedia dentro do Japão, alguns países estrangeiros começaram a
pressionar o xogunato a abandonar a política de relações internacionais, sakoku.
Em finais do século XVIII, vários exploradores russos chegaram às ilhas Curilas e
a Hakkaido (Pavel Lebedev-Lastochkin em 1778
e Adam Laxman em
1792) com o objectivo de desobstruir o comércio com o Japão. Esta tarefa foi
atribuída sem êxito por Nikolai
Rezanov em 1804, assim que o Império Russo enfrentou
o xogunato numa disputa sobre as ilhas de Sacalina e Kuriles na
primeira metade do século XIX.
Em 1808,
a fragata britânica HMS
Phaeton entrou no porto de Nagasaki, comprometendo as autoridades de Dejima e
do xogunato ao exigir forçosamente suprimentos com a ameaça de disparos de
canhão sobre as embarcações japonesas e chinesas lá presentes. O Nagasaki bugyō
(oficial do xogunato da cidade, Matsudaira Yashuide), solicitou inicialmente reforços,
contudo diante da demora destes, acabou por concordar com as exigências
impostas pelos ingleses. Após o incidente, Yasuhide cometeu seppuku, alertando as autoridades do
xogunato sobre a presença de barcos estrangeiros, o que incentivou ao
"édito de repulsão de embarcações estrangeiras", criado em 1825.[105]
O incidente de Morrison de 1837 deu-se
quando um navio mercante dos Estados
Unidos, liderado por Charles W. King, que, para além de intenções
comerciais, tencionava entregar náufragos japoneses que haviam sido encontrados
em Macau,
foi bombardeado pelos japoneses, no âmbito do "édito de repulsão de
embarcações estrangeiras". Esta
situação dramática, juntamente com a derrota do Império Chinês na Guerra do
Ópio, em 1842, marcou um ponto de viragem na situação internacional
do Extremo Oriente, pondo em causa a política de
privacidade do xogunato. Como resultado, foi abolido o édito de repulsão de
navios estrangeiros em 1842; efectivou-se a moratória sobre as execuções de
estrangeiros que chegavam ao país; e foram promovidos suprimentos para os seus
navios. Com isto, os baleeiros de
Inglaterra, Estados Unidos e outros países passaram a aportar na costa do Japão
para se abastecerem de água e comida. Apesar de esta abolição das regras
não apresentar fins comerciais, algumas nações insistiram em abrir o comércio
do país. Em 1846, o comandante americano James Biddle,
que assumiu o primeiro tratado entre os EUA e a China,
tentou, sem sucesso, abrir o comércio com o Japão. Em 1848, o capitão James Glynn conseguiu
a primeira negociação bem sucedida com o xogunato, tendo sido a pessoa que
recomendou ao Congresso dos Estados Unidos a
negociação com o Japão, se necessário através da força, sendo este um dos
propósitos da expedição de Comodoro Perry em 1853.
Bakumatsu e Restauração
Meiji
Matthew Calbraith Perry obrigou o
Japão a pôr término ao isolamento em 1853.
O sistema
político estabelecido por Ieyasu e aperfeiçoado pelos seus sucessores (Tokugawa
Hidetada e Iemitsu
Tokugawa) permaneceu praticamente intacto até meados do século
XIX. Distintas alterações políticas, sociais e económicas abrangeram o
ineficiente governo Tokugawa, levando posteriormente ao seu colapso. A
partir de meados do século XVIII o xogunato e os daimyos sofreram
sérias dificuldades financeiras justo à riqueza da sociedade comerciante das
zonas urbanas do Japão. O crescente descontentamento entre os fazendeiros e os
samurais motivou o governo à tentativa de solucionar a grave situação do país
através de diversas medidas, das quais nenhuma surtiu efeito. Concomitantemente
com as questões internas, a situação do país piorou justo às distintas pressões
por parte de potências estrangeiras que pressionaram o governo a abrir o país
para o comércio internacional. Este período, entre 1853 e 1867, ficou conhecido
como bakumatsu (幕末?).
Abertura
do Japão ao Ocidente
Em julho de
1853 o comodoro estadunidense Matthew Calbraith Perry chegou
à baía de Tóquio com uma frota de navios
conhecidos pelos japoneses como os "Barcos Negros" (黒船, kurofune?), e exigiu ao Japão que quebrasse o
isolamento num prazo de um ano, com a ameaça de que, caso o Japão recusasse o
seu pedido, Edo seria atacado pelos sofisticados canhões Paixhans que armavam as suas
embarcações.*
Apesar da
precaução por parte dos japoneses contra o retorno dos americanos - tendo
inclusivamente sido criadas as ilhas-fortaleza de Odaiba,
assim como construído o navio Shōhei Maru segundo
textos do rangaku e
também criado um forno para a produção de canhões -, quando a frota de Perry
regressou em 1854, esta não se deparou com a esperada resistência do oficial do
xogunato, Abe Masahiro. Sem qualquer tipo de experiência
quanto à segurança nacional e incapaz de chegar a
um consenso entre as várias facções (Corte Imperial, xogunato e daimyos) Abe
Masahiro acabou por aceitar unilateralmente as exigências impostas por Perry e
permitir a abertura de vários portos, assim como o comissionamento de um
embaixador dos Estados Unidos no Japão, com o tratado de Kanagawa de março de 1854,
pondo fim à política formal do sakoku que
governou o Japão por mais de dois séculos. Apesar de o xogunato estar relutante
em assimilar relações com potências estrangeiras, o comércio foi por fim
consentido, após serem assinados uma série de tratados conhecidos como "Tratados desiguais", (entre os quais
o Tratado de amizade anglo-japonês,
o Tratado Harris e o Tratado de amizade e comércio
anglo-japonês) durante a convenção de Kanagawa. Porém, tudo isto
ocorreu sem o consentimento da casa imperial, o que gerou algum desequilíbrio
na relação entre ambos
A decisão de
Abe prejudicou significativamente a estabilidade do xogunato. Apesar da
tentativa de ajuda militar por parte dos Países Baixos e da procura sobre um
consenso entre os shinpan e tozama daimyo, isto abespinhou
os fudai daimyo, que
possuíam os mais altos cargos políticos. Assim, o oficial Abe Masahiro foi
substituído por Hotta Masayoshi. Contudo, alguns oficiais como
Tokugawa Nariaki, seguidor da escola Mito,
fundada sob os ideais do neoconfucionismo e do kokugaku, opuseram-se contra a presença estrangeira, apelando à
reverência do imperador e consideraram então que o xogunato Tokugawa já não era
uma instituição confiável. Este pensamento nacionalista ficou conhecido como o
lema sonnō jōi (尊王攘夷? "reverenciar o
imperador, expulsar os bárbaros"), proposto pelo pensador Aizawa
Seishisai da escola Mito, num livro publicado em 1825.
Cenário da batalha de Shimonoseki, entre Estados
Unidos e Chōshū em julho de 1863.
Hotta
procurou apoio da Corte Imperial para a ratificação dos novos tratados, sem
sucesso, o que provocou uma crise política entre o xogunato e a Corte. Em 1858,
a situação piorou com a morte do xogum Tokugawa
Iesada, que não havia deixado herdeiro algum como seu sucessor.
Naraki, juntamente com os shinpan e
os tozama daimyo,
apoiaram Tokugawa Yoshinobu, enquanto que os fudai daimyoapoiaram Tokugawa
Iemochi, conseguindo por fim a aprovação deste último pela Corte
Imperial. O líder da facção Ii Naosuketornou-se tairō,
tendo sido o arquitecto de um expurgo de
importantes membros da oposição à assinatura dos tratados. Este evento, conhecido
como a purga Ansei, colocou sob prisão domiciliar
Nariaki, Yoshinobu, vários membros do xogunato e inúmeros han, incluindo Yoshida Shōin,
um intelectual do sonnō jōi. Em
1858, foram assinados cinco tratados comerciais designados de Tratados
Ansei, permitindo, em 1859, a abertura dos portos de Nagasaki, Hakodate e Yokohama.
No entanto, isto causou um crescente atrito entre os estrangeiros e os
samurais, agravando ainda mais a situação ao ponto de serem regularmente
assassinados tanto estrangeiros como colaboradores japoneses. Ii Naosuke
foi morto em março de 1860, durante o Incidente Sakuradamon (1860), pondo fim ao
expurgo. Tanto o ataque em 1861 à embaixada britânica em Edo como o Incidente de Namamugi em 1862 foram
justificados às potências ocidentais como se não passassem de intervenções
militares contra os samurais. Em março de 1663, o Imperador
Komei rompeu o papel cerimonial que os imperadores tiveram por
vários séculos e ingressou ao cenário político ao emitir a ordem para expulsar os bárbaros (攘夷実行の勅命,, jōi jikkō no chokumei?). O domínio Chōshū obedeceu à ordem e decidiu
atacar os navios estrangeiros no estreito de Shimonoseki. Outros domínios
como o Satsuma e Tosa,
contrários ao xogunato, decidiram aliar-se seguindo o edital.
Dado que o
xogunato foi incapaz de controlar tais incidentes, países estrangeiros -
como Estados Unidos, Reino Unido, França e Países Baixos -
tomaram a iniciativa com represálias contra o movimento nacionalista. Em 16 de
julho de 1863, teve ocorrência a batalha de Shimonoseki entre os EUA e
o domínio de Chōshū. Quatro dias depois, a França bombardeou Shimonoseki, que
foi seguidamente bombardeada pelos aliados da coligação a 5 e 6 de setembro
de1864, resultando na derrota iminente de Chōshū. Em agosto de 1863, o Reino
Unido bombardeou Kagoshima, causando a derrota
do domínio de Satsuma. Entre maio de 1864 e janeiro de 1865, o xogunato
combateu contra os samurais e seguidores do sonnō jōi na rebelião de Mito, na qual o xogunato saiu
vitorioso. Durante a rebelião Hamaguri, a 20 de agosto de 1864,
defensores do sonnō jōi e
membros do domínio Chōshū tentaram apoderar-se do Palácio Imperial em Kyoto,
sem êxito. Em finais de 1864, através dos confrontos, o xogunato conseguiu
neutralizar o movimento xenófobo e movimentos nacionalistas como o Ishin Shishi, o qual foi brutalmente
reprimido. O imperador Kōmei decidiu alterar a sua
atitude em não desenvolver tratados com as potências estrangeiras, sendo que
mais tarde, em novembro de 1865, vários navios de guerra aliados foram estacados
nos portos de Hyogo e Osaka, com o propósito de convencer o imperador a
ratificar os acordos comerciais com os Estados Unidos. A partir desse momento,
a filosofia de "expulsar os bárbaros" perdeu o seu ímpeto, visto que
era algo irrealizável, especialmente quando as potências ocidentais conseguiram
severamente suprimir aqueles que os desafiaram. No entanto, o ónus económico
que se impôs sobre o Japão ao ser vencido nestas batalhas (indemnizações, novos
tratados, abertura de mais portos e mais privilégios para as potências),
demonstrou que a estrutura do xogunato era obsoleta e precisava de um novo tipo
de liderança, apresentando como figura máxima o imperador.
O
crepúsculo do xogunato
O Chōshū
manteve uma posição beligerante frente ao xogunato e, em junho de 1866, o
governo enviou uma expedição punitiva contra o domínio.
Esta operação militar não foi bem sucedida, pois o domínio Chōshū havia
reforçado o seu exército, o que impediu que a operação acabasse com o domínio
feudal. A derrota forçou o xogunato a uma modernização no sistema com o envio
de alguns praças para o estrangeiro, correspondido pela França numa missão militar em
1867. Após a morte prematura do xogum Iemochi em finais de 1867, Tokugawa
Yoshinobu sucedeu-o ao fim de tantos anos de espera. Em janeiro de 1867, o
imperador Kōmei faleceu e foi sucedido pelo príncipe Mutsuhito, Imperador Meiji.
Yoshinobu
tentou aparentemente manter relações cordiais com o novo imperador, porém na
realidade não existia qualquer conformidade entre ambos os governantes. Entretanto,
o descontentamento dos daimyos que se encontravam em oposição ao xogunato era
veemente e, a 9 de novembro de 1867, o imperador ordenou sigilosamente aos
líderes do Chōshū e Satsuma que eliminassem o xogum. Contudo, a pedido
do daimyo de Tosa,
Yoshinobu decidiu voluntariamente entregar a sua autoridade e poder ao
imperador, resolvendo convocar uma assembleia geral de daimyos com o propósito
de criar um novo governo.
Apesar de a
renúncia de Yoshinobu ter originado uma certa instabilidade no governo, o
xogunato prevalecia impositivo. Além disso, o governo do xogunato e, em
particular, a família de Tokugawa, prevaleciam enquanto uma importante força na
nova ordem, pois mantinham um enorme poder político, o que continuaria a
ser um aspecto que os mais intransigentes membros de Satsuma e Chōshū
consideravam inaceitável. Os resultados foram precipitados quando, a 3 de
janeiro de 1868, este último assumiu o controle do palácio imperial de Kyoto e,
no dia seguinte, fez com que o imperador
Meiji, de apenas 15 anos de idade, declarasse a restauração do seu poder absoluto, pondo
fim ao regime Tokugawa e ao governo dos xoguns no país, que prevaleceram por
mais de sete séculos.
Período
Meiji
Imperador Meiji. (1872)
Com a queda
do xogunato, o imperador foi erigido enquanto símbolo de unidade nacional e deu
início a uma série de reformas significativamente radicais. A primeira
consistiu na promulgação da Carta de juramento (五箇条の御誓文, Gokajō no Goseimon?) de 1868, que teve como objetivo
elevar a moral e obter apoio financeiro para o novo governo.
Guerra
Boshin
Embora
Yoshinobu tivesse aceitado as reivindicações dos seguidores do imperador, a 18
de janeiro de 1868 declarou que não aceitaria os termos da restauração
imperial. A 24 de janeiro, decidiu lançar um ataque em Kyoto contra os
exércitos de Satsuma e Chōshū, enquanto que em Edo, este se encontrava sob
pressão e ataques da parte dos rebeldes contra o xogunato. Os samurais que
permaneciam leais ao governo xogum acabaram por se revoltar na guerra civil
conhecida como Guerra Boshin (戊辰戦争, Boshin sensō?).
A 27 de
janeiro do mesmo ano, teve lugar a batalha de Toba-Fushimi (鳥羽・伏見の戦い, Toba-Fushimi no Tatakai?), em que as forças pró-imperiais
do Chōshū, Satsuma e de Tosa lideradas por Komatsu
Akihito, conseguiram vencer o exército do xogunato. A principal
razão que motivou tal derrota encontra-se no facto de várias facções que
apoiavam o xogunato terem mudado de posição, atendendo ao apoio oficial do
imperador sobre Satsuma e Chōshū .
Yoshinobu
foi forçado a aposentar-se de Edo, enquanto que as tropas imperiais dirigidas
por Saigō Takamori se aproximavam lentamente
da cidade, conseguindo inclusivamente ocupá-la em maio. A resistência do
xogunato em Edo cedeu rapidamente após a batalha de
Ueno a 4 de julho, quando as forças imperiais tomaram a cidade
nesse mesmo mês e Yoshinobu foi condenado à prisão domiciliar no templo Kan'ei-ji. Vários anos após ter sido
despojado da sua terra, o xogum Tokugawa foi finalmente libertado. A 3 de
setembro, depois de alterado o nome de Edo para Tóquio, o imperador Meiji
transferiu a capital de Kyoto para Tóquio, apoderando-se do castelo Edo enquanto novo palácio
imperial. Porém, alguns partidos mostraram-se relutantes em se
transigirem a tal mudança, como foi exemplo a coligação Ōuetsu Reppan Dōmei. No entanto, a baixa
sofisticação das tropas da aliança determinou o progressivo avanço do exército
imperial, que saiu vitorioso. Em outubro de 1868, deu-se a batalha de
Aizu, fazendo com que parte do exército do xogunato abandonasse o
confronto por mar em direção a Hokkaido.
Após um mês de cerco, a 6 de novembro, Aizu rendeu-se.
Tokugawa Yoshinobu e o seu exército no Castelo de
Osakadurante a Guerra Boshin.
Ao chegar à
ilha de Hokkaido, Enomoto reorganizou o exército e estabeleceu um governo
independente, proclamando a República de Ezo (蝦夷共和国, Ezo Kyōwakoku?) em 25 de dezembro de 1868 uma vez
eleito presidente. Enomoto tentou, sem sucesso, obter reconhecimento
internacional, contudo nem mesmo a aprovação do novo governo imperial japonês
em ceder Hokkaido ao xogunato Tokugawa foi capaz de lograr.[133] As
forças navais japonesas chegaram a Hokkaido em março de 1869 com cerca de 7 mil
homens das tropas imperiais que abeiraram sobre a ilha, na batalha naval da Miyako Bay. Estes foram
tomando paulatinamente várias posições estratégicas e destruíram as defesas da
República de Ezo durante a batalha de Hakodate. A 17 de março de 1869,
depois de perder inúmeros homens e quase todos os seus navios, Ezo aceitou a
rendição.
Com o fim da
guerra Boshin, o governo imperial passou a controlar todo o Japão, sem que
qualquer força rival interna se contrapusesse. Com a guerra garantida, foram
abolidos privilégios da classe samurai. Os nacionalistas, que inicialmente
apoiavam o imperador, assim como a filosofia de sonnō jōi, sentiram-se fortemente traídos sobre tal derrogação.
Governo
Meiji
O novo
governo assegurou às potências estrangeiras que os tratados assinados durante o
xogunato Tokugawa seriam atendidos pelas leis internacionais. A capital havia
sido transferida de Kyoto para Edo, a qual foi renomeada Tóquio, e o sistema
feudal foi abolido em 1871, dando origem ao sistema de prefeituras, para além de ter sido
legalizada a propriedade de terras. O novo governo enfatizou também a prática
do xintoísmo, a religião que teve apoio estatal.
Apesar de
vários protestos, os líderes do governo continuaram com uma forte modernização
do país: foram colocados cabos telegráficos nas
principais cidades, construídos vias-férreas, estaleiros,
fábricas de munições e têxteis. Todas estas medidas de modernização conduziram
o Japão a se tornar no primeiro país industrializado da Ásia. Com a
preocupação sobre a segurança nacional, inúmeros esforços para amodernar o
exército foram desenvolvidos, ou seja, realizaram-se estudos sobre os sistemas
de armas estrangeiras; foram contratados conselheiros de outros países para o
exército; os cadetes foram enviados para países da Europa e Estados Unidos; foi
estabelecido um exército permanente com uma grande quantidade de reservas; e
o serviço militar tornou-se obrigatório.
Rebelião
Satsuma
Samurais do clã Satsumadurante a guerra Boshin. Foto a
cores por Felice Beato.
Saigō
Takamori, um dos líderes mais antigos do governo Meiji, lutava
contra a corrupção política no país. Após várias altercações com o governo,
renunciou ao cargo e aposentou-se ao domínio Satsuma. Fundou academias onde
todos os estudantes adquiriam formação e treinos de guerra práticos. Esta
notícia anunciada por Saigō em Tóquio foram encaradas com grande inquietação
por parte da sociedade.
Em 12 de
setembro de 1877, Saigō reuniu-se com os seus proprietários de terras Kirino
Toshiaki e Shinohara Kunimoto e anunciou uma investida em marcha até Tóquio
para conversações com o governo Meiji. A 14 de fevereiro, as tropas de Saigō
chegaram a Kumamoto, onde atacaram o castelo da própria província. A 19 de
fevereiro sucederam-se os primeiros disparos por parte dos defensores, quando
as unidades de Satsuma tentaram forçar a entrada no castelo. Em 22 de
fevereiro, a armada principal de Satsuma acercou e atacou a fortaleza, numa
batalha que se prolongou durante a noite até que as forças imperiais acabadas
de chegar se retiraram. Não conseguindo apossar-se do castelo mesmo depois de
infrutíferos ataques, o exército de Satsuma escavou um fosso em volta da fortaleza
e posteriormente incendiaram-na. Durante o cerco, muitos dos ex-samurais
desertaram para o lado de Saigō. Enquanto isso, a 9 de março, Saigō, Kirino e
Shinohara foram despojados dos seus cargos e títulos políticos de Tóquio.
Saigō Takamori (sentado, com um uniforme
ocidental), rodeado pelos seus oficiais. Artigo do jornal Le Monde Illustré, 1877.
Estátua de Saigō
Takamori no Parque Ueno, Tóquio.
Sob o
comando do general Kuroda Kiyotaka e com a ajuda de Yamakawa
Hiroshi, a 12 de abril de 1877, o principal contingente do exército imperial
chegou a Kumamoto para auxílio dos ocupantes do castelo. Isto resultou numa
supremacia numérica por parte dos defensores, em oposição à significante
desvantagem a que as tropas de Satsuma se condicionaram, forçando-os a fugir.
Depois de uma constante perseguição, Saigō e os restantes samurais foram
impingidos a regressar a Kagoshima, dando origem ao confronto final, a Batalha de Shiroyama. As tropas do
exército imperial japonês, comandadas pelo general Yamagata
Aritomo, e os fuzileiros navais, comandados pelo almirante Kawamura Sumiyoshi excederam as forças de
Saigō com evidente superioridade numérica de sessenta soldados para um. O
exército imperial precisou de sete dias para finalizar a construção e
desenvolvimento dos sistemas de barragens e muros que serviram de obstáculo
para impedirem que as tropas de Satsuma escapassem. Cinco navios de guerra
uniram-se ao poder da artilharia de Yamagata enfrentando o posicionamento dos
rebeldes e reduzindo o seu número. Após Saigō rejeitar uma carta de solicitação
à própria rendição, a 24 de setembro de 1877 Yamagata ordenou um ataque directo
contra o exército de Saigō. Após seis horas consecutivas apenas quarenta
rebeldes se encontravam com vida, entre os quais Saigō já perto da morte. Os
seus seguidores argumentaram que um deles, Beppu Shinsuke,[137] se
encarregou ao papel de kaishakunin,
ajudando Saigō a cometer seppuku antes
de ser capturado. Depois da morte de Saigō, Beppu e o último samurai ergueram
as suas espadas e dirigiram-se pela costa abaixo, até serem abatido pelos
disparos das metralhadoras Gatling. Depois de todas
estas mortes, a rebelião deu-se por terminada.
Criação
de um governo representativo
Itagaki Taisuke, proeminente político da Era Meiji.
A maior
conquista institucional após a rebelião de Satsuma teve lugar quando se
insurgiram com intenções de criar um governo representativo por parte dos
cidadãos que haviam sido relegados do governo. Uma das principais figuras deste
movimento foi Itagaki Taisuke, um importante líder da Província de Tosa. Em 1875, este fundou o partido político Aikokusha,
que, em 1878, viria a pressionar fortemente o governo do país. Em 1881, Itagaki
formou o Jiyūtō (自由党, Partido Liberal?), o qual possuía alguns dos principais
ideais da política francesa. No ano seguinte Ōkuma Shigenobu fundou o Rikken Kaishintō (立憲改進党, Partido Constitucional Progressista?), que revogou pelo estabelecimento de
um sistema constitucional democrático tal como o sistema inglês. Em resposta,
os membros do governo formaram, em 1882, o Rikken Teiseitō (立憲帝政党, Partido Constitucional do Regime Imperial?). Após o surgimento destes partidos,
muitos outros movimentos emergiram, alguns até de uma forma violenta.
Finalmente, em 1889, a Constituição do Império do Japão, também conhecida como
(Constituição Meiji), contemplou uma dieta imperial composta pela Câmara dos Deputados eleitos
popularmente, acompanhada pela Câmara dos Pares que possuía um
número de representantes extremamente baixo, composta pela nobreza num sistema
designado de kazoku.
As primeiras eleições foram realizadas em 1890, ao serem eleitos trezentos
membros da Câmara dos Representantes do Japão.
Expansionismo
Durante o
século XIX, a península da Coreia era uma forte atracção
à qual o Japão não foi indiferente, considerando a sua posição geográfica que
poderia eventualmente proporcionar um ponto estratégico para a defesa do
arquipélago japonês. Um breve conflito com a Coreia havia sido resolvido
temporariamente após assinado o Tratado de Kanghwa em 1876, através do
qual os japoneses passaram a ter acesso aos portos da Coreia. Em 1894, foi
precipitada uma crise política quando um líder coreano pró-Japão foi morto
em Xangai.
A situação piorou quando o exército chinês abateu a rebelião Tonghak no próprio solo coreano,
apesar de que na Convenção Tianjin tanto a China como o
Japão haviam consentido na retirada dos seus respectivos exércitos da península
coreana, afastando o apoio aos diversos partidos contendores do país. O Japão
respondeu rapidamente à invasão chinesa, saindo vitorioso naquela que é
conhecida como a Primeira Guerra Sino-Japonesa, que
terminou em 1895, quando foi realizado o chamado cessar-fogo.
O conflito
terminou com a assinatura do Tratado de Shimonoseki, pelo qual foi
reconhecida a independência da Coreia, deixando de ser, portanto, um estado
tributário. Com isto, foram exigidos 200 milhões de taéis de
indemnização à Coreia; o comércio aos japoneses pelo rio Yangtze foi
consentido; o direito dos investidores japoneses em negociar com a China foi
permitido; tal como aceite a tomada de relações de Taiwan,
das ilhas Pescadores e da península de Liaodong com
o Japão. Contudo, pela oposição da Rússia, Alemanha e França,
Liaodong foi replicada.
Representação em ukiyo-e da Batalha de Pyongyang na Coreia,
uma parte da Primeira Guerra Sino-Japonesa.
Guerra Russo-Japonesa
As ambições
imperiais tanto da Rússia, que estava interessada em manter o controle da
China, como do Japão, que ambicionava o controle da Coreia, levaram a que ambos
os países se defrontassem em 1904.
Em 1902,
o Reino Unido assinou
com o Japão a Aliança Anglo-Japonesa, através da qual os britânicos
reconheceram os interesses japoneses pela Coreia. Contudo, ambos se
comprometeram em manter-se neutros sobre o caso de uma possível guerra com a
Rússia, "a menos que outra potência se aliasse a estes e se assim possível
encararem um papel mais ativo." Esta aliança presumiu uma evidente ameaça
para os russos, que procuraram um método mais conciliador do que haviam
anteriormente empregue, prometendo inclusivamente o retiro das tropas em 1903.
Depois de o
Japão interpor uma queixa devido ao incumprimento russo sobre a retirada das
suas tropas, a Rússia propôs dividir paralelamente a Coreia, considerando o
controle do sul por parte do Japão, sendo que a zona norte se encontrava
independente. Porém a Rússia assegurou que a Manchúria estaria
fora da esfera de influência japonesa.
A guerra
eclodiu em 8 de fevereiro de 1904, quando a Marinha Imperial Japonesa lançou um
ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur.
Após uma série de vitórias japonesas tanto em terra como navais, (Batalha de Tsushima em maio de 1905), foi
levada a cabo uma conferência de paz com os Estados
Unidos enquanto mediador, onde a Rússia reconheceu a primazia dos interesses
japoneses sobre a Coreia e Manchúria. Foram então cedidos ao Japão a locação
de Dalian,
os seus territórios adjacentes e a ferrovia, assim como a parte sul da ilha Sacalina,
proporcionando direitos de pesca no mar de
Okhotsk e no mar de Bering,
depois de ambos os lados finalmente concordarem em evacuar a Manchúria.
Esta guerra
marcou o reconhecimento do Japão como potência imperialista pelas diversas
nações da Europa,
enquanto a derrota russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista
e iniciou a sua queda concretizada na Revolução de 1917. Teve então início uma
nova fase de expansão continental do Japão e, em 1910, a Coreia foi anexada
ao Império Japonês.
Período Taishō
Imperador Taishō com o seu traje de
coroação.
O período
Meiji terminou com a morte do imperador em 1912 e com a subsequente ascensão ao
trono do imperador Taishō. O novo imperador tinha vários
problemas de saúde, - homem débil tanto física como mentalmente - pelo que,
durante o seu mandato, este manteve-se longe de questões políticas. As decisões
do governo recaíram sobre a Dieta e
o seu secretariado. Consequência da sua deficiência, o seu filho Hirohito foi
nomeado "Príncipe Regente" em 1921.
Primeira
Guerra Mundial
Procurando
fortalecer a sua esfera de influência na Ásia e suas participações territoriais
no Pacífico, o Japão aproveitou-se da condição da Alemanha, que se encontrava
bastante ocupada com o cenário europeu, e em agosto de 1914 declarou guerra
às Potências Centrais, junto com os seus aliados.
A marinha japonesa, actuando praticamente independente do governo civil, ocupou
as colónias alemãs da Micronésia,
a província de Shandong na China e as ilhas
Marianas, ilhas
Carolinas e ilhas
Marshall, no Oceano Pacífico. Enquanto os seus aliados
estavam concentrados na guerra, o Japão tentou consolidar a sua posição perante
a China fazendo com que esta assinasse as «vinte e uma exigências» (対華二十一ヵ条要求, Taika Nijyūichikkajō Yōkyū?) impostas, que incluía a não
concessão das ilhas ou costas a terceiros.
Em 1917, os
Estados Unidos entraram na guerra como aliados dos japoneses, apesar dos
atritos causados pela situação na China assim como pela competição por adquirir
influência no Pacífico. Num esforço de evitar a tensão existente, foi assinado
em novembro do mesmo ano, o Acordo Lansing-Ishii (石井・ランシング協定, Ishii-Ranshingu Kyōtei?).
Recebendo o
reconhecimento oficial como um dos "cinco grandes" países da nova
ordem internacional, em 1919 o Japão encontrava-se ao lado das maiores
potências militares e industriais do mundo durante a conferência de paz de Versalhes. Foi-lhe
concedido um lugar permanente na Sociedade das Nações, com a transferência
dos direitos tidos anteriormente pela Alemanha sobre Shandong. Finalmente,
num Mandato da Sociedade das Nações,
decidiu-se que as ilhas do Pacífico ao norte do Equador,
outrora ocupadas pela Alemanha, estariam agora sob comando japonês (Mandato do Pacífico Sul).
Democracia
Desde a
criação de um novo sistema político, com a Constituição Meiji, apenas membros
da elite aristocrática possuíam acesso aos elevados cargos políticos, ao conselho de ministros, à Câmara dos Pares ou a conselheiros do
imperador. Contudo, entre 1918 e 1932, a situação política do país alterou-se.
Apesar dos partidos políticos serem liderados pela elite, os políticos viram-se
obrigados a trabalhar em coordenação com a corte, a burocracia e os militares, causa
da consciência agora mais democrática das massas que se começaram a unir,
sobretudo estudantes, que se tornaram politicamente mais ativos. Em
consequência, os partidos desempenharam um papel de liderança sobre a política
nacional. Outra importante alteração teve lugar em 1925, quando se estabeleceu
o sufrágio universal para os homens, o que
aumentou a base eleitoral em mais de 12 milhões de pessoas.
Grande
sismo de Kantō
Departamento metropolitano da polícia após o terremoto.
A 1 de
setembro de 1923, pouco antes do meio-dia, ocorreu na região de Kanto um dos sismos mais
devastadores da história, com uma magnitude de 8.3 graus na escala de
Richter. O movimento de placas tectónicas causou um tsunami.
Em Kamakura, as ondas chegaram a atingir cinco
metros de altura, enquanto que em Atami, foram registadas
ondas com treze metros. Estima-se que cerca de 110 mil pessoas perderam a
vida, quer pelos efeitos do sismo como pelo subsequente tsunami e inúmeros
incêndios que se perduraram por vários dias. A perda de vidas humanas deve-se à
causa adicional de várias ondas de violência que se desenvolveram após a
tragédia, contra activistas políticos coreanos e chineses por parte de civis,
polícias e militares.
Período
Shōwa
Imperador Shōwa, mais conhecido no Ocidente
pelo seu primeiro nome, Hirohito.
Em 25 de
dezembro de 1926, após um breve reinado, o imperador Taishō morreu e o príncipe
regente foi empossado como o novo imperador do Japão, começando assim o período
Shōwa.
Em 1922, com
o Tratado Naval de Washington,
o número de navios da Marinha Imperial Japonesa viu-se
limitado frente às frotas norte-americana e britânica, aumentando as
dificuldades existentes no Japão por este ter sido forçado a deixar as colónias
obtidas na China durante a guerra russo-japonesa. O Japão foi
significativamente prejudicado quando as potências estrangeiras ocuparam aquilo
que consideravam a sua esfera de influência governamental. A única área
significativamente extensa onde lhes foi possível obter as matérias-primas
necessárias para o desenvolvimento da sua economia sem depender das
importações, era a China. Em 1931, o Japão decidiu invadir e ocupar Manchúria e
posteriormente a China em 1937. A invasão sobre esta última desencadeou a Segunda Guerra Sino-Japonesa que se
desenrolou por mais de oito anos.
Segunda
Guerra Sino-Japonesa
Neste
período, as tropas japonesas controlavam as vias ferroviárias da Manchúria, pois,
através destas, diversos recursos eram transportados para os portos na Coreia,
de onde eram enviados para o Japão. Em setembro de 1931 explosivos foram
detonados nessas estradas de ferrodo sul da província, as quais
eram de propriedade japonesa - "Incidente de Mukden". Com isto, o governo
japonês decidiu enviar tropas para ocupar toda a Manchúria, formando assim
um regime fantoche designado de Manchukuo,
sob o comando nominal do imperador Pu
Yi.
Nos anos
seguintes, confrontos menores ocorreram na província, contudo em 1937, após
o incidente da Ponte Marco Polo, tropas
japonesas foram atacadas nos arredores de Pequim,
iniciando-se abertamente a guerra com a China. Depressa o Japão atacou as
principais cidades costeiras e, em dezembro desse mesmo ano, as tropas
japonesas tinham já ocupado Nanquim, Hangchow e Cantão.
Quando Nanquim se rendeu perante os invasores, o exército imperial japonês
realizou atos de suma crueldade contra a população civil em eventos conhecidos
como o "massacre de Nanquim", onde cerca de 300
mil soldados chineses, assim como civis, foram mortos.
A essa
altura, o Japão já fazia parte do chamado Eixo, através do Pacto AntiKomintern
realizado com a Alemanha e mais tarde com a Itália. Esses acordos foram
substituídos pelo Pacto Tripartite de setembro de 1940, pelo qual as potências do Eixo reconheciam o Japão como
líder de uma nova ordem na Ásia.
As primeiras
vitórias japonesas foram seguidas por um período de estagnação, e em 1938 a
guerra encontrava-se num impasse. Esta situação prolongou-se até 1941, quando
os japoneses entraram no palco da Segunda Guerra Mundial. Este tremendo
conflito terminou em 1945, após o Japão anunciar a sua rendição incondicional
frente aos aliados.
Segunda
Guerra Mundial
Yōsuke Matsuoka durante uma visita a Adolf Hitler em
1941.
As relações
com o ocidente deterioraram-se em finais da década de 1930. Em 1940, foi
nomeado para primeiro ministro o príncipe
Konoe, que veio a formar um conselho de ministros nacionalista,
defensor da expansão da área com recurso à força. A essa altura, o Japão já
fazia parte do chamado Eixo. A 27 de setembro desse mesmo ano, o
ministro das relações externas, Yosuke
Matsuoka, realizou um novo acordo substituindo os anteriores
pelo Pacto Tripartite de setembro de 1940, em
que as potências do Eixo reconheciam o Japão como líder de uma nova ordem na
Ásia.
Depois de
formada a chamada "Esfera de
Coprosperidade da Grande Ásia Oriental", o Japão invadiu o
norte da Indochina Francesa e em julho de 1941
introduziu tropas a sul da Indochina.
Isto fez com que países como os Estados Unidos, Inglaterra e Holanda retaliassem.
Os EUA impuseram um obstáculo comercial ao Japão, que se viu privado de cerca
de 90% do suprimento de petróleo e,
no comércio, limitado ao exterior em cerca de 75%
No gabinete
japonês eram então debatidas as próximas acções a serem seguidas, figurando com
proeminência Hideki Tojo, ministro da defesa, um grande defensor da
guerra que serviu durante a maior parte da Segunda Guerra Mundial. Enquanto
a maior força do Pacífico, o Japão possuía praticamente o dobro dos navios que
os Estados Unidos; o seu exército contava com 1 800 000 soldados; e a
sua força era superior a todos os outros países do mundo.
A 5 de
novembro, o Imperador Shōwa e o seu governo decidiram
entrar na guerra caso até finais do mês os EUA não levantassem o embargo
económico. Contudo a resposta do governo dos EUA chegou a 26 de novembro,
quando através do seu Secretário de Estado foi confirmada a
demanda norte-americana de que as tropas japonesas se retirassem da Manchúria,
China e Indochina, para além da renúncia do Japão ao Pacto Tripartite.
Ataque
a Pearl Harbor
Explosão de um torpedo no USS West
Virginia, visto a partir de um avião japonês.
No mesmo dia
de 26 de novembro, uma frota japonesa partiu das ilhas Curilas com
destino a Pearl Harbor, para destruir a frota
estadunidense do Pacífico. Realizou-se então o primeiro ataque com mais de 189
aviões a 7 de dezembro às 7:55 pm,[149] tendo
sido destruídos seis navios de guerra, três cruzadores e quatro outros navios,
para além de aniquilados 188 aviões norte-americanos. Este ataque de surpresa
ocasionou 2 403 mortos.
O segundo e
último ataque ocorreu às 8:45 da manhã e terminou às 10:00 horas. Neste
assalto, as defesas americanas estavam já melhor preparadas e Nagumo cancelou o
terceiro ataque previamente programado.[150] No
dia seguinte, o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, dirigiu-se ao
congresso solicitando que se declarasse guerra ao Japão, num dos discursos mais
famosos da história.
Frente
do Pacífico em finais de 1941
No dia
seguinte ao ataque a Pearl Harbor, as forças japonesas iniciaram um tipo de
batalha Blitzkrieg no Pacífico, em que a Malásia, Hong Kong, Filipinas, Ilha Wake, Birmânia e Tailândia foram
atacados quase em simultâneo com o objetivo de conseguir pontos estratégicos
favoráveis. Em
16 de dezembro, o Japão conseguiu ocupar as Índias Orientais Holandesas, proporcionando
assim uma importante fonte de recursos ao país.
Frente
do Pacífico em 1942
Durante a
primeira metade do ano, as forças do império do Japão foram vitoriosas em quase
todas as frentes; a 7 de fevereiro a sua frota saiu vencedora frente aos
aliados na Batalha do Mar de Java e no dia 15 do
mesmo mês as forças aliadas entregaram Singapura. A
segunda metade do ano representou um ponto de viragem na guerra. Forças
estadunidenses desalojaram os japoneses de Guadalcanal e conseguiram uma
importante vitória na Batalha de
Midway, onde os japoneses perderam metade da sua frota de porta-aviões e
cerca de 150 aeronaves.
Tentativa
de defesa do anel defensivo
Durante 1944
os esforços japoneses limitaram-se a tentar manter um anel defensivo, contudo
viram-se obrigados a recuar na Nova Guiné e nas Ilhas Salomão.
O Japão sofreu significantes derrotas nas ilhas Gilbert, no
entanto manteve um constante avanço ofensivo na Birmânia e na fronteira com a
Índia. Neste ano o Japão sofreu graves derrotas navais, como na Batalha do Mar de Bismarck, que ocorreu
entre 2 e 5 de março, e na Batalha do Mar de Bering, a 26 de março.
Em 1944 a
situação tornou-se insustentável para o Japão, uma vez que grande parte da sua
frota foi destruída durante a Batalha do Mar das Filipinas, quando
tropas norte-americanas desembarcaram nas ilhas Marshall, ilhas Gilbert e nas
Filipinas. A partir dos aeródromos nas
Filipinas, deu-se início ao bombardeamento do Japão. A 18 de julho o
general Tōjō renunciou do poder juntamente com o seu gabinete de estado. Até
finais de outubro deste ano, os japoneses perderam mais uma importante batalha
marítima, a batalha do Golfo de Leyte. Nesta fase
surgiram os primeiros grupos suicidas comummente conhecidos como kamikazes.
Kamikazes
USS Bunker
Hill foi atacado por dois aviões kamikaze em
menos de 30 segundos de diferença em 11 de maio de 1945.
Desde 1942
foram desenvolvidas diferentes doutrinas dentro do exército japonês num esforço
de implementar tácticas suicidas na guerra. Unidades especiais suicidas foram
finalmente implementadas em terra (como no caso da "carga banzai")
e no mar (com os barcos Shin'yō). Finalmente, em meados de
1944, o primeiro-ministro Hideki Tōjō garantiu
instruções para que os Corpos de Ataque Aéreo organizassem uma unidade
especial, a chamada Shinpū
tokubetsu kōgeki tai (神風特別攻撃隊, "Unidade Especial de Ataque
Shinpū"?) com a abreviatura de tokkōtai (特攻隊?), mais
conhecidos no ocidente por kamikaze.
A primeira
missão oficial da unidade especial ocorreu no dia 25 de outubro, sucedendo-se
inúmeros ataques semelhantes até ao término da Segunda Grande Guerra.
1945
Em fevereiro
de 1945, a Alemanha estava praticamente derrotada. Porém, durante a Conferência de Yalta, Stalin comprometeu-se
a declarar guerra ao Japão nos dois meses seguintes da derrota definitiva das
forças alemãs.
A 19 de
fevereiro, após 72 dias de intenso bombardeio na ilha, teve início a invasão de Iwo Jima por parte das tropas
norte-americanas. Passados quatro dias caiu o Monte
Suribachi, acontecimento este capturado na famosa fotografia Raising the Flag on Iwo Jima, de
Joe Rosenthal. Durante o conflito, os Estados Unidos perderam 6 821
soldados, enquanto que no Japão estima-se que cerca de 22 mil homens foram
mortos.
Outra
sangrenta frente de batalha teve lugar em Okinawa.
A invasão ocorreu a 1 de abril com a "Operação Iceberg". A 5 de abril o
primeiro-ministro Kuniaki Koiso renunciou ao seu cargo
enquanto a guerra se aproximava das principais ilhas do Japão. Durante a
invasão faleceram mais de 12 mil norte-americanos, enquanto que no exército
japonês foi estimado um número de 110 mil mortes. Para além disso, os Estados
Unidos perderam 36 navios e 368 foram danificados, a maioria fruto de ataques
realizados por kamikazes.
Okinawa caiu finalmente em 21 de junho, oferecendo aos aliados uma importante
base de operações.
Durante
a Conferência de Potsdam, Winston
Churchill e Franklin D. Roosevelt concordaram com
a utilização da bomba atómica. Uma declaração solicitando a
rendição incondicional do Japão foi enviada, porém, esta foi rejeitada dois
dias depois pelo governo japonês.
Bombardeios
atómicos de Hiroshima e Nagasaki
Nuvem cogumelo criada pela bomba Fat Man como
resultado da explosão nuclear sobre Nagasaki.
Após a
autorização de Harry Truman e de seis meses de bombardeios intensivos em 67
cidades, os bombardeamentos atómicos foram realizados a 6 e
9 de agosto de 1945. A bomba atómica Little Boy foi
lançada sobre Hiroshima na segunda-feira de
6 de agosto de 1945,[173] seguida
pela detonação da bomba Fat Man na quinta-feira de
9 de agosto em Nagasaki. Até à data estes bombardeios constituem os únicos
ataques nucleares da história.[174] Estima-se
que até finais de 1945, as bombas haviam matado cerca de 140 mil pessoas em
Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, em que apenas metade veio a falecer no
próprio dia do atentado. Nas duas cidades, a maioria das mortes afectaram
civis.
Rendição
A 8 de
agosto, a União Soviética declarou guerra ao Japão e iniciou-se uma breve
batalha na Manchúria, onde cerca de 80 mil soldados japoneses perderam a vida.
A 15 de agosto, o imperador Shōwa quebrou o silêncio imperial e emitiu
por rádio a rendição incondicional do Japão
frente aos aliados (a primeira vez que a grande maioria dos japoneses pôde
ouvir a voz do imperador), solicitando ao seu povo que não oferecessem
resistência, pois as suas tropas haviam entregue as suas armas, rendendo-se.
Dois dias depois, o príncipe Higashikini foi nomeado
primeiro-ministro, numa tentativa de supervisionar a rendição do país, a qual
foi oficializada a 2 de setembro a bordo do USS Missouri,
pondo fim tanto à Guerra do Pacífico como à Segunda Guerra Mundial. Estima-se
que no total o Japão perdeu cerca de 1 506 000 soldados e 900 mil
civis, principalmente no último ano, devido aos atentados de incêndios e
atómicos.
Ocupação
do Japão
Auge do império japonês em 1942.
O
general Douglas MacArthur foi nomeado comandante
supremo e coube-lhe o papel de responsável por supervisionar a ocupação do
Japão, a qual perdurou até 1952.[177]
Durante os
primeiros dois anos foi realizado um processo de democratização, no qual foram
abolidos o exército e a armada, destruíram-se munições e armas, e fábricas de
armamento foram convertidas para uso da população. O xintoísmo estatal foi
eliminado, dando lugar a reformas políticas, económicas e sociais.[178]
Japão
pós-ocupação
Praticamente
no início da ocupação do Japão começaram a surgir vários partidos políticos. Os
antigos Rikken Seiyūkai e o Rikken Minseitō ressurgiram,
enquanto Nihon e Jiyūtō e Nihon Shinpotō,
respectivamente. As primeiras eleições pós-guerra realizaram-se em 1949 e
marcaram o primeiro momento em que foi concedido o direito ao voto das
mulheres, onde Yoshida Shigeru foi
eleito primeiro-ministro. Nas eleições do ano seguinte, opositores de Yoshida
deixaram o Jiyūtō e
uniram forças com o Shinpotō,
dando início ao Minshuto impulsionando
a ascensão do partido socialista Nihon Shakai-tō, o
qual formou um conselho de ministros, até que o seu poder decaiu novamente.
Yoshida retornou como primeiro-ministro em 1948, cargo este que desempenhou até
1954.
Sucessivas
divisões dentro dos partidos políticos, assim como a sucessão de governos por
parte das minorias políticas, levaram a que membros conservadores formassem em
novembro de 1955 o Jiyū Minshutō ou
Partido Liberal Democrata (entre 1955 e 1993).[179] Depois
de várias reorganizações nas forças armadas, em 1954 foram formadas as Forças de Autodefesa, sob controle civil.
A situação mundial, condicionada pela Guerra Fria e
pela Guerra da Coreia, estimulou o desenvolvimento
económico, assim como a supressão do socialismo sob
influência norte-americana.
Desenvolvimento
económico
Com o
decorrer da época do pós-guerra, a economia japonesa começou a crescer
contrariando todas as expectativas, com o chamado milagre económico japonês.
Rapidamente, o país se comparava ao Ocidente, tanto no comércio exterior, (produto interno bruto), como na qualidade de
vida. As conquistas foram marcadas pelos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 (a
primeira Olimpíada na Ásia), assim como pela
inauguração da primeira linha ferroviária de shinkansen. A
isto somou-se a Exposição Universal de Osaka em 1970.
A partir da
segunda metade do século XX, o Japão passou a ser reconhecido pela
sofisticada tecnologia. Com o crescimento económico, tornou-se a potência mais
importante do mundo a nível de exportações, com prevalência nas áreas da electrónica, informática, robótica, indústria automobilística e bancária.
Os benefícios económicos foram significativos para o país. Porém, tal
crescimento somado à tranquilidade política em meados da década de 1960, foram
interrompidos pela súbita subida de preços do petróleo decretado
pela OPEP em
1973, o que provocou a primeira recessão no
Japão desde a Segunda Guerra Mundial.
O ano de
1987 foi um significante passo para o Japão. Os preços dos imóveis
encontravam-se em constante crescimento, a inflação alcançou
o seu ponto mais alto desde 1975, o desemprego atingiu
o valor recorde de 3,2%, e existia um grande descontentamento em relação ao
governo de Yasuhiro Nakasone. Finalmente, embora que por
alguns meses a economia tivesse aparentemente melhorado, em 20 de outubro do
mesmo ano, a Bolsa de Valores de Tóquio sofreu
uma queda profunda e inesperada do preço da acções.
Relações
internacionais
A maior
crise política do pós-guerra aconteceu em 1960, quando da revisão do Tratado de
Mútua Cooperação e Segurança, que originou manifestações massivas
nas ruas como sinal de rejeição. O conselho de ministros renunciou um mês
depois da aprovação do novo tratado. Após sucessivas manifestações durante
vários anos, a opinião geral dos cidadãos japoneses sobre os Estados Unidos
melhorou em 1972, quando Okinawa foi colocado novamente sob a soberania
japonesa.
O Japão
renovou as relações com a República Popular da China no final
da Segunda Guerra Mundial, contudo por causa do apoio obsequiado ao governo
nacionalista exilado em Taiwan, foram gerados atritos com o governo chinês. A
relação com este país foi novamente restabelecida em 1972.
O
relacionamento com a União Soviética tem sido problemático, visto que o Japão reivindicou como suas próprias ilhas aquelas
ocupadas por este país durante os últimos dias da guerra, nomeadamente as
ilhas Iturup e Kunashir, Shikotan e Khabomai.
Período
Heisei
Shinzō Abe, 96º primeiro-ministro.
Ver
artigo principal: Período
Heisei
O Período
Heisei começou a 8 de janeiro de 1989, um dia depois da morte do imperador Shōwa, com a subsequente ascensão ao
trono do príncipe Akihito. Durante esta época a bolha financeira e imobiliária do
Japão eclodiu, e em finais de 1987, os preços das acções
do sector imobiliário ficaram inflacionados e,
juntamente com as taxas de juros baixas, desenvolveu-se
uma bolha especulativa. Após a queda do dólar
americano durante a "segunda-feira negra", os investidores
japoneses começaram a comprar propriedades e empresas dos Estados Unidos, o que
obrigou o sistema de reserva federal a
encarar novas medidas para combater a política económica japonesa. Durante maio
de 1989, o banco do Japão elevou as taxas de juros por quatro vezes e a partir
do ano seguinte a bolha económica começou a entrar em colapso.
Em 1993, por
meio de acusações de corrupção dentro do partido liberal democrata, uma
coligação liderada por Morihiro
Hosokawa tomou o poder momentaneamente. Enquanto isso a sua
falta de unidade era evidente, agravada pelo Sismo de Kobe,
que destruiu Kobe,
matando mais de 6 400 pessoas e causou prejuízos de 102,5 mil milhões de
dólares em 1995 e, posteriormente, pelo ataque com gás sarin ao Metro de
Tóquio por um culto apocalíptico nesse mesmo ano. Em 1996,
o governo de coligação sofreu uma derrota frente ao Partido Liberal
Democrático, que elegeu Ryūtarō Hashimoto como primeiro-ministro.
No entanto, devido à instabilidade económica, o primeiro-ministro foi
substituído por Keizō Obuchi em 1998. Este propiciou a
estabilização da economia, porém veio a falecer em 2000, como resultado de
um acidente vascular cerebral. Yoshiro Mori sucedeu
Obuchi, no entanto, considerado impopular pelos vários erros no governo, foi
substituído por Junichiro Koizumi em 2001.
Koizumi
implementou uma série de reformas económicas que incidiram sobre a dívida
pública e conseguiu deter a crise económica e propiciar um aumento de
popularidade do governo. Koizumi permaneceu no cargo até renunciar do mesmo em
2006. Antes, em 2005, o Partido Liberal Democrata obteve uma vitória esmagadora
nas eleições
legislativas. Durante o governo de Koizumi foi aprovado em 2004
o envio de um contingente com seiscentos soldados das Forças de Autodefesa do Japão para
o Iraque sem
o aval da Organização das Nações Unidas, a fim de
apoiar a sua reconstrução. Isto marcou a primeira actuação de um grande
contingente militar fora do país desde o término da Segunda Guerra Mundial, o
que levou ao surgimento de uma controvérsia sobre a interpretação do artigo 9 da
constituição do Japão, onde foram proibidos atos de guerra por parte
do estado.
O ano de
2004 foi marcado por uma série de catástrofes naturais, em que um número
recorde de dez tufões num ano atingiu o Japão, em particular durante o mês de
outubro, onde 94 pessoas morreram ou desapareceram vitimas de tais desastres.
As fortes chuvas e inundações que afetaram as prefeituras de Niigata, Fukushima e Fukui resultaram na
morte de vinte pessoas. No mesmo mês de outubro, um terremoto atingiu a região centro de
Niigata, no qual 64 pessoas perderam a vida, mais de 4 800 ficaram feridas e
100 mil pessoas foram evacuadas. Este terremoto ocasionou também no
descarrilamento de Shinkansen - o primeiro acontecimento do género em
quarenta anos.
Após a
renúncia de Koizumi, surgiu uma série de débeis e fracos governos: Shinzo Abe,
sucessor de Koizumi, renunciou ao cargo em setembro de 2007 por uma série de
escândalos de corrupção, resultado da sua fraca liderança. Este foi sucedido
por Yasuo Fukuda, que também foi incapaz de
governar de forma eficaz e abandonou a sua função em setembro de 2008. Foi
sucedido por Tarō Asō, considerado um dos membros mais carismáticos dentro
do Partido Liberal Democrata, que contudo não pôde concertar as diversas
facções quando assumiu a liderança do governo, uma vez que a sua procura por
antecipar as eleições legislativas, antes de solucionar a crise económica
derivada do caos financeiro dos Estados Unidos, originou numa drástica queda da
sua popularidade.
Nas eleições
de 2009, a coligação do Partido Democrático do Japão, do Partido Social Democrata do Japão e
do Novo Partido Popular venceu
as eleições, sendo que Yukio
Hatoyama foi eleito primeiro-ministro e sucessor de Tarō Asō,[190] pondo
fim a mais de 50 anos de domínio hegemónico do Partido Liberal Democrático. Não
obstante, o governo de Hatoyama foi breve, com uma duração de oito meses depois
deste reafirmar a presença do exército dos EUA em Okinawa, apesar da rejeição
por parte da população japonesa. Isto originou uma fractura na aliança do
governo e na posterior demissão de Hatoyama a junho de 2010.[191] Este
foi substituído por Naoto Kan, também do Partido Democrático, que
se assumiu como primeiro-ministro a 8 de junho. Kan seria substituído por
Yoshihiko Noda, outro dirigente do Partido Democrático, a setembro de 2011.
Atualmente o
Japão possui a terceira maior economia do mundo desde
2009 (atrás da China,
que ocupa o segundo lugar depois dos Estados Unidos), onde a sua taxa de
desemprego é de 5,7%, a mais alta desde a Segunda Guerra Mundial.
Sismo
e tsunami de 2011 e acidente nuclear em Fukushima
Vista aérea do desastre causado pelo sismo.
Numa
sexta-feira a 11 de março de 2011 às 14:46 horas (horário do Japão), ocorreu
um sismo de
9.0 graus na escala de Richter, que originou uma série de
ondas tsunami com
altura máxima de 40,5 metros. O epicentro do terror deu-se no mar, frente à
costa de Honshu,
a 130 km a leste de Sendai na província de Miyagi. A magnitude de 9.0 graus
converteu o sismo no mais poderoso já alguma vez registado no país[194] e
o quarto mais poderoso do mundo de todos os
sismos medidos até à data.
A Agência da
Polícia Nacional japonesa confirmou 15 845 mortes, 380 pessoas desaparecidas e
5 893 feridos[196] em
18 prefeituras do Japão. O Ministério
dos Assuntos Exteriores do Japão confirmou a morte de dezanove
estrangeiros de nacionalidade americana, canadense, chinesa,
coreana (do Norte e do Sul), paquistanesa e filipina.
A agência de polícia afirmou que a 3 de abril de 2011, cerca de 45 700
prédios foram destruídos e 144 300 foram danificados pelo tsunami e pelo
sismo. Danos em edifícios abrangeram 29 500 estruturas em Miyagi, 12 500
em Iwate e 2 400 em Fukushima. Trezentos hospitais de Tohoku foram
danificados pelo desastre, onze dos quais foram completamente destruídos.[199] Foi
declarado um estado de emergência na Central Nuclear de Fukushima I da
empresa The Tokyo Electric Power Company por
causa da falha dos sistemas de refrigeração dos reatores. Foram registados
níveis de radiação oito vezes mais elevados do que o normal, existindo a
possibilidade de uma fusão do núcleo.
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